segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


kochanie eu comprei pão



assim a estrangeira
faz sua conversa

eu a conheço
com costas quentes

com olhos fechados
numa cama de casal

ainda sem modelo
sem resposta certa

apenas o costume
em monte e vale

como algo que
se adapta a metades

sobre um colchão
traduzível

Uljana Wolf/ tradução Guilherme Gontijo Flores



kochanie ich habe brot gekauft

so bildet die fremde
gespräche aus

ich erkenne sie
mit warmen rücken

mit geschlossenen augen
in einen doppelbett

noch immer ohne muster
ohne richtig antwort

nur die Gewöhnung
an berg und tal

wie sich was
zu hälften fügt

auf einer übersetzbaren
matratze


Uljana Wolf


sábado, 16 de fevereiro de 2013

RONDEL ENLUARADO



A lua guarda nos seus olhos brilhos
Que compartilho quando olham os meus
E, mesmo à noite, quando sigo ao breu
Vão me guiando para andar nos trilhos.

A sua lembrança eu muito acaricio
Me rouba o fogo como prometeu...
A lua guarda nos seus olhos brilhos
Que compartilho quando olham os meus.

Dias e dias eu vivo e sobrevivo
E, sobre os vivos, brilho em estribilho
Desta saudade sua que eu cultivo
Para aguardar chegar os nossos filhos
A lua guarda nos seus olhos brilhos.

Altair de Oliveira, In: A Grande Coisa.


Altair de Oliveira, In: A Grande Coisa.
Este último, o "Rondel Enluarado" que está sendo musicado pelo João Cândido de Manaus e vai sair junto com outro poema meu já musicado "Silêncio, Saudade Brava!" no quarto trabalho (CD) da dupla "Candinho & Inês", cantadores da Amazônia.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cataratas do Iguaçu/ PR

Há um homem selvagem em
Minha cabeça
Que me canta em sonhos de
Prosa cáustica
Por todos os cantos
E tempos do teu verbo

Há um cara
Selvagem em minha cabeça
Em cujo grito primal
Ecoa o barbarismo
Melhor decantado
Do que a mais perfeita
Sinfonia de ordem em vossos
Versos emulsificados

O homem assim
Meus caros
Eu sei vos
Causa azia
O mal-comum
De estar
Neste lugar que ocupais

O cais de fés irrefutáveis
Nas civilizações imaginárias
Às quais sempre chegamos
Um pouco depois ou
Tarde demais
Mas em que acreditamos
Atracar nossos navios
Fantasmas

Um porto no escuro
O trago no ar

Sem portões no horizonte
Porque ele nunca existiu lá

Um selvagem assim e
Diante dele sentes
A orgulhosa vergonha
Do litigante sem escrúpulos
E o desejo onanista
De que o mundo continue
Movimento ao infinito
O lugar
comum do ardil

Ao meu redor e em mim
Refaz-se o homem que entoa
A língua de todas
As estrelas
E ao seu trovoar de nebulosas
Mudas
A cada respiração
Sopra
Livres multidões
Gera em seu riso constelações
Com o calor do flúor, do neon
Na caligem em que
desejamos iluminação

Yury Myamura

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


Vida


1

quando a morte abriu a porta da garagem, anne
sexton, vestindo o velho, memorioso
casaco de pele,
acelerou.


2

aquela noite, no palacete do mito, dylan thomas, cambaleante,
abrindo-se a braguilha, regou o belíssimo
vaso de flores de seu ídolo:

chaplin ficou ultrajado; chaplin, o escada,
o que caiu de bunda, o polícia.
aquela noite dylan thomas é quem foi
carlito.


3

um segundo após fantin-latour
apenas esboçar le coin de table,
arthur rimbaud, com o mesmo
punho que sustinha delicadamente o queixo,
socou a mesa.

Rodrigo Madeira