segunda-feira, 24 de março de 2014

não é por vaidade
que se demonstra haver nas coisas
o seu desejo de ver

debruçar os olhos além dos ditames
da forma, talvez

se conhecesse a cadeia de escândalos
na qual uma mulher se abandona ao espelho

profundamente olha
querendo a sucessão

de cada existência, ínfima, que a penetra
é um dardo e que tem por olho a direção

quer fazer de todas as coisas o alvo
e está em todas as coisas

ela mesma, ausente
um palco
catártica e silenciosa

até fazer um furo -
se não refratasse tanto


no escuro, a pupila.


Roberta Tostes Daniel

quinta-feira, 20 de março de 2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

o meu licor de agapanto
licores da flor de coentro

eu vou entrar mar adentro
realizar meu espanto
no teu olhar feito vento."

Romério Rômulo

Exercícios de fé (dominical)



i.
Preciso que Deus me guie até o seu paiol
e que do alto dos ocasos
brilhe a pedra fundamental
onde me lavo
em fogo, estrela
bruta e ampla -
crer que meus pés caminham
até a próxima explosão.

ii.
Todo domingo. Uma confissão
de que todo domingo
é uma fraude
sem missais.

iii.
Preciso que o deus venha
áspero, desesperançado
nuns olhos de Clarice.

iv.
Que se redescubra o fogo.

Roberta Tostes Daniel

(2013)

Mocidade Azul

Carnaval de Curitiba/ 2014

O passado assombra desejos

O passado assombra desejos.
A consciência embriagada de culpa
denuncia fraquezas
aponta erros.

As lágrimas escorrem
para dentro
e os olhos secos não veem
a sombra no branco das montanhas
formando tua face.

As nuvens, inutilmente
embaralham tua imagem.
A névoa do talvez
tenta embaçar teu sorriso.

Lanço-me nas trevas
para ver melhor
o brilho das estrelas
e vislumbrar teu espírito delicado
e uma profunda beleza
na tua intensa e misteriosa
forma de preencher minha vida.


Deisi Perin

terça-feira, 4 de março de 2014


Carnaval de Curitiba/ 2014

segunda-feira, 3 de março de 2014



Uma busca desenfreada rumo a lugar algum. Assim começa o inicio do fim. Na esperança do dia finar assassinando qualquer luz. Pulando escuridões como quem salta carniças.

Pressa... pressa e os minutos a escorrer, pingando sangue do nariz; olhos secos. Nada dói tanto quanto o tédio. Os urros do silêncio das pastosas horas diante da caixa de vozes estéreis e imagens nulas a sugar o sumo do cérebro, fazendo brotar, verdes sinistros apodrecimentos na lente entorpecida da memória. Acorrentado à gravidade da cama, serena sepultura que chama para o sono sem sonhos, um cálice de morte sabor de miséria e derrota.

"Sirenes soam lá fora!"

"É só a polícia."

"Tiros!"

"É só mais um assassinato".

Nada tem valor para ser guardado para quem não é ninguém. Pelo menos os vermes e as baratas discordam. Presume-se. Um prato saboroso na sepultura, madeira podre sem ser de lei. Também, nunca obedecera a norma nenhuma, a nenhuma ética.Só a etílica.Bom, não precisou de formol.

(Está exposto no Museu Schadenfreudeutsch de Arte Moderna, plastificado por algum artista pós-moderno da pós-arte ou pós-qualquer coisa. O rosto e as entranhas. A propósito o ingresso custa 30 Euros, serve uma romena )

Wilson Roberto Nogueira