quinta-feira, 5 de abril de 2012

Noticiário de sempre

I


Que corta e serra,
e jorra o sangue
que não se estanca
e espanta
No noticiário de logo cedo
de arremedo três tiros
perfuram as vísceras do sujeito
Imerso em meio
a linha de combate


II


a cidade se espreguiça, e boceja seu dia
a água ferve para mais um café
o que bonde trafega em direção...
o jornal é arremessado aos quintais
frescas as notícias de ontem


III


e se dissesse que tudo já foi dito e o resto é infinito e caos
e o nada já é matéria, o momento, o instante fugaz, agora para trás
e o mito já não é mais a caverna, mas a rua, o sangue escorrido
a morte morrida e estampada na primeira página, 
a escorrer as vísceras já dilaceradas
e a vida consumida por um disparo
na arquitetura de pólvora e bala
e não há distinção de nada todos são todos, e cada é um,
o que havia era silêncios multiplicados a abismos e retissências
isso que corrói a alma, e a deixa cercada de espinhos numa paisagem perdida
e penso ainda que há algo de belo no trágico


Rafael Walter

4 comentários:

Ana Paula Pereira disse...

"o verdadeiro poeta, diz sócrates, no Simpósio de Platão, deve ser trágico e cômico ao mesmo tempo, e toda a vida humana deve ser entendida como uma mistura de tragédia e comédia." Johan Huizinga, homo ludens, p.161.

Ana Paula Pereira disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

a beleza do trágico está na vida que persiste :)
poesia é uma forma de resistência, anarquia.. caos e rebelião ao caos

"tudo é nada e tudo um sonho finge ser." (Fernando Pessoa)

"Abraxas" (Hermann Hesse)

em si, tudo somente poesia :)

Amei teu poema! Angela

rafael walter disse...

Noticiário de sempre



I


Que corta e serra,
e jorra o sangue
que não se estanca
e espanta
No noticiário de logo cedo
três tiros de arremedo
perfuram as vísceras do sujeito
Imerso em meio
a linha de combate


II


a cidade se espreguiça, e boceja seu dia
a água ferve para mais um café
o que bonde trafega sem direção...
o jornal é arremessado aos quintais
frescas as notícias de ontem


III


e se dissesse que tudo já foi dito e o resto é infinito e caos
e o nada já é matéria, o momento, o instante fugaz, agora para trás
e o mito já não é mais a caverna, mas a rua, o sangue escorrido
a morte morrida e estampada na primeira página,
a escorrer as vísceras já dilaceradas
e a vida consumida por um disparo
na arquitetura de pólvora e bala
e não há distinção de nada todos são todos, e cada é um,
o que havia era silêncios multiplicados a abismos e retissências
isso que corrói a alma, e a deixa cercada de espinhos numa paisagem perdida
e penso ainda que há algo de belo no trágico


Rafael Walter