quinta-feira, 31 de outubro de 2013


Sherdi

A maneira que aprendi
a comer cana no Sanosra:
Uso os meus dentes
Para rasgar o duro chaal exterior
então, arranco tiras
do fibroso coração branco
chupo forte com meus dentes, pressiono
e o caldo derrama.

Manhãs de janeiro
o agricultor corta a tenra cana verde
e traz à nossa porta.
À tarde, quando os anciãos estão dormindo
nos esgueiramos  levando os lisos caules longos.
O sol nos aquece, os cachorros bocejam,
nossos dentes crescem fortes
nossos queixos estão dormentes,
das horas que chupamos o russ, o caldo
grudento sobre toda nossa mão.

Portanto, esta noite
quando você me diz para usar meus dentes
para sugar mais forte, mais forte
então, sinto cheiro de cana-de-açúcar
em seu cabelo
e imagino que você gostaria de ser
sherdi sherdi nos campos
os talos balançam
abrindo um caminho diante de nós.


Sujata Bhatt/ tradução de Luzia Biermann Silveira


Sherdi


The way I learned
to eat sugarcane in Sanosra:
I use my teeth
to tear the outer hard chaal
then, bite off strips
of the white fibrous heart
suck hard with my teeth, press down
and the juice spills out.

January mornings
the farmer cuts tender green sugar-cane
and brings it to our door.
Afternoons, when the elders are asleep
we sneak outside carrying the long smooth stalks.
The sun warms us, the dogs yawn,
our teeth grow strong
our jaws are numb,
for hours we suck out the russ, the juice
sticky all over our hand.

So tonight
when you tell me to use my teeth
to suck harder,harder
then, i smell sugar cane grass
in your hair
and imagine you’d like to be
sherdi sherdi out in the fields
the stalks sway

opening a path before us.


Sujata Bhatt

terça-feira, 29 de outubro de 2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Electra no Caminho de Azaléias

O dia em que você morreu adentrei a terra
Ao hibernáculo mal iluminado
Onde abelhas, listradas em preto e dourado, dormem na nevasca
Como pedras hieráticas, e o chão é duro.
Foi bom por 20 anos, que invernada -
Como se você nunca tivesse existido, como se eu fosse
Gerada por Deus ao mundo desde a barriga de minha mãe:
Seu amplo ventre vestiu a marca de divindade.
Eu não tinha nada a fazer com culpa ou qualquer coisa
Quando rastejando retornei ao coração da minha mãe.

Pequena como uma boneca no meu vestido de inocência
Eu sonhei com sua épica jornada, imagem por imagem.
Ninguém morreu ou murchou no palco.
Tudo aconteceu em uma iluminação durável.
O dia em que despertei, eu acordei em Churchyard Hill.
Encontrei seu nome, seus ossos e tudo
Inscritos em uma pedra e apertados por uma cerca de ferro torta.

Nesta caridosa enfermaria, este albergue, onde a morte
Ronda pé por pé, cabeça por cabeça, nenhuma flor
Rompe o solo. Este é o caminho de Azaleias.
Um campo de bardana abre para o sul.
Seis pés de cascalho amarelo lhe cobrem.
A sálvia artificial vermelha não se mexe
Na cesta de sempre-vivas de plástico que colocam
Na lápide ao lado da sua, nenhuma apodrece,
Embora as chuvas dissolvam uma tintura sangrenta:
As falsas pétalas gotejam, escorre vermelho.

Outro tipo de vermelho me incomoda:
O dia em que sua vela folgada tomou a respiração da minha irmã
O tranquilo púrpuro marítimo igual pano maligno
Que desenrolou minha mãe na sua derradeira volta ao lar.
Eu emprestei os sedimentos de uma tragédia antiga.
A verdade é que, final de outubro, no nascimento do meu pranto
Um escorpião o envenenou a cabeça, e o amaldiçoou;
Minha mãe sonhou com sua face sob mar.

Os atores petrificados posam e pausam para respirar.
Eu trouxe o meu amor ao nascer, e então você morreu.
Foi a gangrena que te comeu até o osso
Minha mãe disse; você morreu como qualquer homem.
Como deveria eu crescer naquele estado de espírito?
Eu sou o fantasma de um suicídio infame,
Minha própria navalha azul enferrujando em minha garganta.
Oh perdoe aquele que pede por perdão em
Seu portão, pai - sua cadela, filha, amiga.

Foi o meu amor que nos fez morrer.


Sylvia Plath/ tradução Luzia Biermann Silveira



Electra on Azalea Path

The day you died I went into the dirt,
Into the lightless hibernaculum
Where bees, striped black and gold, sleep out the blizzard
Like hieratic stones, and the ground is hard.
It was good for twenty years, that wintering—
As if you had never existed, as if I came
God-fathered into the world from my mother's belly:
Her wide bed wore the stain of divinity.
I had nothing to do with guilt or anything
When I wormed back under my mother's heart.

Small as a doll in my dress of innocence
I lay dreaming your epic, image by image.
Nobody died or withered on that stage.
Everything took place in a durable whiteness.
The day I woke, I woke on Churchyard Hill.
I found your name, I found your bones and all
Enlisted in a cramped necropolis,
Your speckled stone askew by an iron fence.

In this charity ward, this poorhouse, where the dead
Crowd foot to foot, head to head, no flower
Breaks the soil. This is Azalea Path.
A field of burdock opens to the south.
Six feet of yellow gravel cover you.
The artificial red sage does not stir
In the basket of plastic evergreens they put
At the headstone next to yours, nor does it rot,
Although the rains dissolve a bloody dye:
The ersatz petals drip, and they drip red.

Another kind of redness bothers me:
The day your slack sail drank my sister's breath
The flat sea purpled like that evil cloth
My mother unrolled at your last homecoming.
I borrow the stilts of an old tragedy.
The truth is, one late October, at my birth-cry
A scorpion stung its head, and ill-starred thing;
My mother dreamed you face down in the sea.

The stony actors poise and pause for breath.
I brought my love to bear, and then you died.
It was the gangrene ate you to the bone
My mother said; you died like any man.
How shall I age into that state of mind?
I am the ghost of an infamous suicide,
My own blue razor rusting in my throat.
O pardon the one who knocks for pardon at
Your gate, father—your hound-bitch, daughter, friend.

It was my love that did us both to death.


Sylvia Plath 

A observação dos pássaros


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Frágil considerariamos a quem, em um mundo de crocodilagem, detivesse sua única arma na retidão da palavra?

Se o Demo rema o redemoinho, Àquele que está sentado á direita do Espírito Santo e à esquerda do Filho, de tudo está à espreita.

Homero, Virgílio, Dante são para quem tem garantido teto e comida no mês. Cultura pra mim é você dividir um dos dois pães que comprou com as míseras moedas do bolso. Arte é ver o sorriso nos olhos do menino.

Neste sertão cujo chão é petit pavê, nestas veredas madrugueiras, forte é o homem que tem na retidão da palavra sua única arma. Um lobo a menos para devorar a cria mas, que ao invés, age para o bem da matilha.


Ricardo Pozzo

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Quem é esse mano que usa roupas tão largas
Com a pele parda
e o sorriso amarelo?

Cara estranho
com o cabelo trançado
deve ser mais um nóia
mais um viciado

Mais quem o conhece
sabe quem ele é
é um cara firmeza
que tem filho e mulher

Faz corre de a pé
pra não gastar o VT
Domingão pega o filho
e sai pra dar um rolê

Não assiste Tv
prefere ler o jornal
acredita no RAP
não na Glock ou na FAL
 
Pra policia ele é
suspeito de tudo
só não sabem os canas
que esse preto tem estudo

Esclarece seu povo
E fala a real
Por isso corre perigo
já decretou o seu final

Foi depois das 10 horas
Que chegaram os carros
Dentro dele estavam
O sargento e três soldados

Esse cara é um problema,
conhece os seus direitos
Disse isso o sargento
antes de acertar
um tiro em seu peito

No outro dia o noticiário,
O acusarão trafico
de ser um salafrário

A verdade mesmo
Nunca foi divulgada
Esse homem morreu
por amor a sua quebrada.


Matheus Dumsch Dutra