terça-feira, 24 de julho de 2007

a cidade

1 (a cidade como um monstro)

a cidade convulsiva,
não importa quanto doa,
não importa quanto coe,
não importa quanto moa,

é um monstro pânico e vivo:
sua boca, sua fome;
boca aberta em horizontes
como um mapa sobre o chão:

a dentição de edifícios,
a dentição de sobrados,
a dentição de barracos.

a cidade é sua boca,
a cidade é sua fome
(de crescer, de desdobra-se).


2 (a cidade como um homem)

a cidade, concentrada,
existindo a céu aberto,
com suas veias de asfalto,
com intestinos de esgotos,

com seus tecidos de praças,
com seu coração de gentes
pulsando na tiradentes.
a cidade convulsiva

todo dia morre e vive,
mata, dorme, salva e trai,
todo dia, todo dia,

embebeda-se e trafica,
dessangra, sua, saliva,
festeja-se e se retrai.


3 (a cidade como uma doença)

eis a fome
da cidade:
a cidade
sempre quer

mais cidade.
se desdobra
no intestino
no arrabalde

da cidade.
contagia-se:
(através

de nós, homens)
pare a si
como um vírus

Rodrigo Madeira

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