segunda-feira, 28 de março de 2011
mais uma aquarela em a-e-i-o-u
Sabes da necessidade da arte
e do que nessa cidade dar-te.
Sei dos de repentes do verde
e o verso impossível viver de.
Assim sim enfim enlouqueci
pero que no quiçá pero que si.
Somos só sons monstros de monos
nos solos que osmóticos demo-nos.
Num mundo cru cruel a zebu e a gnu
imune a um bugre de e em cor a nu.
Ivan Justen
e do que nessa cidade dar-te.
Sei dos de repentes do verde
e o verso impossível viver de.
Assim sim enfim enlouqueci
pero que no quiçá pero que si.
Somos só sons monstros de monos
nos solos que osmóticos demo-nos.
Num mundo cru cruel a zebu e a gnu
imune a um bugre de e em cor a nu.
Ivan Justen
domingo, 27 de março de 2011
dos desastres naturais
I
dos silêncios nem se fale
penas são plumas leves
que ultrapassam as paredes
que ultrapassam as paredes
II
cuidado: frágil
o que pende o que cai
o que se esvai
no jogo das pedras em equilíbrio
que despencam sob o olhar
o que se esvai
no jogo das pedras em equilíbrio
que despencam sob o olhar
do turista distraído
III
que resta
dos resto de réstias?
do que se foi
que a água levou
pergunte
- se os outros perguntaram
ou notaram
ou notaram
a falta
Rafael Walter
segunda-feira, 21 de março de 2011
Mutreta
I
Tou com uma mutreta nervosa. Na medida de uma bucha pra cada. O serviço é simples. Coube no esquema. Cada um pega a sua parte e ninguém viu ninguém. Sem meias palavras. O assunto dispensa caráter. Seguem mais informações até a data marcada.
II
A transação furou. O lance teve que ser adiado. Suspeitaram de algo e rola um murmúrio em torno da coisa. Mantenhamo-nos antenados porque vai rolar e quando rolar o bicho come solto. Tudo é uma questão de tempo.
III
O arquiteto me ligou. Disse que dentro de poucas semanas poderemos executar a parada. Vocês tão cansados de saber que o tramite é jogo rápido. Então, olhar arguto: nada de vacilo. O plano continua o mesmo. Certo?
IV
É hoje. Indubitavelmente. Aprontem-se e me esperem no Rabo do Tatu. Disco pro orelhão e apanho você e seu caçula em dois segundos. Dirijo um Del Rey bege sem placa e não paro pra estacionar. Os dois pulam no banco de trás, o carro tem quatro portas. Vamos direto ao assunto e acabar com a brincadeira.
Giuliano Gimenez
sexta-feira, 18 de março de 2011
ÉLÉGIE À PORT-AU-PRINCE
Ai de ti, Haiti.
Cada dia escuto, quando inspiro,
o expirar anônimo dos que restam
sobre o mosaico da destruição,
fora de si.
Vejo rostos que nunca vi,
incrustados nos destroços,
existindo "jusqu´au moment"
de dar pedra e aço ao osso.
Quase ouço,
contra um caco de parede
e logo
silêncio, silêncio... O partir do osso que se ouve e não.
Simultâneos cessares de inspiração.
Um coro: de paradas cardíacas.
Sincronizados em pontos vários,
como estrelas inconscientes de qualquer galáxia,
que, em orquestral desfecho
e por antigenesíaco sopro, apagam-se.
– Um desmilagre?
Ai de ti, Haiti.
Ai também de mim que sei de ti,
mas continuo, soterrada no que sou,
como se de outro terremoto, dentro,
sem escala que meça, o epicentro
fosse aqui.
Luciana Cañete e Rodrigo Madeira
Cada dia escuto, quando inspiro,
o expirar anônimo dos que restam
sobre o mosaico da destruição,
fora de si.
Vejo rostos que nunca vi,
incrustados nos destroços,
existindo "jusqu´au moment"
de dar pedra e aço ao osso.
Quase ouço,
contra um caco de parede
e logo
silêncio, silêncio... O partir do osso que se ouve e não.
Simultâneos cessares de inspiração.
Um coro: de paradas cardíacas.
Sincronizados em pontos vários,
como estrelas inconscientes de qualquer galáxia,
que, em orquestral desfecho
e por antigenesíaco sopro, apagam-se.
– Um desmilagre?
Ai de ti, Haiti.
Ai também de mim que sei de ti,
mas continuo, soterrada no que sou,
como se de outro terremoto, dentro,
sem escala que meça, o epicentro
fosse aqui.
Luciana Cañete e Rodrigo Madeira
quinta-feira, 17 de março de 2011
kazuo ohno
o antemorto dançarino de butô
é marcescente ao vento, botão de flor
o antenascido dançarino de butô
é milagre no ventre, fim de flor
é o espírito usando a carne
pra dizer o que a carne não sabe
é o espírito usando a carne
pra dizer o que na carne não cabe
o corpo que use o corpo
pra dizer o que o corpo não fale
a dança do cadáver, do fantasma
em louvor à vida, antes que a dança da vida
acabe
Rodrigo Madeira
quarta-feira, 16 de março de 2011
O Amor e a Morte
Quando, então, todos olharem pro céu
Descerá num raio a última grande quimera
Olhos cheios de medo brilharão de espanto
E um vida mansa, óh! como eu quisera,
Viver um sonho em flamas embalde, tanto.
Vejo a dor impiedosa a descer nas almas,
Onde estais, ultor heroi d´mundo morto?
Se vens, que venhas logo álamo amigo,
Erga-se eterno d´ste lodo invisível,
Cândido caminho respirando, e sangro
o grito displicente d´ste anjo torto.
Condesço-me à alegria rumo ao fim tranqüilo,
Pois fraco e frívolo foi desejo de minh´alma,
E gora lastimo-me em não merecer lutar contigo
E congregarmos juntos a vitória perdida.
Olhos insaciáveis jubilam-se em plasma, e
N´ste bater de asas o raio apocalíptico, vejo
O sol que vagamente se apaga com a vida,
Uma beleza extrema finaliza a despedida....
Perdoa-me, ultimogênito, este tétrico espírito
Que abandonas a ti n´ste momentum íntimo,
Que deixa a vida em lapso de egoísmo.
Salve-os amigo amor tão lindo
E deixe-me arder em eterno martírio.
Descerá num raio a última grande quimera
Olhos cheios de medo brilharão de espanto
E um vida mansa, óh! como eu quisera,
Viver um sonho em flamas embalde, tanto.
Vejo a dor impiedosa a descer nas almas,
Onde estais, ultor heroi d´mundo morto?
Se vens, que venhas logo álamo amigo,
Erga-se eterno d´ste lodo invisível,
Cândido caminho respirando, e sangro
o grito displicente d´ste anjo torto.
Condesço-me à alegria rumo ao fim tranqüilo,
Pois fraco e frívolo foi desejo de minh´alma,
E gora lastimo-me em não merecer lutar contigo
E congregarmos juntos a vitória perdida.
Olhos insaciáveis jubilam-se em plasma, e
N´ste bater de asas o raio apocalíptico, vejo
O sol que vagamente se apaga com a vida,
Uma beleza extrema finaliza a despedida....
Perdoa-me, ultimogênito, este tétrico espírito
Que abandonas a ti n´ste momentum íntimo,
Que deixa a vida em lapso de egoísmo.
Salve-os amigo amor tão lindo
E deixe-me arder em eterno martírio.
Leandro Santos (Maranhão)
segunda-feira, 14 de março de 2011
Brisa
uma Brisa leve,
lambe a pele,
perscruta cabelos,
oxigena lábios.
se condensa
condena
e passa.
- toda Brisa esvai e vaza! -
voz da Brasa
quase Cinza.
Mas,
sugo sopros
de outras Brisas,
e como sou
também de Fogo,
me incendeio de novo
Yuri Campagnaro
lambe a pele,
perscruta cabelos,
oxigena lábios.
se condensa
condena
e passa.
- toda Brisa esvai e vaza! -
voz da Brasa
quase Cinza.
Mas,
sugo sopros
de outras Brisas,
e como sou
também de Fogo,
me incendeio de novo
Yuri Campagnaro
sábado, 12 de março de 2011
Blitz Cultural em Curitiba
Poesias “leite quente” serão declamadas nos bares da cidade neste sábado
Serviço:
Blitz Cultural
CanaBenta (Rua Itupava, 1431)
Bella Banoffi (Rua Itupava, 1091)
Estofaria (Rua Itupava, 1436)
Cantina do Délio (Rua Itupava, 1094)
Happy Burguer (Av. Marechal H. Alencar Castelo Branco, 251)
Quermesse (Rua Carlos Pioli, 513)
Fonte: Blog Leituras Favre
Neste sábado, a partir das 20h, não se espante se um poeta começar a declamar poesias na sua mesa. Esse é o resultado de uma parceria entre a Abrasel PR (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná) e a Fundação Cultural de Curitiba, que dão início à Blitz Cultural com o objetivo de levar poesia curitibana e entretenimento ao público. Os poetas vão percorrer 18 bares para inundar a cidade com cultura nos dias 12, 19 e 26 de março.
A Blitz Cultural percorre neste sábado os bares Cana Benta, Cantina do Delio, Bar Estofaria, Bella Banoffi, Happy Burguer e Quermesse, localizados no circuito da Rua Itupava, Alto da XV e Bom Retiro.
A ação será rápida, de 20 minutos em cada bar, onde um músico com instrumento de sopro vai chamar atenção do público e um artista declama em seguida uma poesia. “A iniciativa vai dar oportunidade para que a clientela dos bares possa ter, além de diversão, acesso a um cardápio cultural de bom gosto”, afirma o presidente executivo da Abrasel PR, Luciano Bartolomeu.
A Blitz Cultural, que faz parte das comemorações dos 318 anos de Curitiba, prossegue nos dois sábados seguintes. “Em uma noite devemos atingir cerca de três mil pessoas com música e poesia. Isso é muito importante para tocar o coração das pessoas e nada melhor do que poesia e música para isso. Além disso, essa iniciativa também visa valorizar os artistas da cidade, nossos poetas e nossa cultura”, informa o empresário Délio Canabrava.
Serviço:
Blitz Cultural
CanaBenta (Rua Itupava, 1431)
Bella Banoffi (Rua Itupava, 1091)
Estofaria (Rua Itupava, 1436)
Cantina do Délio (Rua Itupava, 1094)
Happy Burguer (Av. Marechal H. Alencar Castelo Branco, 251)
Quermesse (Rua Carlos Pioli, 513)
Fonte: Blog Leituras Favre
sexta-feira, 11 de março de 2011
O meu Mar é feminino
Você leva o meu dinheiro, que nunca foi muito
Leva o meu sossego, que nunca foi tanto
Abre no meu peito a fenda pr'este canto
E ainda é musa no altar deste meu culto
Há tantos verbos que eu podia conjugar
Tantas palavras que pra mim de nada servem
Vendo seus lábios que afoitos outros sorvem
Eu insisto conjugando o verbo a-Mar
Naturalmente hei de deixar seu rio fluir
Pra que despenque numa queda cachoeira
Sob este céu o meu mundo há de ruir
Pisando fundo, pé na tábua, na ladeira
Se o que me importa somente é ir
Contracorrente, subo a nado cachoeira.
Wilton Isquierdo
Leva o meu sossego, que nunca foi tanto
Abre no meu peito a fenda pr'este canto
E ainda é musa no altar deste meu culto
Há tantos verbos que eu podia conjugar
Tantas palavras que pra mim de nada servem
Vendo seus lábios que afoitos outros sorvem
Eu insisto conjugando o verbo a-Mar
Naturalmente hei de deixar seu rio fluir
Pra que despenque numa queda cachoeira
Sob este céu o meu mundo há de ruir
Pisando fundo, pé na tábua, na ladeira
Se o que me importa somente é ir
Contracorrente, subo a nado cachoeira.
Wilton Isquierdo
terça-feira, 8 de março de 2011
Rasgou,
como serpentina,
se perdeu na garoa
a furtiva beleza e a loucura
de carnaval!
o romance destes dias
sem drama, sem despeito, sem rancor, sem ciúme,
toda fantasia cumpre seu destino
jato de lança-perfume
evaporou no ar
eu não o conheço
- Não fosse ele apenas fantasia
não fosse (para ele) apenas carnaval!
a fantasia é contemporânea
disfarçar a solidão,
que ilusão,
a máscara de carnaval
em três dias vira pó.
Num (in) passe de magia,
o carnaval
transforma toda gente
em reis e rainhas!
Fran Ferreira
como serpentina,
se perdeu na garoa
a furtiva beleza e a loucura
de carnaval!
o romance destes dias
sem drama, sem despeito, sem rancor, sem ciúme,
toda fantasia cumpre seu destino
jato de lança-perfume
evaporou no ar
eu não o conheço
- Não fosse ele apenas fantasia
não fosse (para ele) apenas carnaval!
a fantasia é contemporânea
disfarçar a solidão,
que ilusão,
a máscara de carnaval
em três dias vira pó.
Num (in) passe de magia,
o carnaval
transforma toda gente
em reis e rainhas!
Fran Ferreira
sábado, 5 de março de 2011
Cão Vadio
mariposa desasada
cão sem nome
e a eterna ferida
de sarna
e a eterna ferida
de fome
no raso
de si e no fundo
tão sua e muda
a fome-mundo
que atira
a si seus ossos
e busca
2.
2.
encasulado sob a lua
dorme-não-dorme no rocio
lagarta-prestes, bicho-da-
seda que tece meios-fios
que às aves da fome desperta
pronto bebe o café nas poças
e range e rosna, rua e rói
o pão dormido de seus ossos
3.
(virarruas vagalixos)
pasta sem ossos
na margem da pista
pasta sem ossos
na margem da pista
(viramijos vagafossas)
todo ele é a ferida
que coçava e já não coça?
Rodrigo Madeira
sexta-feira, 4 de março de 2011
auto-imolação do silêncio para vinil
ao rum tum thomas
nunca esquecerei dos tempos dos ímpetos
( ainda mais novos do que esses nossos poucos anos
infinitíssimos
entre trapos e catraias atracadas
no úmido aroma da farra
dos urros e dos erros / tão perdoáveis
dos amigos
reunidos em volta do vinho
ou do cigarro enrolado em verdades idílicas
( próprias de um paraíso minúsculo e calmo
como os habitantes que dentro dele calmamente se amam...
calmamente
vejo chegando, um por um, vindo acoplar telúricos os seus bigodes
aos nossos imberbes delírios literários
enquanto um plenisorriso me é cuspido
no fundo minguante dos olhos, alcoólicos, chispas de Exu
e as senhoras dos apartamentos próximos
a guturalmente expressar seu medo da morte às 3 e 30 da manhã
( aliás, hora perfeita para um impudico orgasmo
rasgado, nessa cidade monárquica de onírico concreto
murros e muros numa curitiba grávida de outra lua [ quadrada ]
para que não se pareça nada com o cu do mundo
e sim opaca como o clima das conversas do elevador
polar
sobre o ar / na coluna do tempo
tortas vértebras ressoam um som russo de flautas
talvez do jazz pulsando em nossos beiços recheados de fúria
e febre
enquanto sentimos
os dedos lambrecados da sacarose que esvazia a noite
: pérolas negras e víscidas
liquefeitas diante de nossos olhos
repletos de ácido ultralisérgico
( aspergindo
no fervor caótico da juventude
têmperas irrevogáveis de liberdade
( chaleira em que borbulham todas as ordens possíveis e, principalmente
as impossíveis,
momentos nos quais a luz espontaneamente
se esculpe.
M. R. Mello
nunca esquecerei dos tempos dos ímpetos
( ainda mais novos do que esses nossos poucos anos
infinitíssimos
entre trapos e catraias atracadas
no úmido aroma da farra
dos urros e dos erros / tão perdoáveis
dos amigos
reunidos em volta do vinho
ou do cigarro enrolado em verdades idílicas
( próprias de um paraíso minúsculo e calmo
como os habitantes que dentro dele calmamente se amam...
calmamente
vejo chegando, um por um, vindo acoplar telúricos os seus bigodes
aos nossos imberbes delírios literários
enquanto um plenisorriso me é cuspido
no fundo minguante dos olhos, alcoólicos, chispas de Exu
e as senhoras dos apartamentos próximos
a guturalmente expressar seu medo da morte às 3 e 30 da manhã
( aliás, hora perfeita para um impudico orgasmo
rasgado, nessa cidade monárquica de onírico concreto
murros e muros numa curitiba grávida de outra lua [ quadrada ]
para que não se pareça nada com o cu do mundo
e sim opaca como o clima das conversas do elevador
polar
sobre o ar / na coluna do tempo
tortas vértebras ressoam um som russo de flautas
talvez do jazz pulsando em nossos beiços recheados de fúria
e febre
enquanto sentimos
os dedos lambrecados da sacarose que esvazia a noite
: pérolas negras e víscidas
liquefeitas diante de nossos olhos
repletos de ácido ultralisérgico
( aspergindo
no fervor caótico da juventude
têmperas irrevogáveis de liberdade
( chaleira em que borbulham todas as ordens possíveis e, principalmente
as impossíveis,
momentos nos quais a luz espontaneamente
se esculpe.
M. R. Mello
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