domingo, 31 de outubro de 2010

K(HDR)

Igreja Ortodoxa de São Jorge - Curitiba

Bouquet

Tudo. Saindo boca afora. Todo seu poder de alienação, qualquer palavra que a boca não diga. Qualquer vibração pra dentro, os ossos sentindo o que a garganta doída engole. E mais por dentro, só aquela capacidade de mascarar o intratável e dilacerado ego: indiferença.


Não. Eu deveria dizer, como naquele movimento rápido que ‘não’ é sempre a personificação de Nice. Como verdades enviesadas por mil línguas que sempre culminarão o amor das salas de estar. Talvez não, eu ainda assim, diria algo. Porque não dizer que o que ele me dizia, lá no fundo e ao fundo, preenchendo todos os espaços vazios, nunca foram nada, além de ambientação.


Juliana Vallim

terça-feira, 26 de outubro de 2010

trabalho de parto

parto como
quem planta
de fora pra dentro
da fúria disforme
do fogo que (fátuo) afia
a faca que fura
dura feito falo
a flor da palavra

pedra

a pedra da palavra
flor
parto como
quem expulsa a dor
com os fórceps da v a g i n a

parto
essa detonação do corpo
como a rosa de Hiroxima
parto
um verso natimorto
um aborto da rima

[do riso

em estado puerperal
que arrebata o juízo

disseco meu peito
[da aorta ao
umbigo]

porque poema nenhum, jamais, nasceu
de parto normal

e assim, no cesariano contato
com cada sanguínea palavra
vejo misturar-se ao ritmo
primal algumas vísceras
do verbo entre átrios
e artérias

no percurso quase prosaico
do trígono fibroso
ao septo ventricular
até chegar irrigando róseos tons
ao tom só rubro do coração
acelerado
acelerado
acelerado
quizás tomado pelo psicotrópico efeito
de ver-se a si próprio
pulsando no papel
quizás pelo encontro inesperado
e repentino com seu amo
[que é ironicamente seu resto
e seu rosto (ou sua máscara)

e nesse mais que colorante-instante
em que o cárdio esparge idéias pela carótida
em que as veias e os vasos mais líricos
– sem misturarem-se aos venosos vãos –
arquejam por pleuras e alvéolos
ofega a máquina humana

e o poema oscila, excitado
como as ondas de um eletrocardiograma.


Marcelo Reis de Mello

http://cozinhapoesia.blogspot.com/

sábado, 23 de outubro de 2010

Vizinhos I

 Litografia em chapa de alumínio - 2010 

by Dox

Janela dos Fundos

Pára no meio do dia.
Não ao meio-dia, mas em qualquer meio de qualquer dia.
Um quadro claro de luz... a janela!
Os ouvidos passam os limites da fresta, e
a testa, um pedaço de pele tocado pelo sol.

O quase silêncio, o lugar do vento,
os fundos e as sombras dos prédios e casas,
o assobiar de mínimos erígidos espaços, calhas rangendo e a vibração do metal que dá forma aos sinos.
Um miolo desértico, muros de concreto, azulejo, limo.
Um gato vadio se espreguiça sobre a telha aquecida,
um parquinho velho, enferrujado, esquecido
no meio do miolo cercado por janelas vazias.
Janelas que hipnotizam com a dança de suas
cortinas em transe.

Os carros são ruídos longe,
como o choro do domingo e
a festa do sábado.
Assim nessa segunda, longe de um urbano frenesi,
Longe dos sons de ilimitáveis decibéis,
de passos e calçadas, motores e buzinas.
Longe da janela da frente,
a um apartamento da janela da frente.


Rodrigo Ceccon

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Objeto Voador e Outras Coisas da Terra

ponta seca - dry point

2010
 
by Dox: http://doxlucchin.blogspot.com/

Stonehenge* de Águas Marinhas

Um “Stonehenge” de águas transparentes
No oceano dos mistérios do acaso

Me visitou em sonho, ou eu estive lá.
Beleza das águas verdes, azuis e envolventes.

Linguagem primária e indescritível.
Um prazer, despertar para a realidade

Com a lembrança de um lugar inimaginável.
Mas, presente na mente,

Nos segredos do inconsciente.
Fonte das inspirações fluídicas,

Dos sonhos enigmáticos.
Talvez, dos registros "akashicos”*.


Angela Gomes

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cracolândia

à 7palmos da esmola
ela pede súplicas
grávidas de escrúpulos
pedras e toda essa loucura todos dentro dela são alguém que não sabe amar
 
Tauã Teixeira

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

In Memorian

A morte, megera
mãe da minha dor,
levou-me um amigo.

Não o levou de todo,
tenho-o aqui comigo
:no teatro interior:

vai de bicicleta,
todo patafísico,
o meu Cláudio Bettega.
 

Antônio Navarro Lins

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

help something

vou virar prefeito
pra impedir você de asfaltar a minha rua
anticlímax perfeito
coelho ricochete
e tartaruga tuchê

mal passamos de uma carne crua
não sobrou metade da alma dua

não te quero nem como amiga do peito
imploro a chance de te perder

fomos ao fundo da sandice
confuso, confucio disse
todo mundo vai moler

Sergio Viralobos, Thadeu Wojciechowski, Magoo, Édson Vulcanis, Octavio
 
http://magoodesign.blogspot.com/

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Desde Santiago

por esas calles por
donde mistral neruda hui
dobro también
caminho
arroupado
por el azul, rascacielos
y la canción
aunque sólo
funcione por poesia (nada
quehacer?
a nadie) minha
língua
está em obras

HOMBRES TRABAJANDO

amontonado material
de construcción


Rodrigo Madeira (09/10/2010)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Movimento:
parte do
meu eu,
em distopia,
avança pelo
tempo,
numa sinfonia
de ar e euforia,
perdido
enfrentamento
que me faz
amar e sentir o
vento a todo
momento.


Cláudio Bettega (12/06/71 - 06/10/2010)


http://www.claudiobettegaemcena.blogger.com.br/

http://www.claudiobettegaemcena.blogspot.com/
Esses gritos
tão maditos
esses sonhos
tão medonhos
são parte de
uma poesia vadia
que plantei
no meu jardim
e rego
com lágrimas
que saem de mim


Cláudio Bettega (12/06/71 - 06/10/2010)

http://www.claudiobettegaemcena.blogger.com.br/

http://www.claudiobettegaemcena.blogspot.com/

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Igreja Matriz de Santo Antônio - Lapa - Pr

Blusão

Olorum me deu
coração sem trinco
parecido portinhola de saloon

seus lábios da cor de urucum
o vento da sua saia
me acertaram feito bala-dundun

yes baby
meu coração
fez tibum !

well well well
uma estrela dependurou
na sua orelha
depois de despencar do céu

well well well
com você eu brinco
de contar carneiros
na lua, num lual, ao léu


Edu Hoffmann

sábado, 2 de outubro de 2010

Os Limites Da Cidade

"‎a poesia aumenta o território do pensável, mas não diminui o território do impensável"

Vilém Flusser