Nuances de rumores incompleto silêncio
nas sombras das dores.
Passagens da vida
em nuances de cores
do amargo ao doce.
A vida tem diversos sabores
Deisi Perin
sábado, 26 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Frágil
E na verdade, mesmo quando tudo vai explodindo, ela permanece; contendo os próximos erros, todos os futuros apertos e a taquicardia que nunca virá. A timidez é como uma máscara pintada sobre a pele frágil e polida. A ameaça de pequenas aproximações e a atração doentia pela incerteza de um mundo imerso em águas absolutamente quentes torna a fala como algum tipo de língua estrangeira secundária, e olhando um pouco melhor, todos esses movimentos explicitam o que a coragem cala.
Depois do fôlego se externando até na palma da mão é como se em cada gesto provocado no meio dos segundos fizesse nascer um buraco negro que depois de engolir, ricocheteia o som do futuro como uma lembrança fugaz. Ela emudece, na tentativa de paralisar os pensamentos exclusos de sensatez, mas agora e depois de tudo, seu corpo já é simplesmente uma radiografia.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Lebowski e eu
Entramos no elevador Lebowski e eu. Fedíamos a maconha. Notamos que o espelho no qual costumávamos olhar nossos reflexos, o espelho havia sido retirado de uma das três paredes que constituíam o elevador. Depois que também as outras três paredes que constituíam o elevador tinham sido removidas. Achamos que a porta, a porta que dá acesso ao elevador, pensamos que a porta continuava ali, abrindo e fechando, porém logo vimos o quanto estávamos errados, não havia mais a porta. Então olhamos para cima, qual não foi a nossa surpresa, Lebowski e eu nos deparamos com um teto que não existia mais. Aquele era um roteiro de decepções, seguidas de decepções, disse-me Lebowski. Foi aí que juntos olhamos para o chão e já não havia chão. A coisa degringolara completamente. Foi necessário que Lebowski e eu flutuássemos. Mas flutuar assim de última hora?, reclamou Lebowski.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Cropopoesia
por que é o mesmo o pudor de escrever e defecar?
(joão cabral de melo neto)
quem gosta de poesia “visceral”,
ou seja, porca, preguiçosa, lerda,
que vá ao fundo e seja literal,
pedindo ao poeta, em vez de poemas, merda.
(antonio cicero)
o ânus é sempre o terror e eu não aceito que alguém perca um pedaço de excremento sem dilacerar-se por estar perdendo também a alma.
(antonin artaud)
para glauco mattoso.
Quero escrever
um poema
a partir da incontinência
de escrever
o poema
(triunfante
como uma cagada),
da imundície
de escrever
o poema.
mais que ruim,
poema fétido:
minha camisa aberta,
a peixaria das axilas,
a alegria gratuita
e irresponsável
de escrever
meu nome
nas coisas,
inda que sujando,
com uma fuzilaria
de engulhos.
que, se jogado fora,
não faça falta no
curso geral do dia
nem, de desimportante,
pese em algum
sistema de erros.
mas sobrevenha
num esquema de porcarias,
misturado a meu mijo
e meus pentelhos.
que feda,
que some aos meus
olhos de esgoto
e flua,
mais que um tietê de bolso,
fluente como diarreia.
(o idioma
da merda, seu fedor,
é direto como um murro,
mais sincero e universal
que o olor das flores.)
que este poema
não aperte os olhos
de um míope,
ou levante os óculos
na testa do comentarista.
que, a contrapelo,
lhes entorte a pose,
a um só tempo
com náuseas
e dores de barriga.
que não seja uma canção,
de tão irregular,
nem, de tão pastoso,
geométrico.
sórdido, cínico, laxativo,
mas infinitamente sincero,
que seja
pegajoso como esterco novo,
sob o assédio do sol
e dos vermes.
quero escrever
um poema
a partir da necessidade
fisiológica
de escrever
o poema.
ele será péssimo, mas
terá serventia,
mesmo infensa:
poema pelo prazer
de jogá-lo fora
(e emporcalhar a cidade)
em limpa consciência.
ou a poesia que há
em não dar descarga,
em não lavar as mãos,
digno do imundo
banheiro público.
poema infecto,
câncer de língua,
lixo literário,
febre do amoníaco,
vala aberta na página,
que vou querer
(menos que não quero) suprimir
do livro,
da memória,
da história
de meu corpo.
mas que, antes,
será motivo de vanglória,
quando o mostrar
ao amigo
como quem exibe no vaso
o design inusitado
da própria bosta.
(quem lhe negará ser
húmus possível
da boa poesia,
perfumosa como o milho?
a stink of beauty
is a joy forever.)
poema abjeto,
que cause urticária
nos querubins,
ânsias de vômito
nas musas,
inesquecível de ruim,
pior
que um gole
de água sanitária.
o menos que se diga,
em flatos barulhentos
(como quem afina
um trompete),
é que é ruim, ruim
de dar nojo, de dar gosto,
entre babas de diarremia,
à liquidez da anemia,
escrito na língua
da impureza,
pra que ninguém
o entenda
senão como um nauseante
e pedestre
acerto.
ou vaso a céu aberto,
coprolatria,
muito além de poema:
a latrina feita templo,
guirlandada com
papel higiênico,
sob anjos feios como urubus.
deus (como todo deus, de dentro)
será um fedor insistente,
será filho de meu cu.
e quando eu excretar
esta obra-crime
(agora mesmo),
aureolado de moscas,
me vaie como quem
me eleva,
que eu sairei andando
com a naturalidade
de quem caga e anda,
de quem assina com a tinta
de sua própria merda.
Rodrigo Madeira
(joão cabral de melo neto)
quem gosta de poesia “visceral”,
ou seja, porca, preguiçosa, lerda,
que vá ao fundo e seja literal,
pedindo ao poeta, em vez de poemas, merda.
(antonio cicero)
o ânus é sempre o terror e eu não aceito que alguém perca um pedaço de excremento sem dilacerar-se por estar perdendo também a alma.
(antonin artaud)
para glauco mattoso.
Quero escrever
um poema
a partir da incontinência
de escrever
o poema
(triunfante
como uma cagada),
da imundície
de escrever
o poema.
mais que ruim,
poema fétido:
minha camisa aberta,
a peixaria das axilas,
a alegria gratuita
e irresponsável
de escrever
meu nome
nas coisas,
inda que sujando,
com uma fuzilaria
de engulhos.
que, se jogado fora,
não faça falta no
curso geral do dia
nem, de desimportante,
pese em algum
sistema de erros.
mas sobrevenha
num esquema de porcarias,
misturado a meu mijo
e meus pentelhos.
que feda,
que some aos meus
olhos de esgoto
e flua,
mais que um tietê de bolso,
fluente como diarreia.
(o idioma
da merda, seu fedor,
é direto como um murro,
mais sincero e universal
que o olor das flores.)
que este poema
não aperte os olhos
de um míope,
ou levante os óculos
na testa do comentarista.
que, a contrapelo,
lhes entorte a pose,
a um só tempo
com náuseas
e dores de barriga.
que não seja uma canção,
de tão irregular,
nem, de tão pastoso,
geométrico.
sórdido, cínico, laxativo,
mas infinitamente sincero,
que seja
pegajoso como esterco novo,
sob o assédio do sol
e dos vermes.
quero escrever
um poema
a partir da necessidade
fisiológica
de escrever
o poema.
ele será péssimo, mas
terá serventia,
mesmo infensa:
poema pelo prazer
de jogá-lo fora
(e emporcalhar a cidade)
em limpa consciência.
ou a poesia que há
em não dar descarga,
em não lavar as mãos,
digno do imundo
banheiro público.
poema infecto,
câncer de língua,
lixo literário,
febre do amoníaco,
vala aberta na página,
que vou querer
(menos que não quero) suprimir
do livro,
da memória,
da história
de meu corpo.
mas que, antes,
será motivo de vanglória,
quando o mostrar
ao amigo
como quem exibe no vaso
o design inusitado
da própria bosta.
(quem lhe negará ser
húmus possível
da boa poesia,
perfumosa como o milho?
a stink of beauty
is a joy forever.)
poema abjeto,
que cause urticária
nos querubins,
ânsias de vômito
nas musas,
inesquecível de ruim,
pior
que um gole
de água sanitária.
o menos que se diga,
em flatos barulhentos
(como quem afina
um trompete),
é que é ruim, ruim
de dar nojo, de dar gosto,
entre babas de diarremia,
à liquidez da anemia,
escrito na língua
da impureza,
pra que ninguém
o entenda
senão como um nauseante
e pedestre
acerto.
ou vaso a céu aberto,
coprolatria,
muito além de poema:
a latrina feita templo,
guirlandada com
papel higiênico,
sob anjos feios como urubus.
deus (como todo deus, de dentro)
será um fedor insistente,
será filho de meu cu.
e quando eu excretar
esta obra-crime
(agora mesmo),
aureolado de moscas,
me vaie como quem
me eleva,
que eu sairei andando
com a naturalidade
de quem caga e anda,
de quem assina com a tinta
de sua própria merda.
Rodrigo Madeira
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
dialétrica
em tese
apesar das antíteses
há uma vaga hipótese, amor
de sermos síntese.
sente?
MERCEDES LORENZO
Evolucionismo [Evolu(vel)ção]
Sou um animal
extremamente irracional
e eficiente.
Instinto, efeito hormonal,
que seja:
escolhi macho saudável, novo, belo
com gens à flor da pele
e produzi a prole forte
pra perpetuar a espécie.
Carma, Darwin, Deus,
whatever!,
devem estar contentes.
Sou animal que morde e cospe
a compreensão das linhas tortas.
Isso já não me importa tanto
( foi uma uma boa troca).
Enquanto me livrar
das frases fáceis,
da morte chata
e da vida certa,
ainda tenho sorte.
Flá Perez
Alma Siamesa
Esplendor das minhas aspirações siderais,
Totaliza-me nas jornadas que se expandem no Tempo.
Nos confins da eterna noite onde chove luzes de ouro
Sublime encanto paira em holográfica projeção de nosso sonho.
Estrelas congênitas, procedentes de uma revolução coexistente,
Selamos um lídimo elo perante centros gravitacionais que se cruzam.
A sua linda voz andrógina quando soa indireta
Faz-me transladar em déjàvu ao imo de uma curiosa emoção.
Sendo misteriosa flor de fogo em paisagem onírica
Vivemos além dos anjos, cintilante parte do que somos.
Amamos os meteoros, os lagos da Lua, o desconhecido...
Temos afeição pelo etéreo, transcendemos a ordem dos pólos.
Alternando as forças entre fluídicas criações
Elevamos valores do Universo no Planetário da Aliança.
Unificados com o magnetismo dos buracos negros
À sombra da macro-amplidão consagramos nossa integra consciência.
Conduz-me a fabulosos níveis de vibrações
Eternizados entre a cósmica alegria e a incondição.
Perfeita como o inexplicável fascínio de amar você
Energia espiritual que me acompanha num abraço para eu viver.
GIULIANO FRATIN
Aceitação da Loucura
Não vou à igreja
pedir perdão
por ser desigual
- prefiro a ciência
e a hóstia rosa
da Roche -
Nessa demência cetim - lexotan,
cai bem a nudez e a vodka
manchando o lençol on the rocks.
Ai, esqueci por sua causa
o que ia dizer!
- acho que tinha a ver
com sua não aceitação
da minha cuca torta,
sacaneada -
Fique com seus acertos,
suas mortas, filhas-das-patas
chocas
e me deixe
- choque! -
Posso até ser errada,
mas o problema é seu
e dê graças a Deus,
se não entende nada.
Flá Perez
pedir perdão
por ser desigual
- prefiro a ciência
e a hóstia rosa
da Roche -
Nessa demência cetim - lexotan,
cai bem a nudez e a vodka
manchando o lençol on the rocks.
Ai, esqueci por sua causa
o que ia dizer!
- acho que tinha a ver
com sua não aceitação
da minha cuca torta,
sacaneada -
Fique com seus acertos,
suas mortas, filhas-das-patas
chocas
e me deixe
- choque! -
Posso até ser errada,
mas o problema é seu
e dê graças a Deus,
se não entende nada.
Flá Perez
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
de esquina
1. o travesti
meu amor, ouça!
a vida é um pai
de cinco metros
que tentou me
banir de mim,
que me deu banho
de arruda e socos
e esconjurou.
tem que ser macho
pra abrir o armário
em busca de
seus sutiãs.
tem que ser fêmea
pra entrar nos carros
2. o traficante
cada semana
um tênis novo,
novo relógio,
novo boné.
não fala, mas
vive cercado
por seus apóstolos,
um nimbo de
fumaça suja
sobre a cabeça.
quando morrer
(sempre amanhã)
reviverá
inda mais jovem.
Rodrigo Madeira
meu amor, ouça!
a vida é um pai
de cinco metros
que tentou me
banir de mim,
que me deu banho
de arruda e socos
e esconjurou.
tem que ser macho
pra abrir o armário
em busca de
seus sutiãs.
tem que ser fêmea
pra entrar nos carros
2. o traficante
cada semana
um tênis novo,
novo relógio,
novo boné.
não fala, mas
vive cercado
por seus apóstolos,
um nimbo de
fumaça suja
sobre a cabeça.
quando morrer
(sempre amanhã)
reviverá
inda mais jovem.
Rodrigo Madeira
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Nada novo, de novo
"Os belos serão os bélicos!
Elmos no lugar de cérebros!"
Homem de Ferro; Sergio Viralobos e Marcos Prado
É tensa a ordem da primeira
fila no front abarrotado
de almas esfaceladas
ao primeiro toque
do clarim
Ausência de sono,
ausência de fome;
cão que ladra morre
A qualquer momento,
o soar do segundo toque.
É erro a insistência
da coragem
desprovida de medo.
Averiguar
a equipagem
sabendo que ela
nada garante.
Segundo toque! Avante!
Ricardo Pozzo
Elmos no lugar de cérebros!"
Homem de Ferro; Sergio Viralobos e Marcos Prado
É tensa a ordem da primeira
fila no front abarrotado
de almas esfaceladas
ao primeiro toque
do clarim
Ausência de sono,
ausência de fome;
cão que ladra morre
A qualquer momento,
o soar do segundo toque.
É erro a insistência
da coragem
desprovida de medo.
Averiguar
a equipagem
sabendo que ela
nada garante.
Segundo toque! Avante!
Ricardo Pozzo
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
uma concha
parto um osso
de pomba
e ao levá-lo ao ouvido
posso ouvir
o alarido
da praça
Rodrigo Madeira
de pomba
e ao levá-lo ao ouvido
posso ouvir
o alarido
da praça
Rodrigo Madeira
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Existe beleza em todos os lugares na terra, mas existe uma beleza maior naqueles lugares onde se tem aquela sensação de bem-estar que surge quando não se tem mais que adiar os sonhos até o improvável futuro-um futuro que se esquiva inexoravelmente; onde o modo que se permeia uma vida subitamente se esvai, porque não há nada o que temer.
Jozef Skvorecky
(O engenheiro de almas)
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Caleidoscópio
Caleidoscópio
Saborear sonhos antigos
que já nem sei se os sinto.
Preciosos caquinhos perdidos
junto à embriaguez de ópio
Qualquer coisa assim sumindo
num fugaz caleidoscópio.
Mágico objeto
de espelhos de uma vida inteira,
Refletido eco
De desejos sem fronteiras.
Deisi Perin
Saborear sonhos antigos
que já nem sei se os sinto.
Preciosos caquinhos perdidos
junto à embriaguez de ópio
Qualquer coisa assim sumindo
num fugaz caleidoscópio.
Mágico objeto
de espelhos de uma vida inteira,
Refletido eco
De desejos sem fronteiras.
Deisi Perin
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
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