sábado, 3 de dezembro de 2011

O pequeno burguês

Aquele que quer ir ao paraíso
Do pequeno burguês deve trilhar
O caminho da arte pela arte
E tragar porções de saliva:
O noviciado é quase infinito.

Lista do que você precisa saber.

Dar, com arte, o nó da gravata
Fazer deslizar o cartão de visitas
Sacudir por luxo os sapatos
Consultar o espelho veneziano
Estudar-se de frente e de perfil
Tomar uma dose de conhaque
Distinguir uma viola de um violino
Receber visitas de pijama
Evitar a queda dos cabelos
E tragar porções de saliva.

Tudo deve ser arquivado.
Se sua esposa está entusiasmada com outro
Recomendo as seguintes dicas:
Barbear-se com navalha
Admirar a beleza natural
Farfalhar um pedaço de papel
Sustentar uma conversa telefônica
Disparar um rifle
Fazer as unhas com os dentes
E tragar porções de saliva.

Se deseja brilhar nos salões
o pequeno burguês
deve saber andar sobre quatro patas
Espirrar e sorrir ao mesmo tempo

Dançar valsa na beira do abismo
Endeusar os órgãos sexuais
Despir-se na frente do espelho
Desfolhar uma rosa com um lápis
E tragar toneladas de saliva.

A tudo isso uma pergunta
Jesus Cristo era filisteu?

Como se vê, para alcançar
O paraíso pequeno-burgues
É preciso ser um acrobata completo:
Para chegar ao paraíso
É preciso ser um acrobata completo.

Não admira que o verdadeiro artista
Entretenha-se matando libélulas!

Para quebrar o círculo vicioso
Recomendam ato gratuito:

Aparecer e desaparecer
Andar em estado cataléptico
Dançar valsa nos escombros
Embalar um ancião nos braços
Sem tirar os olhos de seus olhos
Perguntar a hora à um moribundo
Esculpir no oco da palma da mão
Apresentar-se de fraque aos incêndios
Lançar-se com o cortejo fúnebre
Ir além do sexo feminino
Levantar a laje funerária
E ver se, dentro, cultivam árvores
Atravessar de um lado a outro
Sem referências ao porquê ou quando
Somente pela virtude da palavra

Com seu bigode de galã de cinema
Na velocidade do pensamento


Nicanor Parra


De [Versos de salón] (Santiago, Nascimento, 1962) tradução Ricardo Pozzo

5 comentários:

Anônimo disse...

EL PEQUEÑO BURGUÉS


El que quiera llegar al paraíso
Del pequeño burgués tiene que andar
El camino del arte por el arte
Y tragar cantidades de saliva:
El noviciado es casi interminable.

Lista de lo que tiene que saber.

Anudarse con arte la corbata
Deslizar la tarjeta de visita
Sacudirse por lujo los zapatos
Consultar el espejo veneciano
Estudiarse de frente y de perfil
Ingerir una dosis de cognac
Distinguir una viola de un violín
Recibir en pijama a las visitas
Impedir la caída del cabello
Y tragar cantidades de saliva.

Todo tiene que estar en sus archivos.
Si su mujer se entusiasma con otro
Le recomiendo los siguientes trucos:
Afeitarse con hojas de afeitar
Admirar las bellezas naturales
Hacer crujir un trozo de papel
Sostener una charla por teléfono
Disparar con un rifle de salón
Arreglarse las uñas con los dientes
Y tragar cantidades de saliva.

Si desea brillar en los salones
El pequeño burgués
Debe saber andar en cuatro pies
Estornudar y sonreír a un tiempo

Bailar un vals al borde del abismo
Endiosar a los órganos sexuales
Desnudarse delante del espejo
Deshojar una rosa con un lápiz
Y tragar toneladas de saliva.

A todo esto cabe preguntarse
¿Fue Jesucristo un pequeño burgués?

Como se ve, para poder llegar
Al paraíso del pequeño burgués
Hay que ser un acróbata completo:
Para poder llegar al paraíso
Hay que ser un acróbata completo.

¡Con razón el artista verdadero
Se entretiene matando matapiojos!

Para salir del círculo vicioso
Recomiendan el acto gratuito:

Aparecer y desaparecer
Caminar en estado cataléptico
Bailar un vals en un montón de escombros
Acunar un anciano entre los brazos
Sin despegar la vista de su vista
Preguntarle la hora al moribundo
Escupir en el hueco de la mano
Presentarse de frac en los incendios
Arremeter con el cortejo fúnebre
Ir más allá del sexo femenino
Levantar esa losa funeraria
Ver si cultivan árboles adentro
Y atravesar de una vereda a otra
Sin referencias ni al porqué ni al cuándo
Por la sola virtud de la palabra

Con su bigote de galán de cine
A la velocidad del pensamiento


Nicanor Parra/ De [Versos de salón] (Santiago, Nascimento, 1962)

Anônimo disse...

AVISOS

Em caso de incêndio
não utilize elevadores
use escadas
salvo instrução contrária

Não fume
Não jogue lixo
Não defeque
Não ligue o rádio
salvo instrução contrária

Por favor, Aperte a Descarga
Após usar o Sanitário
Exceto Quando o Trem
Está Parado na Estação
Seja Atencioso
Com O Próximo Passageiro

Avante Soldados Cristãos
Trabalhadores do mundo unidos
não temos nada a perder, mas a nossa vida
Glória ao Pai
.............................. E ao Filho
ao Espírito Santo
salvo instrução contrária

A propósito
afirmamos estas verdades evidentes
que todos os homens são iguais
que foram dotados por seu criador
de certos direitos inalienáveis
entre eles a Vida
Liberdade

......... & a busca da Felicidade

E por último mas não menos importante
que 2 + 2 são 4
salvo instrução contrária


Nicanor Parra/ de Poemas para combatir la calvicie. Antología. (Santiago, 6ªed., Fondo de Cultura Económica, 1998)

tradução Ricardo Pozzo


WARNINGS

In case of fire
do not use elevators
use stairways
unless otherwise instructed

No smoking
No littering
No shitting
No radio playing
unless otherwise instructed

Please Flush Toilet
After Each Use
Except When Train
Is Standing At Station
Be Thoughtful
Of The Next Passenger

Onward Christian Soldiers
Workers of the World unite
we have nothing to loose but our life
Glory be to the Father
.............................. & to the Son
to the Holy Ghost
unless otherwise instructed

By the way
we also hold these truths to be self evident
that all man are created equal
that they have been endowed by their creator
with certain inalienable rights
that among these are Life
Liberty
......... & the pursuit of Happiness

& last but not least
that 2 + 2 makes 4
unless otherwise instructed


Nicanor Parra/ de Poemas para combatir la calvicie. Antología. (Santiago, 6ªed., Fondo de Cultura Económica, 1998)

Anônimo disse...

AUTORRETRATO


Considerem, rapazes,
Este casaco de frade mendicante:
Sou professor Num liceu obscuro,
Perdi minha voz dando aulas.
(Depois de tudo ou nada
Faço 40 horas semanais).
O que você diz de meu rosto esbofeteado?
Verdade que inspira piedade olhar-me?
Que lhes sugerem estes sapatos de padre
Que envelheceram sem arte nem parte.

Em termos de olhos, a três metros
Não reconheço nem a minha própria mãe.
O que acontece comigo? - Nada!
Eu os arruinei dando aulas:
A má luz, o sol,
A venenosa lua miserável.
E tudo por quê?
Para ganhar um pão imperdoável
Duro como o rosto do burguês
E com cheiro e com sabor de sangue.
Para que nascemos como homens
Se nos dão a morte dos animais?

Pelo excesso de trabalho, às vezes
Vejo formas estranhas no ar,
Ouço corridas loucas,
Risos, conversas criminosas.
Observe estas mãos
E estas bochechas brancas cadavéricas,
Estes escassos cabelos que me restam.
Estas negras rugas infernais!
Mas eu era tal qual você,
Jovem, cheio de belos ideais
Sonhei fundindo o cobre
E lapidando rostos de diamante:
Aqui estou hoje
Por trás desta mesa desconfortável
Embrutecido pela cantilena
Das quinhentas horas semanais.

Nicanor Parra

tradução Ricardo Pozzo

AUTORRETRATO


Considerad, muchachos,
Este gabán de fraile mendicante:
Soy profesor en un liceo obscuro,
He perdido la voz haciendo clases.
(Después de todo o nada
Hago cuarenta horas semanales).
¿Qué les dice mi cara abofeteada?
¡Verdad que inspira lástima mirarme!
Y qué les sugieren estos zapatos de cura
Que envejecieron sin arte ni parte.

En materia de ojos, a tres metros
No reconozco ni a mi propia madre.
¿Qué me sucede? -¡Nada!
Me los he arruinado haciendo clases:
La mala luz, el sol,
La venenosa luna miserable.
Y todo ¡para qué!
Para ganar un pan imperdonable
Duro como la cara del burgués
Y con olor y con sabor a sangre.
¡Para qué hemos nacido como hombres
Si nos dan una muerte de animales!

Por el exceso de trabajo, a veces
Veo formas extrañas en el aire,
Oigo carreras locas,
Risas, conversaciones criminales.
Observad estas manos
Y estas mejillas blancas de cadáver,
Estos escasos pelos que me quedan.
¡Estas negras arrugas infernales!
Sin embargo yo fui tal como ustedes,
Joven, lleno de bellos ideales
Soñé fundiendo el cobre
Y limando las caras del diamante:
Aquí me tienen hoy
Detrás de este mesón inconfortable
Embrutecido por el sonsonete
De las quinientas horas semanales.

Nicanor Parra/ De [Poemas y antipoemas] (Santiago, Nascimento,1954)

Anônimo disse...

FRASES

Não joguemos poeira nos olhos
O carro é uma cadeira de rodas
O leão é feito de cordeiros
Os poetas não têm biografia
A morte é um hábito coletivo
As crianças nascem para ser felizes
A realidade tende a desaparecer
Fornicar é um ato diabólico
Deus é um bom amigo dos pobres.

Nicanor Parra/ de [Obra gruesa] (Santiago, Universitaria, 1969)

tradução Ricardo Pozzo

FRASES

No nos echemos tierra a los ojos
El automóvil es una silla de ruedas
El león está hecho de corderos
Los poetas no tienen biografía
La muerte es un hábito colectivo
Los niños nacen para ser felices
La realidad tiende a desaparecer
Fornicar es un acto diabólico
Dios es un buen amigo de los pobres.


Nicanor Parra/ de [Obra gruesa] (Santiago, Universitaria, 1969)

4 de dezembro de 2011 09:44

rodrigo madeira disse...

este é muito bom, apesar do tom salmodiador, do ranço aristocrático-socialista.

abç.