1. MARIONETE
Quando os deuses afrouxam a corda
Só aí posso arcar-me e arfo
Livre dos gestos a que me obrigam
Solto das falas com que me crismam.
Mas, logo que à sua vista,
Descobrem-me reflexivo e lasso,
Um - o mesmo que me incita à preguiça
Retesa a linha: firme, sério e prático.
Obram neste jogo, que não me é lúdico
Para que não tenha deles o fim da peça
A falsa idéia da grã saída.
E porque se divertem com isso,
São artista, texto e público
Enquanto eu, mesmo no palco, sequer existo.
II. OS DEUSES
O que não sabem, nem sua linguagem,
É que o mínimo ar com que me avivam
É uma eternidade maior que o seu destino,
De sempre ser e existir ao infinito.
Já que não existo,
Livro-me de qualquer intento:
Moral, religioso ou político
Enquanto eles,
Livres de tudo,
Não se livram de si mesmos.
III. ENCENAÇÃO
Passam os dias, certos e cínicos,
Concedendo-me destinos e franquias
Que a qualquer ser vivo reservam.
Em dia de suas dádivas,
Não tão gratuitas,
Pagam-me em versos
A casa em forma de castelo que aspiro,
A festa no iate que não tenho,
E o humor esperançoso com que recomeço.
Adriano Smaniotto
sexta-feira, 13 de maio de 2011
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2 comentários:
Extraido do livro "Vísceras à Vista", do poeta Adriano Smaniotto, lançado pela Secretaria do Estado da Cultura do Paraná, em 2010
Belo poema, Adriano.
Abraço,
Wagner
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