domingo, 30 de maio de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Rancho das Varejeiras

amor tão grande, nunca visto,
beijar sempre os lábios do lixo.
a enxaqueca canora, o vício
em restos sem qualquer espírito.
o despejado no esquecido:
cigarro, estopa, óleo de rícino;
o descartado e sem amigo:
laranjas podres, corpos findos;
o absurdo e desdentado lírio
mais legumes envilecidos.

bem como a floreira na esquina,
desastre calmo, entardecido,
lhes oferta o monturo ainda
(que importa o minério da sílaba?)
herói, amada, estrela extinta:
sem nojo, o despojo de um livro.

suguem, moscas. ou melhor, libem
o caldo pouco da poesia.


Rodrigo Madeira

sábado, 22 de maio de 2010

Mi Puta Primigenia

Ocultarás nuestra historia con granizo y vergas ajenas hasta convertirla en algo que un borracho escondió bajo tu almohada. Me clavarás órdenes de restricción de todos los colores del arco iris con los que nuestro sistema judicial te protege de mis pestañas.

Pero sabrás que nada de eso le importa al Mamut que se alimenta con el cadáver de tu sudor. Pleistocenamente resentido, gruñiré sobre tu rostro hasta romper el espejismo donde te habita Mi Puta Primigenia.
 
 
Fernando Escobar Páez

Comi

Comi ela.

Lágrimas correram.
Não gostei, mas comi.

Quando a vi
pisquei e decidi
vo pegá ela.

Disfarcei,
andei pra lá
andei pra cá.

Quando não havia
ninguém à vista
me acheguei

me abaixei
me estiquei todo.

Após tanto esforço
peguei ela
e comi ela.

Inteira.

A última cebola
do canteiro da vizinha velha
da prima da minha tia

que eu tava visitando.

 
Deisi Perin

segunda-feira, 17 de maio de 2010



Em prosseguimento ao Projeto Segundas Poéticas do Blues Velvet Cwb
Jorge Barbosa Filho (do Irajá), estará recitando sua obra nesta segunda,
dia 17 de maio!

A música ficará por conta do Paulinho Branco e a banda Sotak
A casa abrirá a partir das 19 horas e as récitas iniciam às 21

Entrada: free
Consumação: 10 reais

cartaz by Dox: doxisss@gmail.com

Blues Velvet Cwb
Rua Trajano Reis, 314
São Francisco - Curitiba

domingo, 16 de maio de 2010

moer todo corpo

deixa o vento pisar na tua alma
faz a pedra moer todo o teu corpo
ri da lua, ismália enlouquecida,
vê a rua cair boquiaberta

se teus vales sonoros regurgitam
de amores vãos, latentes peitos
diz das flores, espaços que evitam
línguas mortas, instantes escorreitos

fala mais de alfa e de ômega.
se valessem as bocas instaladas
na rudeza atroz de alguma entrega
fosse toda a cidade resvalada.

furacão, grosso chumbo de loucura,
sobra o quê de um corpo na tortura?


Romério Rômulo Campos Valadares

http://romerioromulo.wordpress.com/

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Arte-nada

para o niilimundo deste vacuotempo


e na posse de barack obama no youtube:
it’s my pleasure to introduce a unique musical performance
mr. itzhak perlman violinist
anthony mcgill clarinetist
yo-yo ma cellist
and gabriela montero pianist
performing air and simple gifts
a composition arranged for this occasion by john williams
notáveis músicos terceira via
pop top chords perlman e yo-yo ma
mcgill clarijazznetista bernstein-erudito
gabriela montero divinichavista das improvisações impossíveis
de el sistema de la orquestra juvenil simón bolívar
john williams milli grammy-oscares como válter disney
compositores-mores da kitchclássica música sinfoniúnica de hollywood

1 franco-chinês 2 israelo-estadunidense
3 mulher sul-americana 4 afro-descendente
5 composição tradicional
6 com arranjo w.a.s.p.

que diferença faz? ganhar dopado ou limpo
tocar por um playback ou dar concerto ao vivo?
nihil vanilli itzhak milli perlman dudamel barenboim
miles de niilis: unique musical performance for this occasion

a tese deste texto: no capitalismo do fim da história
a crescente contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas
e as relações sociais de produção
tem na arte oficial do nada sua pulsão preferencial

É como se disséssemos:

Vamos trabalhar para resolver as carências humanas
e libertar a todos e todas do jugo do trabalho alienado?
E nos dissessem, Não, tem uma idéia melhor:
vamos construir um estádio gigantesco
e chamar 90 mil pessoas ao vivo
e dois bilhões pela televisão e um bilhão pela internet
para ver quem dá mais voltas em menos tempo
em torno de uma pista de atletismo!

Como se fosse, Vamos nos organizar e resolver as carência do tempo
para eliminar o trabalho alienado?
E nos dissessem, Não, tem uma idéia melhor
Vamos tocar violino, passar longos e penosos anos aprendendo
a tocar violino a dançar na ponta dos pés a ser virtuose em qualquer negócio
– Mas Por quê?
                            – Por quê? Porque, porque faz bem ao espííírito.


E sabe por que você é assim? Por que se sente
tão angustiado? Não é por causa do trabalho alienado é
porque você pratica pouco sexo, quem não transa com ninguém
não pode mesmo estar passando bem

Você está assim é porque não viaja!
Por que você não pega o carro ou passa
numa agência de turismo ou compra
uma passagem de avião ou entra
numa excursão e vai daqui até ali                   e volta!

– Mas por quê?

                                 – Por quê? Porque, porque é liiindo.


O mundo há muito tempo está maduro
Forças produtivas suficientemente desenvolvidas
desde aquele espectro que rondava a Europa
O capitalismo intenta ser o fim da história
trava a roda da história não quer que as relações sociais sigam seu curso
Fukuyama diz que tudo acabou em 1806
– e quem sou eu pra desdizer de Fukuyama –
desde a 1ª metade do século 19 como frisa o Manifesto Comunista
o mundo é palco pleno para o socialismo
e desde então : história-nada , vacuotempo , cronoaniquilamento
forças produtivas que já têm o necessário
para superar o trabalho
mas este se mantém somente porque são ainda como são
as relações sociais de produção

e qual é então a arte que melhor se encaixa
neste vacuotempo niilimundo?
Beuys, Beuys, meus boys, ele é que entendeu a coisa
Beuys – a própria biografia um blefe
Pergunta Kant: isto é belo?
Mas depois de Beuys ninguém se espante se também se diz, pois isto é arte?
Feltros, gordura e feltros
How to Explain Pictures to a Dead Hare (1965)
horas com chapéu de veludo e luvas de boxe
a explicar destarte, cara lebre morta,
o porquê da morte desta nobre arte
I like America and America likes me (1974),
da Alemanha para cinco dias
                                              junto de um coiote
na pequena sala da galeria
                                              Rene Block em Nova York

à sombra das Torres Gêmeas que serão escombros
A Dokumenta de Kassel
O quilômetro vertical de Walter de Maria
um cabo com 1000 m de metal enfiados na terra
O apartamento cheio de areia que o mesmo de Maria
mantém em Manhattan, segundo se relata,
que precisa ser cuidado, aguado, a areia mantida saudável
e aquele alemão, hein, que enterrou um poste, não foi mesmo
e aquele outro que fotografou e arquivou os filmes nunca revelados, dizem
– isto é arte? – e da melhor qualidade

A explícita poética do nada de John Cage
“em 4’33’’ (1952)
um pianista entra no palco
toma a postura de quem vai tocar
e não toca nada
a música é feita pela tosse
o riso e os protestos do público
incapaz de curtir quatro minutos e alguns segundos de
silêncio” Augusto de Campos, O anticrítico, p. 218

Beethoven, Mozart, Shakespeare, Camões não foram a seu tempo
em si mesmos arte-níquel expressão do nada
Corresponderam por exemplo à visão de mundo da aristocracia
ou da burguesia ascendente
ou da aristocracia que se queria parte do mundo burguês novidominante
ou ao modo cortesão de flertar as mulheres e
angariar favores nacionalistas do rei

O que quer que seja
eram a seu tempo formas de expressão de alguma qualquer coisa
A forma-mercadoria
contudo
esvazia seu sentido

Já não expressam nada mais de relevante
Portinari como piso para revestimento de interiores
Picasso como carro Citröen
Mozart for babies
A forma-mercadoria – totalidade
que se sobrepõe à idéia ingênua elitista enganosa aristocrática de arte

Para Keynes a arte em nosso tempo tem
a mesma função que a guerra:
destruir inutilizar paralisar forças produtivas

E se a arte já não cumpre mais
qualquer função efetiva de representação social
E se a arte é reduzida à mera função keynesiana
de imobilização de forças produtivas e entretenimento
E se ela tornou-se vazia de qualquer sentido real
Melhor é ir então direto ao ponto,
melhor fazermos logo Arte do Nada
Para que perder tempo anos e anos aprendendo violino
representando Shakespeare
ofícios cansativos e complexos
Melhor é fazer logo qualquer coisa, fazer o nada dá na mesma
o mote que o capitalismo of’rece à arte
se cumpre rigorosamente com a mesma sorte
seja pelo mais virtuoso dos malabaristas
seja pelo mais vistoso acaso artista-nada

Mas

se a arte de Beuys conceitual Arte-Nada
é a melhor representação do nosso tempo
– o Tempo do Nada do Fim da História –
também se torna cínica adesão ao sistema e se conforma
Ícone, duplo, interpretante do mundo do nada
passa pela prova de ser ela própria
o mesmo cínico signo nada
deste cronovácuo
niilitempo
o sentido da arte : seu caráter militante
cartazes de gustavot diaz → objetos que perseguem militância
sem isto trabalho e tédio
esclesiástico-haroldianamente névoa-nada e fome-vento:
confinados na opressão do trabalho
escravos das múltiplas formas deste nada que nos toma

À questão, pois:
Invertido seu sentido
todavia
a arte conceitual a arte-nada
dialeticamente seria a arte da transformação do tempo

a arte do nada-tudo,
do tudo pelo nada enfim liberto do nada que o comprime


Paulo Bearzoti Filho

poema extraído da Revista Panfleto! número 1

domingo, 9 de maio de 2010


Ninguém esta salvo

Da notícia que não é nova
Do picareta que quer buceta
Do pop que não poupa
Da poupa ácida em forma de usuário

Do vovô atras de vulva
Do revoltado sem calça
Do Dalton trancado
Do tambor sangrento

Ninguém esta salvo

Do picareta que só quer suas idéias para usar
Numa tevê falida.
O futuro é um arma apontada para a cara.

Odeio velhos filhas da puta
Odeio a moralidade
Odeio o elogio
Odeio a loucura

No momento só sei odiar e ser odiada.
Não pare apenas se acalme
O mundo só ira melhorar
se: a internet sumir
a tevê explodir
e o rádio virar radio - atividade

Enquanto a midia pensa ter o controle
a revolução acontece com o filho de Prestes.

Odeio gente que fala "axim"
Odeio gente falsa
Odeio pessoas
Odeio a mim mesma

e adoro esquecer
quanto mais esqueço mais sábio o sabiá fico.

Gosto mesmo é da minha mãe
e de não fazer nada
se tentar fazer é morrer
prefiro a morte mais rápida
porque quanto mais controlo as minhas emoções
mais louca e demente eu fico
tomada de pensamentos
e de solidão

e do caos das notícias forjadas.

É tudo mentira
e é tudo verdade
Declaro (a mim) mesma
que a cidade de curitiba é uma causa perdida
e que ainda prefiro os cachorros vira-latas
e as portas verdes.

Declaro (a mim) mesma
que Clarice tem razão
e que ela deveria ter namorado mais.

Declaro (a mim) mesma
que o amor não existe
que a ilusão é a melhor forma de existência
e que o medo é o culpado de tudo.
Declaro (a mim) mesma
que sou uma grande estupida e idiota.
Declaro que não têm lugar para o (a mim) neste mundo.
E que não consigo me calar é por isso que sofro, por tudo que esta perdido.
Realmente estou com medo.
Acho que corri demais
sufoquei demais
Dei valor para coisas sem valor.

Se um amanhã é um novo dia prefiro que este dia acabe logo.



Pagu

sexta-feira, 7 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dialeto do Lodo

é mesmo possível que
os pulsos cortados da chuva
ou um sol suicida
nos mofem a língua e
apenas facultem, em meio
ao coma desenganado das flores,
o dialeto do lodo.

mas é certo que ainda,
empiolhados de estrelas,
cantaremos

como não canta o pássaro
como não canta a máquina
como não canta a morte

como só canta o fogo,
o barítono brutal que há no fogo.


Rodrigo Madeira