Amor
"é quando a gente mora um no outro !"
'tipo assim ' o 'trepanossoma cruzi ' .
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
O Que Restou (o Jardim do Poeta)
O cinza aproxima-se com um vento
perdido no universo
Sequidão por sobre o peito
Em um coração concreto
A razão se sobrepõe em mim
Endurece flores
Petrifica cheiros
Lembro-me das árvores
Minha face limpa rachou com elas
De meus olhos formam-se nuvens
Carregadas de raios
Tempestade queimando folhas
Temporal escorrendo em gotas
sobre meu corpo
Lágrima a lágrima, moldando a pedra
Lavando o que sobrou da alma
molhando o que restou das cores
regando o amor
no coração de um poeta.
Alessandro Jucá.
in "Pó&teias -antologia de poemas, crônicas e contos."
perdido no universo
Sequidão por sobre o peito
Em um coração concreto
A razão se sobrepõe em mim
Endurece flores
Petrifica cheiros
Lembro-me das árvores
Minha face limpa rachou com elas
De meus olhos formam-se nuvens
Carregadas de raios
Tempestade queimando folhas
Temporal escorrendo em gotas
sobre meu corpo
Lágrima a lágrima, moldando a pedra
Lavando o que sobrou da alma
molhando o que restou das cores
regando o amor
no coração de um poeta.
Alessandro Jucá.
in "Pó&teias -antologia de poemas, crônicas e contos."
Uma questão para a Arte
O Antropocentrismo surgiu junto ao Renascimento como um reflexo de um período histórico onde o ser humano, entre outras características, buscava obter o entendimento de sua natureza,de seu universo, de seus organismos, rompendo com uma forma de cultura que creditava tudo a um Deus.
As descobertas e capacitações feitas a partir do domínio das propriedades genéticas de um organismo – não apenas buscando entendê-lo, mas dominando-o de uma forma que quando o Antropocentrismo surgiu apenas seria imaginado a um deus fazer – serão indícios de fatos históricos que apontam para uma nova etapa dos processos iniciados com os Gregos e desenvolvidos junto ao próprio Antropocentrismo?
Leandro Vicelli
As descobertas e capacitações feitas a partir do domínio das propriedades genéticas de um organismo – não apenas buscando entendê-lo, mas dominando-o de uma forma que quando o Antropocentrismo surgiu apenas seria imaginado a um deus fazer – serão indícios de fatos históricos que apontam para uma nova etapa dos processos iniciados com os Gregos e desenvolvidos junto ao próprio Antropocentrismo?
Leandro Vicelli
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
sábado, 23 de agosto de 2008
Ao Poeta
Quando me perguntarem se o conheci,
se nas puídas frestas de mapas,
se um dia com ele vi
que a agonia submerge intacta,
se me balancei nas pequenas folhas de grama,
se com ele contei vantagens,
se o vi chorar nas margens
se cortei-o em linhas,
recortei a película
se a triste dor que deve, a ele
engasga em palavras fundas
redundas como se fossem
chumbo como se fossem calmos os cavalos,
as vespas...
quando indagarem se no primeiro farfalhar
dos pequenos fósforos
os dedos em nós...
responde o poeta ao lado
que repete, o respeito conquistado,
em prol da mesquinharia e
do zelo sem pressa...
e quem um dia haverá de ouvir-lhe os medos,
segredos ausentes em chamas convertidas
do lado escuro, grita:
onde esta, o que singelo habita
não são revistas rasgadas...
se caminhei, disserem
onde então estavas
quando as travas
fulgidas coloquialmente
encravaram-lhe
as duvidas
quando perdido em meio a prédios bandidos...
não mais se ouvia
a noite derramando
a cláusula que corrompia
e a janela já barrava o sol...
Onde esteves, no cume
do pingo trasbordado em sal ?
revela homem a ti,
quando esteves guardado em teu animal
havia o cheiro da axila
onde giravam formigas como na roxa terra do quintal
ou talvez a sinopse retida
da vida que lhe deram como tua
afirmou-te o que não vês
que não existe ultima saída
tolos os poetas...em canções, sonetos
sonatas em corutos avessos
fincados nas letras
eu direi:
que se fodam as bucetas
as chupetas...as picas
já que nem Freud explica
já que Pascal padeceu católico
já que não proibiram os acólitos
de participarem de ritos maçônicos
já que deixaram o demônio
participar das missas
já que não existem mais noviças
tampando o ultimo caule
já que o falo não enriça
já que a puta é submissa
já que sou feio ante revistas
aproveito...
não derramo a lágrima
que pro outro faz o leito
não suponho ao fogo que arda
ao esquecer o bolo
de picuinhas encrostadas
em rimas afogadas
e na ausência de tua
imagem converto-lhe seu pobre em coragem
não, ainda não o conheço...
só por nome poesia e não me lembro o resto.
João Franscisco Paes
se nas puídas frestas de mapas,
se um dia com ele vi
que a agonia submerge intacta,
se me balancei nas pequenas folhas de grama,
se com ele contei vantagens,
se o vi chorar nas margens
se cortei-o em linhas,
recortei a película
se a triste dor que deve, a ele
engasga em palavras fundas
redundas como se fossem
chumbo como se fossem calmos os cavalos,
as vespas...
quando indagarem se no primeiro farfalhar
dos pequenos fósforos
os dedos em nós...
responde o poeta ao lado
que repete, o respeito conquistado,
em prol da mesquinharia e
do zelo sem pressa...
e quem um dia haverá de ouvir-lhe os medos,
segredos ausentes em chamas convertidas
do lado escuro, grita:
onde esta, o que singelo habita
não são revistas rasgadas...
se caminhei, disserem
onde então estavas
quando as travas
fulgidas coloquialmente
encravaram-lhe
as duvidas
quando perdido em meio a prédios bandidos...
não mais se ouvia
a noite derramando
a cláusula que corrompia
e a janela já barrava o sol...
Onde esteves, no cume
do pingo trasbordado em sal ?
revela homem a ti,
quando esteves guardado em teu animal
havia o cheiro da axila
onde giravam formigas como na roxa terra do quintal
ou talvez a sinopse retida
da vida que lhe deram como tua
afirmou-te o que não vês
que não existe ultima saída
tolos os poetas...em canções, sonetos
sonatas em corutos avessos
fincados nas letras
eu direi:
que se fodam as bucetas
as chupetas...as picas
já que nem Freud explica
já que Pascal padeceu católico
já que não proibiram os acólitos
de participarem de ritos maçônicos
já que deixaram o demônio
participar das missas
já que não existem mais noviças
tampando o ultimo caule
já que o falo não enriça
já que a puta é submissa
já que sou feio ante revistas
aproveito...
não derramo a lágrima
que pro outro faz o leito
não suponho ao fogo que arda
ao esquecer o bolo
de picuinhas encrostadas
em rimas afogadas
e na ausência de tua
imagem converto-lhe seu pobre em coragem
não, ainda não o conheço...
só por nome poesia e não me lembro o resto.
João Franscisco Paes
O Gosto da Saudade
Começa metálico na boca
escorre corrosivo na garganta
e gorjeia em meu estômago
Pássaro flamejante
a revirar o meu avesso
Latejo em espasmos suspensos
entre a fome e a náusea
O desalento já fez ninho
em meus cabelos
Iriene Borges
escorre corrosivo na garganta
e gorjeia em meu estômago
Pássaro flamejante
a revirar o meu avesso
Latejo em espasmos suspensos
entre a fome e a náusea
O desalento já fez ninho
em meus cabelos
Iriene Borges
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Ameaça
Não me vigie
Estou com o coração na palma do despenhadeiro
Uma inanição enroscada na garganta
E o corpo semeado por cadernos virgens
Não me descubra
A manta decepa meus olhos de fel
A dose quente é um invólucro materno
Rasgando-me bestial
Mantenha o segredo
Há um choro de fogo bastardo
Que vadia minhas gestações
E becos iluminando o tráfico de desejos
Nas palmatórias das delícias
Sou um corredor nu
Apostando corrida com o inflamável
Rita Medusa
Estou com o coração na palma do despenhadeiro
Uma inanição enroscada na garganta
E o corpo semeado por cadernos virgens
Não me descubra
A manta decepa meus olhos de fel
A dose quente é um invólucro materno
Rasgando-me bestial
Mantenha o segredo
Há um choro de fogo bastardo
Que vadia minhas gestações
E becos iluminando o tráfico de desejos
Nas palmatórias das delícias
Sou um corredor nu
Apostando corrida com o inflamável
Rita Medusa
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Sorex e Minustah
Eu amo sorex
seus cabelos longos de mulher vermelha,
seu sorriso ardente, sua pele honesta,
suas superquadras verdes de cimento e lua.
Eu amo sorex
Por cima das conjecturas e conveniências,
por cima das burocracias
e nomenklaturas,
dos papéis timbrados e dos ministérios,
do velado apoio ao capital de usura,
eu amo sorex.
Eu amo sorex
tal como vivo em meio às balas
e os estilhaços vindos
de Hanói, Angola, Stalingrado e Cuba.
Eu amo sorex
como Evtuchenko comovido conta
sobre o velho bolchevique,
torturado e preso por Stalin,
que ao voltar do algoz marcava
em sangue em sua cela
que não seria aquele o fim da história
que desde Outubro se fizera,
e como Lênin, numa estrela
armado de martelo e foice,
nos traria, como sempre trouxe,
alegria e guerra, encouraçado e tifo.
Eu amo sorex
como os operários que nos instruíram
quando se insurgiram em Kronstad.
Eu amo sorex
como os delegados que estiveram
no primeiro prélio da Internacional.
Eu amo sorex
tal como o vejo
no arquiteto rubro
que o amplo espaço
ergueu de um sonho
que revela a todos
o sentido oculto
que a existência perde
quando imersa em lodo.
Niemayer: à vista enfim
o que seria a vida,
se o sistema podre
se finasse um dia.
Eu amo sorex
se o capital contemplo
com seus mil tentáculos,
se os olhos vejo
que Rosana exibe
quando conta histórias
de miséria e luto
de uma infância infame
de catar churume.
Eu amo sorex
quando Laudelino, Luciana e Vítor,
Tânia, Brandão, Waldir,
Rosandre, Lúcia, Malriza,
Wanderley, Francisco, Leila,
Bibiane, Neusa, Rosiane,
Elaine, Milton, Damaris
Eudes, Jedalia, Aparecido,
Monique, Franciele,Vagner, Genelice.
Eu amo sorex
se aprendo que em setenta e três não vi os
soviéticos recusarem-se a jogar no Estádio Nacional
(e soube apenas que o Chile foi pra Copa da Alemanha
perder de quatro a zero para a Holanda).
Eu amo sorex
dos trezentos mil atores
que em cinqüenta e três saíram
na Berlin de Brecht
para a peça viva da revolta ruiva.
Eu amo sorex
quando lembro a Hungria
que em cinqüenta e seis levanta-se
ante os tanques que em silêncio
Churchill aplaudia.
Eu amo sorex
dos pneus em chama
e comitês de apoio
que em sessenta e oito
viram na Tchecoslováquia
menos medo ainda que em Paris havia.
Sim, eu sei que enquanto isto,
sob escolta da Tcheka,
Dzerjinski mira
Makarenko, e o tempo
se contrai no escuro e
lento declinar do sonho.
Mas mesmo assim – repito –
mesmo assim, eu sinto
que por sobre tudo
que há de vil e mudo
nesta história toda,
um grito apenas
que calar não posso
os ecos pedes
em qualquer atraso,
um grito louco
que resiste ao logro:
eu amo sorex.
Viva o metrô de Moscou!
suor e pele que na vala nove
a camponesa trouxe
dos confins da Ásia.
Vivam minas ricas de operários firmes
no ideal que anima seu trabalho rude!
E mesmo ainda agora
que na China impera
um batalhão de feras,
de produtos débeis
pra consumo estéril,
mesmo assim,
eu amo sorex.
minustah é quem odeio,
minustah, demônio
sob a cruz de ferro.
Onde está minustah?
Por que ninguém lhe faz as honras?
Por que viver em meio às brumas?
Onde estão aqueles que na noite infinda
vivem sempre a se suster do sangue
que da carne morta minustah respinga?
Por que não dão as caras?
Por que sempre nas sombras?
Por que jamais se mostra
minustah em meio às bestas
que celebram festas ao sabor de vespas?
minustah tem muitos nomes:
É Darfur, Sudão, Coltan e Congo,
Jenin, Fallujah, Sabra e Shatila,
Ruanda e as fotos de Abu Ghraib,
todas as vinte e quatro pessoas assassinadas a sangue-frio
em Haditha pela Companhia Kilo.
minustah provoca fome,
no Haiti devora, monstro,
as casas onde outrora havia gente.
Haiti, de Cité Soleil,
Haiti, de Papa e Baby Doc.
E em meio a tantos nomes, minustah
escolhe aquele que apavora: cruz (o mesmo cruz
que conheci na companhia de friaça).
A praça da favela feita terra de ninguém,
as mães em vão lavando as mãos de sangue,
partidos vistos como fossem gangues.
E o cruz e as tantas mortes que ele traz,
que satisfeito aplaude: o corpo morto
na varanda envolto em nevoeiro.
minustah me fita com seus olhos feros, de soslaio?
Será que sabe que eu existo?
Se o martírio teve das chacinas,
por que furtar-me a alma em meio aos carros?
minustah é totalmente insaciável.
minustah e seus sequazes:
Pinochet, Sharon, Suharto,
Costa e Silva, Golbery, Delfim.
E agora ouçam bem: Fritz Thyssen
Alfred Krupp
Carlos Ghosn
Roger Smith
Ingvar Kamprad e o Código de Conduta da Ikea,
Olga Benário escrava nos porões da Siemens
(que minustah celebra quando vai a campo o futebol da Europa),
IG Farben, hoje Bayern, Basf e Hoechst,
Schering, Volkswagen, Daimler-Chrysler,
IBM e o Holocausto, Chase Manhattan,
Bertelsmann, Nestlé, C&A,
Monsanto, Aracruz, Syngenta,
um destaque em separado pra McDonald’s, Coca-Cola e Walt Disney,
trim que a Shell usou pra encher a terra,
todos os que lucram com a guerra,
Ford, Enron, Parmalat,Toyota, Honda, Mitsui, Mitsubishi
Wall Mart – a fronteira final,
Bordon e o sangue de Chico Mendes,
a estarrecedora realidade das fábricas de iPod que a Apple tem na China,
Lotto, Puma, Nike, Adidas, Umbro,
Asics, Fila, Kappa, Mizuno,
New Balance, Reebok, Speedo.
sorex chamo às pressas,
que nos salve a todos do batel de lama
em que Caronte arrasta o leme,
da mortiça pena e da existência insana.
E assim eu amo sorex
num tempo que caminha mudo
e nos prepara um golpe
que fará o futuro
tenebroso e sujo.
minustah nos pune
pelo antigo prumo
que nos vinha e vem ainda
de dizer sem pejo
em meio ao pesadelo:
Que porque vivemos nós
devemos nos erguer solertes
e dizer de pronto
que apesar do mito,
que apesar das fugas,
que apesar das muitas
dores e fadigas,
e a tortura, que é de tudo imiga,
que apesar da angústia,
que apesar do luto,
que apesar dos olhos
que nos pedem brisa,
que apesar daqueles
que inocentes sonham
que o presente em breve
nos dará um abrigo,
que apesar das rugas,
que apesar das multas,
que apesar da falta de troco,
e que apesar, enfim, de tudo,
a nós nos resta ainda
voz que,
rouco embora,
grita sempre
e sem demora: sorex, eu amo sorex.
minustah é quem odeio.
Paulo Bearzoti
seus cabelos longos de mulher vermelha,
seu sorriso ardente, sua pele honesta,
suas superquadras verdes de cimento e lua.
Eu amo sorex
Por cima das conjecturas e conveniências,
por cima das burocracias
e nomenklaturas,
dos papéis timbrados e dos ministérios,
do velado apoio ao capital de usura,
eu amo sorex.
Eu amo sorex
tal como vivo em meio às balas
e os estilhaços vindos
de Hanói, Angola, Stalingrado e Cuba.
Eu amo sorex
como Evtuchenko comovido conta
sobre o velho bolchevique,
torturado e preso por Stalin,
que ao voltar do algoz marcava
em sangue em sua cela
que não seria aquele o fim da história
que desde Outubro se fizera,
e como Lênin, numa estrela
armado de martelo e foice,
nos traria, como sempre trouxe,
alegria e guerra, encouraçado e tifo.
Eu amo sorex
como os operários que nos instruíram
quando se insurgiram em Kronstad.
Eu amo sorex
como os delegados que estiveram
no primeiro prélio da Internacional.
Eu amo sorex
tal como o vejo
no arquiteto rubro
que o amplo espaço
ergueu de um sonho
que revela a todos
o sentido oculto
que a existência perde
quando imersa em lodo.
Niemayer: à vista enfim
o que seria a vida,
se o sistema podre
se finasse um dia.
Eu amo sorex
se o capital contemplo
com seus mil tentáculos,
se os olhos vejo
que Rosana exibe
quando conta histórias
de miséria e luto
de uma infância infame
de catar churume.
Eu amo sorex
quando Laudelino, Luciana e Vítor,
Tânia, Brandão, Waldir,
Rosandre, Lúcia, Malriza,
Wanderley, Francisco, Leila,
Bibiane, Neusa, Rosiane,
Elaine, Milton, Damaris
Eudes, Jedalia, Aparecido,
Monique, Franciele,Vagner, Genelice.
Eu amo sorex
se aprendo que em setenta e três não vi os
soviéticos recusarem-se a jogar no Estádio Nacional
(e soube apenas que o Chile foi pra Copa da Alemanha
perder de quatro a zero para a Holanda).
Eu amo sorex
dos trezentos mil atores
que em cinqüenta e três saíram
na Berlin de Brecht
para a peça viva da revolta ruiva.
Eu amo sorex
quando lembro a Hungria
que em cinqüenta e seis levanta-se
ante os tanques que em silêncio
Churchill aplaudia.
Eu amo sorex
dos pneus em chama
e comitês de apoio
que em sessenta e oito
viram na Tchecoslováquia
menos medo ainda que em Paris havia.
Sim, eu sei que enquanto isto,
sob escolta da Tcheka,
Dzerjinski mira
Makarenko, e o tempo
se contrai no escuro e
lento declinar do sonho.
Mas mesmo assim – repito –
mesmo assim, eu sinto
que por sobre tudo
que há de vil e mudo
nesta história toda,
um grito apenas
que calar não posso
os ecos pedes
em qualquer atraso,
um grito louco
que resiste ao logro:
eu amo sorex.
Viva o metrô de Moscou!
suor e pele que na vala nove
a camponesa trouxe
dos confins da Ásia.
Vivam minas ricas de operários firmes
no ideal que anima seu trabalho rude!
E mesmo ainda agora
que na China impera
um batalhão de feras,
de produtos débeis
pra consumo estéril,
mesmo assim,
eu amo sorex.
minustah é quem odeio,
minustah, demônio
sob a cruz de ferro.
Onde está minustah?
Por que ninguém lhe faz as honras?
Por que viver em meio às brumas?
Onde estão aqueles que na noite infinda
vivem sempre a se suster do sangue
que da carne morta minustah respinga?
Por que não dão as caras?
Por que sempre nas sombras?
Por que jamais se mostra
minustah em meio às bestas
que celebram festas ao sabor de vespas?
minustah tem muitos nomes:
É Darfur, Sudão, Coltan e Congo,
Jenin, Fallujah, Sabra e Shatila,
Ruanda e as fotos de Abu Ghraib,
todas as vinte e quatro pessoas assassinadas a sangue-frio
em Haditha pela Companhia Kilo.
minustah provoca fome,
no Haiti devora, monstro,
as casas onde outrora havia gente.
Haiti, de Cité Soleil,
Haiti, de Papa e Baby Doc.
E em meio a tantos nomes, minustah
escolhe aquele que apavora: cruz (o mesmo cruz
que conheci na companhia de friaça).
A praça da favela feita terra de ninguém,
as mães em vão lavando as mãos de sangue,
partidos vistos como fossem gangues.
E o cruz e as tantas mortes que ele traz,
que satisfeito aplaude: o corpo morto
na varanda envolto em nevoeiro.
minustah me fita com seus olhos feros, de soslaio?
Será que sabe que eu existo?
Se o martírio teve das chacinas,
por que furtar-me a alma em meio aos carros?
minustah é totalmente insaciável.
minustah e seus sequazes:
Pinochet, Sharon, Suharto,
Costa e Silva, Golbery, Delfim.
E agora ouçam bem: Fritz Thyssen
Alfred Krupp
Carlos Ghosn
Roger Smith
Ingvar Kamprad e o Código de Conduta da Ikea,
Olga Benário escrava nos porões da Siemens
(que minustah celebra quando vai a campo o futebol da Europa),
IG Farben, hoje Bayern, Basf e Hoechst,
Schering, Volkswagen, Daimler-Chrysler,
IBM e o Holocausto, Chase Manhattan,
Bertelsmann, Nestlé, C&A,
Monsanto, Aracruz, Syngenta,
um destaque em separado pra McDonald’s, Coca-Cola e Walt Disney,
trim que a Shell usou pra encher a terra,
todos os que lucram com a guerra,
Ford, Enron, Parmalat,Toyota, Honda, Mitsui, Mitsubishi
Wall Mart – a fronteira final,
Bordon e o sangue de Chico Mendes,
a estarrecedora realidade das fábricas de iPod que a Apple tem na China,
Lotto, Puma, Nike, Adidas, Umbro,
Asics, Fila, Kappa, Mizuno,
New Balance, Reebok, Speedo.
sorex chamo às pressas,
que nos salve a todos do batel de lama
em que Caronte arrasta o leme,
da mortiça pena e da existência insana.
E assim eu amo sorex
num tempo que caminha mudo
e nos prepara um golpe
que fará o futuro
tenebroso e sujo.
minustah nos pune
pelo antigo prumo
que nos vinha e vem ainda
de dizer sem pejo
em meio ao pesadelo:
Que porque vivemos nós
devemos nos erguer solertes
e dizer de pronto
que apesar do mito,
que apesar das fugas,
que apesar das muitas
dores e fadigas,
e a tortura, que é de tudo imiga,
que apesar da angústia,
que apesar do luto,
que apesar dos olhos
que nos pedem brisa,
que apesar daqueles
que inocentes sonham
que o presente em breve
nos dará um abrigo,
que apesar das rugas,
que apesar das multas,
que apesar da falta de troco,
e que apesar, enfim, de tudo,
a nós nos resta ainda
voz que,
rouco embora,
grita sempre
e sem demora: sorex, eu amo sorex.
minustah é quem odeio.
Paulo Bearzoti
Ninhos no Brim
Antes de fugir deixou ou as calças de brim do marido bem lavadas. Penduradas no varal pareciam fantasmas incompletos ensaiando incompleto adeus. Voltou. Arrependimento não mata ninguém, ouvira falar da vizinha que sabia tecer a filosofia do bom senso. Entrou pelo pátio dos fundos para ganhar fôlego e arrumar as idéias. Os presentes eram pequenos e bem selecionados.Um para cada filho com embrulho azul. Um para cada filha com embrulho rosa. Era tempo de perdoar até marido e sem querer olhou para o varal. As calças de brim estavam lá. Tal como as havia pendurado três anos atrás. Nos bolsos, os passarinhos construíram perfeitos ninhos. Tempo de presépios, pensou. E de nascimentos delicados. Pequenos ovos derramavam vidas.
Glória Kirinus
(Cultura G. Gazeta do Povo. dom, 191204. p7 )
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Balé nas nuvens
Vou dançar balé nas nuvens
Com meu amigo vento vou dançar,
Vou dançar balé nas nuvens nem que seja em pensamento;
Vou dançar balé nas nuvens com meu amigo trovão,
Vou dançar nas nuvens nem que seja em ficção.
Vou dançar balé nas nuvens com meu amigo raio,
Vou dançar balé nas nuvens só assim me distraio.
Vou dançar nas nuvens entre esvoaçantes nuvens,
Vou dançar balé nas nuvens no espaço flutuante.
Vou dançar balé nas nuvens entre chuva e chuvisco,
Por força da gravidade sei que estou correndo risco,
Mesmo assim eu peço bis para dançar com o Corisco.
Aparecida Magalhães
Com meu amigo vento vou dançar,
Vou dançar balé nas nuvens nem que seja em pensamento;
Vou dançar balé nas nuvens com meu amigo trovão,
Vou dançar nas nuvens nem que seja em ficção.
Vou dançar balé nas nuvens com meu amigo raio,
Vou dançar balé nas nuvens só assim me distraio.
Vou dançar nas nuvens entre esvoaçantes nuvens,
Vou dançar balé nas nuvens no espaço flutuante.
Vou dançar balé nas nuvens entre chuva e chuvisco,
Por força da gravidade sei que estou correndo risco,
Mesmo assim eu peço bis para dançar com o Corisco.
Aparecida Magalhães
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Fixação
Para que algo se aloje na memória, é preciso que seja ali marcado a fogo;
somente aquilo que jamais pára de doer fica na memória
(Nietzsche)
Na parede da memória
essa lembrança
é o quadro que dói mais...
(Belchior)
pré-figura em mimuma ausência do seu retrato
emoldurada pela linguagem
da minha memória
Giuliano Gimenez
Liberdade e Aflição
Onde está esse grito?
Em qual deserto de palavras?
Em qual oceano de pranto?
Estará, difuso em espasmos,
Embalando um sonho morto?
Ou embargado pelo suspiro
Aliviado da última esperança
Fero, ata-me a garganta?
Onde está esse grito,
Liberdade e aflição,
Que eu evito?
O débil impulso
Que ruma à garganta
Mas desvia o curso
Minuto após minuto
Onde está esse grito,
Liberdade e aflição,
Que eu evito?
Em qual abismo -
O de árido silêncio
Ou de enfático cinismo -
Abafo meu grito?
Sempre este rito
De hábil dissimulação
E prático comodismo
Ata meu grito.
Impróprio e proscrito
Dissipa-se na garganta
Propaga-se no infinito!
Iriene Borges
Em qual deserto de palavras?
Em qual oceano de pranto?
Estará, difuso em espasmos,
Embalando um sonho morto?
Ou embargado pelo suspiro
Aliviado da última esperança
Fero, ata-me a garganta?
Onde está esse grito,
Liberdade e aflição,
Que eu evito?
O débil impulso
Que ruma à garganta
Mas desvia o curso
Minuto após minuto
Onde está esse grito,
Liberdade e aflição,
Que eu evito?
Em qual abismo -
O de árido silêncio
Ou de enfático cinismo -
Abafo meu grito?
Sempre este rito
De hábil dissimulação
E prático comodismo
Ata meu grito.
Impróprio e proscrito
Dissipa-se na garganta
Propaga-se no infinito!
Iriene Borges
Sol Noturno
Prédio Giratório
Graduado e mal informado
um sujeito em Dubai
- diplomado e graduado -
Está gritando aos quatro ventos
"que vai construir o primeiro prédio giratório do mundo !"
Mas ele está muito mal informado,
porque este prédio no Brasil já faz quatro anos de inaugurado!
Os curitibanos ficaram indignados
por que é em Curitiba que este prédio está localizado!
Cida Magalhães
um sujeito em Dubai
- diplomado e graduado -
Está gritando aos quatro ventos
"que vai construir o primeiro prédio giratório do mundo !"
Mas ele está muito mal informado,
porque este prédio no Brasil já faz quatro anos de inaugurado!
Os curitibanos ficaram indignados
por que é em Curitiba que este prédio está localizado!
Cida Magalhães
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Diário do esgoto
Extra! Extra!
Companheiros de esgoto!
Apesar de morarmos numa boa cidade, esgotos adequadamente sujos para nossa proliferação tranqüila, sem grandes interferências, na última quinta-feira fomos aviltantemente invadidos.
Uma mulher, sabe se lá de onde ou por que, resolveu explorar nossas moradias, sem convite nem aviso prévio.
Não bastasse tudo isso, ainda foi resgatada com extrema comoção pelos seus iguais, como se ela tivesse atravessado o Inferno de Dante.
Onde é que vamos parar?
Deisi Perin
Companheiros de esgoto!
Apesar de morarmos numa boa cidade, esgotos adequadamente sujos para nossa proliferação tranqüila, sem grandes interferências, na última quinta-feira fomos aviltantemente invadidos.
Uma mulher, sabe se lá de onde ou por que, resolveu explorar nossas moradias, sem convite nem aviso prévio.
Não bastasse tudo isso, ainda foi resgatada com extrema comoção pelos seus iguais, como se ela tivesse atravessado o Inferno de Dante.
Onde é que vamos parar?
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