terça-feira, 15 de janeiro de 2013


Quantas vezes tentei localizar-me no mundo
Ao redor, deparava-me com paredes envelhecidas
Quartos abafados
Armários vazios
Geladeiras mofas
Prateleiras cheias de papéis
Esses sempre abundantes
Dicionários amarelos
Clássicos furtados de bibliotecas
Presentes de amigos
Dedicatórias de amores naufragados
Textos honestamente comprados em barganhas nos sebos
Uma vitrola na estante
Discos antigos
Sambas, tangos, blues, jazz, trilhas...
Sons de embalar linhas
Cinzeiros se colecionava
Pedra, vidro, lata, argila
Apareciam simplesmente
Talvez dada sua necessidade
Talvez sua importância
Ou simplesmente sorte
Cafeteiras queimadas
Fogões entupidos
Pias manchadas
Cadeiras mancas
Mesas tortas
Poltronas rasgadas
Pisos rangentes
Litros pelos cantos
Guarda-roupas despedaçados
Sapato furado
Calça larga
Camisa rasgada
A cada janela novo tráfego
Novos transeuntes
Bem como outras vizinhas
Quintais e cocotinhas
Árvores e pardais
Semáforos e buracos
Encheridos
Mulheres
Lençóis
Camas quebradas
Síndicos
Condomínios atrasados
Alugueis por vencer
Jamais tirei a placa de letras garrafais do peito:
“Em obras” cantam as letras
A demolição que vem de dentro

Douglas Lopes

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