quinta-feira, 30 de abril de 2009
Acode-me a náusea
Abrupta transmutação
e quase me desperdiço
bálsamo sobre tua chaga
Nenhuma redenção emerge
do ímpeto que me traga
Rememoro teus pecados
Num rosário de espinhos
e perfumes
Mas a lucidez agride
cada sonho que elaboro
Acode -me a náusea
Transeunte permeável aos pruridos da miséria
cuja humanidade desvanece após um lapso
de profunda mortificação
Eu passo
Iriene Borges
e quase me desperdiço
bálsamo sobre tua chaga
Nenhuma redenção emerge
do ímpeto que me traga
Rememoro teus pecados
Num rosário de espinhos
e perfumes
Mas a lucidez agride
cada sonho que elaboro
Acode -me a náusea
Transeunte permeável aos pruridos da miséria
cuja humanidade desvanece após um lapso
de profunda mortificação
Eu passo
Iriene Borges
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Não! Você não chegaria a essa conclusão sozinha...
Rompe-se
o rosário da certeza
e as contas,
espalhadas pelo assoalho,
resvalam,
no silêncio interrompido.
Quem diria
que seria você
a assassinar a Beleza,
Nick Cave de saias,
[usando]
palavras como alfaias,
de parco valor embutido.
Ricardo Pozzo
o rosário da certeza
e as contas,
espalhadas pelo assoalho,
resvalam,
no silêncio interrompido.
Quem diria
que seria você
a assassinar a Beleza,
Nick Cave de saias,
[usando]
palavras como alfaias,
de parco valor embutido.
Ricardo Pozzo
domingo, 26 de abril de 2009
Cai o pano
Eu devia engolir a fala
do modo que engulo o choro
e o retenho com um nó na garganta
e outras linhas emaranhadas
Mas a palavra me desata, me destorce
Faca afiada me destrincha expondo trapos
desfia o alinhavo
da figura adquirida em banca de retalhos
mostra-me em cada laivo a artesania
dos adereços de rebotalhos
A isso que sou
boneca de sonho
títere do som
não cabe reter a palavra que resvala
Iriene Borges
do modo que engulo o choro
e o retenho com um nó na garganta
e outras linhas emaranhadas
Mas a palavra me desata, me destorce
Faca afiada me destrincha expondo trapos
desfia o alinhavo
da figura adquirida em banca de retalhos
mostra-me em cada laivo a artesania
dos adereços de rebotalhos
A isso que sou
boneca de sonho
títere do som
não cabe reter a palavra que resvala
Iriene Borges
Maioridade
Não te queria, minha poesia
exposta a olhos e dentes
salivas e tesões
São minhas as tripas
que espalhas no morgue
pelos balcões
São minhas as dores
que te afligem
donzelinha meretriz
angores de mãe de noiva
temores de mãe de virgem
pudores de mãe de miss
Enfim,
bate - me a porta
na cara do peito
Ganhas a rua
Despudorada
louca e bela
Furtiva e nua
te espio
pela janela
Pressinto
a madrugada
de te esperar
No escuro
Calada
Etel Frota
exposta a olhos e dentes
salivas e tesões
São minhas as tripas
que espalhas no morgue
pelos balcões
São minhas as dores
que te afligem
donzelinha meretriz
angores de mãe de noiva
temores de mãe de virgem
pudores de mãe de miss
Enfim,
bate - me a porta
na cara do peito
Ganhas a rua
Despudorada
louca e bela
Furtiva e nua
te espio
pela janela
Pressinto
a madrugada
de te esperar
No escuro
Calada
Etel Frota
Ao escrever o Poema
é preciso derrubar a muralha de sombra
convertê-la em blues no poente
tecer um tapete de arbustos
ou um abismo distraído que caia em si mesmo
é preciso ser ávido
aos relâmpagos pintados a lápis azul
ser tufão em tarefas no céu
ser final no começo do brilho
é preciso sair do vitral
igual santo e anjo em ressurreição
ser ressonância de estrela
é preciso mas não tão necessário
tudo isto ou muito disto
ao escrever o poema
Everton Freitag
convertê-la em blues no poente
tecer um tapete de arbustos
ou um abismo distraído que caia em si mesmo
é preciso ser ávido
aos relâmpagos pintados a lápis azul
ser tufão em tarefas no céu
ser final no começo do brilho
é preciso sair do vitral
igual santo e anjo em ressurreição
ser ressonância de estrela
é preciso mas não tão necessário
tudo isto ou muito disto
ao escrever o poema
Everton Freitag
quinta-feira, 23 de abril de 2009
1079252848,8
Depois do meu sono de desejos você vem, com essas palavras mansas de perversão. Giro feito espiral na cama, num fluxo inesperado, e é como se um pedaço inalcançável de mim se lançasse contra o teto; aquele lugar secreto da alma, inabitado até pelos meus sussurros. Venho falar inacabada, desmanchada, como um copo de papel imerso na água, e quando você vier de novo, estarei assim, é como um ciclo de sofreguidões sem dor alguma. Tento falar além dos olhos, além da incontrolável mudez; dou a volta em milhões de arranha-céus com a vontade disforme de que, finalmente, você esteja parada em cima de um deles... mas não, tudo o que circula espessamente entre nós é poesia. Não enxergo algo invariável e tênue, apesar do tudo ser de um espesso comprimido que se torna fino, leve, suave. Sou sempre no sonho reagindo através do sonho, agindo mediante permissão alguma, numa realidade de sentidos que só precisa dessa, – onde transbordo pulmões de fumaça – para respirar.
E depois do sono, a letargia de estar acordada, dos prazeres sóbrios: a desvantagem de tentar descrever o que se vive de olhos entreabertos, o calor voltando junto com o pensamento, que golpeia com golpes secos e rápidos. Gosto de sensação na boca, sempre guardo: me dá um isso atravessado no corpo inteiro, verticalmente, horizontalmente – por todos os lados – uma agonia vai crescendo, crescendo junto com a respiração... o corpo grande por dentro, uma explosão libertadora que solto pelos poros e envio na velocidade da luz, sem diluir.
j. miïav
terça-feira, 21 de abril de 2009
Calada da Noite
Ana, anã, Aninha: Seu nome, seu sentimento no mundo, seu apelido. Veio de forma descuidada, sem muita festa e comemoração pela sua existência. Cresceu sentindo-se em deslocamento constante, não fazia parte daquela trama de acontecimentos cotidianos. Fofocas, fingimentos, rancores. Questionava a inteligência humana. Seu cachorro e seu gato pareciam-lhe muito mais sábios. Sentia a vida de outra forma. Ouvir silenciosamente seu coração pulsando era mais importante que gastar a vida com picuinhas presentes na boca dos outros. Tinha ouvidos sensíveis, por isso preferia seus discos e livros ao falatório dos encontros de família. Seu passatempo era sentir o sossego da vida pela janela que apontava a madrugada. Todo sábado, duas da manhã, abria sua janela para compartilhar o nada e trocar pensamentos ao lado de sua gata de olhos amarelados. Gostava do cheiro da rua deserta, dos automóveis ausentes e da vida passando sem pressa.
E foi numa noite sem luar que Ana viu tudo. Naquele dia de lua apagada, presenciou uma vida ir embora pelas mãos de outra vida. Tudo ocorreu sob os quatros olhos daquela janela. Primeiro o som de passos correndo, depois a luz em foco sobre uma cabeça e um som ensurdecedor. Enquanto um corpo caía, outro corpo corria em direção oposta. Era essa a seqüência de acontecimentos que ficou registrada para sempre em sua memória. As luzes ao redor começaram a acender uma por uma, outras janelas se abriram, as vozes em murmurinho aumentavam. Ana, paralisada, sentiu um toque em seu ombro. Era o pai. “Dorme, filha, não quero que veja isto”. Tarde demais. Ana tinha visto tudo. Do início ao fim. Sabia que das duas únicas testemunhas que viram a hora exata do sangue explodir, somente uma poderia falar, contar e descrever para os homens da Lei o ocorrido. Mas Ana não acreditava na Lei dos homens e, desaninhada, foi para cama fingir que dormia, enquanto pensava, enquanto calava.
Nanci A. Kirinus (Miscelâneas em Mim)
E foi numa noite sem luar que Ana viu tudo. Naquele dia de lua apagada, presenciou uma vida ir embora pelas mãos de outra vida. Tudo ocorreu sob os quatros olhos daquela janela. Primeiro o som de passos correndo, depois a luz em foco sobre uma cabeça e um som ensurdecedor. Enquanto um corpo caía, outro corpo corria em direção oposta. Era essa a seqüência de acontecimentos que ficou registrada para sempre em sua memória. As luzes ao redor começaram a acender uma por uma, outras janelas se abriram, as vozes em murmurinho aumentavam. Ana, paralisada, sentiu um toque em seu ombro. Era o pai. “Dorme, filha, não quero que veja isto”. Tarde demais. Ana tinha visto tudo. Do início ao fim. Sabia que das duas únicas testemunhas que viram a hora exata do sangue explodir, somente uma poderia falar, contar e descrever para os homens da Lei o ocorrido. Mas Ana não acreditava na Lei dos homens e, desaninhada, foi para cama fingir que dormia, enquanto pensava, enquanto calava.
Nanci A. Kirinus (Miscelâneas em Mim)
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Neo-xiitas atravessam a Interzona rompida
no continuum do espaço-tempo
vestidos com os fanáticos botões technicolor
e coturnos engraxados por Ali
quando de repente,
por uma das janelas do automóvel iraquiano,
entra um dos macacos sunitas de Maomé
que se aproveita da sesta dos neo-xiitas em movimento
para grudar chicletes nos seus botões technicolor explosivos
ao acordarem,
os neo-xiitas desesperados gritam em árabe moderno:
“fomos sabotados por um comedor de bananas pop art!”
e, ao tentarem descolar os chicletes de seus botões,
explodem
deixando no caminho o cheiro de pólvora e hortelã.
Camila Vardarac
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=3918
no continuum do espaço-tempo
vestidos com os fanáticos botões technicolor
e coturnos engraxados por Ali
quando de repente,
por uma das janelas do automóvel iraquiano,
entra um dos macacos sunitas de Maomé
que se aproveita da sesta dos neo-xiitas em movimento
para grudar chicletes nos seus botões technicolor explosivos
ao acordarem,
os neo-xiitas desesperados gritam em árabe moderno:
“fomos sabotados por um comedor de bananas pop art!”
e, ao tentarem descolar os chicletes de seus botões,
explodem
deixando no caminho o cheiro de pólvora e hortelã.
Camila Vardarac
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=3918
sábado, 18 de abril de 2009
um poema velhíssimo
Para G.
O amado é meu jardim,
minha piscina,
o moço que varre minha casa,
minha mãe quando fico doente,
um anglicismo destemperado nesse mundo que só tem maluco,
e eu amo
o papel da sua pele jovem,
o osso que desenha impiedoso,
os olhos que revira quando canta.
Ele é minha Carmem Miranda, e quando dorme, minha paisagem de contemplação.
E que adoração, concordamos, seja um sentimento exagerado. E que eu tente transformar numa piscina consciente o mar. O amado fala na segunda pessoa, e de onde venho isso é privilégio de Deus.
Meu amado é a selva,
o oceano, a poeira, a doença, a palavra.
Mais que ele eu cuido só a paixão.
Sabrina Lopes
http://lopessabrina.blogspot.com/
O amado é meu jardim,
minha piscina,
o moço que varre minha casa,
minha mãe quando fico doente,
um anglicismo destemperado nesse mundo que só tem maluco,
e eu amo
o papel da sua pele jovem,
o osso que desenha impiedoso,
os olhos que revira quando canta.
Ele é minha Carmem Miranda, e quando dorme, minha paisagem de contemplação.
E que adoração, concordamos, seja um sentimento exagerado. E que eu tente transformar numa piscina consciente o mar. O amado fala na segunda pessoa, e de onde venho isso é privilégio de Deus.
Meu amado é a selva,
o oceano, a poeira, a doença, a palavra.
Mais que ele eu cuido só a paixão.
Sabrina Lopes
http://lopessabrina.blogspot.com/
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Largo
Lambendo migalhas de pés pelados
Asfalto de pedra pome
A noite ouve e exala os últimos grãos
Tintas de spray, trovões do dia
Gotas de sabão Omo na canaleta carmelita
Insisto em fluídos quentes
Restos de chops nas mesas distraídas
Me coloco na posição felino-pobre
Tomo num gole os inversos
E vomito o frêmito-bandido-de-malandro-otário
Residente em mim
Sou puta e filho no mesmo tomo
Extraio vazios verdes do ralo da manhã
Espero um atropelamento, ao menos um
Para dormir sossegado
Acordo pálido na matina
Um pingo sangue solitário respinga no meio do papel
Meu caderno de gravuras a suportar destilados
O sol nasce do lado errado
Ruboriza, acocorado, vermelho
Nem ele escapa de, em Curitiba, um dia
Acordar chapado.
Alexandre França
Asfalto de pedra pome
A noite ouve e exala os últimos grãos
Tintas de spray, trovões do dia
Gotas de sabão Omo na canaleta carmelita
Insisto em fluídos quentes
Restos de chops nas mesas distraídas
Me coloco na posição felino-pobre
Tomo num gole os inversos
E vomito o frêmito-bandido-de-malandro-otário
Residente em mim
Sou puta e filho no mesmo tomo
Extraio vazios verdes do ralo da manhã
Espero um atropelamento, ao menos um
Para dormir sossegado
Acordo pálido na matina
Um pingo sangue solitário respinga no meio do papel
Meu caderno de gravuras a suportar destilados
O sol nasce do lado errado
Ruboriza, acocorado, vermelho
Nem ele escapa de, em Curitiba, um dia
Acordar chapado.
Alexandre França
terça-feira, 14 de abril de 2009
Não me importa o chão
( Ao professor Sérgio Kirdziej)
Ao se torcer a língua
irrompe sob a espuma
a labareda
Vida e devastação
À sombra e à fumaça
não cumpre criar raízes
A percepção vergastada no suporte
distingue uns poucos matizes
Fixo-me só em linhas transitórias
Pés ressentidos do peso da matéria
não adentram os meandros das ideias
Ademais todos os dias
uma folha do plátano
esfarela-se
na passarela de cimento
Iriene Borges
Ao se torcer a língua
irrompe sob a espuma
a labareda
Vida e devastação
À sombra e à fumaça
não cumpre criar raízes
A percepção vergastada no suporte
distingue uns poucos matizes
Fixo-me só em linhas transitórias
Pés ressentidos do peso da matéria
não adentram os meandros das ideias
Ademais todos os dias
uma folha do plátano
esfarela-se
na passarela de cimento
Iriene Borges
segunda-feira, 13 de abril de 2009
I
Sou apenas um grão de areia
Por que me pensam granito?
O século não comporta o frágil
Máscaras e máquinas: precário o tempo
Em mim pulsam um menino e um velho
a cada gesto de existir
Abandonar o menino? Resgatar o menino?
Amar o velho? Assassinar o velho?
Sopro a natureza em movimento
Por que me pensam granito?
O século não comporta o frágil
Máscaras e máquinas: precário o tempo
Em mim pulsam um menino e um velho
a cada gesto de existir
Abandonar o menino? Resgatar o menino?
Amar o velho? Assassinar o velho?
Sopro a natureza em movimento
Hamilton Faria
domingo, 12 de abril de 2009
Feliz Páscoa?
O sonho, ou aspiração, de cada ser humano é conviver feliz e em paz com seus semelhantes e consigo mesmo.
Entretanto o que vejo é uma imensa dificuldade de convivência. Nós desejamos viver com prazer, amigável e socialmente. Mas o que reina é confusão e desentendimento.
Queremos paz, mas construimos violência.
Nossas incertezas sobre a vida, nos traz medos, dúvidas, depressões, profundas dores.
Tentamos disfarçar esses sentimentos trabalhando, bebendo, fumando, nos divertindo ou de qualquer outra maneira. E tudo isso é bom.
O problema é que continuamos a sentir...Nosso sofrimento provoca medos que nos afastam das outras pessoas. Nos tornamos egoístas e solitários pelo medo de sofrer mais. Esses dias são pesados, e muito duros. Um grande vazio.
Nós, seres humanos, estamos fazendo o planeta, a natureza, à nossa imagem e semelhança.
E nossa imagem é falsa e corrupta, somos similares a vermes. Destruímos tudo e a nós mesmos.
Não, queridos amigos, isto não são palavras terríveis ou visão desesperada. É a conclusão de muitas pessoas. Nós vemos tudo isso. Minha visão é contrária. Estamos sozinhos, sim. Mas podemos nos ajudar mutuamente. O firmamento não muda, mas a Terra precisa mudar. Nós estragamos muito.
Quando toda arte humana submergir. Quando o vento varrer toda violência e orgulho, a vaidade desaparecerá, e finalmente nossas almas respirarão livremente.
Deisi Perin
Deisi Perin
sábado, 11 de abril de 2009
Fênix
"Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento"
Vinicius de Moraes
Escureceu
E ainda assim procuro
a sombra das alamedas
Entre o ocaso e o soluço
murmuram todos os poetas
mas só ouço
o reverberar destes versos
"pensar nele é morrer de desventura
não pensar é matar meu pensamento"
Tenho unhas negras
de entalhar sonhos no carvão
Reminiscência
E custo
de saber renascer da cinza
E ainda assim te emprestaria
meus olhos de fixar vertigens
e partilharia o mistério
que tranforma
uma sequência de palavras
na conjuração das asas
para transpor abismos
Iriene Borges
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento"
Vinicius de Moraes
Escureceu
E ainda assim procuro
a sombra das alamedas
Entre o ocaso e o soluço
murmuram todos os poetas
mas só ouço
o reverberar destes versos
"pensar nele é morrer de desventura
não pensar é matar meu pensamento"
Tenho unhas negras
de entalhar sonhos no carvão
Reminiscência
E custo
de saber renascer da cinza
E ainda assim te emprestaria
meus olhos de fixar vertigens
e partilharia o mistério
que tranforma
uma sequência de palavras
na conjuração das asas
para transpor abismos
Iriene Borges
terça-feira, 7 de abril de 2009
Depressão de Nietzsche
Sem vida e sem ninguém
em preto e branco e doendo,
correndo e cansando e morrendo
de sede, de fome, de medo.
No escuro e sem dúvida da luz,
doente e sem cura,
insone em claro,
sem vício e sem ócio,
sorrindo sem dentes.
Indo sem destino certo,
acertando e pagando pelo erro,
pagando pra ver sendo cego,
amigo de um amigo imaginário,
sem amor e sem cotidiano
numa guerra sem armas,
chorando sem lágrimas,
Ouvindo o silêncio,
escrevendo pra ninguém,
esperando o próximo trem
que a muito já partiu
ou nunca existiu
Vanessa Fiorelli
em preto e branco e doendo,
correndo e cansando e morrendo
de sede, de fome, de medo.
No escuro e sem dúvida da luz,
doente e sem cura,
insone em claro,
sem vício e sem ócio,
sorrindo sem dentes.
Indo sem destino certo,
acertando e pagando pelo erro,
pagando pra ver sendo cego,
amigo de um amigo imaginário,
sem amor e sem cotidiano
numa guerra sem armas,
chorando sem lágrimas,
Ouvindo o silêncio,
escrevendo pra ninguém,
esperando o próximo trem
que a muito já partiu
ou nunca existiu
Vanessa Fiorelli
domingo, 5 de abril de 2009
XVIII
Conheço as eras
Sou tão antigo
É que sou menino
Sei o gosto da terra
Da água sei o gosto
Do gosto sei o Sol
Menino diz coisas impossíveis
Galáxias que perdemos de vista
Menino: deus de calças curtas
e estrelas no bolso
Sou tão antigo
É que sou menino
Sei o gosto da terra
Da água sei o gosto
Do gosto sei o Sol
Menino diz coisas impossíveis
Galáxias que perdemos de vista
Menino: deus de calças curtas
e estrelas no bolso
sexta-feira, 3 de abril de 2009
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