sábado, 23 de abril de 2011

Mais Magro

Mais magro
Meu amigo está mais magro
Volto a encontrá-lo
dois ou três verões mais tarde
e chego mesmo a dizê-lo:
Você está mais magro.
Problemas de intestino…
responde-me esquivo
… já estive pior, agora
voltei a engordar.
Não peço detalhes
mas vejo o ombro mirrado
entre as alças da regata
Evito tocá-lo
pois a mera proximidade física
parece estranha agora
que meu amigo está mais magro

Novamente juntos
caminhamos pela orla marítima
Eu lhe recito algum verso
ele me ensina outro insulto
e há quase alegria de trégua
não fosse o fato
dele estar mais magro

Se ainda ontem tocassem
os telefones insones
na barra da madrugada
e meu amigo dissesse
palavras de testamento
eu sairia correndo
para deitar-lhe compressas
na testa já repartida

Se fosse eu o afogado
dentro da onda invisível
de bílis, lua e silêncio
ele pagava o resgate
limpava o sal de meus cílios
me devolvia em segredo
sobre a toalha mais limpa

Mas hoje estamos exaustos
há um dreno em nossa bondade:
minha boca só tem dentes
e meu amigo
está mais magro


Fabio Weintraub

3 comentários:

Cláudia Gutierrez disse...

Seu poema me remete à seguinte reflexão: "O que é um amigo? Uma alma só habitando dois corpos."(Aristóteles)

Anônimo disse...

poema lindíssimo. cabe em qualquer antologia da melhor poesia brasileira.

madeira.

Anônimo disse...

belo e triste


n.