domingo, 31 de julho de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Cada letra pulsa, sangüínea chama como as do teu olhar que devora o abismo contemplando o infinito.
Medo é o teu caminhar na rota rasgada de um pesadelo que explode ali na esquina.
Sentir a textura de um sofrimento derramado como ácido na pele. Na pele de quem toca um farrapo
comensal de cães ladrando irmãos sem distinção. Animais. Nós mesmos que nos projetamos nos outros;
nossas larvas. Nossas lavas subterrâneas de nosso Hades. Mar revolto sob o gelo.
Na insana cidade de banal cópula de violências no parque de horrores e neon.
Tudo se esconde quando se revela atrás dos vidros, o aço.
Wilson Roberto Nogueira
terça-feira, 26 de julho de 2011
Bárbara Ruiva
há a criança
vermelha
no sótão coágulo
da memória
é alto e me iça
vela e candeeiro
o sótão
ofuscante
a criança
vaga lúmen
na poça oceano
da vidraça
chora
parafina
e me iça
mente cara vela
onde não volto mais
escorpiões
vagueiam pelos dentes do leão
a criança
quelícera
projeta
imensa seta
obsidiana
no ouro da carcaça
real
Andréia Carvalho
segunda-feira, 25 de julho de 2011
O jogo de azar do desejo
Quem, meu amor, conhece o sabor do escárnio alheio no confessionário da auto flagelação, conhece também o sentido incompreendido de perscrutar cada centímetro de pele, quando esta cede, às nuanças do invasor.
O jogo de azar do desejo, anestésico da razão, forjado para nos livrar do livre arbítrio e que mascara a luta entre classes enquanto que sob a crosta fede a cidade, forja implacável o simulacro de reclamar amparo ao predador.
Ricardo Pozzo
sábado, 23 de julho de 2011
Cemitério Aéreo
O olho que escorreu da minha testa
(é favor escandir o hiato: o – olho)
com gesto de quem morre e não protesta
sim sim este olho que desfez-se em molho
foi o rio rubro mais feliz de mim,
melhor que sensação de não-mereço,
maior que a rima alargada no fim,
mais sim que frase de amor no começo.
Foi com tal olho que perdi o contato
duma verdade a qual não foi tão tarde:
aquela mais-verdade do retrato
do artista quando jovem cão covarde
que não viaja numa noite fria
depois do cerco de quarenta invernos,
mas que requenta sim a poesia
e sim repete-a aos quintos dos infernos.
Naquela não-pupila eu fui desejo
de amordaçar a primeira pessoa
e fundir tudo em tudo – ser que almejo
quando o gongo do último assalto soa
por fora da ilusão do tempo-espaço
e o mundo bolha explode sem registro
sem som sem tom sem cor sem descompasso
num assombroso silêncio sinistro.
Junto com o olho foi qualquer suspeita
de que eu cifrasse em versos simples isto
numa levada em que tudo se ajeita
e não sobra a má impressão que despisto.
Assim, exausto de usar tantos ques
os quais nem deixam um quê de mistério,
desovo outro corpo morto a vocês,
meus caros hóspedes dum cemitério aéreo.
Ivan Justen Santana
(é favor escandir o hiato: o – olho)
com gesto de quem morre e não protesta
sim sim este olho que desfez-se em molho
foi o rio rubro mais feliz de mim,
melhor que sensação de não-mereço,
maior que a rima alargada no fim,
mais sim que frase de amor no começo.
Foi com tal olho que perdi o contato
duma verdade a qual não foi tão tarde:
aquela mais-verdade do retrato
do artista quando jovem cão covarde
que não viaja numa noite fria
depois do cerco de quarenta invernos,
mas que requenta sim a poesia
e sim repete-a aos quintos dos infernos.
Naquela não-pupila eu fui desejo
de amordaçar a primeira pessoa
e fundir tudo em tudo – ser que almejo
quando o gongo do último assalto soa
por fora da ilusão do tempo-espaço
e o mundo bolha explode sem registro
sem som sem tom sem cor sem descompasso
num assombroso silêncio sinistro.
Junto com o olho foi qualquer suspeita
de que eu cifrasse em versos simples isto
numa levada em que tudo se ajeita
e não sobra a má impressão que despisto.
Assim, exausto de usar tantos ques
os quais nem deixam um quê de mistério,
desovo outro corpo morto a vocês,
meus caros hóspedes dum cemitério aéreo.
Ivan Justen Santana
quinta-feira, 21 de julho de 2011
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Agora, com a conscientização ecológica, os esgotos das metrópolis viraram motivo de interesse público e até fonte de renda das prefeituras que abriram uma nova frente para a curiosidade forasteira. O turismo subterrâneo nas galerias da capital, um parque temático com músicas para todos os gostos; aliás, existem até aqueles que juram que as ruelas liquidas dos esgotos exalam uma melodia sem igual. O olor e as criaturas que nas trevas se alimentam dos subprodutos urbanitas são os símbolos silenciosos desta capital ecologicamente correta da urbe nefelita. No sangue agora translúcido desta cidade ecolotra a água torna-se de pleno uso para lavar pratos, prantos e pessoas.
É o século XXI que se vê Paraíso a começar da descarga!
Wilson Roberto Nogueira
terça-feira, 19 de julho de 2011
sábado, 16 de julho de 2011
sexta-feira, 15 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
domingo, 10 de julho de 2011
Zero Grau
dói, a pele nua próxima ao zero grau centígrado e o papelão dos euro burgos tecnocratas não seria suficiente para explicar olhares polímero recicláveis que trans elucidam vitrines com sensores de alarme ao sinal:
aguarde!
seu sonho de consumo pode ser um furo no aparelho psíquico destruído por falsas promessas, melhor dizer, o equívoco de esperar regozijo tal, que nos alcance ao final
da performance!
seu sonho de consumo pode ser um furo no aparelho psíquico destruído por falsas promessas, melhor dizer, o equívoco de esperar regozijo tal, que nos alcance ao final
da performance!
Ricardo Pozzo
quarta-feira, 6 de julho de 2011
jornada
o momento do dia mais esperado vem chegando. devagar, concentrado e calmo. como se todas as formas caissem no sono. em cores. a tarde dita o ritmo de muitas pessoas. os tubos de ônibus cheios. abarrotados. uma centopéia de filas quilométricas. cortando esquinas. trânsito engarrafado. na calçada, os passos lentos da velha senhora decrépita que carrega o cachorro como um filho. ao redor de dentro da gente, um mundo. a panificadora com o pãozinho fresco a espera pelo cliente. quatro francês, bem branquinhos. o eterno retorno de chegar em casa. passar o fiel café que não reclama. tocar, no velho aparelho de discos, uma partitura doméstica. percorrer novos labirintos pelos quarenta e seis metros quadrados. novas perspectivas que se esvaem na porta do quarto. quem bate? nada transcende. dizer - sim! -bobagens que. mas pingar, antes do noturno, uma poesia em cada retina. caminhar os pés descalços até o limite da cama. deitar a cabeça suavemente no macio travesseiro. suspirar - que fundo - um acabado. e deixar que as pálpebras - shhhh! que dorme - encerrem o cotidiano teatro de sua vida.
Giuliano Gimenez
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Você diz
Pouco me importam, você diz
As suas manias, suas opiniões
Seu jeito torto de estar no mundo
Pouco me importa
Sua ética profissional
Seu ateísmo metodológico
Sua consciência de classe
Por que haveria de me importar?
Sua opção preferencial pelos pobres
Seus ataques apaixonados
Seu humanismo barato
Seu voto em branco
Sua voz alterada
Pouco me importa a sua solidão
O seu som, a sua fúria
E esta pressa de viver
Pouco se me dá
O seu disco do Belchior
O seu livro preferido
Sua crise existencial
A sua falsa modéstia
Sua timidez, pouco me importa
A sua pena de si mesmo
Suas mágoas, remorsos
As suas próprias razões
Ou em quantas línguas
Você sabe dizer eu te amo
Porque, baby, I don't care.
Otávio Kajevski Jr.
As suas manias, suas opiniões
Seu jeito torto de estar no mundo
Pouco me importa
Sua ética profissional
Seu ateísmo metodológico
Sua consciência de classe
Por que haveria de me importar?
Sua opção preferencial pelos pobres
Seus ataques apaixonados
Seu humanismo barato
Seu voto em branco
Sua voz alterada
Pouco me importa a sua solidão
O seu som, a sua fúria
E esta pressa de viver
Pouco se me dá
O seu disco do Belchior
O seu livro preferido
Sua crise existencial
A sua falsa modéstia
Sua timidez, pouco me importa
A sua pena de si mesmo
Suas mágoas, remorsos
As suas próprias razões
Ou em quantas línguas
Você sabe dizer eu te amo
Porque, baby, I don't care.
Otávio Kajevski Jr.
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