domingo, 15 de dezembro de 2013

Ler no braço toda uma história - as placas de gordura, as pelancas, as casquinhas do ressecamento; tudo marcado pelas vírgulas das cicatrizes; cada letra com o devido pingo de sarna. Um pergaminho de deterioração, degeneração a espera do ponto Final.

O olhar perdia-se no opaco enredo de u'a estória de desenganos.

Naquele café esfumaçado bebia a si próprio, a cada gole, enquanto o tempo passava. Impreciso caminhar."Que horas 'serão', será noite ou dia ? Não importava mais, sua juventude se fechara e só restara uma lâmina de luz cortando os pés da porta.

Chegou em sua sórdida morada embora não tenha lembrança de haver caminhado até lá. Pôs-se a descamar-se de suas roupas e a medida que se aliviava delas, não encontrava sinal de si. A sombra que o perseguia, perseguia o sobretudo que ora o cobre de seu derradeiro inverno .

Agora entre o pó e as teias de seu quarto tornara-se o vulto translúcido de seu trincado espelho.


Wilson Roberto Nogueira

2 comentários:

Anônimo disse...

A utilização do u'a mostrou domínio estético.

Aquele que lê

Anderson Carlos Maciel disse...

Notei o aprimoramento do exercício do simbólico no inconsciente do professor-artista.