sábado, 21 de abril de 2007

Grisálida

Ela, sonâmbula ingênua,
alimentando-se dos resíduos de pão
recolhidos à tarde,
(são seus passos grisálida emplumada
em desalinho com o vento),
digere antídotos contra o próprio veneno.

Depois de enxugar lágrimas de acetona,
de dissecar a fauna de seus sentidos,
de esmorecer em falsos desatinos,
de esquecer seus primários instintos,

Depois de estar no purgatório
por não se enxergar Beatriz,
de reverter o espólio
em simples cicatriz,
escalavra em suplício
interstícios do equilíbrio.

Não seus cabelos entretidos
por entre os dedos em busca
de sensíveis vestígios sensoriais
(qual a seiva das horas
que expandem sombras espirais).

Nem seus ombros
de fascínios destacados
em gargalhadas leves
(que denunciam o alto
risco de surtos breves),

Mas o simples olhar
inveterado
ao reflexo do espelho
inviolável
de seus pensamentos
espectrais.


Ricardo Pozzo

3 comentários:

Rebecca Loise disse...

que mulher!
lindo! lindo de viver, Ricardo!

Marilia Kubota disse...

um bom início, não do poema e sim da poesia. o discurso se alonga, quer se entender, quer sentir. boa influência tvz da convivência com o grupo e/ou outros poetas.
tendência deste grupo é o barroco. neobarroco está em alto. estas imagens torturadas, complicadas, certo romantismo, misticismo e alienação da realidade concreta. uma idéia comum de que poesia deve ser alienação da realidade concreta. legal iniciativa do blog, parabens. beijo

Anônimo disse...

Adorei! Fiquei com as imagens... Beijo Cris R