domingo, 19 de janeiro de 2014

Valeu viver mais um dia.

Na calçada caminhavam duas grávidas uma a conduzir um carrinho de bebe, outra carregando uma criança. O sol mordia-lhes de cansaço até que elas encontraram um burguês vestindo roupas surradas aparentando estarem enlutadas de tanto desmazelo; segurava uma pasta e um guarda chuva desconfiado dos humores bipolares do clima curiovano. A mulher que conduzia o carrinho pediu um dinheiro para que pudessem se alimentar, ela contou que veio de Ponta Fina  e não tinha um vintém sequer. Como era conterrâneo o polaco não pestanejou e deu uma onça que certamente se fartou com a fome das duas mais as crias.

Passou um quarteirão e o interiorano seguia arrastando sua corcunda e sua gravidez de três meses de cerveja sob o bafo da manhã, manhã que se perdera do Rio de Janeiro e tropicou por essas quebradas. Ao contrário de outros dias já falecidos na memória (visitas do Alemão nefando!) caminhava feliz pois acredita-se Deus oportunizara o cidadão a estar limpando de impurezas o dinheiro que amealhava na corrida de pangarés. Tão alheio que ao cruzar a canaleta do expresso quase desviveu se espalhando no asfalto ondeado mas naquele zaz o anjo da guarda mostrou ser fura grave.

Ali mais adiante uma casal de carrinheiros passava ao largo; ele o cavalo vapor conduzia a carroça que era um Empire State de caixas papelão e outros que-tais recicláveis. A senhora de olhos verdes que eram tão brancos que parece ter engolido todas as cores numa luz intensa de força e fé andava na calçada a cada passeio mais pergaminosa de tanta estória largada.Mais nós abrimos a conversação falando das modernidades em termos de carrinho de lixo,digo de bens reaproveitáveis. Os pneus de borracha, a estrutura mais leve, tudo pensando na capacidade de se acumularem mais valia.Exploração arretada. O valor da força de trabalho , sempre subvalorizada caindo no bolso de quem dá de comer as hemorróidas. É o polaco era comuna.

A mulher pediu umas moedas para inteirar o dinheiro para que pudessem comprar comida. Não tendo mais papel moeda aceitaram ir até um posto de gasolina onde a loja de conveniência possuía um terminal bancário.Lá chegando encontraram algumas caixas de papelão estocadas as quais puderam pegar. Ela disse que esperaria enquanto o cidadão sacava do caixa o sagui ou mico leão um macaco desses fez e entregou para ela que se derramou em desejos de bem aventuranças ao caipora, digo caipira..

O burguês ridículo que tropeçara na bondade, sentira-se mais leve andando de galochas nas calçadas de poças ocultas nas pedras mal colocadas da cidade,a qual esqueceu seu charme cinza de seus urbanóides escondidos em seus guarda chuvas cortando o ar a facadas. O polaco velho guardou sóis em seu coração no sorriso daquelas gentes simples.

Valeu viver mais um dia.

Wilson Roberto Nogueira


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