caído do céu poema azul
ácido pássaro
abatido de gozo e riso
banido do paraíso
ferido em tombo preciso
letra de fado
ritmo de samba
soar colorido
feito blues
de branco tingido
que deus me prove
vai que o céu é mais ao sul
e deus me love
e deus me livre
de ser eu
a besta do após calipso
vai que eu sei
que viro a mesa
luso-afro-brasileira
de madeira nobre
expondo os restos coloniais
desta nação de hipócritas
mostrando o rastros
desta história corrompida
vai que sei
não estou só
e não é só meu esse nó
e esse bom gosto
na língua.
rodrigo mebs
visite: http://frutafarta.blogspot.com
sábado, 31 de outubro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Bubble
Aqui não tenho destino; enxergo, ainda faminta, um pequeno cristal rompendo a penumbra daquelas noites tão ensurdecedoras. Desses dias moídos, o corpo gritando inutilmente, - um alento - a pedra ou a faca vertendo o céu em um prazer único, aquele que nunca virá. Recortes de construções, reformas paleozóicas, grandes passos contorcendo o corpo e chegando à Europa, distante... Noites próximas: na minha reconstrução, o que virá? Ouço o silêncio dos flashes, pequenas ondas quebrando na areia e o distender do joelho esquerdo, enquanto o direito jaz. Juntando sempre pedacinhos de papel, pois a palavra é sem destino, tanto quanto isto aqui, e a mão que conduz, e o corpo derretendo a cada instante quando "não" e ainda se precisa estar. Uma expansão ressonante, enquanto a menina densa encolhe seu corpo e acomoda seus cabelos sobre o travesseiro, o sol chega batendo nas plantas, chacoalhando as asas, engolindo o canto dos pássaros, destruindo a percepção de anteontem e estremecendo as pálpebras. A mão branca feito papel e recheada por um labirinto febril e nervoso que pulsa: a íris ainda é multicolor.
Petit J
http://aospecadossilencio.blogspot.com/
Deus afia a espada no dorso do esquálido firmamento e abre um buraco vermelho no céu, primeiro caem as cabeças dos justos, depois cai Ícaro e suas asas são negras vertigens - o desassossego do anjo que grita como asno enquanto avista o buraco azul no centro da terra, onde as sombras agarram-se às frestas esperando a morte de suas consciências, entre a lava e o dilúvio nenhuma árvore erguida, os olhos dos homens arregalados ou fechados para sempre.
Camila Vardarac
http://vaga-lumens.blogspot.com/
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Oficina de Crônicas
Na próxima quarta-feira, dia 28/10, no Paço da Liberdade (Praça Generoso Marques), terá início uma Oficina de Crônicas, ministrada pela escritora Gloria Kirinus. Terá duração de 4 semanas (4 quartas-feiras), no horário das 19:00 às 21:00. Sem custos! Inscrições no local ou por telefone, 3234-4207, com Elisson ou Liliam.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Desterro
imagens passam como póstumas
obras de um cinéfilo desvairado entre os anjos
estrelas de sangue e luz brotam da tela
quanto se tange o inatingível
quando se tinge o intangível
e o possível é só coincidência
ou lembrança destas bestas que me cercam
ciência só já não me explica
imagens lavram o poema
e a palavra fogo
trança os olhos de quem pensa
pensando o quê mero poema
palavrinhas são areias
destas praias tão estranhas
pensando o quê mero poeta
que entre folhas entre galhos sóis e sombras
caminha um monge nada casto
enquanto uma lua virgem e nua
lhe adorna a testa
pensando o quê mero palhaço
que entre montanhas verdes e dunas
o monge claro escorre quase líquido
e carrega em seus braços uma sereia de sal
e suas pegadas profundas e largas
são lagoas e mais lagoas de mágoas
imagens varam a retina
e a escrita cristalina já não existe em meio ao sangue
a areia então vermelha vira mangue
e quem sabe entre os carangueijos albatrozes e abutres
haverá um deus pra traduzi-las
Rodrigo Mebs
por quê, meu filho
Eu comecei a ter fome. Foi assim, pai, que tudo começou. Pé de moleque no bar da esquina não matava as bichas. Não mais. O senhor sabia que cedo ou tarde eu ia partir por essa bandas aí acima com o peito aberto de cicatrizes ao vento, desbravando o morro de Vera Cruz. O que foi que encontrei pelo caminho, ainda me pergunta. Onde tu, pai, foi que me jogastes? Eu te pergunto. Euzinho! Num oásis imenso feito por encruzilhadas que nunca mais acabava. Fui simbora, sim, convicto, não conto ao senhor? Caminhei léguas alternando a noite e o dia, um após o outro, sol, chuva, frio, intempéries; dormindo sobre paralelepídedos, catando o que comer, fumando bitucas, até chegar ao cume do que ambicionava. Lá, os dez mandamentos como o senhor prescreveu. Habitei-me na escuridão da noite de dentro das cavernas vazias de estrelas entre lobos, ursos, chacais e morcegos. E habituei-me sem as palavras. De quem é o coração mais selvagem? Por ti, pai, para provar a sua morte e a minha glória, sangrei os dedos ao escalar a colina, cuspi no cálice pra ter o que beber; comi até o Bambi, numa das noites de lua cheia e uivos caninos, pai. O senhor não acredita? Pois não? Eu blasfemo e muito sabe o senhor enganado que com esta taça de barro, esta mezona de carvalho trincado ao meio, este cachimbo, o fogão a lenha mais a tentação de Maria do Rabo Rico na cozinha, podem me comprar. Engana-te, velho! Seu eu conseguisse me despregar daqui de cima, ah! se eu conseguisse, eu mostraria ao senhor com quantos paus se faz uma cruz de ponta cabeça e riscaria no chão, em nome do Capeta, o Curumim. É.
GIULIANO GIMENEZ
aguerradasimaginacoes.blogspot.com/
Ex(cripta), nas estrelas?
Casou-se com um arqueólogo que a trocou por outra múmia. A caminho do Egito, para restauro, foi resgatada de naufrágio por pescador que teima haver encontrado uma sereia. Naturalmente enrolada, necessita de um oftalmo que a oriente para o ocidente, onde a sua alma repousa no sarcófago sem o seu grito, digo, mito.
ANGELA GOMES
domingo, 18 de outubro de 2009
(...) Bem que eu tentei despistar a governanta...
porém a poesia pinup poppins veio voando de sombrinha
___e um verso jason me perseguiu até o fim da linha –
tinha uma rima ali muito na sua que também tava na minha
___feito alguma avezinha suavezinha que se avizinha
quando você já despachou o vizinho e refugou a vizinha
___só pra ler sossegado o seu jogo da amarelinha
e aí chega a sua gostosa atrás do açúcar que você nem tinha
___e então vocês passam a noite toda trocando figurinha,
lendo, anotando, interpretando e comentando
___a carta de pero vaz de caminha
Ivan Justen
ossurtado.blogspot.com/
sábado, 17 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Submerso...
Sem mais cansar-se...
Assim, mais adiante, digo a mim mesmo para hoje ouvir...
Enquanto árvore e sorriso de polvo, entre recifes de sonhos...
Pois o fundo se expressa onde sem mais pressa existe-se...
Nas razões sem luz, nos mundos nascidos na escuridão profunda...
Distantes do que se sabe por consciência...
Onde não se sabe, onde multidões semiológicas aproximam-se e afastam-se...
Sais de logos são partículas na fluidez do imenso...
E o movimento entorna, revolto com toda a intensidade por onde quer que exista...
E no inteiro de seu som, recortam-se pedaços de silêncio profundo...
Onde movem-se uma infinidade de céus...
As criaturas incomunicáveis em presença fazem-se todas uma...
Assim, submerso posso experimentar as imagens que se criam...
Na imensidão de instantes...
Onde em cada recorte do silêncio, em cada fragmento de silêncio está uma pintura...
Em ânimo próprio, tais fragmentos do silêncio autorecortam-se e unem-se...
Sempre de modo inusitado...
Há em cada uma de suas partes o desvio do entendimento...
E a percepção nas profundezas afóticas, se apresenta...
MOSIAH SCHAULE
terça-feira, 13 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Pensão não, barraco!
O sr e sua aposentadoria esperam no barraco;
A noiva abre o zíper.
Chove lá fora, alaga ainda mais.
Tem barro, limo, sujo.
As mães não dão mais banho aos sábados nos piás;
Jogam o lixo o cachorro Uóchitom Buxi boiando com a barriga inchada.
A noiva fecha o zíper,
Sai do barraco,
Na poça reflete a porta do carro abre.
Abre o zíper:
A noiva cospe,
Corre de manhã pra casa do piá tem cherinho e as pedras que ela quer.
Bate cinza na lata furada,
Os homens da noite que acaba viram fumaça,
O chão do quarto é seu espaço.
O fantasma Chico admira a noiva da janela a lata vai além:
Pousa no Belém.
RODRIGO CECCON
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Plágio
A campainha barulhenta tocou. Odiava quando a campainha barulhenta tocava. Aliás, devia estar velha mesmo: odiava qualquer coisa que não fosse boa música ou bom filme, ultimamente. A campainha barulhenta tocou de novo. Vestiu uma camiseta e foi atender.
– Oi.
– Oi.
– Oi.
– Eu estava com saudades.
– Eu estava dormindo. Entra e fecha e porta.
Beija. Com sono, com pressa, sem vontade. Ele ainda fala:
– Passei pela loja ontem e vi um disco do My Bloody Valentine. Lembrei de você, mas, tava caro. Um dia eu compro pra nós.
– Cadê a merda dos meus cigarros?
– Aqui.
Acende, coloca uma música para tocar.
– Hey, você comprou o disco dos Smiths?
– Comprei. Surtos consumistas. Odeio consumismo.
– Me beija.
– Eu estou fumando agora. Espera.
– Eu não ligo.
– Eu não quero.
Algum tempo e o silêncio. Ele não consegue suportar:
– Terminou o livro?
Cinzeiro em uma mão, começou a arrumar as coisas no lugar.
– Não, dormi. Acho que vou ao médico, semana que vem.
– Está sentindo alguma coisa?
– Sono. Odeio sentir sono.
– Todo mundo sente sono, não precisa ir ao médico. Está sentindo mais alguma coisa?
– Não. Vou ao médico, odeio sentir sono.
– Devem ser esses seus remédios...
– Eu não vivo sem eles. Quero outro para não sentir sono. Tem remédio pra tudo hoje em dia.
– Tem Buscopan.
– Assistiu ao filme ontem?
– Sim.
– Ok. Não conheço mais ninguém que nunca tenha visto Fellini.
– Não exagera.
Colocou vodka pela metade num copo de estrelinhas. Terminou o cigarro.
– Quer?
– Quero. Eu gosto de você.
– Eu sou insuportável.
– É. Mas, eu gosto de você.
Sentou no mesmo sofá que ele estava sentado.
– Eu sou insuportável e tenho sono.
– Cala a boca.
Ele a beijou. Ele sorriu. Ficaram abraçados por alguns instantes. Tonta, levantou para fazer café.
– Quer café?
– Não. Eu queria você.
– Clichês agora?
– Pra te fazer sorrir.
– Odeio clichês.
Ela levantou e foi até a cozinha. Estava incomodada, olhava para a água fervendo no micro-ondas. Café solúvel, leite desnatado, adoçante. Voltam para o mesmo sofá. Ele a beija. Ela o beija. Daqueles beijos devagar, mordendo os lábios, com os olhos abertos para poder olhar. Deitam-se no chão. Ele tenta beijá-la. Ela olha para o teto.
– Não vivo mais sem micro-ondas.
Ele continua beijando.
– Eu tive um sonho engraçado essa noite.
Ele continua beijando.
– Pára.
– Desculpa.
– Eu tive um sonho engraçado essa noite.
– Você não dormiu à noite.
– Modo de falar.
– Você estava com alguém ontem?
– E se estivesse?
Ele sorri:
– Eu não iria embora.
– Eu não faria isso.
Mentira. Tinha problemas com relacionamentos: não conseguia ficar com ninguém porque alguém melhor podia aparecer.
– Com o que você sonhou?
– Coisas estúpidas.
– Não vai contar?
– Não.
– Por que começou então?
– Não comecei. Odeio contar sonhos. Preciso dormir.
– Posso dormir com você?
– Não sei.
Mais tempo e mais silêncio.
– Ok, fica. Mas, eu preciso dormir.
Deitam, ele a abraça. Ela sorri e fala:
– Ok. Eu gosto de você.
Ele sorri.
LETICIA FONTANELLA
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Ibiscos
Ibiscos
Entre raízes, caules e folhas me perdi,
na fotossíntese entendi
sobre flores e inflorescências aromatizadas
polinização fertilizada
frutos carnosos
frutos secos
germinação e reprodução
plantas de deserto
plantas aquáticas
carnívoras, epífitas e parasitas.
__ Esse pedúnculo vem sempre aqui?
Estigma de aluno aéreo.
__ Você está com o estame de fora!
Zero em biologia
Já pra secretaria
Nem te ligo
Floema e xilema funcionam bem...
Deisi Perin
Entre raízes, caules e folhas me perdi,
na fotossíntese entendi
sobre flores e inflorescências aromatizadas
polinização fertilizada
frutos carnosos
frutos secos
germinação e reprodução
plantas de deserto
plantas aquáticas
carnívoras, epífitas e parasitas.
__ Esse pedúnculo vem sempre aqui?
Estigma de aluno aéreo.
__ Você está com o estame de fora!
Zero em biologia
Já pra secretaria
Nem te ligo
Floema e xilema funcionam bem...
Deisi Perin
domingo, 4 de outubro de 2009
Dicas Culturais Pó&teias
Amigos,
mando o link do Karaoke Coral na Gazeta: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/blog/sobretudo/
se puderem comentem no blog sobretudo, quem sabe não ganhamos uma matéria no dia 07?
Beijos e espero vcs la!
Celeste Fernandez
www.karaokecoral.com
mando o link do Karaoke Coral na Gazeta: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/blog/sobretudo/
se puderem comentem no blog sobretudo, quem sabe não ganhamos uma matéria no dia 07?
Beijos e espero vcs la!
Celeste Fernandez
www.karaokecoral.com
sábado, 3 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Mais uma noite sem sono
É estranho estar acordado na escuridão. É como estar consciente sem saber do quê. A lâmpada fluorescente é como se fosse a lua, e o interruptor a primeira estrela no céu. Dizem que, quando vemos uma estrela no céu, às vezes ela não está lá. É que ela fica tão longe, mas tão longe, que a luz leva alguns milhares de anos pra chegar aqui. Se todas as pessoas, quando ficassem deprimidas, pensassem que as estrelas podem nos pregar esta peça, talvez deixassem escapar um sorriso, nem que fosse o riso frio dos que riem só pra mostrar que entenderam o raciocínio, mas ririam assim pra si mesmas, como quem raciocina sozinho, ao ler um texto, por exemplo. Ler um texto é sempre muito solitário, sobretudo quando se vê, pelo reflexo da janela no seu monitor, que constroem muros do outro lado da rua. Mas, cá entre nós, que sabem eles das estrelas? É uma questão de lembrar que uma estrela existe, mesmo que esteja bem longe, e que ela pode brilhar, mesmo que não exista. Sim, porque as estrelas têm o humor que só os suicidas sabem ter, os suicidas que deixam sobre a mesa apenas um bilhete engordurado dizendo "fui", talvez "adeus" e quem sabe até "I love you, I love you, I love you". E o leitor que não ria: sofresse da insônia que eu sofro, também transformaria seu quarto num planetário, onde há apenas a lua e uma estrela, que não existe. Mesmo que descobrisse depois, num artigo de Astronomia, que era tudo mentira. Afinal, que sabem os astrônomos das estrelas? Talvez eu ainda possa contar esta história num desses muitos momentos da vida em que nos falta assunto. Quero dizer, não quando se está conversando e a conversa esfria, digo quando nos falta assunto a nós mesmos, quando se está sozinho no escuro, às três da manhã, e não há mais nada pra pensar. O telefone está cortado, ninguém irá ligar e dizer: "eu sabia que você estava acordado, eu também estava..." Não, o telefone já não pode inspirar mais esperança que uma lâmpada fluorescente. Logo mais, às quatro horas, o jornaleiro virá de moto e eu ouvirei o som do jornal caindo no chão, e o barulho da moto irá diminuindo, diminuindo, até sumir. E eu finalmente fecharei os olhos, devagar, e pegarei carona com o jornaleiro. E iremos, então, até o infinito.
Otávio Luiz Kajevski Junior
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