sábado, 15 de agosto de 2009

Redes Cobertas

Foram umas semanas conflituosas, onde a razão e a emoção não se entendiam e nem davam trégua.A cabeça girava em redemoinhos, o coração pulsava aos solavancos e o calor dessa cidade não fodia e nem saia de cima. Contribuindo e muito para que tudo fosse sentido de maneira mais densa.Usarei as “iniciais” dos nomes, já que toda essa trama é fictícia e preciso dar um tom de veracidade à mesma. A ele chamarei Cícero e à ela, Marciana.
Os sentimentos transbordavam através das telas, dias e dias, telas e telas, entre números incontáveis de quilômetros, lan houses, casa, trabalho, estradas e bytes.
Num misto de sentimentos opostos, a vida seguia seu rumo. Aliás, como sempre essa tal de vida faz, segue alheia, tornando tudo em resto secundário. O sacana do tempo, seu cúmplice nessa trajetória, filhadaputamente não pára um segundo sequer. Fazendo com que tudo se intensifique ainda mais.
Marciana e Cícero a cada dia ficavam mais e mais dependentes dos desejados... - Bom dia! - E uma amizade irreverente foi se consolidando.
Marciana uma atípica interiorana quarentona, é faladeira, displicente, com uma tendência forte ao romantismo renascentista. Cícero, um cara íntegro, bom papo, gentil, trabalhador, sempre interessado e disposto a ouvir. Ávido por sexo, como todo bom representante da espécie.
Ela, logo de cara, percebeu nele algo que o diferenciava dos demais ali presentes naquele bar de beira de rodovia.A cada conversa com Cícero, Marciana passou a rever seus valores, vícios, deficiências, suas carências foram aflorando mais e, quando deu por si, o triângulo aberto estava formado. Como na antiga-atual poesia: “Fulano que amava Beltrano, que amava Cicrano que amava... que amava... que amava...” Enfim... Ô coração burro da porra!
E nesse emaranhado de conflitos sentimentais, entremeados com diálogos de duplo sentido e experiências de vida, os dias foram passando impacientes. Resumindo: Era um querer deixar sem querer perder. As noites viraram dias e os dias continuaram sendo dias...
Até que, depois de alguns encontros, despedidas, reencontros, janelas, boléia, músicas, cervejas. Mensagens trocadas por celular e palavras que foram inventadas para não ser ditas...
- O que você quer de mim? Seja sincero Cícero - Quero a sua amizade... - Amigos transam?- Não, eu não transo.- Amigos fazem amor? - Não, acho que não... Você sente vontade de fazer amor comigo?- ... silêncio...- Anda, diz. Sente ou não? Responde! - Sim, senti... Sinto....silêncio de ambos os lados...Até que ela tomou coragem e disparou: - O que você sentiu ao ler minha resposta?...
O final da tarde se fez de morta, a noite nem anunciou que viria, o clima ficou pesado entre eles. No espaço da resposta que não vinha, ela achou tempo pra reprisar todo as conversas, linha por linha, parágrafo por parágrafo e por mais que assim fizesse, a resposta era a eclosão... do silêncio e tinha o peso de um murro.Até que na tela de seu celular, um aviso de nova mensagem recebida.
“- O que senti: Somos amigos, estou apaixonado por outra pessoa. Mas tenho carinho, respeito e admiração por você. Antes de tudo te gosto. E quando você disse... Eu senti vontade também de fazer amor com você. É isto!”
A primeira reação dela, foi não acreditar no que estava lendo.A segunda, foi querer esganar o pescoço de Cícero. A terceira, foi rever mentalmente, uma situação igualmente vivida por ela na adolescência. A quarta, foi reler a mensagem umas oitocentas vezes.A quinta, foi chorar. Chorou e chorou até que todas as lágrimas deixaram de existir.A sexta, foi reagir. Se sentir novamente mulher, adulta e digna. Livre como um sábado, ela se amou e se amou como há muito não fazia... deliciosamente, curtindo cada toque, cada sensação que seu corpo era capaz, gozou como fêmea... vadia.E assim fez por toda a madrugada, até que exausta e refeita, saciou a sede no próprio gozo, descansou corpo e mente, entregou-se nuamente ao sono.
Acordou tarde, dormira como anjo domingueiro...despertou se sentindo leve, sorridente, consciente de si...
À noite, se enfeitou, colocou o seu melhor único vestido, carregou na maquiagem, corrigiu o batom, se encharcou de perfume. Admirou-se rapidamente no espelho e foi em direção ao bar de beira de rodovia. – De Cícero ficou a saudade, as verdades e o silêncio e a lembrança do perfume de suor da boléia de seu caminhão - Dançou a noite toda, com qualquer um que a quisesse, bebeu todas... sorriu de todas as palavras sussurradas em seus ouvidos. E ao voltar para casa, única... despiu a fantasia, lavou o rosto, tomou banho demoradamente... E assim concluiu seus dias...Vestia a fantasia, sorria, dançava e bebia com todos... Porém ninguém a conhecia. Ela fôra de si, a mais fiel amante.

Beatrice Simon

2 comentários:

Anderson disse...

Que chulo [palavrões e mal gosto]! Cenas de novela da globo e intenções sensuais duvidosas dirigidas. Em nome de uma entidade séria como a Biblioteca... Postemos nossa repugnância.

Anônimo disse...

Pq pra gozar a mulher tem que ser vadia? Isso é do imaginário masculino: a sua mãe e a mãe dos seus filhos não gozam, se deitam sob ele, abrem as pernas e fingem um orgasmo pra agradar. A mulher que conhece seu corpo e dele desfruta é uma vadia. A tal "desfrutável"!!
Existe "liberação sexual" e igualdade se a mulher ou é objeto ou é vadia?

O texto é pobre. Ter sido escrito por uma mulher é uma lástima.


Mônica