quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A grande invenção

Permanente o assombro do velho mateiro. O menino inventava coisas de assarapantar; arapucas que capturavam bandos inteiros de rolinhas, pipas gigantescas que pareciam beijar o sol, engenhos com que podia ascender aos galhos mais altos e frágeis e furtar aos passarinhos as frutas mais tenras.
Notou que de uns tempos pra cá não arredava pé da cozinha . Desconfiado, pôs-se à espreita e o surpreendeu em estranha atitude: tinha as mãos aferradas ao zíper da blusa que abria e fechava sem cansaço, os olhos atentos ao balé das chamas e às evoluções da centopéia na caixa de sapatos; julgou que o moleque enlouquecia quando o pino da panela de pressão pôs-se a gritar e a girar doidamente como um cata -vento.
Alarmado, foi ter com o patrão que, ao tomar conhecimento das invencionices do menino, decidiu levá-lo para estudar na capital. Indescritível a excitação do menino a bordo do carro. De repente, ouviu um grande ruído, o mundo parecia vir abaixo. O carro se deteve. Avistou, então, um caminho de prata e o trem-de -ferro que vinha apitando, dizendo que vinha do Piauí.
Tinham se antecipado à sua invenção.

Edivan Pereira

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