quarta-feira, 26 de dezembro de 2007


Universo Extra

Trancado em meu próprio mundo
Vejo uma outra realidade da janela;
Neste meu aposento de luzes apagadas
Posso sentir fortes as formas que não vejo
E do outro lado, a paisagem externa,
A mesma inverdade que vivo a vista,
É imutável apesar do movimento.
Resta-me como maior diversão,
Bem do alto da minha torre imaginária,
Olhar, bem de cima,
E cuspir na cabeça de quem passa.

Juliano Grus

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

sábado, 22 de dezembro de 2007


Hades

Cães guardam Portais.
Cérberos,
Nada Mais.

Ricardo Pozzo

O Século 17 Passou Por Aqui

aqui a Ilha

nela

há blecaute espontâneo
vento real para espanto

os naufrágios não vêm escritos nas velas do barco

nem os amores na aura sonora do coração

tudo neste cais é invisível e indivisível estas coisas de nós
feito música

Everton Freitag

SER
O
SOL

LH´ESFERA
UM
JACTO
SE LUZES

NO
SONHO
ALGO
S´INCANDECE

Carlone Machado

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007



photo by Emmanuel Peixer

Cachorro Louco

O escravo em pátria própria
Prospera traduzindo
Delírios de rei sonhador
Do tempo dividido em vacas
Gordas e magras.

Impróprio para consumo humano
A multiplicação dos reis prósperos
Por sonhos insensatos
No tempo dividido em vacas
Ébrias e sóbrias.

Produzindo o lácteo ácido
Osso de roer
Cachorro louco.

Carlos Sousa


photo by Emmanuel Peixer

Herakeion

Aporto em meio a névoa densa , aos poucos se dispersa.

Filas de Esfinges me cercam. Olhos desconfiados. Sigo em frente. Finalmente. Heracles!

Deixaram-me entrar. Saúdo deus Amon! Deus Sol. Toco nas rochas monumentais.

Um susto. Sinto a mão que esculpe.

Hieróglifos efêmeros. Tu és eterno agora, mas tu Herakeion jazes no mar, tua história não.

Abro os olhos. Meu edifício de concreto.

Será que sobreviverão ?

Analiese Lara

A grande invenção

Permanente o assombro do velho mateiro. O menino inventava coisas de assarapantar; arapucas que capturavam bandos inteiros de rolinhas, pipas gigantescas que pareciam beijar o sol, engenhos com que podia ascender aos galhos mais altos e frágeis e furtar aos passarinhos as frutas mais tenras.
Notou que de uns tempos pra cá não arredava pé da cozinha . Desconfiado, pôs-se à espreita e o surpreendeu em estranha atitude: tinha as mãos aferradas ao zíper da blusa que abria e fechava sem cansaço, os olhos atentos ao balé das chamas e às evoluções da centopéia na caixa de sapatos; julgou que o moleque enlouquecia quando o pino da panela de pressão pôs-se a gritar e a girar doidamente como um cata -vento.
Alarmado, foi ter com o patrão que, ao tomar conhecimento das invencionices do menino, decidiu levá-lo para estudar na capital. Indescritível a excitação do menino a bordo do carro. De repente, ouviu um grande ruído, o mundo parecia vir abaixo. O carro se deteve. Avistou, então, um caminho de prata e o trem-de -ferro que vinha apitando, dizendo que vinha do Piauí.
Tinham se antecipado à sua invenção.

Edivan Pereira

Histórias da Infância

As saudades da época da infância faziam o vovô suspirar quando contava suas histórias, tão antigas que se confundiam com sonhos irreais a às vezes careciam de verossimilhança. Os netinhos ouviam tudo com atenção sentados no tapete da sala , embora desconfiassem de que aquilo tudo era uma invenção do vovô , que já estava meio caduco.
No dia em que contou a história das grandes invenções todos ficaram muito atentos. Ele dizia que quando era garoto, uma vez por ano, o trem trazia da cidade um grande circo. E ali no pequeno povoado desembarcavam mágicos, trapezistas e músicos trazendo consigo vários inventos, como a fórmula da invisibilidade e as sementes que germinavam árvores tão altas capazes de chegar até o céu. Ele jurava ter subido numa dessas árvores e tocado as nuvens. Mas há muito tempo o trem não vinha. Nem se lembrava mais da última vez. E esperava com muita ansiedade o retorno do circo com todas as maravilhas da infância.
Deu uma pausa e um suspiro profundo para refazer toda a trajetória que o tempo havia corroído como um ferro que oxida. Súbito, levantou-se da cadeira de balanço. Não acreditava no que ouvia: era o ruído do trem! O circo estava voltando. Correu até a janela para certificar-se do que estava ouvindo, porém não viu nada. Abaixou os olhos com tristeza, mas voltou a sorrir quando o netinho segurou sua mão e disse:
- Vovô, esse barulho é da panela de pressão .

Márcia Cruzara

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Abracadabra

meu segredo
não tem a beleza do tempo;
carrega o cansaço das eras.
dilacera-se entre as quimeras arquetípicas
emaranhadas nas rugas e rusgas amarelecidas
ao frescor de nova manhã de sol.

céu azul não vê meus olhos brilharem,
não enxerga minha alma encardida
que cheira a mofo e naftalina.
a flor desbota ao oxigênio da alga
e muitas faces me assustam
pelas sombras que roubam do dia a existência,
pois nas trevas são silêncio e nada.

fluxos do poder pelo qual cada ser precisa viver?
Abraxas, pôr do sol ou amanhecer,
depende do ponto de vista.
um ciclo que devora e é devorado.
mas se as moléculas se romperem,
assim o mundo estará quebrado.

Angela Gomes

A cidade passa do outro lado de lá
me sentí ressentido sei
nem sei o motivo
o sol, o sol, o sol
os raios solares é que são ultra,
ultra, ultra-violetas
os raios solares é que fazem viver e voar
os homens podem voar
para onde quiserem
é incrível do que um raio solar é capaz
os raios solares,
o sol ultra-violeta, violeta, violeta.

Freddy Robert (convidado)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007




Sininho

Você,
com suas meias de ácido
enxugaria as lágrimas
de todos os "garotos perdidos"
e tragaria o engulho plástico
dos anjos caídos.

Você,
com sua tristeza cativa
delataria a frieza silente
da lâmina festiva, que
incisiva penetra
teu coração de confetes.

E então,
um teatro
onde acendem-se luzes
antes dos aplausos,
nau que segue sem
guiar-se pelos astros,

despedaçaria o horizonte,
Estenebeia
a desejar
Belerofonte,

e sorriria!

Ricardo Pozzo

domingo, 16 de dezembro de 2007


Ao Grande Sestro Rodrigo - Destro como Madeira

Há muito equívoco nesta cidade,
Sobre a vida de Rodrigo Madeira.
Vive bêbado de poesia, de Curitiba,
De autocomiseração, e de um deus mortal.

Ouça-me quando lhe digo ...,
Rodrigo Madeira ..., "Está Vivo !" ...,
E não adianta tentar se matar."O Poeta ..., É Imortal".

Seja nas manhãs, tardes ou noites,
E em qualquer das esquinas da vida,
Tenha eu a idade que tiver, abraçarei a idéia
De olhar a vida com os olhos brabos,
De quem defende excepcionalmente a presença ...,
De "quem é vivo mas sempre tenta desaparecer".

Sorrir-me-á você ainda antes que um dia eu morra,
Porque sabia eu daquilo que era a obra de gigante,
Que entenderá então a razão de não ter cabido um ...,
"Que pena poeta" ...,
Pois na ordem natural das coisas,
Rodrigo - Davi, quer matar o - Golias - de Madeira.

E sem voltar para casa ..., com a cabeça velha,
Cheia de novas poesias, sem saber a idade que tem,
Quer se vingar em si mesmo,
Sem usar o hemisfério racional direito,
Sabendo que o esquerdo é rico por ele próprio.

Com a impressão que tem "medo do menino",
Que grita alto dentro peito, não possível,
Mas ..., circunspecto e competente poeta,
Que foge da menina - poesia despenteada -
E se agarra no vento que fala sozinho
- (será que nasce mais um poema ?) -
E não importa se de um adolescente,
Ou do homem ainda imaturo,
Se num ônibus expresso ou no lento passo,
Homero bem se representa.

Se o Rodrigo ..., que da vida ..., vive com medo,
"Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles,"
Sem importar quando e onde a vida se esconda,
Se num sábado sem prenúncio de domingo,
Se na esquina de casa, ou dentro de tudo,
Se na saída do barbeiro, ou na entrada das barbeiragens,
Se na volta da banca, ou ..., se pondo banca,
Se na fila do banco, ou sentado num banco,
Se num supermercado, ou como super-marcado,
Num estacionamento da esperança ..., com os pés ao chão,
Ele ..., estará a sua espera.

Em algum lugar dessa idade, seu parto está nascendo,
E escutarei, daqui a alguns anos, essas palavras ...,
"..., Tudo bem cara, eu me entendo","Perdôo -me porque sou perdoado",
E escreverá mais um verso,
Intercedendo em favor da vida,
Para que seja ..., exumado do "par" preferido.

Os poetas merecem ser elevados e enlevados,
Pelo pretérito lesivo ..., para um futuro letivo,
Como aves que perscrutam o ar procurando o caminho,
Já que cada um sabe ..., "rezar a própria missa".

Não há jeito, é certo como o ábaco,
Tal qual as grutas - (cavernas) - de outros tempos,
Platão cora o rosto, no sangue do poeta cativo,
Na verve do poeta que livre, se sentirá -(vivo) - e ativo.

Olinto Simões.

sábado, 15 de dezembro de 2007


Poema XV

Haverá de ter,
No final da jornada,
Qualquer coisa melhor
Que o Nada?

Ricardo Pozzo

Mortos que Andam

Mortos que andam
Passeiam no meu jardim
Atiro em suas cabeças
Divirto-me assim

Falta-me o trato
Para falar com eles
Quebro seus crânios
Divirto-me às vezes

O fim sem começo
A morte sem descanso
Os mortos me perseguem
Divirto-me manso

Quero um trago
Um baseado pra fumar
Abraço esses mortos
Divirto-me a danar

Giovani Iemini

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


Rua XV de Novembro - Centro de Curitiba



sandálias e peneiras

de sandálias nos pés o espaço ganhas
sobre a cambraia de sonhadas dunas.
ao precípite andar em chãs nenhumas
luas pânicas pulsam, subterrâneas.

o que gritas e calas sob a Letra?
raízes arrebentadas,sem nome
anjos tripétalos dentro da fome
verdades absolutas obsoletas.

do que perdes aos passos inda fica
despencar do acantilado em prazer?
"eu, bispo, que côo meu café na mitra,

exponho, sujo de sol, a vocês
abismo de num surto vir a ser
loucura mais sã que tal lucidez"

Rodrigo Madeira

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007


ao meu assassino

há muito equívoco nesta
cidade
sobre a morte de paulo leminski.
morreu de bebida, de curitiba,
de harakiri e o diabo.

deixe-me dizer-lhe
leminski está morto e fui eu
que o matei.
era tardinha, sete de junho
de 89, na esquina do stuart.
eu tinha apenas dez anos de idade.

abracei-o no golpe da faca
e só largaria
depois que ele se largasse. olhou-me,
exepcionalmente, com olhos de
cachorro manso e disse: "quem é vivo
sempre desaparece."
sorriu-me como se eu morresse.
por quê sabia que aquilo
era obra de um tigre...
hoje entendo a razão
de não ter cabido um "sinto muito,
poeta!"
é a ordem natural das coisas.
leminski também matou seu touro
e voltou para casa de mãos novas.

comigo
acontecerá o mesmo.
não fiz nem 28 anos e já espero
o golpe do meu vingador.
tenho esta impressão
de que ele virá da direita,
sabendo que sou canhoto em tudo.

morro de medo do menino que
fala sozinho, possível poeta,
da menina que penteia os cabelos
no vento (será poeta?),
de adolescente no expresso
que lê a ilíada em pé.
morro de medo, morro de medo,
mas não há jeito, é certo como o sábado.

na esquina de casa,
na saída do barbeiro,
na volta da banca,
na fila do banco,
num estacionamento
de supermercado, ele estará
a minha espera.
inevitável que seja.
em algum lugar da cidade
meu assassino esta nascendo.

escute daqui a alguns anos estas palavras:
"tudo bem,
cara, eu entendo! perdoe-se como eu me perdoei,
ou não escreverá sequer um verso.

apenas interceda em meu favor para que eu seja
enterrado em meu bar preferido.
só isso. os poetas merecem ser emparedados
em seu boteco eletivo, assim como as aves
devem ser sepultadas no ar.

o botiquineiro saberá rezar a minha missa."

não há jeito
é certo como o sábado:
tal qual as putas de outros tempos,
o poeta cora seu rosto com sangue.

o sangue de outros poetas.

Rodrigo Madeira

Louva Deus

Olhe através do teu coração.
Luzes azuis rondam a cabeça.
Cale o grito mudo que ensurdece a razão.
Tuas mãos tremem no vazio.

Pra você que não é planta,
Embora se pareça.
Pra você que não é um animal,
Mas age como tal.

O que significa mutilar uma cabeça?

Al´maanze e Ricardo Pozzo

terça-feira, 11 de dezembro de 2007



Poema XXII

Rodas serpentinas nos envolvem.

Nós,
Pseudo-humanos
Intelectualóides banais,
Assassinos em potencial.

Cruzando os limites da racionalidade.

Onde pisarmos
No momento em que o vento
Nos joga direto
À institucionalização
De nossos ideais
Ou do que nos dá motivação?

Prostitutas nuas nas ruas
Exibem nossa moralidade
Hipócrita.

Ricardo Pozzo

Teu Nome

Profundidade!
Meu ser se eleva ao espaço e te encontra
Pairando como a brisa suave.

Percebo em ti, a nota esquecida
O tom real e belo da musicalidade que está em mim
Vibração celeste e perfeita como
Canção de amor

A energia circula por toda parte
E me conduz para o centro de minha alma solta
O mesmo centro de ti.

Teu olhar, uma mandala de Luz
Tua pele, pétala
Ès como a flor que encanta.

Teu corpo é leve como o vôo dos pássaros
A beleza do teu coração é um templo
E o teu nome é para mim um mantra.

Alessandro Jucá

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Jaula

Não alimente-os, animais!

Carlos Sousa

sábado, 8 de dezembro de 2007


Éden

A loucura olha-me nos olhos
- Faça-me gozar - ela diz

Lavas e terremotos
Devastam paraísos da serpente

Escoltados por anjos
Expulsos sem saber da onde

Talvez de onde vem o mistério
Ou de onde ele se esconde.

Carlos Sousa

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007


A Trapezista e a Corda Bamba

E, enquanto você costuma falar
De seus abismos
Com seu modo cínico tradicional,
A outra dissimula
O intransigente benefício
Da dúvida.

Mas, nem uma nem outra,
Com seus apetrechos
Invisíveis a olhos alheios,
Comparam seus amores
Instantâneos,
Às vítimas de sacrifícios humanos,
Feitos para apaziguar deuses invejosos
E sedentos de sangue.

Pois, "usadas" e
Logo "largadas",
Garantem a perpetração
Do circo vicioso
Armado em qualquer esquina
Onde se exibem
Como aves de rapina,
Com público garantido
Pela fome de viver.

A saturação do tédio
Maquilada de pseudodesejo
E raiva.

Ricardo Pozzo







entressono no bom retiro

1

é fino, frágil, de vidro
o sono no bom retiro.

do silêncio, num instante,
gritos do inferno de dante.

ao gritar que diz "acorde",
o gordo silêncio explode.

que punção nesta loucura
que à voz o sangue mistura,

na ala vizinha à borges?
(gritar sangra como um corte).

um gritar (com consoantes)
como eu nunca ouvira antes.

c´o pânico por consorte,
dos gritos a dor é o mote.

e do quarto do antivício,
como um peixe assustadiço

(pacto anônimo entre o surto
e uma crispação de susto),

meu silêncio quer o fundo,
além da mudez - no surdo.

pois que grita o homem noturno
na anteaurora em que não durmo.

pois que, às quatro, na ala ao lado,
regrita, em febre, este galo.

2

cedinho, no leito atado
com faixas (de olhos cerrados),

será assim sua manhã:
de amplectil com fenergan.

um sono de aço fundido;
não este outro (o meu), de vidro

Rodrigo Madeira

Play

Deixe o limite adormecer
Entre comigo neste ecossistema
De calamidades fisiológicas
Comida processada, refrigerantes,
Bom ar, desodorante e sexo.
Deixe a tela nos engolir
E mergulhemos neste mar de vodka
E solidão aos litros.
Não há motivos para voltar
Há sim motivos para acender o pulmão
Com algum fluído a cada lacuna desbravada.
Vamos arrancar a roupa do dia
Com a nossa afiada falta de bom senso
E mastigar o piso carpetado do medo
Com a dentadura dos prédios mofados
Há sempre alguém acordado por você
Seus pais, sua amante, seus filhos, a rua
Ou melhor, a sua falta de culpa
Nossa série já montada
Proibida para a massa
Proibida para cachorros
Proibida para a sobriedade
Deixe o limite adormecer
E comprove a falta de tato que há numa manhã,
A falta de orgulho que há num final de tarde,
A falta de tédio que há na noite.
Vamos, com os facões da obviedade,
Desligar os programas de auditório
Cortando cabeças, cortando frases
O direito de resposta
As grandes conquistas não serão mais grandes conquistas
Os grandes homens não serão mais grandes homens
Pois grandes seremos nós, sem motivos ou discursos,
Apenas a nossa existência ilimitada
Pois a falta de limite nos dá esse presente:
Dificilmente iremos perceber
A morte ao nosso lado.

Alexandre França

domingo, 2 de dezembro de 2007


bilhete

escrevi um verso
um poema
um livro

e daí?

se a esquadria do que escrevo
não me segura
o esqueleto de água

se vou morrer
se vais morrer
se vai morrer a língua
em que escrevo
se vai morrer o país
que fala a minha língua
e todas as línguas de todos
os países que falam

por que esta teimosia
de escrever?

por que não deixar
o passado fedendo
o futuro mentindo
impunemente
o presente apenas
o que já vai deixando de ser?

escrevo como quem
vive e não vai viver

não como quem
à visitação pública
em terras de amanhã
se enraíza e flora

eu escrevo não para ficar,
meu amor,

escrevo para ir embora

Rodrigo Madeira

terça-feira, 27 de novembro de 2007


Homem Bomba

o homem bomba
leva duas
bombas
dentro de si
a caixa torácica
um paiol
em polvorosa
um estopim
com mero piscar
clic de homero
clip de ovídio

a outra
a bomba
em si
primevo coração
se esvai
se explode
corpo e pólvora
a um só tempo
seta alvo e meta
que vai pro ar
que cai no chão
que cai em si
um caixão de cinzas

Amarildo Anzolin

sábado, 24 de novembro de 2007

Revoada

Na perfeita coreografia do vento
agitadas maritacas
espalham pelo céu de inverno
as lembranças do verão.

Andrea Motta

Reflexo exterior

Na solidão plena é que ouço
minhas entranhas a me chamar.
Apelos fracos e débeis
que se confundem
com sonhos e cansaço.

Ilusão de um mundo real.
Há um mundo real.
Sou transição entre dois mundos.
Solidão.
As obras são maravilhosas,
mas não bastam.
As pessoas são amigas ,
mas ausentes.
Só o tempo sente a presença.
Mas nós não temos tempo
e somos ausentes .
Temos , mas não somos.

Só vemos o reflexo da própria vida.
Nem conhecemos a nós próprios,
só o eu-superfície do espelho.
As mãos estão muito ocupadas.
Os olhos estão muito ocupados.
Estamos presos e não sabemos,
e nem queremos saber...
Amarrados ao tempo ,
servos dos horários .

Somos apenas reflexos
andando na multidão.

Deisi Perin

Guerreira

Sou guerreira , sou forte.
Descendente direta do século XX.
Filha dos anos 60.
Corre em minhas veias
séculos de costumes e opressões ;
arte e ideologias .
Sou peça principal
no mosaico de minha vida ,
e peão em tantos outros .

Tentando espantar a miserabilidade
do mundo massacrante.

Nada está pronto

estando quase acabado .

Deisi Perin

quarta-feira, 21 de novembro de 2007


Rastro

Supondo
intenções
desconhecidas,


rastro
de pólvora
desorientado,

amanheço
meio confuso.

Na boca,

amargo
pesadelo.

Ricardo Pozzo

sábado, 17 de novembro de 2007

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Entre linhas

aquele dia em que o vento soprou
bem longe
este dia colorido lá fora
desta burocracia cinza
esse dia que te dou
não quer

Rodrigo Ceccon

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Poema para alguém que compartilha sua comida com ratos.

Suave e lentamente
nutre com batom
os lábios.
Um pouco em cada pálpebra
e na pontinha do nariz.
- É para um beijo de esquimó! – ela diz.
E ri,
em riso pleno de cristais & degredo.

Ricardo Pozzo

quarta-feira, 14 de novembro de 2007


Palmeiras imperiais
Abóbodas sacramentais
Ternos bem passados
Na frente do poder
Não escondem a nudez
Da pobreza interior
Que sofrem os ricos
moradores do nada.

Assim estreiam:
sanduíches mordidos
Sucos devolvidos
Sapatos esquecidos
Aqueles que ocupam
O mesmo espaço
dos que anunciam a paz.

À noite despertam
Recebem ajuda
Lêem notícias novas
Da manhã passada
Espalhadas pelas calçadas
Como cobertor.

Assim andam de mãos dadas :
Poder e Clero
Num relacionamento incestuoso
Que gera e cria
Como uma filha mimada
A miséria humana.

Edileidi Cañete

sábado, 10 de novembro de 2007

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Dedicado ao meu amigo Túlio
(Contradito ao poema dele, intitulado ..., MEGAMERDA).

Infinda Vida

Sou moderno se levar à consideração a idade,
Que não permito, se torne para mim, um covil,
Com nada me entorpeço, jamais me aprisiono,
Minha luz resplandecente é simples e natural,
Não preciso de abrigos, pois não sou domado.

É impensável me deixar vencer pelo concreto,
Pois a maus humores ..., sou osmótico,
E sicários, comigo não se criam,
Já que minha verve é faca maior e mais afiada.

Se a manada é domada, não me revolto,
Me entristeço com os revoltados,
Digiro hodiernamente o plasma convencionado
Para que seja possível e não indigesto, o lato viver.

Desperto sou à verdade, mas não esperto à vida,
Minhas cores vibrantes se espraiam no húmus nigru,
Criando adjeta sinfonia pura e poética,
Propalada por voz suave, mas plena,
Para poucos que não se fazem moucos,
Em qualquer ponto da cidade ou do interior.

E que não haja orgulho desmedido,
Mas abertura, inteligência e mega vida,
Giga proporção em stricta igualdade
Meta em existência e infinita à consciência.

Passa o tempo tão medido, em desmedida proporção,
Silente no vácuo, que sabe do espaço vazio,
Derrubando o volume das cruzes aos montes,
Descendo dos montes as cruzes,
Recuperando a língua em não homomorfismo,
Em dialética xenófila que também é atual.

Eras humanas geram esgotos pútridos,
Perfume, só é natural nas flores.

A besta fera bufa, quem dera fosse estéril,
Feras incestas dançam funk e não dão Break,
Seguem como máquinas,
Em desengrenagens psicológicas,
Vomitam a bílis que não conseguem ruminar,
De um intestino proceder.

Multidão emparedada e sem casta,
Nano lumem de conduta caótica,
De quem tem a vida lerda,
Micropartícipe do nada.

Em bíblicos repercurssores da mesmice,
Asfixiante veneno ao existir das pessoas,
Que acéfalas usam o crânio como capacete oco,
Por viverem sobre cinzas do passado.

Olinto A. Simões

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Viagem

Solitária viagem ao eu profundo.
Tão fundo que quase não consegue voltar.
Percorrendo como andarilho
a vasta extensão de sentimentos.

errante jornada humana em busca de sentido.
Peregrina ingênua e atrevida.
Alegre menina a restaurar a vida.

A eterna caravana de eus
se dissolve e se agrupa
para escapar das tocaias
de realidade onipresente.

Sou alienígena de mim mesma?
Fui abduzida para meu interior
e não reconheço onde estou?

Ou é apenas um dos viajantes
reclusos do mesmo invólucro
que tenta aparecer na janela d' alma
e tumultua todo andamento capenga do Ser ?

Qual é a razão da viagem?

Qual é a origem da volta ?

Qual é o significado da vida?

Solitária Sou
Fui.
Deisi Perin

terça-feira, 6 de novembro de 2007


Despertar

há esta menina que me espera impaciente. o corpo de terremoto adiado. como uma revoada de vespas, sorri - talvez o sorriso que monalisa não pôde. será uma fúria? diz coisas na língua das flores, quase se faz entender, prestes a traduzí-la, e súbito, põe-se a falar na língua franca dos peixes de águas fundas. Espero a fio, o dia em que me deixará, sem esboçar sequer o arco-íris. Nas tardes de verão me arrasta pelo braço, ao redor de galerias, como uma enchente ou um carnaval de rua; e á noite, sob meu corpo, mais molhada que de manhã cedinho, secreta um orvalho ácido que inaugura por dentro os dias.
de repente a menina de antes que eu nunca vira: respiração monótona, incapaz de comoções e ventos, sua presença de passarinho morto, o vulcão já extinto, as mãos abertas, a língua que é a minha, os olhos que perderam aquele brilho da bomba, a especiosa nudez, ora desenganada, sem trás-dos-montes, sem morte na esquina, sem horizontes de abandono, sem caminhos de sustos, sem esfinge na encruzilhada das pernas.
crisálida de trás pra frente, observo-a pela primeira - última - vez... vesti-me e ganho a rua sem fazer barulho ou lágrimas. a aurora será sempre um acontecimento.
Rodrigo Madeira

Tempestade

Raios descrevem estranhas retas
no obscuro céu da vida
As luzes desenham
raios de dores em agonia.

Não há luar.
Não há estrelas.
Só clarões cíclicos.
Iluminando medos.

Um furacão de imagens
preenche e atormenta
as lacunas da ansiedade.

O desespero rompe
em tempestades de lágrimas
molhando mente e alma.

E o espírito em desespero
se acalma novamente
para um novo
revoar de vida.

Renascendo em cada amanhecer.

Deisi Perin

sábado, 3 de novembro de 2007


Fragmento de: Objetos Frágeis - Mubarac

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A quem interessar possa

Cansei de conversa
cansei do futuro
do medo do escuro
do ponto sem nó
Do fio da navalha
do chove não molha
da espera do esquife
- paciência de jó

Sem missa, sem reza
sem gafe, sem griffe
sem múltipla escolha
sem chá de cipó
Sem deus que me valha
cansei da ribalta
é hoje, sem falta
que enfim volto ao pó

não me venham de novena
de prozac, cibalena
não me chamem à razão
não me enterrem na lapinha
não me cantem ladainha
ninguém me segure a mão

não gravem o nome dela
naquela fita amarela
leiloem meu coração
não me venham de bondade
e cumpra-se a minha vontade:
queimem meu violão.

(Sonekka/ Etel Frota)

ouça a música:
http://trampo.com.br/media/A_QUEM_INTERESSAR_POSSA.mp3

O poeta Rodrigo Madeira, no lançamento de seu livro "sol sem pálpebras", Porão Loquax, Wonka Bar, 2007.

domingo, 28 de outubro de 2007

sábado, 27 de outubro de 2007

Estrelas & Nuvens

Levante seu corpo
pesado da terra
E beba as
gotas de
orvalho
que surgem
de
seus olhos.

O tempo
engole medos,
nuvens envolvem
estrelas.

Levante seus olhos úmidos
E beba as gotas
de vida
que surgem de seus
sonhos.

Voltas,
e mais voltas
Para estarmos no mesmo
lugar.

Tentando destruir muros
para que o vento incida;
Janelas,
para que a chuva possa
transbordar.

Não há sorrisos para os que temem a vida.

Ricardo Pozzo

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

caçador diverso

Vou romper de vez com minha sorte
E quebrar a cara do meu ego
Vou pinchar as bruxas que carrego
E riscar do mapa a minha espera
Vou largar meu ar de cão sem dono
E aí vestir meu abandono
Reunir as armas que me restam
Pra então poder abrir a porta
E libertar de novo minhas feras...
Vou seguir com força pelas ruas
Desviar das coisas que não quero
E sair à caça do meu sonho
Pra fazer chover na minha horta
E de fato ser o que não era.


Altair de Oliveira
"O Embebedário Diverso."p52.
Re boca dor

Adormeces no escuro
E nunca saberás
o quanto, nem
quantas vezes,
teu abraço
foi tudo
o que eu
queria.

Eu mesmo não
esperava,
encontrar em tua
mão delicada,
o porto
onde o naufrágio
em meu coração
cessaria.

Retorno
Suave
e eterno.
Uma ventania
no deserto.

Ricardo Pozzo

Da esquerda para a direita: Carlos Sousa, Andrea Motta, Julio Almada e Deisi Giacomazzi.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Em suma, a moral da história é justamente esta. Clareza e obscuridade são conceitos relativos. Só se é claro ou obscuro para alguém, para um público determinado, com suas competências literárias e expectátivas, como diriam os teóricos da recepção. Quanto às características exclusivamente textuais, clareza e obscuridade não têm muita consistência. Não são qualidades intrinsicamente estáveis . A obscuridade de que a arte moderna - poesia, pintura, música e às vezes até o cinema e o romance mais experimentais - foi acusada por décadas, até pouco tempo atrás, não era tanto uma característica de textos e obras , mas uma qualidade indiferenciada e atribuída de fora, um julgamento globalmente negativo do público burguês e da crítica dita acadêmica. "

Alfonso Beradinelli;"Da Poesia a Prosa " ;
Trad: Maurício Santana Dias.
Editora: Cosac Naify

Carregue o seu

o amigo caminha na via que ia da verdade ao energético movimento de quem
acompanha a curva:
inércia sem vida,
seguindo em ruas cinzas.
e o amigo em pé,
colorido.
por que tantas cores?
a viçosa pergunta q unta a boa norma sem gosto sem cheiro,
sem a hábil sensibilidade aponta a ponta do dedo da maioria q ria a alegria e as cores.
juízo pontudo de todos cutuca a cuca e fura a cumbuca.
seguindo a calçada confetes até uma porta que clama o nome de topossintomático,
a mão coletiva lhe da um caloroso empurrão.
passada meia hora:
o amigo agora é um tal transpervetido ultraesquizóide transbordado,
mas,
sob um tom cinza,
para a macro contagiante alegria q não sente o confete verde que sacode na cumbuca

Aos preocupados acéfalos

esta cara polida,
esnobe,
cobre a todos os apreciadores desengraçados do teu jardim.

um explendor de orquídea roxa
rouca, a mulher q grita querendo teus morangos vívidos de eteno.

eterno gramado divisor do horizonte,
pra rimar no jardim só falta um rinoceronte
lento
como a tarde aérea equivocada,
enrolada no chamar a noite.

seguindo a sombra zumbe, entre o concreto de vidro luminoso,
ruidoso, o vento q cobre os passos do meu rinoceronte:
diarréia,
o rinoceronte fez um monte.
do outro lado da noite amanhece a obra,
o sol q nasce atrás do morro vai iluminando os visitantes atônitos,
acéfalos,
irrequietos como lombriga saindo pelo nariz.

por volta, holofotes,
fléchiz, murmúrios, condenação, inveja,
Curitiba,
estes tantos,
as lombrigas e você não acreditam
como pode essa grande bosta fedida chamar tanto a
atenção?

Rodrigo Ceccon

terça-feira, 23 de outubro de 2007


Antenas Frutíferas

I
Para ação
Reação
Para tal
Interação
Para tal
Relação
Ato em tempo Real
Já o que reage
É o que absorve e
Devolve
Naturalmente.

II
Se, para ser manifestação,
Preciso ser moldável em fôrma aceitável,
Não deixo que me comam antes do Tempo
Obra emoldurada na sala de jantar.

Se não abre o olho e vê como é
Adapto-me à tua visão.

III
Por si sou Mutante!
Muto-me mutando jardins
Com sementes secretas,
Magnéticas imaginárias.

Antenas Frutíferas.

Carlos Sousa

Anjo do Tempo

Fumaça concentrada
Filtra o Sol Disco Vermelho
Brasa do cigarro na boca
Do anjo que fuma o tempo.

E da manhã indecisa
Nasce o dia arteiro.

Carlos Souza

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


A poeta e professora Rory

Ao Leitor

Leitor de traços meigos e vibrantes,
Contigo compartilho o meu quebranto
Em versos que revelam seu encanto
Igual as tumbas rasas dos infantes.

Escuta as incertezas que hoje canto
Porque forjei sublimes diamantes
Daqueles gritos tão medonhos que antes
Cobriram-te a cabeça como um manto.

Que alguma estrela traiçoeira
Desenhe em teu sorriso uma ferida,
Mas antes prova dessa dor primeira:

A minha rima podre e corrompida,
Porque no meu instante de cegueira
Nenhuma luz brilhou em minha vida.

Rebellis [Eduardo Borges]
São Carlos, 07 de outubro de 2007

domingo, 14 de outubro de 2007

Vida e rabo de saia

Andando em pedras pretas e brancas,
Carrancas movem-se ao ritmo do relógio
Cogitado nesta Curitiba de prédios e casarões,
De primeiro mundo e miséria,
De antigos postes com sua luz amarela
Sobre os calçadões que aguardam o vazio do inverno.

A vida esquece do sentido de sentir do sorrir.
O coração contrai,
Sinalizando a angústia que permanece
A falta do por vir aperta plei
Nesta cena onde o herói morre.

Morre.

A tesoura aproxima-se da linha
E a luz que surge não do túnel,
Muito menos amarela.
É ela,
Enchendo vermelho pulsante
Mas que para no tempo.
Os olhos medindo a falta no espaço.
Por acaso a causalidade inverteu-se com o efeito,
Feito este azul que não sei se é do céu ou dos seus olhos.
Sob suas sandálias, confundo o branco com o preto no pisar
Deste rabo-de-saia que espero.
Polaca, de todas, é você que eu quero

sexta-feira, 12 de outubro de 2007


e, aquela dança
ficou a ver navios
afogados no rodapé da enchente;
no agridoce do concreto e do asfalto.

em castiçal lustroso e lume falso
a lâmina cortante do caminho,
na encruzilhada que espanta
com a cruz difusa, da incerteza,
cercando os passos, em contra-dança.
não sacia, música inaudita.

Angela Gomes
A Barca

A nervosa barca trafega em modo sinistro
Rastreando inocências embrulhadas
Em papelotes intoxicados de soda cáustica

Serão cães hidrófobos
Em semáforos vertiginosos?

Recolherei as tampinhas de garrafa
Que condecoram os cadáveres calejados
Com projéteis de fumaça.

Ricardo Pozzo

Pó de Mundos

Há poeira que se espalha
Há tempos no caminho.
Caminhante mudo. Ah!
No semblante a rusga matutina, andarilha.
Seu olhar lateja à grota ilusória;
Lampeja os passos no caminho
Compassado do andar errante
Carregado das centelhas flamejantes
De estrelas lumeeiras, vaga-lumes.
Mata com a ruidosidade dos insetos,
Berçário de tantos mundos.


Angela Gomes

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Poderia eu elevar-me a um lugar alto
Embebedar-me de orvalho e farto
Falar da solidão.

Pois há em mim um demônio
Que olha-me com olhos de sonho
E despe-se da razão.

Ricardo Pozzo

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Ladras

Teus espasmos são horas incrédulas
Calêndulas negras ansiolíticas.
Libertas libélulas trevas viscosas,
Antimatéria estéril, estérica e bipolar.

Teus passos quebrados destroem a relva.
Ladra, assassínia, gargareja o escárnio.
Implora pelo amor, que mutilado
Prende-se ao solo,
Qual patê canino no asfalto amargo.

Das tuas veias, escorre teu segredo,
Água de chuva e esgoto.
Teu engodo arrasta-te na lama;
Escrota lástima indigesta.
Gafanhoto devorado pela ferida
Da própria e fétida podridão tangida.


Angela Gomes

Domingo é dia de...

...subida súbita no calor
Paralelepípedos e fachadas seculares
Olhares, olhares entre os colares
Dos olhos-de-cabra ao bonsai
Livros e suas capas sob o azul
Aqui do sul
Sufoco, o passo oco, não sou louco
Só mais um,
Na fila do bolinho
Escutando chorinho
Tantos passos, tanto suor
Pele oleosa reflete na lata,
Sob a lata nova
Os carros velhos e o óleo
Vestimentas, artristas, artesãos
Pintores, aleijados, hippies
Ta na moda, ta na roda
Que vai e volta
Lembranças de burgos medievais,
Essa feirinha e seus varais
Tem os iguais, ta na moda
O som do tamanco,
Não tem nem fandango manco
Tem rock nas ruínas
Tem sais e sandálias
De longe o formigueiro,
De perto,
Esse aperto certo sem acerto
Me largo neste caos
Quero ordem neste largo
Só mais um passo largo
Calor,
Olhares,
Sufoco,
Fila,
Suor,
Formigueiro,
Aperto,
Caos,
A multidão sendo o Mar-vermelho
E eu querendo ser Moisés:

Rodrigo Ceccon
Livre no pasto,
Esta o pangaré a trotar
Preso no estábulo,
Esta o garanhão a trepar.

Rodrigo Ceccon

Mundo Novo

Pero que Pero Vaz deu, ou os bons homens dos bons tempos deram primeira importância na carta e na mímica ao ouro do capitão e à prata do castiçal. Que no dedo duro do índio, foram ao Monte Pascoal ter também.

Ouro dos bons tempos - balanço de mercado, fatalidade e infelicidade

Eta poesia de Anchieta que nos bons tempos salvou muita gente mal educada de alma selvagem. Coitada desta gente sem gripe, que andavam nus pelas praias brasileiras dos bons tempos. Bem feito, fez o catequizante aos pardos de bons rostos e bons narizes, bem feitos tropicais de bons ares

Cinismo dos bons tempos - religião multi-mídia, fatalidade e infelicidade

No caminho de Caminha, descritas gentilmente as moças gentis, de cabelos cor de jabuticaba, lindos pelas espáduas. Muito bem vergonhadas aos olhares sem vergonha dos bons homens dos bons tempos

Vergonhas caradinhas dos bons tempos - depilação à brasileira, fatalidade e felicidade

Rodrigo Ceccon

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Convite à uma dança.

Eis-me aqui
a contemplar encantos,
danças ao fogo cigano
Que brotam do teu
sorriso e tornam-me
lago e Narciso
em Ti.

Musa descarada,
mal sabes
a que cobra
destes asas.
Por quanto tempo
queres
te manter
ilesa?

Eu,
que já flertei medusas
sei, que há mais perigos
em teu afeto franco
a despertar minha alma
a tudo que é sensível,
que tanto quanto
possa descrever,
é apenas
tocar pássaros
de seda,
comer com
os olhos
banquetes
sobre a mesa.

Saiba,
o desejo é
armadilha estranha;
nos conduz
à jardins magníficos,
quais girassóis imprecisos
que tangem-se,
momentâneos
e ruborizam-se

na fronte do sol.

Ricardo Pozzo

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Luto

A dor que não sentiste sinto agora
Ao contemplar-te nessa cova fria
Em um momento em que o pavor devora
Toda esperança que a paixão nutria.
Os vermes hão de corroer-te as tripas
E na amargura desse chão sem fim
Verei morrer as sazonais tulipas
Daquele amor que não achaste em mim.
E enquanto a cova te recebe em festa
E sobre a Terra cai a noite densa,
Sei que na vida agora só me resta
Beber o fel de uma saudade imensa.

Rebellis

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O poeta Ricardo Pozzo, no Porão Loquax.
Os poetas Leandro Vicelli e Wilson Nogueira. Ao fundo Ricardo Pozzo. No Porão Loquax, Wonka Bar.
Contrasta
o Escaldante
Com o
Azul
Esverdejante.

Ricardo Pozzo

domingo, 9 de setembro de 2007


PEQUENA CRÔNICA DE UM AMOR QUASE IMPOSSÍVEL(II)

Já tentei te matar, num crime perfeito,
Te apunhalar dentro do peito,
Te jogar aos leões dos desejos
Te asfixiar com a boca
Te apedrejar com olhares,
Te arrastar pela lama de tantas camas,
pelos lençóis de sêda da minha alma,
Te enredar, te engendrar pelas linhas
da palma da mão
Te conduzir pelos becos mal iluminados da minha paixão
Te retalhar em porções, pouco a pouco,
Te engolir com farinha
No arroz com feijão de cada dia,
Te prender atrás das grades de um abraço
Te fazer passar a pão e água
Te embrulhar pra me presentear
Em folhas coloridas e laço de crepom.
Te amar, te amarrar no tronco do corpo
E te castigar com minha língua afiada.

Hilário Lopes

favela

não há rocio.
tudo é terra estéril.
as árvores são as
vértebras da chuva.
a lama é uma feira
de infecções.

esta tarde, velha,
mastiga e cospe
crack e alcatrão.

a noite - aqui -
pesa
como
coturnos
e no entanto

amanhece.

alguém
abre uma janela para
os destroços da guerra,

lenta,
como a ferrugem,
franca como um peixe
que apodrece.
entre

a estrada das lágrimas
e o rio dos meninos,
cedinho,
três cadáveres
assistem à televisão.

Rodrigo Madeira

Centro da cidade de Curitiba. Vista do Tijucas, a partir do edificio Asa.



Era da Velocidade

Cada vez que um novo botão é apertado,
Dando movimento a uma máquina,
Acontece o instalar-se de nova sina,
Muita gente fica com o coração apressado.

No conjunto movimento da engrenagem,
Nasce a máquina que, sem parar, se engrena
Na produção constante que nenhum dia para,
Enquanto a esperança humana..., gangrena.

Se apenas um dedo humano, o botão toca,
A máquina vive para que a produção ocorra,
Cabeça esquenta, braços param, cala-se a boca,
Não faz mal..., que a humanidade...morra.

Se o mundo espúrio mecanicamente continuar,
Que a máquina produza o que possa usar,
Gente sem trabalho, sem nada para fazer e sem ganhar,
Fenece e não tem dinheiro para gastar.

Gente mantém a vida pessoal em murmúrio.

Tudo isso é o que resulta, dessa corrida louca,
Para ricos e nobres, grande acúmulo de bens,
Para plebeus e pobres, apenas restam os améns,
O desespero, a perda dos sonhos e as fomes,

Quando nascem as máquinas e morrem os homens.

Olinto Alves Simões

Pó e Luz

Quando a lâmina fria e insensível
atravessa seu ser,
convenções e lógicas que regem sua vida
desmancham no ar, como poeira fina.

Os olhos vêem sem véu algum,
pois já não são mais os olhos que vêem.
É a própria alma que aflora.
E o que resta é o puro sentimento.

Um sentimento que penetra a carne
e chega a doer.

O mundo não é mais seu mundo.
O tempo deixa de existir.
Nada mais é exigido.

Só o amor transmitido pelo olhar.
Pessoas somem,
só sobra o olhar.
O conforto do olhar.
Através do qual sente-se
o bálsamo perfumado e precioso
para encerrar o que foi.

E fecha-se os olhos
com todo amor que é preciso ter.

O corpo vira pó.
Alma vira luz.

Deisi Perin

sábado, 8 de setembro de 2007

Asas

Cobri minhas asas
Com as cores que recolhi dos desertos.
São flores, galhos, gotas que se espalham...
São contas, penas, mistérios de um atalho.

Estrelas pulsantes, incandescentes raios,
Águas translúcidas, precisos relicários,
Ânforas de sóis, cântaros lunares,
Murmúrios suaves, toques e olhares...

Mel maduro lambuzado de tâmaras
Fragrância de corpos que se amam.

Ondas performáticas de mar.
Ondas enigmáticas de amor.
Óleos aromáticos, tendas de magia.
Delírio, sonhos, fantasia.

Poemas constantes, desejos incertos

Na ruptura da aresta
de um grão de areia,
Ampulheta
vazia.

Angela Gomes


Rua do Rosário - Largo da Ordem
quem
além de deus
e dos insetos
noturnos
poderá um dia
escrever

a grande poesia
do silêncio?

Rodrigo Madeira
Ah, se eu pudesse
Agarrar teus seios entre os dentes
Beber teu leite quente
Até me embriagar
E em outra fonte
Saborear

E quando teus gemidos
Confundirem meus sentidos
Apenas dissipar.

Ricardo Pozzo

Calçadão da Rua XV - Curitiba.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Minha face oculta
Oculta minha face
Selvagem

Ricardo Pozzo

S/

o meu corpo nu
passeia pela casa
e
na parede da sala
sangra
a minha
natureza morta.

Angela Gomes
Significados imprecisos
Toda alma clara
Se dilui
Em códigos
Físicos.

Ricardo Pozzo
manuel,

não só crianças, passarinhos
e andarilhos (cães vira-latas incluídos)
tem o dom de ser poesia.

ademais, os palhaços, os acrobatas,
as bailarinas...

em minha infância
fugirei sempre com o circo.

Rodrigo Madeira
Um dia tudo será silêncio
Em teus olhos não terás tormento
E em teu coração virulento
Haverá apenas a paz.

Um dia tudo será silêncio
E te recostarás um eterno momento
Onde todo sofrimento
Em tumba secreta jaz.

Ricardo Pozzo

Cães indômitos...

Cães indômitos, correndo, vagando,
brincando nos labirintos noturnos.
Cães uivando em meio à névoa
trazida por nuvens pálidas e opacas.

E os ventos da tarde assobiam
junto com latidos que ressoam ao longe;
latidos que trazem a mensagem
da existência de um outro mundo
fora dos muros que te cercam...

Semelhante aos cães que latem
enquanto você passa pela rua,
te avisando que você ainda existe...

Leandro Vicelli

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Os povos se rivalizam
mas a água é a mesma!

José Marins
(Pinha Pinhão-renga)

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Inscrições até 18/09/2007


Promovido pela Prefeitura do Município de Toledo, em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).

O tema do concurso é livre e cada pessoa poderá participar com apenas um trabalho. As obras devem ser encaminhadas à Biblioteca Pública Municipal (Av. Tiradentes, 1165 – CEP 85900-230 – Toledo – PR) ou ao campus da Unioeste Toledo (Rua da Faculdade, 645 - CEP 85903-000 – Caixa Postal 250 – Toledo/PR), pelo correio (em registro A.R.) ou mediante protocolo. As inscrições encerram-se no dia 18 de setembro.

O conto deve ser apresentado em duas vias, em língua portuguesa ou espanhola, com no mínimo duas e no máximo 12 páginas (Arial, corpo 12, e espaço 1,5 cm). A identificação deverá ser feita apenas com um pseudônimo e os dados pessoais devem ser entregues em um envelope separado.

O valor da premiação será de R$ 1,5 mil para o primeiro colocado; R$ 1,1 mil para o segundo, R$ 850 para o terceiro e R$ 700 para o melhor conto toledano. A premiação e a divulgação dos resultados será no dia 20 de outubro.

Mais informações: Unioeste (Campus de Toledo – PR), pelo site www.unioeste.br/leminski ou Biblioteca Pública Municipal de Toledo, pelo tel: (45) 3252-6225 ou através do e-mail: biblioteca@toledo.pr.gov.br