a cidade
1 (a cidade como um monstro)
a cidade convulsiva,
não importa quanto doa,
não importa quanto coe,
não importa quanto moa,
é um monstro pânico e vivo:
sua boca, sua fome;
boca aberta em horizontes
como um mapa sobre o chão:
a dentição de edifícios,
a dentição de sobrados,
a dentição de barracos.
a cidade é sua boca,
a cidade é sua fome
(de crescer, de desdobra-se).
2 (a cidade como um homem)
a cidade, concentrada,
existindo a céu aberto,
com suas veias de asfalto,
com intestinos de esgotos,
com seus tecidos de praças,
com seu coração de gentes
pulsando na tiradentes.
a cidade convulsiva
todo dia morre e vive,
mata, dorme, salva e trai,
todo dia, todo dia,
embebeda-se e trafica,
dessangra, sua, saliva,
festeja-se e se retrai.
3 (a cidade como uma doença)
eis a fome
da cidade:
a cidade
sempre quer
mais cidade.
se desdobra
no intestino
no arrabalde
da cidade.
contagia-se:
(através
de nós, homens)
pare a si
como um vírus
Rodrigo Madeira
terça-feira, 24 de julho de 2007
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