quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Imersão

Eu, jogando às traças meus pensamentos alheios, enxergo por entre a neblina densa que forma-se nos tensos cigarros que fumo. Nunca mais a voz sinistra pousará como abutre em meus ouvidos espantando os pássaros do equilíbrio. Integro imagens fúteis com idéias rebuscadas. Quebrado, quase frágil, descubro por instinto as prováveis saídas desta cela cerebral. Mensagens cifradas rasgam a pedra gelada e deformam paredes, tênue labirinto. Teias de transmissão; sinais detectam ausência lógica do néctar corrosivo que dissolve minha fuselagem. É o vento gélido que encobre meus passos entre as ruas laceradas desta  metrópole. Observo quieto, os fantoches e bonecas de pano, zumbis feitos de susto e confusão, que caminham trôpegos, que desfiam roucos, a cotidiana ladainha mecânica que gera  desperdício. Estátuas de zarcão trajam molambos, recobrem suas almas vazias. Não sorriem nem sonham, conformados pelo intenso espetáculo da frustração. Nesse novelo de circunstâncias imponderáveis, é o maceramento obtido através dos olhares do exílio, que torna intacta minha indignação.
É inevitável a escolta ao ultrapassar a região limítrofe entre a insanidade e a lucidez.

Ricardo Pozzo

Um comentário:

Unknown disse...

Olá, gostei de seus pooemas..vc escreve com a dedicaçao de quem sofre...