Nuances de rumores incompleto silêncio
nas sombras das dores.
Passagens da vida
em nuances de cores
do amargo ao doce.
A vida tem diversos sabores
Deisi Perin
sábado, 26 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Frágil
E na verdade, mesmo quando tudo vai explodindo, ela permanece; contendo os próximos erros, todos os futuros apertos e a taquicardia que nunca virá. A timidez é como uma máscara pintada sobre a pele frágil e polida. A ameaça de pequenas aproximações e a atração doentia pela incerteza de um mundo imerso em águas absolutamente quentes torna a fala como algum tipo de língua estrangeira secundária, e olhando um pouco melhor, todos esses movimentos explicitam o que a coragem cala.
Depois do fôlego se externando até na palma da mão é como se em cada gesto provocado no meio dos segundos fizesse nascer um buraco negro que depois de engolir, ricocheteia o som do futuro como uma lembrança fugaz. Ela emudece, na tentativa de paralisar os pensamentos exclusos de sensatez, mas agora e depois de tudo, seu corpo já é simplesmente uma radiografia.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Lebowski e eu
Entramos no elevador Lebowski e eu. Fedíamos a maconha. Notamos que o espelho no qual costumávamos olhar nossos reflexos, o espelho havia sido retirado de uma das três paredes que constituíam o elevador. Depois que também as outras três paredes que constituíam o elevador tinham sido removidas. Achamos que a porta, a porta que dá acesso ao elevador, pensamos que a porta continuava ali, abrindo e fechando, porém logo vimos o quanto estávamos errados, não havia mais a porta. Então olhamos para cima, qual não foi a nossa surpresa, Lebowski e eu nos deparamos com um teto que não existia mais. Aquele era um roteiro de decepções, seguidas de decepções, disse-me Lebowski. Foi aí que juntos olhamos para o chão e já não havia chão. A coisa degringolara completamente. Foi necessário que Lebowski e eu flutuássemos. Mas flutuar assim de última hora?, reclamou Lebowski.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Cropopoesia
por que é o mesmo o pudor de escrever e defecar?
(joão cabral de melo neto)
quem gosta de poesia “visceral”,
ou seja, porca, preguiçosa, lerda,
que vá ao fundo e seja literal,
pedindo ao poeta, em vez de poemas, merda.
(antonio cicero)
o ânus é sempre o terror e eu não aceito que alguém perca um pedaço de excremento sem dilacerar-se por estar perdendo também a alma.
(antonin artaud)
para glauco mattoso.
Quero escrever
um poema
a partir da incontinência
de escrever
o poema
(triunfante
como uma cagada),
da imundície
de escrever
o poema.
mais que ruim,
poema fétido:
minha camisa aberta,
a peixaria das axilas,
a alegria gratuita
e irresponsável
de escrever
meu nome
nas coisas,
inda que sujando,
com uma fuzilaria
de engulhos.
que, se jogado fora,
não faça falta no
curso geral do dia
nem, de desimportante,
pese em algum
sistema de erros.
mas sobrevenha
num esquema de porcarias,
misturado a meu mijo
e meus pentelhos.
que feda,
que some aos meus
olhos de esgoto
e flua,
mais que um tietê de bolso,
fluente como diarreia.
(o idioma
da merda, seu fedor,
é direto como um murro,
mais sincero e universal
que o olor das flores.)
que este poema
não aperte os olhos
de um míope,
ou levante os óculos
na testa do comentarista.
que, a contrapelo,
lhes entorte a pose,
a um só tempo
com náuseas
e dores de barriga.
que não seja uma canção,
de tão irregular,
nem, de tão pastoso,
geométrico.
sórdido, cínico, laxativo,
mas infinitamente sincero,
que seja
pegajoso como esterco novo,
sob o assédio do sol
e dos vermes.
quero escrever
um poema
a partir da necessidade
fisiológica
de escrever
o poema.
ele será péssimo, mas
terá serventia,
mesmo infensa:
poema pelo prazer
de jogá-lo fora
(e emporcalhar a cidade)
em limpa consciência.
ou a poesia que há
em não dar descarga,
em não lavar as mãos,
digno do imundo
banheiro público.
poema infecto,
câncer de língua,
lixo literário,
febre do amoníaco,
vala aberta na página,
que vou querer
(menos que não quero) suprimir
do livro,
da memória,
da história
de meu corpo.
mas que, antes,
será motivo de vanglória,
quando o mostrar
ao amigo
como quem exibe no vaso
o design inusitado
da própria bosta.
(quem lhe negará ser
húmus possível
da boa poesia,
perfumosa como o milho?
a stink of beauty
is a joy forever.)
poema abjeto,
que cause urticária
nos querubins,
ânsias de vômito
nas musas,
inesquecível de ruim,
pior
que um gole
de água sanitária.
o menos que se diga,
em flatos barulhentos
(como quem afina
um trompete),
é que é ruim, ruim
de dar nojo, de dar gosto,
entre babas de diarremia,
à liquidez da anemia,
escrito na língua
da impureza,
pra que ninguém
o entenda
senão como um nauseante
e pedestre
acerto.
ou vaso a céu aberto,
coprolatria,
muito além de poema:
a latrina feita templo,
guirlandada com
papel higiênico,
sob anjos feios como urubus.
deus (como todo deus, de dentro)
será um fedor insistente,
será filho de meu cu.
e quando eu excretar
esta obra-crime
(agora mesmo),
aureolado de moscas,
me vaie como quem
me eleva,
que eu sairei andando
com a naturalidade
de quem caga e anda,
de quem assina com a tinta
de sua própria merda.
Rodrigo Madeira
(joão cabral de melo neto)
quem gosta de poesia “visceral”,
ou seja, porca, preguiçosa, lerda,
que vá ao fundo e seja literal,
pedindo ao poeta, em vez de poemas, merda.
(antonio cicero)
o ânus é sempre o terror e eu não aceito que alguém perca um pedaço de excremento sem dilacerar-se por estar perdendo também a alma.
(antonin artaud)
para glauco mattoso.
Quero escrever
um poema
a partir da incontinência
de escrever
o poema
(triunfante
como uma cagada),
da imundície
de escrever
o poema.
mais que ruim,
poema fétido:
minha camisa aberta,
a peixaria das axilas,
a alegria gratuita
e irresponsável
de escrever
meu nome
nas coisas,
inda que sujando,
com uma fuzilaria
de engulhos.
que, se jogado fora,
não faça falta no
curso geral do dia
nem, de desimportante,
pese em algum
sistema de erros.
mas sobrevenha
num esquema de porcarias,
misturado a meu mijo
e meus pentelhos.
que feda,
que some aos meus
olhos de esgoto
e flua,
mais que um tietê de bolso,
fluente como diarreia.
(o idioma
da merda, seu fedor,
é direto como um murro,
mais sincero e universal
que o olor das flores.)
que este poema
não aperte os olhos
de um míope,
ou levante os óculos
na testa do comentarista.
que, a contrapelo,
lhes entorte a pose,
a um só tempo
com náuseas
e dores de barriga.
que não seja uma canção,
de tão irregular,
nem, de tão pastoso,
geométrico.
sórdido, cínico, laxativo,
mas infinitamente sincero,
que seja
pegajoso como esterco novo,
sob o assédio do sol
e dos vermes.
quero escrever
um poema
a partir da necessidade
fisiológica
de escrever
o poema.
ele será péssimo, mas
terá serventia,
mesmo infensa:
poema pelo prazer
de jogá-lo fora
(e emporcalhar a cidade)
em limpa consciência.
ou a poesia que há
em não dar descarga,
em não lavar as mãos,
digno do imundo
banheiro público.
poema infecto,
câncer de língua,
lixo literário,
febre do amoníaco,
vala aberta na página,
que vou querer
(menos que não quero) suprimir
do livro,
da memória,
da história
de meu corpo.
mas que, antes,
será motivo de vanglória,
quando o mostrar
ao amigo
como quem exibe no vaso
o design inusitado
da própria bosta.
(quem lhe negará ser
húmus possível
da boa poesia,
perfumosa como o milho?
a stink of beauty
is a joy forever.)
poema abjeto,
que cause urticária
nos querubins,
ânsias de vômito
nas musas,
inesquecível de ruim,
pior
que um gole
de água sanitária.
o menos que se diga,
em flatos barulhentos
(como quem afina
um trompete),
é que é ruim, ruim
de dar nojo, de dar gosto,
entre babas de diarremia,
à liquidez da anemia,
escrito na língua
da impureza,
pra que ninguém
o entenda
senão como um nauseante
e pedestre
acerto.
ou vaso a céu aberto,
coprolatria,
muito além de poema:
a latrina feita templo,
guirlandada com
papel higiênico,
sob anjos feios como urubus.
deus (como todo deus, de dentro)
será um fedor insistente,
será filho de meu cu.
e quando eu excretar
esta obra-crime
(agora mesmo),
aureolado de moscas,
me vaie como quem
me eleva,
que eu sairei andando
com a naturalidade
de quem caga e anda,
de quem assina com a tinta
de sua própria merda.
Rodrigo Madeira
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
dialétrica
em tese
apesar das antíteses
há uma vaga hipótese, amor
de sermos síntese.
sente?
MERCEDES LORENZO
Evolucionismo [Evolu(vel)ção]
Sou um animal
extremamente irracional
e eficiente.
Instinto, efeito hormonal,
que seja:
escolhi macho saudável, novo, belo
com gens à flor da pele
e produzi a prole forte
pra perpetuar a espécie.
Carma, Darwin, Deus,
whatever!,
devem estar contentes.
Sou animal que morde e cospe
a compreensão das linhas tortas.
Isso já não me importa tanto
( foi uma uma boa troca).
Enquanto me livrar
das frases fáceis,
da morte chata
e da vida certa,
ainda tenho sorte.
Flá Perez
Alma Siamesa
Esplendor das minhas aspirações siderais,
Totaliza-me nas jornadas que se expandem no Tempo.
Nos confins da eterna noite onde chove luzes de ouro
Sublime encanto paira em holográfica projeção de nosso sonho.
Estrelas congênitas, procedentes de uma revolução coexistente,
Selamos um lídimo elo perante centros gravitacionais que se cruzam.
A sua linda voz andrógina quando soa indireta
Faz-me transladar em déjàvu ao imo de uma curiosa emoção.
Sendo misteriosa flor de fogo em paisagem onírica
Vivemos além dos anjos, cintilante parte do que somos.
Amamos os meteoros, os lagos da Lua, o desconhecido...
Temos afeição pelo etéreo, transcendemos a ordem dos pólos.
Alternando as forças entre fluídicas criações
Elevamos valores do Universo no Planetário da Aliança.
Unificados com o magnetismo dos buracos negros
À sombra da macro-amplidão consagramos nossa integra consciência.
Conduz-me a fabulosos níveis de vibrações
Eternizados entre a cósmica alegria e a incondição.
Perfeita como o inexplicável fascínio de amar você
Energia espiritual que me acompanha num abraço para eu viver.
GIULIANO FRATIN
Aceitação da Loucura
Não vou à igreja
pedir perdão
por ser desigual
- prefiro a ciência
e a hóstia rosa
da Roche -
Nessa demência cetim - lexotan,
cai bem a nudez e a vodka
manchando o lençol on the rocks.
Ai, esqueci por sua causa
o que ia dizer!
- acho que tinha a ver
com sua não aceitação
da minha cuca torta,
sacaneada -
Fique com seus acertos,
suas mortas, filhas-das-patas
chocas
e me deixe
- choque! -
Posso até ser errada,
mas o problema é seu
e dê graças a Deus,
se não entende nada.
Flá Perez
pedir perdão
por ser desigual
- prefiro a ciência
e a hóstia rosa
da Roche -
Nessa demência cetim - lexotan,
cai bem a nudez e a vodka
manchando o lençol on the rocks.
Ai, esqueci por sua causa
o que ia dizer!
- acho que tinha a ver
com sua não aceitação
da minha cuca torta,
sacaneada -
Fique com seus acertos,
suas mortas, filhas-das-patas
chocas
e me deixe
- choque! -
Posso até ser errada,
mas o problema é seu
e dê graças a Deus,
se não entende nada.
Flá Perez
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
de esquina
1. o travesti
meu amor, ouça!
a vida é um pai
de cinco metros
que tentou me
banir de mim,
que me deu banho
de arruda e socos
e esconjurou.
tem que ser macho
pra abrir o armário
em busca de
seus sutiãs.
tem que ser fêmea
pra entrar nos carros
2. o traficante
cada semana
um tênis novo,
novo relógio,
novo boné.
não fala, mas
vive cercado
por seus apóstolos,
um nimbo de
fumaça suja
sobre a cabeça.
quando morrer
(sempre amanhã)
reviverá
inda mais jovem.
Rodrigo Madeira
meu amor, ouça!
a vida é um pai
de cinco metros
que tentou me
banir de mim,
que me deu banho
de arruda e socos
e esconjurou.
tem que ser macho
pra abrir o armário
em busca de
seus sutiãs.
tem que ser fêmea
pra entrar nos carros
2. o traficante
cada semana
um tênis novo,
novo relógio,
novo boné.
não fala, mas
vive cercado
por seus apóstolos,
um nimbo de
fumaça suja
sobre a cabeça.
quando morrer
(sempre amanhã)
reviverá
inda mais jovem.
Rodrigo Madeira
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Nada novo, de novo
"Os belos serão os bélicos!
Elmos no lugar de cérebros!"
Homem de Ferro; Sergio Viralobos e Marcos Prado
É tensa a ordem da primeira
fila no front abarrotado
de almas esfaceladas
ao primeiro toque
do clarim
Ausência de sono,
ausência de fome;
cão que ladra morre
A qualquer momento,
o soar do segundo toque.
É erro a insistência
da coragem
desprovida de medo.
Averiguar
a equipagem
sabendo que ela
nada garante.
Segundo toque! Avante!
Ricardo Pozzo
Elmos no lugar de cérebros!"
Homem de Ferro; Sergio Viralobos e Marcos Prado
É tensa a ordem da primeira
fila no front abarrotado
de almas esfaceladas
ao primeiro toque
do clarim
Ausência de sono,
ausência de fome;
cão que ladra morre
A qualquer momento,
o soar do segundo toque.
É erro a insistência
da coragem
desprovida de medo.
Averiguar
a equipagem
sabendo que ela
nada garante.
Segundo toque! Avante!
Ricardo Pozzo
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
uma concha
parto um osso
de pomba
e ao levá-lo ao ouvido
posso ouvir
o alarido
da praça
Rodrigo Madeira
de pomba
e ao levá-lo ao ouvido
posso ouvir
o alarido
da praça
Rodrigo Madeira
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Existe beleza em todos os lugares na terra, mas existe uma beleza maior naqueles lugares onde se tem aquela sensação de bem-estar que surge quando não se tem mais que adiar os sonhos até o improvável futuro-um futuro que se esquiva inexoravelmente; onde o modo que se permeia uma vida subitamente se esvai, porque não há nada o que temer.
Jozef Skvorecky
(O engenheiro de almas)
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Caleidoscópio
Caleidoscópio
Saborear sonhos antigos
que já nem sei se os sinto.
Preciosos caquinhos perdidos
junto à embriaguez de ópio
Qualquer coisa assim sumindo
num fugaz caleidoscópio.
Mágico objeto
de espelhos de uma vida inteira,
Refletido eco
De desejos sem fronteiras.
Deisi Perin
Saborear sonhos antigos
que já nem sei se os sinto.
Preciosos caquinhos perdidos
junto à embriaguez de ópio
Qualquer coisa assim sumindo
num fugaz caleidoscópio.
Mágico objeto
de espelhos de uma vida inteira,
Refletido eco
De desejos sem fronteiras.
Deisi Perin
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Poetas?
Sim,
Há aqueles que brigam com tudo,
e se pretendem Quixotes,
mas quando em palco cai o fundo
uma verdade se remove
e o que se vê é outra cena,
onde, fantoches de si mesmos,
pintam um quadro surreal –
em meio a tons pastéis - torresmos
outra comédia nos acena:
egos inflados em carnaval.
Somem as lanças de papel,
das armaduras ficam nus
e gesticulam querubins,
mascarados pelo céu
de suas solidões em vão.
Há um que berra e surta,
em exagero oligofrênico –
enquanto a “coréia” o aplaude
e vaia um pobre inculto
que percebe o fingimento.
Um outro se diz alquimista,
capaz de transformar em ouro
a merda, se lhe fizerem coro –
sua platéia goza uníssona.
E, assim, nas noites das décadas,
exibem-se os menestréis
nesta cidade em que as pétalas
são notas de rodapés.
Mais vale expor a intimidade
do que escrever algo que valha –
pois, se a poesia falha,
a biografia, quem sabe?
“Cada qual com seus problemas”,
loucura, magia ou fimose,
serve ao público que os devore,
fingindo comer poemas.
No entanto, lá, no canto
do boteco, o poeta
que finge sem ser cancro
de si mesmo, observa,
ao sofrimento da luz,
que fulgura em seus neurônios,
reinventa o que traduz
em seus goles de plutônio.
Em sua dignidade de Cervantes,
eu, um reles Sancho Pança,
observo-o a distância:
a anunciação do mito andante.
Yury Miyamura
Há aqueles que brigam com tudo,
e se pretendem Quixotes,
mas quando em palco cai o fundo
uma verdade se remove
e o que se vê é outra cena,
onde, fantoches de si mesmos,
pintam um quadro surreal –
em meio a tons pastéis - torresmos
outra comédia nos acena:
egos inflados em carnaval.
Somem as lanças de papel,
das armaduras ficam nus
e gesticulam querubins,
mascarados pelo céu
de suas solidões em vão.
Há um que berra e surta,
em exagero oligofrênico –
enquanto a “coréia” o aplaude
e vaia um pobre inculto
que percebe o fingimento.
Um outro se diz alquimista,
capaz de transformar em ouro
a merda, se lhe fizerem coro –
sua platéia goza uníssona.
E, assim, nas noites das décadas,
exibem-se os menestréis
nesta cidade em que as pétalas
são notas de rodapés.
Mais vale expor a intimidade
do que escrever algo que valha –
pois, se a poesia falha,
a biografia, quem sabe?
“Cada qual com seus problemas”,
loucura, magia ou fimose,
serve ao público que os devore,
fingindo comer poemas.
No entanto, lá, no canto
do boteco, o poeta
que finge sem ser cancro
de si mesmo, observa,
ao sofrimento da luz,
que fulgura em seus neurônios,
reinventa o que traduz
em seus goles de plutônio.
Em sua dignidade de Cervantes,
eu, um reles Sancho Pança,
observo-o a distância:
a anunciação do mito andante.
Yury Miyamura
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Informes Culturais Poeteias
MEDIEVAL:
Olá, os convido para mais uma apresentação de música medieval.
TABERNA FOLK - Cosmópolis, Sp
(Música Medieval)
Abertura com:
Vevila Veldicca - Curitiba, Pr
(Música Celta)
Dia 28/11/2009 - 19:00h - Centro Paranaense Feminino de Cultura R$10,00
(Rua Visconte de Rio Branco, n° 1717 - Centro - Curitiba/Paraná - Fone: 3232-8123)
Ingressos antecipados à venda para o dia 28: De Kroeg Bar (Av. Jaime Reis, 320 - São Franciso - Curitiba)
Em frente ao estacionamento do Ópera 1.
Também pelos fones: Henrique: 9914-5547 / Robson: 9608-8721 / Eduardo: 9671-1923
ou pelo e-mail: folkloricstorm@gmail.com
Ingressos no local APENAS na hora do evento.
Dia 29/11/2009 - 18:00h - Café Parangolé R$07,00
(Rua Benjamin Constant, 400) - Fone: 3092-1171(próximo a Reitoria da UFPR)
HAVERÃO
Camisetas e CDs a venda nas datas das apresentações
Lúcia Gönczy
Olá, os convido para mais uma apresentação de música medieval.
TABERNA FOLK - Cosmópolis, Sp
(Música Medieval)
Abertura com:
Vevila Veldicca - Curitiba, Pr
(Música Celta)
Dia 28/11/2009 - 19:00h - Centro Paranaense Feminino de Cultura R$10,00
(Rua Visconte de Rio Branco, n° 1717 - Centro - Curitiba/Paraná - Fone: 3232-8123)
Ingressos antecipados à venda para o dia 28: De Kroeg Bar (Av. Jaime Reis, 320 - São Franciso - Curitiba)
Em frente ao estacionamento do Ópera 1.
Também pelos fones: Henrique: 9914-5547 / Robson: 9608-8721 / Eduardo: 9671-1923
ou pelo e-mail: folkloricstorm@gmail.com
Ingressos no local APENAS na hora do evento.
Dia 29/11/2009 - 18:00h - Café Parangolé R$07,00
(Rua Benjamin Constant, 400) - Fone: 3092-1171(próximo a Reitoria da UFPR)
HAVERÃO
Camisetas e CDs a venda nas datas das apresentações
Lúcia Gönczy
sábado, 21 de novembro de 2009
Informes Poeteias
- aos amantes da poesia:
"Um novo projeto que visa colocar em evidência
a poética curitibana, incentivando a produção
literária e a narração da poesia"
O evento será quinzenal. Estarei lá com minhas poesias ao lado do poeta Edson Falcão, nesta primeira edição.
- Edson Falcão publicou dois livros de poesia:
- As musas do Canal Belém
- O Ossário de um Ferreiro.
Prepara seu terceiro livro para breve.
...
Café, Leite Quente e Poesia
O Sublime x O Pitoresco
Edson Falcão e Bárbara Lia
dia 21/11
16h
Café do Paço - Paço da Liberdade
Praça Generoso Marques, 189
Curitiba - PR -
Bárbara Lia
"Um novo projeto que visa colocar em evidência
a poética curitibana, incentivando a produção
literária e a narração da poesia"
O evento será quinzenal. Estarei lá com minhas poesias ao lado do poeta Edson Falcão, nesta primeira edição.
- Edson Falcão publicou dois livros de poesia:
- As musas do Canal Belém
- O Ossário de um Ferreiro.
Prepara seu terceiro livro para breve.
...
Café, Leite Quente e Poesia
O Sublime x O Pitoresco
Edson Falcão e Bárbara Lia
dia 21/11
16h
Café do Paço - Paço da Liberdade
Praça Generoso Marques, 189
Curitiba - PR -
Bárbara Lia
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
MIOPIA SOCIAL
Anoitece
e o último quadro pardo,
um homem comum
maquiado de escravo,
gravado...
na impressão de quem esquece.
Do singular que caminha,
do transeunte...
o que cambaleia nos rumos dos sapatos
e borda a rua
às vezes sem destino...
Ri dum cansado
como quem suspira.
Trágico ensaio,
como quem suporta
a morte eterna batendo à sua porta.
Altair de Oliveira
– In: Curtaversagem ou Vice-Versos.
e o último quadro pardo,
um homem comum
maquiado de escravo,
gravado...
na impressão de quem esquece.
Do singular que caminha,
do transeunte...
o que cambaleia nos rumos dos sapatos
e borda a rua
às vezes sem destino...
Ri dum cansado
como quem suspira.
Trágico ensaio,
como quem suporta
a morte eterna batendo à sua porta.
Altair de Oliveira
– In: Curtaversagem ou Vice-Versos.
cantos gregorianos
décima 1
poetemos o PT:
se quando ética existia,
sarney era uma rapina,
vigarices da mercê,
agora força esquecer.
lula na verdade é polvo,
sépia nos olhos do povo,
espreguiçando os tentáculos
por onde lautos repastos:
remessas, repasses, soldos.
décima 2
só se relaxando o esfíncter,
leva-se no magro cu
da boa-fé – norte a sul –
fala-falo/em-falso-em-riste.
alma e virtudes de pinscher,
ocultando ossos no armário,
cagando mole no erário:
à Postiça Social,
mau-caráter carnaval,
só com surra de caralhos.
décima 3
ou se com boa boquinha
de chupeteira na teta,
uniforme de estafeta
onde a Estrela Boazinha,
anjos co´asas de galinha;
só com sangue de chacal,
rigor de débil mental,
no refeitório das ONGs
prum miojo com mensonge,
pra concluir: “menos mal".
Rodrigo Madeira
poetemos o PT:
se quando ética existia,
sarney era uma rapina,
vigarices da mercê,
agora força esquecer.
lula na verdade é polvo,
sépia nos olhos do povo,
espreguiçando os tentáculos
por onde lautos repastos:
remessas, repasses, soldos.
décima 2
só se relaxando o esfíncter,
leva-se no magro cu
da boa-fé – norte a sul –
fala-falo/em-falso-em-riste.
alma e virtudes de pinscher,
ocultando ossos no armário,
cagando mole no erário:
à Postiça Social,
mau-caráter carnaval,
só com surra de caralhos.
décima 3
ou se com boa boquinha
de chupeteira na teta,
uniforme de estafeta
onde a Estrela Boazinha,
anjos co´asas de galinha;
só com sangue de chacal,
rigor de débil mental,
no refeitório das ONGs
prum miojo com mensonge,
pra concluir: “menos mal".
Rodrigo Madeira
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Você
Ainda me falam de você. As mesmas garotas que um dia treparam comigo. Elas não sabem o quanto você significou pra mim. Não sabem o que eu ainda sinto. Acham que vou aos bares pra flertar e me divertir. Uma porra. Eu vou pra fugir de mim. De Deus. E de todo mundo. De um mundo todo que me assusta. Assusta tanto quanto assustou àquele cara com cabelos loiros e casaco de lã. Aquele que deu um tiro dentro da boca. Dá medo. Essas garotas não sabem de nada. Nunca souberam de porra nenhuma. Quem sabia era você. Sabia tanto que me deixou assim. Desarmado. Desamado. Aimeudeus. Agora invento palavras e não me importo com nada. Por onde você anda? Ah, eu sei. Isso não é da minha conta. É que eu sempre me importei. Minto, fingindo que não ligo. Mas, penso em você todos os dias. Desde o primeiro. Não sei se será assim até o último. Isso ninguém sabe. O que sei é que todo homem tem uma mulher pra lembrar. Uma que ficará pra sempre ali, guardada. Sempre com uma tristeza que não cessa. Mesmo com filhos, esposa e família. Sempre tem uma mulher que fica na cabeça. Aquela que fodeu sua vida em algum momento. Todo homem tem uma mulher pra lembrar pro resto da vida. A merda é que eu acho que já tenho a minha.
Wilton Isquierdo
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Efêmera
I.
Vênus veio.
Um oi,
um x,
um selo.
Depois foi...
O adeus de um deus do amor
nunca me foi tão terreno.
II.
Seus olhos exalavam tanta vida
que ao vê-los
achei que salvaria a minha
Seus lábios foram tão quentes
com tão pouco
que quis tê-los para sempre.
III.
Vênus taurina
por que chegaste na minha vida
se já estavas de saída?
Adriano Smaniotto
Vênus veio.
Um oi,
um x,
um selo.
Depois foi...
O adeus de um deus do amor
nunca me foi tão terreno.
II.
Seus olhos exalavam tanta vida
que ao vê-los
achei que salvaria a minha
Seus lábios foram tão quentes
com tão pouco
que quis tê-los para sempre.
III.
Vênus taurina
por que chegaste na minha vida
se já estavas de saída?
Adriano Smaniotto
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Advérbio de intensidade terminado em mente
Devia ser umas onze horas. Ligou o chuveiro e tirou a roupa bem devagar para que a água tivesse tempo de esquentar. Entrou de uma só vez, viu a tinta preta dos seus cabelos escorrendo pelo corpo. O mundo é mesmo uma merda. Ela não queria tomar banho, só ficar ali. Sentou no chão e a água começou a bater absurdamente quente nos seus joelhos, deixando-os vermelhos. Masoquista. Como as músicas que ouvia para ficar mais triste. Como roer as unhas até sair sangue. Unhas. Gostava delas carmim como estavam porque parecia mais puta, logo mais despudorada e confiante e moderna e confiante e feliz. As putas deviam ser felizes. Desespero. Procurou algum resquício de ilusão. Gostava de se iludir, de sentir-se falsamente protegida por alguém que pouco se importava com a sua existência. Existência. Se tivesse uma banheira, cortaria os pulsos e morreria afogada na água vermelha, como naquele filme. Começou a rir sem controle, porque na película a menina suicidava-se ao som de alguma coisa da Mariah Carey. Ou seria Whitney Huston? Estúpido, not for her. Ela queria morrer com estilo. Edith Piaf, talvez. Então pensou nas manchetes dos jornais baratos: jovem desiludida corta os pulsos em uma banheira ouvindo Piaf. Precisava de um papel para escrever um bilhete para alguém. E não podia ser um bilhete qualquer, mas sim, um como aquele do Almodóvar. Espero que nunca me entenda, porque se compreenderes estarás tão desesperado quanto eu. Alguma coisa assim, não lembrava direito. E tinha aquela cena com vinil, Ne me quitte pas e uma frase qualquer bonita. Seus joelhos estavam ardendo. Desligou o chuveiro e saiu. Não tinha uma banheira.
LETICIA FONTANELLA
leticiafontanella.blogspot.com
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Galo
Em cima do telhado apontando para o Norte,
está o galo sossegado.
Não liga para mim nem para a sorte.
Passa dia, passa ano,
e o galo ali parado
sempre tão altivo e forte.
Às vezes a vida se torna
vazia e solitária,
e o galo pensa na morte.
Ele que parecia tão decidido, ensandeceu.
Virou repentinamente para o Sul
Duvidando dos ventos.
Será que este galo
Está tão perdido quanto eu?
Deisi Perin
está o galo sossegado.
Não liga para mim nem para a sorte.
Passa dia, passa ano,
e o galo ali parado
sempre tão altivo e forte.
Às vezes a vida se torna
vazia e solitária,
e o galo pensa na morte.
Ele que parecia tão decidido, ensandeceu.
Virou repentinamente para o Sul
Duvidando dos ventos.
Será que este galo
Está tão perdido quanto eu?
Deisi Perin
sábado, 7 de novembro de 2009
Ensaio
guardei teu azul
nas vidrarias e na porcelana.
no cadinho, coloquei para secar.
teorias e ensaios.
teu azul coloriu de sonho
o que não havia para sonhar.
acordo mudo mútuo refratário.
no cadinho, coloquei para secar.
no laboratório de ensaios
as vidrarias quebradas
as cruzes retorcidas
tudo já foi usado.
em qual vidro restará
o que não foi apagado?
em qual estudo ressurgirá
do cadinho de porcelana trincado
o resto da tinta do teu olhar?
Angela Gomes
nas vidrarias e na porcelana.
no cadinho, coloquei para secar.
teorias e ensaios.
teu azul coloriu de sonho
o que não havia para sonhar.
acordo mudo mútuo refratário.
no cadinho, coloquei para secar.
no laboratório de ensaios
as vidrarias quebradas
as cruzes retorcidas
tudo já foi usado.
em qual vidro restará
o que não foi apagado?
em qual estudo ressurgirá
do cadinho de porcelana trincado
o resto da tinta do teu olhar?
Angela Gomes
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Terra Deserta
NALDOVELHO
Terra deserta de sonhos
não se presta ao cultivo de gente,
e as coisas que ali acontecem
alimentam sentimentos estranhos.
Por lá não florescem gerânios,
samambaias desmaiadas padecem,
azaléias ressequidas não crescem,
e o que nos resta é semear desenganos.
Em terra deserta de sonhos,
o canto dos pássaros destoa,
as horas de tão lentas enjoam,
e o dia nunca amanhece.
Vidas desertas de sonhos
não se prestam ao cultivo de homens,
que por dias, meses e anos,
aprisionados às sombras não crescem.
Terra deserta de sonhos
não se presta ao cultivo de gente,
e as coisas que ali acontecem
alimentam sentimentos estranhos.
Por lá não florescem gerânios,
samambaias desmaiadas padecem,
azaléias ressequidas não crescem,
e o que nos resta é semear desenganos.
Em terra deserta de sonhos,
o canto dos pássaros destoa,
as horas de tão lentas enjoam,
e o dia nunca amanhece.
Vidas desertas de sonhos
não se prestam ao cultivo de homens,
que por dias, meses e anos,
aprisionados às sombras não crescem.
Profana
A cor do amor é branca,
e o amor tem uma covinha do lado direito do rosto
e o amor me olha como alguém
que jamais vai tirar a minha calcinha
e gozar o céu dentro de mim.
O amor sempre vai me olhar
como se eu estivesse num altar de papel.
Para o amor, eu sou uma rima
e rima não tem vagina.
Para o amor, eu sou uma ode
com uma ode ninguém fode.
Eu sou um verso alexandrino
jamais tocado pelo herdeiro deste nome.
Eu sou a palavra, e a palavra, a palavra é Deus
Deus ninguém come, mas,
será que beber
pode?
BÁRBARA LIA
in: NOIR (edição independente - 2006)
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
sábado, 31 de outubro de 2009
Letras Celestiais
caído do céu poema azul
ácido pássaro
abatido de gozo e riso
banido do paraíso
ferido em tombo preciso
letra de fado
ritmo de samba
soar colorido
feito blues
de branco tingido
que deus me prove
vai que o céu é mais ao sul
e deus me love
e deus me livre
de ser eu
a besta do após calipso
vai que eu sei
que viro a mesa
luso-afro-brasileira
de madeira nobre
expondo os restos coloniais
desta nação de hipócritas
mostrando o rastros
desta história corrompida
vai que sei
não estou só
e não é só meu esse nó
e esse bom gosto
na língua.
rodrigo mebs
visite: http://frutafarta.blogspot.com
ácido pássaro
abatido de gozo e riso
banido do paraíso
ferido em tombo preciso
letra de fado
ritmo de samba
soar colorido
feito blues
de branco tingido
que deus me prove
vai que o céu é mais ao sul
e deus me love
e deus me livre
de ser eu
a besta do após calipso
vai que eu sei
que viro a mesa
luso-afro-brasileira
de madeira nobre
expondo os restos coloniais
desta nação de hipócritas
mostrando o rastros
desta história corrompida
vai que sei
não estou só
e não é só meu esse nó
e esse bom gosto
na língua.
rodrigo mebs
visite: http://frutafarta.blogspot.com
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Bubble
Aqui não tenho destino; enxergo, ainda faminta, um pequeno cristal rompendo a penumbra daquelas noites tão ensurdecedoras. Desses dias moídos, o corpo gritando inutilmente, - um alento - a pedra ou a faca vertendo o céu em um prazer único, aquele que nunca virá. Recortes de construções, reformas paleozóicas, grandes passos contorcendo o corpo e chegando à Europa, distante... Noites próximas: na minha reconstrução, o que virá? Ouço o silêncio dos flashes, pequenas ondas quebrando na areia e o distender do joelho esquerdo, enquanto o direito jaz. Juntando sempre pedacinhos de papel, pois a palavra é sem destino, tanto quanto isto aqui, e a mão que conduz, e o corpo derretendo a cada instante quando "não" e ainda se precisa estar. Uma expansão ressonante, enquanto a menina densa encolhe seu corpo e acomoda seus cabelos sobre o travesseiro, o sol chega batendo nas plantas, chacoalhando as asas, engolindo o canto dos pássaros, destruindo a percepção de anteontem e estremecendo as pálpebras. A mão branca feito papel e recheada por um labirinto febril e nervoso que pulsa: a íris ainda é multicolor.
Petit J
http://aospecadossilencio.blogspot.com/
Deus afia a espada no dorso do esquálido firmamento e abre um buraco vermelho no céu, primeiro caem as cabeças dos justos, depois cai Ícaro e suas asas são negras vertigens - o desassossego do anjo que grita como asno enquanto avista o buraco azul no centro da terra, onde as sombras agarram-se às frestas esperando a morte de suas consciências, entre a lava e o dilúvio nenhuma árvore erguida, os olhos dos homens arregalados ou fechados para sempre.
Camila Vardarac
http://vaga-lumens.blogspot.com/
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Oficina de Crônicas
Na próxima quarta-feira, dia 28/10, no Paço da Liberdade (Praça Generoso Marques), terá início uma Oficina de Crônicas, ministrada pela escritora Gloria Kirinus. Terá duração de 4 semanas (4 quartas-feiras), no horário das 19:00 às 21:00. Sem custos! Inscrições no local ou por telefone, 3234-4207, com Elisson ou Liliam.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Desterro
imagens passam como póstumas
obras de um cinéfilo desvairado entre os anjos
estrelas de sangue e luz brotam da tela
quanto se tange o inatingível
quando se tinge o intangível
e o possível é só coincidência
ou lembrança destas bestas que me cercam
ciência só já não me explica
imagens lavram o poema
e a palavra fogo
trança os olhos de quem pensa
pensando o quê mero poema
palavrinhas são areias
destas praias tão estranhas
pensando o quê mero poeta
que entre folhas entre galhos sóis e sombras
caminha um monge nada casto
enquanto uma lua virgem e nua
lhe adorna a testa
pensando o quê mero palhaço
que entre montanhas verdes e dunas
o monge claro escorre quase líquido
e carrega em seus braços uma sereia de sal
e suas pegadas profundas e largas
são lagoas e mais lagoas de mágoas
imagens varam a retina
e a escrita cristalina já não existe em meio ao sangue
a areia então vermelha vira mangue
e quem sabe entre os carangueijos albatrozes e abutres
haverá um deus pra traduzi-las
Rodrigo Mebs
por quê, meu filho
Eu comecei a ter fome. Foi assim, pai, que tudo começou. Pé de moleque no bar da esquina não matava as bichas. Não mais. O senhor sabia que cedo ou tarde eu ia partir por essa bandas aí acima com o peito aberto de cicatrizes ao vento, desbravando o morro de Vera Cruz. O que foi que encontrei pelo caminho, ainda me pergunta. Onde tu, pai, foi que me jogastes? Eu te pergunto. Euzinho! Num oásis imenso feito por encruzilhadas que nunca mais acabava. Fui simbora, sim, convicto, não conto ao senhor? Caminhei léguas alternando a noite e o dia, um após o outro, sol, chuva, frio, intempéries; dormindo sobre paralelepídedos, catando o que comer, fumando bitucas, até chegar ao cume do que ambicionava. Lá, os dez mandamentos como o senhor prescreveu. Habitei-me na escuridão da noite de dentro das cavernas vazias de estrelas entre lobos, ursos, chacais e morcegos. E habituei-me sem as palavras. De quem é o coração mais selvagem? Por ti, pai, para provar a sua morte e a minha glória, sangrei os dedos ao escalar a colina, cuspi no cálice pra ter o que beber; comi até o Bambi, numa das noites de lua cheia e uivos caninos, pai. O senhor não acredita? Pois não? Eu blasfemo e muito sabe o senhor enganado que com esta taça de barro, esta mezona de carvalho trincado ao meio, este cachimbo, o fogão a lenha mais a tentação de Maria do Rabo Rico na cozinha, podem me comprar. Engana-te, velho! Seu eu conseguisse me despregar daqui de cima, ah! se eu conseguisse, eu mostraria ao senhor com quantos paus se faz uma cruz de ponta cabeça e riscaria no chão, em nome do Capeta, o Curumim. É.
GIULIANO GIMENEZ
aguerradasimaginacoes.blogspot.com/
Ex(cripta), nas estrelas?
Casou-se com um arqueólogo que a trocou por outra múmia. A caminho do Egito, para restauro, foi resgatada de naufrágio por pescador que teima haver encontrado uma sereia. Naturalmente enrolada, necessita de um oftalmo que a oriente para o ocidente, onde a sua alma repousa no sarcófago sem o seu grito, digo, mito.
ANGELA GOMES
domingo, 18 de outubro de 2009
(...) Bem que eu tentei despistar a governanta...
porém a poesia pinup poppins veio voando de sombrinha
___e um verso jason me perseguiu até o fim da linha –
tinha uma rima ali muito na sua que também tava na minha
___feito alguma avezinha suavezinha que se avizinha
quando você já despachou o vizinho e refugou a vizinha
___só pra ler sossegado o seu jogo da amarelinha
e aí chega a sua gostosa atrás do açúcar que você nem tinha
___e então vocês passam a noite toda trocando figurinha,
lendo, anotando, interpretando e comentando
___a carta de pero vaz de caminha
Ivan Justen
ossurtado.blogspot.com/
sábado, 17 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Submerso...
Sem mais cansar-se...
Assim, mais adiante, digo a mim mesmo para hoje ouvir...
Enquanto árvore e sorriso de polvo, entre recifes de sonhos...
Pois o fundo se expressa onde sem mais pressa existe-se...
Nas razões sem luz, nos mundos nascidos na escuridão profunda...
Distantes do que se sabe por consciência...
Onde não se sabe, onde multidões semiológicas aproximam-se e afastam-se...
Sais de logos são partículas na fluidez do imenso...
E o movimento entorna, revolto com toda a intensidade por onde quer que exista...
E no inteiro de seu som, recortam-se pedaços de silêncio profundo...
Onde movem-se uma infinidade de céus...
As criaturas incomunicáveis em presença fazem-se todas uma...
Assim, submerso posso experimentar as imagens que se criam...
Na imensidão de instantes...
Onde em cada recorte do silêncio, em cada fragmento de silêncio está uma pintura...
Em ânimo próprio, tais fragmentos do silêncio autorecortam-se e unem-se...
Sempre de modo inusitado...
Há em cada uma de suas partes o desvio do entendimento...
E a percepção nas profundezas afóticas, se apresenta...
MOSIAH SCHAULE
terça-feira, 13 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Pensão não, barraco!
O sr e sua aposentadoria esperam no barraco;
A noiva abre o zíper.
Chove lá fora, alaga ainda mais.
Tem barro, limo, sujo.
As mães não dão mais banho aos sábados nos piás;
Jogam o lixo o cachorro Uóchitom Buxi boiando com a barriga inchada.
A noiva fecha o zíper,
Sai do barraco,
Na poça reflete a porta do carro abre.
Abre o zíper:
A noiva cospe,
Corre de manhã pra casa do piá tem cherinho e as pedras que ela quer.
Bate cinza na lata furada,
Os homens da noite que acaba viram fumaça,
O chão do quarto é seu espaço.
O fantasma Chico admira a noiva da janela a lata vai além:
Pousa no Belém.
RODRIGO CECCON
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Plágio
A campainha barulhenta tocou. Odiava quando a campainha barulhenta tocava. Aliás, devia estar velha mesmo: odiava qualquer coisa que não fosse boa música ou bom filme, ultimamente. A campainha barulhenta tocou de novo. Vestiu uma camiseta e foi atender.
– Oi.
– Oi.
– Oi.
– Eu estava com saudades.
– Eu estava dormindo. Entra e fecha e porta.
Beija. Com sono, com pressa, sem vontade. Ele ainda fala:
– Passei pela loja ontem e vi um disco do My Bloody Valentine. Lembrei de você, mas, tava caro. Um dia eu compro pra nós.
– Cadê a merda dos meus cigarros?
– Aqui.
Acende, coloca uma música para tocar.
– Hey, você comprou o disco dos Smiths?
– Comprei. Surtos consumistas. Odeio consumismo.
– Me beija.
– Eu estou fumando agora. Espera.
– Eu não ligo.
– Eu não quero.
Algum tempo e o silêncio. Ele não consegue suportar:
– Terminou o livro?
Cinzeiro em uma mão, começou a arrumar as coisas no lugar.
– Não, dormi. Acho que vou ao médico, semana que vem.
– Está sentindo alguma coisa?
– Sono. Odeio sentir sono.
– Todo mundo sente sono, não precisa ir ao médico. Está sentindo mais alguma coisa?
– Não. Vou ao médico, odeio sentir sono.
– Devem ser esses seus remédios...
– Eu não vivo sem eles. Quero outro para não sentir sono. Tem remédio pra tudo hoje em dia.
– Tem Buscopan.
– Assistiu ao filme ontem?
– Sim.
– Ok. Não conheço mais ninguém que nunca tenha visto Fellini.
– Não exagera.
Colocou vodka pela metade num copo de estrelinhas. Terminou o cigarro.
– Quer?
– Quero. Eu gosto de você.
– Eu sou insuportável.
– É. Mas, eu gosto de você.
Sentou no mesmo sofá que ele estava sentado.
– Eu sou insuportável e tenho sono.
– Cala a boca.
Ele a beijou. Ele sorriu. Ficaram abraçados por alguns instantes. Tonta, levantou para fazer café.
– Quer café?
– Não. Eu queria você.
– Clichês agora?
– Pra te fazer sorrir.
– Odeio clichês.
Ela levantou e foi até a cozinha. Estava incomodada, olhava para a água fervendo no micro-ondas. Café solúvel, leite desnatado, adoçante. Voltam para o mesmo sofá. Ele a beija. Ela o beija. Daqueles beijos devagar, mordendo os lábios, com os olhos abertos para poder olhar. Deitam-se no chão. Ele tenta beijá-la. Ela olha para o teto.
– Não vivo mais sem micro-ondas.
Ele continua beijando.
– Eu tive um sonho engraçado essa noite.
Ele continua beijando.
– Pára.
– Desculpa.
– Eu tive um sonho engraçado essa noite.
– Você não dormiu à noite.
– Modo de falar.
– Você estava com alguém ontem?
– E se estivesse?
Ele sorri:
– Eu não iria embora.
– Eu não faria isso.
Mentira. Tinha problemas com relacionamentos: não conseguia ficar com ninguém porque alguém melhor podia aparecer.
– Com o que você sonhou?
– Coisas estúpidas.
– Não vai contar?
– Não.
– Por que começou então?
– Não comecei. Odeio contar sonhos. Preciso dormir.
– Posso dormir com você?
– Não sei.
Mais tempo e mais silêncio.
– Ok, fica. Mas, eu preciso dormir.
Deitam, ele a abraça. Ela sorri e fala:
– Ok. Eu gosto de você.
Ele sorri.
LETICIA FONTANELLA
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Ibiscos
Ibiscos
Entre raízes, caules e folhas me perdi,
na fotossíntese entendi
sobre flores e inflorescências aromatizadas
polinização fertilizada
frutos carnosos
frutos secos
germinação e reprodução
plantas de deserto
plantas aquáticas
carnívoras, epífitas e parasitas.
__ Esse pedúnculo vem sempre aqui?
Estigma de aluno aéreo.
__ Você está com o estame de fora!
Zero em biologia
Já pra secretaria
Nem te ligo
Floema e xilema funcionam bem...
Deisi Perin
Entre raízes, caules e folhas me perdi,
na fotossíntese entendi
sobre flores e inflorescências aromatizadas
polinização fertilizada
frutos carnosos
frutos secos
germinação e reprodução
plantas de deserto
plantas aquáticas
carnívoras, epífitas e parasitas.
__ Esse pedúnculo vem sempre aqui?
Estigma de aluno aéreo.
__ Você está com o estame de fora!
Zero em biologia
Já pra secretaria
Nem te ligo
Floema e xilema funcionam bem...
Deisi Perin
domingo, 4 de outubro de 2009
Dicas Culturais Pó&teias
Amigos,
mando o link do Karaoke Coral na Gazeta: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/blog/sobretudo/
se puderem comentem no blog sobretudo, quem sabe não ganhamos uma matéria no dia 07?
Beijos e espero vcs la!
Celeste Fernandez
www.karaokecoral.com
mando o link do Karaoke Coral na Gazeta: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/blog/sobretudo/
se puderem comentem no blog sobretudo, quem sabe não ganhamos uma matéria no dia 07?
Beijos e espero vcs la!
Celeste Fernandez
www.karaokecoral.com
sábado, 3 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Mais uma noite sem sono
É estranho estar acordado na escuridão. É como estar consciente sem saber do quê. A lâmpada fluorescente é como se fosse a lua, e o interruptor a primeira estrela no céu. Dizem que, quando vemos uma estrela no céu, às vezes ela não está lá. É que ela fica tão longe, mas tão longe, que a luz leva alguns milhares de anos pra chegar aqui. Se todas as pessoas, quando ficassem deprimidas, pensassem que as estrelas podem nos pregar esta peça, talvez deixassem escapar um sorriso, nem que fosse o riso frio dos que riem só pra mostrar que entenderam o raciocínio, mas ririam assim pra si mesmas, como quem raciocina sozinho, ao ler um texto, por exemplo. Ler um texto é sempre muito solitário, sobretudo quando se vê, pelo reflexo da janela no seu monitor, que constroem muros do outro lado da rua. Mas, cá entre nós, que sabem eles das estrelas? É uma questão de lembrar que uma estrela existe, mesmo que esteja bem longe, e que ela pode brilhar, mesmo que não exista. Sim, porque as estrelas têm o humor que só os suicidas sabem ter, os suicidas que deixam sobre a mesa apenas um bilhete engordurado dizendo "fui", talvez "adeus" e quem sabe até "I love you, I love you, I love you". E o leitor que não ria: sofresse da insônia que eu sofro, também transformaria seu quarto num planetário, onde há apenas a lua e uma estrela, que não existe. Mesmo que descobrisse depois, num artigo de Astronomia, que era tudo mentira. Afinal, que sabem os astrônomos das estrelas? Talvez eu ainda possa contar esta história num desses muitos momentos da vida em que nos falta assunto. Quero dizer, não quando se está conversando e a conversa esfria, digo quando nos falta assunto a nós mesmos, quando se está sozinho no escuro, às três da manhã, e não há mais nada pra pensar. O telefone está cortado, ninguém irá ligar e dizer: "eu sabia que você estava acordado, eu também estava..." Não, o telefone já não pode inspirar mais esperança que uma lâmpada fluorescente. Logo mais, às quatro horas, o jornaleiro virá de moto e eu ouvirei o som do jornal caindo no chão, e o barulho da moto irá diminuindo, diminuindo, até sumir. E eu finalmente fecharei os olhos, devagar, e pegarei carona com o jornaleiro. E iremos, então, até o infinito.
Otávio Luiz Kajevski Junior
sábado, 26 de setembro de 2009
Horóscopo Pó & Teias
by Oscar Eca
Áries 21 marsso / 20 abriu
Nada deve obstuir uma união. Una-se. Não obstrua. Una-se, mesmo que para isso você deva desobstruir o nariz. Una-se. Reúna-se. Não obstrua ‘-se’.
Touro 21 abriu / 20 maiôs
Faça, e arrependa-se se for necessário. Não se arrependa por não fazer. Una-se.
Gêmeos 21 maiôs / 20 junyo
Agora é importante observar a natureza. Se esfriar, touca e cachecol. Se chover, guarda-chuva. Não separe. Una-se!
Câncer 21 junyo / 21 julyo
Idem ao anterior.
Leão 22 julyo / à gosto
Urre, urre à gosto... e depois limpe-se e una-se.
Virgem 23 à gosto / 22 septembro
Vai ficar pra titia... Olhe lá! Mais do que nunca una-se.
Libra 23 septembro / 22 oi tubro
Signo maravilhoso, o de Best. Com astros em ascendência à estrelas e aos artistas em conexão global.
Escorpião 23 oi tubro / 21 noi vembro
Caranguejo, tudo igual. Não seja agressivo, nem ande para trás. E una-se.
Sagitário 21 noi vembro / 21 10zembro
Largue mão de ser otário! E una-se.
Capricórnio 22 10zembro / 20 januários
Este é o momento de reconhecer verdades profundas. Deixe de ser corno. Desuna-se, depois una-se.
Aquário 21 januários / 18 februacas
Um relacionamento entre você e peixes pode ser duradouro. Ou não... Una-se.
Peixes 19 februacas / 20 marsso
Idem ao anterior.
O céu de anil de hoje, é propício a perda de tempo e amigos, mas pode-se manter um bom humor.
Deisi Perin
Áries 21 marsso / 20 abriu
Nada deve obstuir uma união. Una-se. Não obstrua. Una-se, mesmo que para isso você deva desobstruir o nariz. Una-se. Reúna-se. Não obstrua ‘-se’.
Touro 21 abriu / 20 maiôs
Faça, e arrependa-se se for necessário. Não se arrependa por não fazer. Una-se.
Gêmeos 21 maiôs / 20 junyo
Agora é importante observar a natureza. Se esfriar, touca e cachecol. Se chover, guarda-chuva. Não separe. Una-se!
Câncer 21 junyo / 21 julyo
Idem ao anterior.
Leão 22 julyo / à gosto
Urre, urre à gosto... e depois limpe-se e una-se.
Virgem 23 à gosto / 22 septembro
Vai ficar pra titia... Olhe lá! Mais do que nunca una-se.
Libra 23 septembro / 22 oi tubro
Signo maravilhoso, o de Best. Com astros em ascendência à estrelas e aos artistas em conexão global.
Escorpião 23 oi tubro / 21 noi vembro
Caranguejo, tudo igual. Não seja agressivo, nem ande para trás. E una-se.
Sagitário 21 noi vembro / 21 10zembro
Largue mão de ser otário! E una-se.
Capricórnio 22 10zembro / 20 januários
Este é o momento de reconhecer verdades profundas. Deixe de ser corno. Desuna-se, depois una-se.
Aquário 21 januários / 18 februacas
Um relacionamento entre você e peixes pode ser duradouro. Ou não... Una-se.
Peixes 19 februacas / 20 marsso
Idem ao anterior.
O céu de anil de hoje, é propício a perda de tempo e amigos, mas pode-se manter um bom humor.
Deisi Perin
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
A gota
Desposara a esperança,
e agora viúva,
lembrava o tempo
de infância,
brincando na chuva.
e agora viúva,
lembrava o tempo
de infância,
brincando na chuva.
Descalça, com demônios fala.
Sabe que não se dissolve
em água
quem a cotidiana
aridez humana
fez reter tanta mágoa.
Sabe que não se dissolve
em água
quem a cotidiana
aridez humana
fez reter tanta mágoa.
Perdera de vez,
sob intransigente rudez,
sua inexprimível doçura.
Ricardo Pozzo
sob intransigente rudez,
sua inexprimível doçura.
Ricardo Pozzo
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
três inscrições para uma noite
1.
aramos nossos corpos
hasteamos a carne
naufragamos os ossos
afiamos a pele
jardinamos os pelos
vozeamos as unhas
rasuramos os lábios
semeamos os dentes
desfazemos em tempo
os nós de cada dedo
elastecemos os
tornozelos acróbatas
abrimos as gavetas
dos olhos e cabelos.
2.
quando eu a vejo,
esparramada
na cama, rama
de musgo e líquen,
de perfil – por
trás de seu ombro –,
também por dentro
de suas coxas,
desejo entrar
na eternidade,
mesmo sabendo
que a faz tão bela
exatamente
o fim das coisas.
3.
você paloma
se esbate cega
em minha pele,
luta e lençol.
lhe oferto um cravo
e nada mais.
nós morreremos?
meu endereço
é a minha carne.
mordemos drágeas
dos amanhãs
ou cianureto.
acordo, no(u)
mau hálito de amanhecer
(e foda-se o soneto), com
um soco de perfume.
Rodrigo Madeira
aramos nossos corpos
hasteamos a carne
naufragamos os ossos
afiamos a pele
jardinamos os pelos
vozeamos as unhas
rasuramos os lábios
semeamos os dentes
desfazemos em tempo
os nós de cada dedo
elastecemos os
tornozelos acróbatas
abrimos as gavetas
dos olhos e cabelos.
2.
quando eu a vejo,
esparramada
na cama, rama
de musgo e líquen,
de perfil – por
trás de seu ombro –,
também por dentro
de suas coxas,
desejo entrar
na eternidade,
mesmo sabendo
que a faz tão bela
exatamente
o fim das coisas.
3.
você paloma
se esbate cega
em minha pele,
luta e lençol.
lhe oferto um cravo
e nada mais.
nós morreremos?
meu endereço
é a minha carne.
mordemos drágeas
dos amanhãs
ou cianureto.
acordo, no(u)
mau hálito de amanhecer
(e foda-se o soneto), com
um soco de perfume.
Rodrigo Madeira
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Dez objedísticos pessoais para o próximo ano
Escrever menos & ler menos ainda, falar nunca;
Abrir um negócio, uma casa de espelhos, um espelhunca;
Ao menos tentar discordar de Focault, Nietzsche & Schopenhauer;
Aliviar nas temáticas sem no entanto incorrer no Flower Power;
Ir mais ao teatro, não ir menos ao cinema & reciclar relógios;
Ser menos territorialista, dividindo meu espaço em episódios;
Fumar só depois de comer & comer com mais freqüência;
Parar com as aventuras & tentar suicídios com mais prudência;
Não permitir que a cor me distraia da profundidade em Van Gogh;
Urgente reler Clarice Lispector, reouvir Dylan & rever Herzog;
Ganhar dinheiro, nem que para isso seja necessário trabalhar;
Jogar muito xadrez, adotar um gato preto & não pensar em viajar;
Fotografar mais em P&B para enxergar mais em mais cores;
Afastar-me daqueles que costumam se aproximar de escritores;
Chorar menos, exceção aos Bergmans, que confirmam a regra;
Não me deprimir mais diante de tudo aquilo que normalmente alegra;
Nunca perdoar, nunca capitular mas sempre que possível esquecer;
Beber água & dormir, para dar uma variada ou mesmo sobreviver;
Legar à posteridade pelo menos uma dúzia de nus frontais;
Amar mais através do sexo do que trepar amando demais.
Davi Araújohttp://naofiquesao.blogspot.com/
http://transatraves.blogspot.com.br/
Abrir um negócio, uma casa de espelhos, um espelhunca;
Ao menos tentar discordar de Focault, Nietzsche & Schopenhauer;
Aliviar nas temáticas sem no entanto incorrer no Flower Power;
Ir mais ao teatro, não ir menos ao cinema & reciclar relógios;
Ser menos territorialista, dividindo meu espaço em episódios;
Fumar só depois de comer & comer com mais freqüência;
Parar com as aventuras & tentar suicídios com mais prudência;
Não permitir que a cor me distraia da profundidade em Van Gogh;
Urgente reler Clarice Lispector, reouvir Dylan & rever Herzog;
Ganhar dinheiro, nem que para isso seja necessário trabalhar;
Jogar muito xadrez, adotar um gato preto & não pensar em viajar;
Fotografar mais em P&B para enxergar mais em mais cores;
Afastar-me daqueles que costumam se aproximar de escritores;
Chorar menos, exceção aos Bergmans, que confirmam a regra;
Não me deprimir mais diante de tudo aquilo que normalmente alegra;
Nunca perdoar, nunca capitular mas sempre que possível esquecer;
Beber água & dormir, para dar uma variada ou mesmo sobreviver;
Legar à posteridade pelo menos uma dúzia de nus frontais;
Amar mais através do sexo do que trepar amando demais.
Davi Araújohttp://naofiquesao.blogspot.com/
http://transatraves.blogspot.com.br/
sábado, 19 de setembro de 2009
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
sábado, 12 de setembro de 2009
Para chamar a atenção
Não sei se foi para chamar a atenção
você com uma margarida de plástico
com aquele enorme olho amarelo
chapado com a cabeça caida para
o lado.
Não sei se foi para chamar a atenção
um zippo sem gás, com a pedra gasta
uma triste metáfora de algo que já
não é mais,
tipo uma panela vazia em fogo baixo.
Não sei se foi para chamar a atenção
você esqueceu de roer as unhas
e de contar moedas de cinco centavos
na iminência de dividir a conta
em duas partes exatamente iguais.
Não sei se foi para chamar a atenção
mas você deixou largada na cadeira
a sua bolsa
com uma foto 3 x 4 minha
no fundo falso da carteira.
Alexandre França
você com uma margarida de plástico
com aquele enorme olho amarelo
chapado com a cabeça caida para
o lado.
Não sei se foi para chamar a atenção
um zippo sem gás, com a pedra gasta
uma triste metáfora de algo que já
não é mais,
tipo uma panela vazia em fogo baixo.
Não sei se foi para chamar a atenção
você esqueceu de roer as unhas
e de contar moedas de cinco centavos
na iminência de dividir a conta
em duas partes exatamente iguais.
Não sei se foi para chamar a atenção
mas você deixou largada na cadeira
a sua bolsa
com uma foto 3 x 4 minha
no fundo falso da carteira.
Alexandre França
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Chocolate
Entre terras de balas
encontra-se um pequeno doce
diferente dos outros
feliz para si
pequeno aos outros
grande aos fracos
exclusões por diferenças
seus ombros açúcar
entre a cana amarelada de cimento
sofre vive
em grandes embalagens
sujas e destruídas
viva-se o amargo
do doce
que não é mais doce
do amargo dos cantos
dos cantos da língua
Abner Paessens
encontra-se um pequeno doce
diferente dos outros
feliz para si
pequeno aos outros
grande aos fracos
exclusões por diferenças
seus ombros açúcar
entre a cana amarelada de cimento
sofre vive
em grandes embalagens
sujas e destruídas
viva-se o amargo
do doce
que não é mais doce
do amargo dos cantos
dos cantos da língua
Abner Paessens
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Guerra Secundária
o hoje
saliva a mesma fome
azul na veia do olho vermelho.
luto de poesia branco,
posto que ela ainda é luz
e arma dura de sombras
além,das pálpebras ao pó.
(bem antes do dia d sair,
a cor do homem partiu. à francesa.)
[inspírado em frase feiticeira curitibenta (lê-se "de Iriene")]
Cel Bentin
saliva a mesma fome
azul na veia do olho vermelho.
luto de poesia branco,
posto que ela ainda é luz
e arma dura de sombras
além,das pálpebras ao pó.
(bem antes do dia d sair,
a cor do homem partiu. à francesa.)
[inspírado em frase feiticeira curitibenta (lê-se "de Iriene")]
Cel Bentin
de colunas quebradas e galinhas mortas
Detrás do poliedro dos seus espelhos, ela possui
fortalezas, truques, rios com répteis, rampas
e inefáveis labirintos nunca vistos por quem só lê.
Cronwell Jara Jiménez
palavras em marcha
pelos pastos do papel
trotando tristes trotando
em rebanhos de versos
tão divertidos
como a gramática das vacas
balançando suas pesadas tetas sem nata
e vísceras sem
ponta nem pata
: palavrastrastes
parindo
no escuro claro
partindo-se
em moléculas de cloro
no cerúleo amaro promontório azul
: nas costas da palavra
estão as costas da verdade
ilógica, ilícita
paralítica,
[ estridentemedula ]
ela é a pedra oculta
que transforma crânios
em conchas de sangue e
vértebras em arrebol
[ que até o sol para ela se aleija
em quentes quebradas nervuras
em cruz
colinas
colunas
rodando cadeiras-de-roda
rodando
os eternos espasmos da palavra carne
[ muda
como a nossa mão
[ incomunicável
como a nossa mãe
em silêncio porque naufraga
em palavras de mãe
em silêncio porque nada
em palavras
demais
enquanto tece os no-
velos da pele do próprio filho
nas letras que desfia :
t e t r a p l e g i a o que seria?
senha-medo-sanha-medo-sonha
ria
se houvesse cama
se houvesse como
acabar com o silêncio
ou regenerá-lo na quinta cervical
ou degenerá-lo na morfina
e escalar a boca
como quem cala uma montanha,
às vezes vale mais a pena
não ter pena
ou depenar a dor
para depois devorá-la à cabidela
como um saturno de Goya,
um pequi de Goyaz,
uma pequena de paquete num puteiro de Ponta Grossa
[ ou uma galinha choca
espancada chutada prensada no arame
até a morte farpada por um infante imberbe
que não entende de galinhas
que não entende de sintaxes, concordâncias, morte
[ mas que sabe ler a sorte
pelos pêlos das mãos
entre coxas, peitos, asas, comê-las
no óleo quente com alho,
pintinho emplumado
nos braços quentes da família,
esse familiar bulício da bóia posta à mesa
sem luto, sem deus nem enigmas,
sem falar do falo
do galo
que se esfola
entre um e outro milho
como a gente esfolava
esmerilhando reverenciando gozando
priapismos da matéria,
a vida em seus contorcionismos é palavra
a fome em sua catequese acéfala é palavra
o sexo em seus rituais ascéticos é
a mais sublime entre as mais triviais manias humanas
quando de novo se abate sobre o ovo
aquela velha paralisia do espírito
e o sol reflete-se apenas
em distantes solipsismos
já sem mergulhos profundos
já sem crianças nem galinhas
já sem famílias, falácias de falos, calos na mão ou línguas em riste,
só um silêncio murcho que incide
no vazio que vaza
por todos os poros
da palavra.
Marcelo Reis de Mello
http://cozinhapoesia.blogspot.com/
fortalezas, truques, rios com répteis, rampas
e inefáveis labirintos nunca vistos por quem só lê.
Cronwell Jara Jiménez
palavras em marcha
pelos pastos do papel
trotando tristes trotando
em rebanhos de versos
tão divertidos
como a gramática das vacas
balançando suas pesadas tetas sem nata
e vísceras sem
ponta nem pata
: palavrastrastes
parindo
no escuro claro
partindo-se
em moléculas de cloro
no cerúleo amaro promontório azul
: nas costas da palavra
estão as costas da verdade
ilógica, ilícita
paralítica,
[ estridentemedula ]
ela é a pedra oculta
que transforma crânios
em conchas de sangue e
vértebras em arrebol
[ que até o sol para ela se aleija
em quentes quebradas nervuras
em cruz
colinas
colunas
rodando cadeiras-de-roda
rodando
os eternos espasmos da palavra carne
[ muda
como a nossa mão
[ incomunicável
como a nossa mãe
em silêncio porque naufraga
em palavras de mãe
em silêncio porque nada
em palavras
demais
enquanto tece os no-
velos da pele do próprio filho
nas letras que desfia :
t e t r a p l e g i a o que seria?
senha-medo-sanha-medo-sonha
ria
se houvesse cama
se houvesse como
acabar com o silêncio
ou regenerá-lo na quinta cervical
ou degenerá-lo na morfina
e escalar a boca
como quem cala uma montanha,
às vezes vale mais a pena
não ter pena
ou depenar a dor
para depois devorá-la à cabidela
como um saturno de Goya,
um pequi de Goyaz,
uma pequena de paquete num puteiro de Ponta Grossa
[ ou uma galinha choca
espancada chutada prensada no arame
até a morte farpada por um infante imberbe
que não entende de galinhas
que não entende de sintaxes, concordâncias, morte
[ mas que sabe ler a sorte
pelos pêlos das mãos
entre coxas, peitos, asas, comê-las
no óleo quente com alho,
pintinho emplumado
nos braços quentes da família,
esse familiar bulício da bóia posta à mesa
sem luto, sem deus nem enigmas,
sem falar do falo
do galo
que se esfola
entre um e outro milho
como a gente esfolava
esmerilhando reverenciando gozando
priapismos da matéria,
a vida em seus contorcionismos é palavra
a fome em sua catequese acéfala é palavra
o sexo em seus rituais ascéticos é
a mais sublime entre as mais triviais manias humanas
quando de novo se abate sobre o ovo
aquela velha paralisia do espírito
e o sol reflete-se apenas
em distantes solipsismos
já sem mergulhos profundos
já sem crianças nem galinhas
já sem famílias, falácias de falos, calos na mão ou línguas em riste,
só um silêncio murcho que incide
no vazio que vaza
por todos os poros
da palavra.
Marcelo Reis de Mello
http://cozinhapoesia.blogspot.com/
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Informe Cultural
Olá... gente,
segue um link de um blog, onde o poeta Altair Oliveira
começou uma coluna nesta semana...
Vida longa, Altair
http://www.contemporartes-contemporaneos.blogspot.com/
segue um link de um blog, onde o poeta Altair Oliveira
começou uma coluna nesta semana...
Vida longa, Altair
http://www.contemporartes-contemporaneos.blogspot.com/
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Poema XIX
Tribos bestiais versus
conservadores primitivistas
da grande mentira.
Como reproduzir ancestrais
lutando na relva selvagem
do que um dia chamar-se-a
pátria?
Palavras arremessadas
contra uma parede
de ouvidos cativos;
escritas em páginas
impróprias
para o mundo cristão.
Ricardo Pozzo
conservadores primitivistas
da grande mentira.
Como reproduzir ancestrais
lutando na relva selvagem
do que um dia chamar-se-a
pátria?
Palavras arremessadas
contra uma parede
de ouvidos cativos;
escritas em páginas
impróprias
para o mundo cristão.
Ricardo Pozzo
sábado, 5 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Esperança
Vida cartilaginosa
Escura
Iluminada
Triste
Feliz
Querida
Vagabunda
Porque desprezar o inevitável ?
O único
Aproveite enquanto é vivo
Porque curta a morte não é
Mas curta mesmo a esperança
esperança do ser
esperança do viver
Abner Paessens
Escura
Iluminada
Triste
Feliz
Querida
Vagabunda
Porque desprezar o inevitável ?
O único
Aproveite enquanto é vivo
Porque curta a morte não é
Mas curta mesmo a esperança
esperança do ser
esperança do viver
Abner Paessens
Poesia Emaranhada
Escrita em cima de uma teia de aranha...
ideais roxos, verdes ou castanhos...
Vozes, letras e sonhos...
em diferentes mentes, sentidos e dores...
artifício civilizado, para sermos um grupo...
hermético por falta de limites...
infinito por paredes neutras...
Deisi Perin
terça-feira, 1 de setembro de 2009
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