quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Elegia ao Relojoeiro



(a meu pai)

Pontuou alfas
em contrapontos
do ômega...

e das mãos
se condestinaram
interstícios...
sinais da memória
(interlúdios de alguém)

Tormentos e
legendas
tocaram
salvara a expectativa
ressalvara talvez
um sonhador.

Não vingava o intento,
artíficie da hora e
do momento.
Milionésimo, centésimo ou segundo
préstimos de algum anseio,
cantara em fornituras:
a solitude
e coligia o ponto
de um próximo amanhã,
compasso do ontem a circular
o átimo de ânsias e pendores
filigranas de minuto a minuto
arrematara o segundo.

Os cilindros enxergavam,
o labor
aprisionava...
mas o tempo lhe foi súdito,
ao menos na tua mesa.

Espiral de arcanos que se anseiam
destros olhos em miríades
n'algum presto acontecimento
esteve assim a perfilhar
legendas do que se espera,
por isso,
o chamaram de relojoeiro.


Tullio S.Sartini

Nem fome nem sede
O gato em cima do telhado

é só um quadro na parede

Alvaro Posselt  

A criação da Xoxota


Sete bons homens de fino saber
Criaram a xoxota, como pode se ver:
Chegando na frente, veio um açougueiro.
Com faca afiada deu talho certeiro
Um bom marceneiro, com dedicação.
Fez furo no centro com malho e formão
Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno.
Forrou com veludo o lado interno
Um bom caçador, chegando na hora.
Forrou com raposa, a parte de fora.
Em quinto chegou, sagaz pescador.
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor.
Em sexto, o bom padre da igreja daqui.
Benzeu-a dizendo: 'É só pra xixi!'.
Por fim o marujo, zarolho e perneta.
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a...
Buceta!


Mário Quintana.