domingo, 23 de novembro de 2008

Danificar ônibus, terminais e estações tubo, ou não pagar a passagem, encarece a tarifa

De um jeito desesperado eu tento esconder os gritos de um coração pesado. Cheio de angustias, lamentações e arrependimento. O motorista do ônibus nem sabe o motivo desse meu olhar preocupado e desse meu semblante sério. O esforço é enorme para engolir a dor que tenta sair e molhar meu rosto claro e com barba mal feita. O tal do motorista continua me olhando pelo espelho e eu não consigo disfarçar que alguma coisa incomoda. Parece que ele percebe. A senhora que está sentada de frente para mim corre os olhos por todo o ângulo que lhe é possível enxergar sem mover a cabeça e pára os olhos em mim. Como uma daquelas máquinas de jogos que nunca te dão dinheiro. Eu perdi. Os olhos enchem de lágrimas e eu olho para a janela fingindo um certo interesse em alguma placa ou nome de rua. Pelo reflexo do vidro da janela a moça que está em pé, atrás de mim, me olha sem piscar. A nóia só não é maior porque a ruiva que passa pela calçada, ao lado do ônibus, está grávida e com um suposto marido ao lado. Eu já não consigo carregar o peso de meus erros e eles começam a transbordar de um jeito constrangedor. Simulo sono e isso não resolve meu problema. Com o rosto úmido e com uma pressa que eu nunca tive, aproveito a brecha na porta ainda aberta e desço do ônibus antes de chegar ao meu destino. Acho que todos me olharam pela janela. Tenho cigarros, um casaco velho e um cachecol. Vou a pé pra casa, o rosto molhado é culpa da garoa.
Wilton Isquierdo

2 comentários:

Iriene Borges disse...

JÁ PASSEI POR ISSO E O PIOR É QUE NÃO DAVA PRA DESCER ANTES NEM TINHA GAROA.

BOM TEXTO

Anônimo disse...

Também já me cobri de chuva como disfarce.
Chorar em lan house já me aconteceu muito tbm. é desolador.rss Mas é comum chorar onde, digo, qdo precisamos ser humanos.

Há uma ótima angústia no seu texto.
A.G.