quinta-feira, 23 de abril de 2015

Clandestino na cidade que cresci, por três dias andarilho a deriva, qual vagasse pelas areias das praias de Troia, com as tripas coladas às costas, tragando apenas o hipogástrico alumínio do amargor.
Já exausto, por acaso, uns missionarios de sei lá qual igreja me oferecem a marmita do Jardim das Delícias. 

Há tempos, eu e meus desseseis dentes, não éramos tão felizes.


Ricardo Pozzo

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Nova Primavera


Sebastião Salgado

A miséria
Só é bonita
De longe
Ela é linda
Metafisicamente
Acéptica
Na fotografia
Velada
Pelo obturador do artista


Fausto dos Santos

Nova Primavera


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Em uma Páscoa passada

Três caras pararam o automóvel ao meu lado e saíram gritando:
- Perdeu, playboy! Pode ir passando o dinheiro e o telefone!
Eu, num arroubo de coragem e tentativa de esquiva lírica respondi:
- Playboy nada, rapá! Sou poeta.
Então o porta voz da empreitada tranquilizou-se e disse:
- Ele é poeta, malandrage, então tá com sorte hoje, não vamos mais te roubar, vamo é te bater pra largar mão de ser besta. Onde já se viu poesia ser profissão agora... pra ter este telefoninho de merda...
Aí, possuído de uma dose extra do arroubo, respondi:
- Oras, se vocês são ladrões de profissão, por que não posso ser poeta? Além do mais os poetas também são ladrões, ladrões de fogo, nunca leram Rimbaud?
Respondeu ele:
- Ler não li, mas quando era piá vi todos os filmes dele... tá bom, então pela consideração à camaradage profissional não vamos mais te bater... passa o dinheiro e o telefone...


Ricardo Pozzo