Pan and Syrinx - Edmund Dulac
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Hino de Pã
Das florestas e fragas,
Chegamos, chegamos;
Das ilhas fluviais onde as vagas
Vão se calando
Por ouvirem meu doce flauteio.
O vento nas canas e juncos,
Abelhas nas flores de timo,
As aves e os murtos juntos,
Cigarras nas copas ao cimo,
E os lagartos embaixo no solo,
Emudecem igual ao vetusto Tmolo,
Por ouvirem meu doce flauteio.
Fluido, o Peneu corria,
E todo o Tempe fundo
À sombra do Pélion cobria,
Pela tarde, o sol moribundo,
Veloz com meu doce flauteio.
Os Faunos, Silvanos, Silenos,
E as Ninfas do mar e silvados,
Às margens de aquosos terrenos,
E o limiar de grotões orvalhados,
E todos que, atentos, me favoreceram,
Por amor, como vós, Apolo, emudeceram,
A invejar meu doce flauteio.
Cantei da dedálea terra,
Cantei dos astros em dança,
E o Céu — e a gigântea guerra
E Amor e Morte e Esperança —
E então mudei meu flauteio,—
Cantando como encalcei a donzela
No menáleo vale e agarrei um caniço.
Deuses e homens, eis nossa mazela!
O logro que o cor faz sangrar, quebradiço:
Fora vós, o olhar de todos mareja,
Não tivésseis frio o sangue por anos e inveja,
Pela dor do meu doce flauteio.
Percy Bysshe Shelley/ tradução de Adriano Scandolara
Hymn of Pan
From the forests and highlands
We come, we come;
From the river-girt islands,
Where loud waves are dumb
Listening to my sweet pipings.
The wind in the reeds and the rushes,
The bees on the bells of thyme,
The birds on the myrtle bushes,
The cicale above in the lime,
And the lizards below in the grass,
Were as silent as ever old Tmolus was,
Listening to my sweet pipings.
Liquid Peneus was flowing,
And all dark Tempe lay
In Pelion’s shadow, outgrowing
The light of the dying day,
Speeded by my sweet pipings.
The Sileni, and Sylvans, and Fauns,
And the Nymphs of the woods and the waves,
To the edge of the moist river-lawns,
And the brink of the dewy caves,
And all that did then attend and follow,
Were silent with love, as you now, Apollo,
With envy of my sweet pipings.
I sang of the dancing stars,
I sang of the daedal Earth,
And of Heaven — and the giant wars,
And Love, and Death, and Birth,—
And then I changed my pipings,—
Singing how down the vale of Maenalus
I pursued a maiden and clasped a reed.
Gods and men, we are all deluded thus!
It breaks in our bosom and then we bleed:
All wept, as I think both ye now would,
If envy or age had not frozen your blood,
At the sorrow of my sweet pipings.
Percy Bysshe Shelley
Hino a Pã
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Mestre Therion [Aleister Crowley]/ tradução Fernando Pessoa
Hymn to Pan
ephrix erõti periarchés d' aneptoman
iõ iõ pan pan
õ pan pan aliplankte, kyllanias chionoktypoi
petraias apo deirados phanéth, õ
theõn choropoi anax
SOPH. AJ.
Thrill with lissome lust of the light,
O man! My man!
Come careering out of the night
Of Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan! Come over the sea
From Sicily and from Arcady!
Roaming as Bacchus, with fauns and pards
And nymphs and satyrs for thy guards,
On a milk-white ass, come over the sea
To me, to me,
Come with Apollo in bridal dress
(Shepherdess and pythoness)
Come with Artemis, silken shod,
And wash thy white thigh, beautiful God,
In the moon of the woods, on the marble mount,
The dimpled dawn of the amber fount!
Dip the purple of passionate prayer
In the crimson shrine, the scarlet snare,
The soul that startles in eyes of blue
To watch thy wantonness weeping through
The tangled grove, the gnarled bole
Of the living tree that is spirit and soul
And body and brain — come over the sea,
(Io Pan! Io Pan!)
Devil or god, to me, to me,
My man! my man!
Come with trumpets sounding shrill
Over the hill!
Come with drums low muttering
From the spring!
Come with flute and come with pipe!
Am I not ripe?
I, who wait and writhe and wrestle
With air that hath no boughs to nestle
My body, weary of empty clasp,
Strong as a lion and sharp as an asp —
Come, O come!
I am numb
With the lonely lust of devildom.
Thrust the sword through the galling fetter,
All-devourer, all-begetter;
Give me the sign of the Open Eye,
And the token erect of thorny thigh,
And the word of madness and mystery,
O Pan! Io Pan!
Mestre Therion [Aleister Crowley]
Chegamos, chegamos;
Das ilhas fluviais onde as vagas
Vão se calando
Por ouvirem meu doce flauteio.
O vento nas canas e juncos,
Abelhas nas flores de timo,
As aves e os murtos juntos,
Cigarras nas copas ao cimo,
E os lagartos embaixo no solo,
Emudecem igual ao vetusto Tmolo,
Por ouvirem meu doce flauteio.
Fluido, o Peneu corria,
E todo o Tempe fundo
À sombra do Pélion cobria,
Pela tarde, o sol moribundo,
Veloz com meu doce flauteio.
Os Faunos, Silvanos, Silenos,
E as Ninfas do mar e silvados,
Às margens de aquosos terrenos,
E o limiar de grotões orvalhados,
E todos que, atentos, me favoreceram,
Por amor, como vós, Apolo, emudeceram,
A invejar meu doce flauteio.
Cantei da dedálea terra,
Cantei dos astros em dança,
E o Céu — e a gigântea guerra
E Amor e Morte e Esperança —
E então mudei meu flauteio,—
Cantando como encalcei a donzela
No menáleo vale e agarrei um caniço.
Deuses e homens, eis nossa mazela!
O logro que o cor faz sangrar, quebradiço:
Fora vós, o olhar de todos mareja,
Não tivésseis frio o sangue por anos e inveja,
Pela dor do meu doce flauteio.
Percy Bysshe Shelley/ tradução de Adriano Scandolara
Hymn of Pan
From the forests and highlands
We come, we come;
From the river-girt islands,
Where loud waves are dumb
Listening to my sweet pipings.
The wind in the reeds and the rushes,
The bees on the bells of thyme,
The birds on the myrtle bushes,
The cicale above in the lime,
And the lizards below in the grass,
Were as silent as ever old Tmolus was,
Listening to my sweet pipings.
Liquid Peneus was flowing,
And all dark Tempe lay
In Pelion’s shadow, outgrowing
The light of the dying day,
Speeded by my sweet pipings.
The Sileni, and Sylvans, and Fauns,
And the Nymphs of the woods and the waves,
To the edge of the moist river-lawns,
And the brink of the dewy caves,
And all that did then attend and follow,
Were silent with love, as you now, Apollo,
With envy of my sweet pipings.
I sang of the dancing stars,
I sang of the daedal Earth,
And of Heaven — and the giant wars,
And Love, and Death, and Birth,—
And then I changed my pipings,—
Singing how down the vale of Maenalus
I pursued a maiden and clasped a reed.
Gods and men, we are all deluded thus!
It breaks in our bosom and then we bleed:
All wept, as I think both ye now would,
If envy or age had not frozen your blood,
At the sorrow of my sweet pipings.
Percy Bysshe Shelley
Hino a Pã
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Mestre Therion [Aleister Crowley]/ tradução Fernando Pessoa
Hymn to Pan
ephrix erõti periarchés d' aneptoman
iõ iõ pan pan
õ pan pan aliplankte, kyllanias chionoktypoi
petraias apo deirados phanéth, õ
theõn choropoi anax
SOPH. AJ.
Thrill with lissome lust of the light,
O man! My man!
Come careering out of the night
Of Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan! Come over the sea
From Sicily and from Arcady!
Roaming as Bacchus, with fauns and pards
And nymphs and satyrs for thy guards,
On a milk-white ass, come over the sea
To me, to me,
Come with Apollo in bridal dress
(Shepherdess and pythoness)
Come with Artemis, silken shod,
And wash thy white thigh, beautiful God,
In the moon of the woods, on the marble mount,
The dimpled dawn of the amber fount!
Dip the purple of passionate prayer
In the crimson shrine, the scarlet snare,
The soul that startles in eyes of blue
To watch thy wantonness weeping through
The tangled grove, the gnarled bole
Of the living tree that is spirit and soul
And body and brain — come over the sea,
(Io Pan! Io Pan!)
Devil or god, to me, to me,
My man! my man!
Come with trumpets sounding shrill
Over the hill!
Come with drums low muttering
From the spring!
Come with flute and come with pipe!
Am I not ripe?
I, who wait and writhe and wrestle
With air that hath no boughs to nestle
My body, weary of empty clasp,
Strong as a lion and sharp as an asp —
Come, O come!
I am numb
With the lonely lust of devildom.
Thrust the sword through the galling fetter,
All-devourer, all-begetter;
Give me the sign of the Open Eye,
And the token erect of thorny thigh,
And the word of madness and mystery,
O Pan! Io Pan!
Mestre Therion [Aleister Crowley]
ISTO É COISA DE:
adriano scandolara,
aleister crowley,
escamandro,
fernando pessoa,
mitologia,
percy bysshe shelley,
tradução
domingo, 30 de outubro de 2016
CyberSattwa
Do 7. E Ele te achou a vagar em busca D´Ele e Ele te
guiou para o Si Próprio,
As
Horas da Manhã [Al-Duhã] Alcorão
Causa,
o sangue, o flagelo sobre a cidade [de Tebas].
Édipo Rei, Sófocles
a criança/ num salto/ vence a própria sombra, tempo
de agir,
Sérgio
Rubens Sossella
uma verdade tão efêmera quanto o brilho das
palhas de aço nos pipers dos vagalumes
que se agacham no mocado das esquinas.
Uma verdade com o aval da psicanálise
que promove a eternidade do desejo e a
impossibilidade humana da compreensão do Real.
São esses dogmas que sacralizam o consumo.
Enquanto cavo trincheiras por sobre o basalto,
meu raciosímio exercita-se
no decorrer desta peleja, fragmentada
pela mídia através dos noticiários.
Das cavernas das pluri espécies humanas à
urbe homo sapiens
ou do ambiente selvagem ao ambiente
controlado, enquanto perdia
seus predadores naturais, o gênero humano
tornou-se predador de si mesmo.
Teria sido Abel, neandertal?
Presa ou predador!
Eis o destino inexorável ao qual, para purgar ao
rei de Élida, Édipo vai ao encontro,
na estrada entre Tebas e Delfos.
Eis a psicopatologia derivada do exílio do
Jardim das Delícias,
o synthoma do banzo do paraíso perdido.
A maldição de Caim atinge o auge no
lançamento da bomba atômica
sobre Hiroshima e Nagasaki.
Em um suposto Princípio de Realidade
ontogênico da espécie humana
qualquer argumento que defenda a necessidade
imperiosa de armas atômicas
nos conduz à uma impossibilidade lógica.
Essa antinomia de opostos interiores, esse duplo
vínculo civilizatório ou duplipensar,
no vocabulário orwelliano, tem origem
a partir do frame mitológico da cisão da horda
hebraica, entre Moisés e Jeroboão,
a Lei e o totêmico. Entre o humano e o bestial.
Sob leis mosaicas, a civilização ocidental adora
aquilo que dá forma ao primogênito minotauro,
o bezerro de ouro.
a mega exploração e queima de combustíveis
a mega exploração dos recursos hídricos,
o uso desenfreado de agrotóxicos,
a destruição de ecossistemas.
O duplo Sapiens contemporâneo, enrodilhado num sheol
de quinquilharias virtuais, não decifra metáforas,
pois a modernidade nos fez espectadores desprovidos do espanto
Querubins guardam o leste do Éden com a lâmina flamejante
que oscila
para tornar inacessível a trilha que conduz à Árvore da Vida!
A integridade psíquica do humano reside no selvagem.
Reintegrar o selvagem é nosso dever e nossa salvação.
Ricardo Pozzo
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
terça-feira, 6 de setembro de 2016
domingo, 21 de agosto de 2016
Culpa
Essa é a principal
prisão
as correntes da consciência
rasgando as veias da alma
afundando em sangue os sonhos
dourados sonhos de outrora
cúmplice de crimes risonhos
um dia
um dia abrira baús de promessas
e só sorriram diamantes
nos dias amantes os cadáveres
nos espelhos da memória
reluzem azuis nos silêncios da cela
das grades nuas das cordas desejadas
Urra uma maldição
VIVA.
Wilson Roberto Nogueira
domingo, 31 de julho de 2016
terça-feira, 12 de julho de 2016
Cansaços
Nas profundezas da noite
Um encontro brando
de cansaços
Enleia
numa sensível sensualidade,
o silêncio da íris
Andréa Motta
estrada
(a um amigo)
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Ficando aqui dentro de nós
Todas as marcas de seu trabalho
E a dor é apenas uma etapa
Do grande aprendizado
O sofrimento
É o que nos dá polidez
E a alma dos que ficam continua
Porque essa era a sua luta
Manter-se aqui
Para quando estivesse lá
Permanecesse aceso
Em todas as mentes que buscam
O fim da estrada
E o começo da glória
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Alessandro Jucá
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Ficando aqui dentro de nós
Todas as marcas de seu trabalho
E a dor é apenas uma etapa
Do grande aprendizado
O sofrimento
É o que nos dá polidez
E a alma dos que ficam continua
Porque essa era a sua luta
Manter-se aqui
Para quando estivesse lá
Permanecesse aceso
Em todas as mentes que buscam
O fim da estrada
E o começo da glória
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Alessandro Jucá
Inferno Astral
Ah, esse mundo distante!
Onde a arte é semente de tudo
Onde a flor reascende a poesia
E a vida é movida de amor
Sim, esse mundo esquecido
Que ascende o sonho da alma
E a dor revivida no tempo
Confundiu-se com o próprio temor
Mas se agora no inferno dos astros
Eu pressinto os dias de outrora
Com a luz que guiava meus passos
Vou embora!
Sim, eu volto...
Em um belo dia de agora
O céu olha pro chão
É como se a estrela mais antiga
me olhasse intensa lá do alto
e nesse mesmo espaço, a vida
fitasse seus olhares no asfalto
o que pro céu talvez seja guarida
para mim talvez um cadafalso
e as coisas que eu via no cinema
me acenam suas cores da montanha
enquanto rezas recitadas em novenas
me envolvem em suas teias de aranha
o que pro céu resolve um teorema
para mim as chaves são estranhas
A origem do universo me fascina
E arte, criação que me alimenta
A beleza que atrai minha retina
Não se explica, se entende nem comenta
o que pro céu talvez seja uma sina
Para mim talvez o que se inventa
E assim eu sou feito de metade
Parte céu que me olha do infinito
Parte “chão” que sou eu, humanidade
Coração entre o mal e o bendito
O que pro céu talvez seja vaidade
Para mim talvez o mais bonito
Alessandro Jucá
Laços
Para Cláudia (Cacau) Gonçalves e Lu Oliveira
Chove em meus olhos
sempre que o gris da manhã
encobre a cidade e os pássaros calados
se escondem nos galhos do abacateiro
Chove em meus olhos quando o azul matinal
floresce múltiplas canções
Insistente a chuva rega minha face
sempre que a saudade invade o universo
traz o frescor do alecrim e muitos potinhos de sol
Andréa Motta
Enlevo
derramadas as palavras
no centro do infinito
com que ternura te encontro
comprometida com o vento
tocada pela magia
da arte
ouso em teu nome,
poesia
compor a tristeza
e a alegria
que deslumbra
os sentidos.
Andréa Motta
Bramido
Ao abrigo do sol
a voz febril dos sonhos
oculta
a cada novo fonema,
o canto do melro
o vôo da borboleta indefesa
- grita a essência
da palavra –
Andréa Motta
Rico e Plural
À Hilda Hilst e Octávio Paz
Isso de ti
tem um quê de saudade
um contínuo transcender-se
um quê de intimidade
um permanente imaginar-se
Isso de ti
meio mata meio mar
os olhos
não conseguem decifrar
Isso de ti
sei lá porque
tem um quê de insano
um constante desvendar-se
Andréa Motta
Cambraia
Vistosa em sua transparência
vestimenta de cambraia
é sensível às intempéries
do tempo
Perde o brilho natural.
Rota, amarela, por vezes,
assemelha-se ao homem.
Torna-se áspera.
por águas e lavagens,
perde do olhar a candura
Não há cerzimento
que devolva-lhe a maciez
perdida do uso ao descaso.
Andréa Motta
Apogeu
Nas manhãs de inverno
quando a exuberância do azul
transborda do céu descortinando
o incompreendido e louco
destino dos homens,
ouça no borbulhar do silêncio,
a supremacia da natureza,
a essência inenarrável da paz.
Andréa Motta
Íntima Fração
Para Rubens da Cunha
surdos meus pés
gritam a distância
disfarçada
curvos
adjetivados
pela hora tardia
das estranhas noites
contam espinhos
obscenos
turvos
semeiam
e colhem a palavra
Andréa Motta
Ao sabor do pensamento
O olhar cego começa um poema
desenha a trama.
Com mãos impolutas
despeja desejos
cria amores
e abandonos
em estranhos jogos
de memória
cogita
sangra
sonha interminavelmente
derrama sobre o papel
armadilhas inequívocas
do pensamento
Sorri
vertiginosamente
sorri até a exaustão
um sorriso marginal.
Etéreo
tece ilusões
e finda o poema.
Estrelas e Sal
Lanternas esquálidas escarlates
A navegar escamas de Netuno.
Despejam o fluxo de outros mundos
Paridos em noite fria entre os lilases.
Atmosfera imersa em breu soturno,
Lançando redes de nylon, pescando sóis.
Gigantescos navios espaciais consumindo-se
Aprisionados no visco salino
Do enferrujado lastro dos anzóis.
Angela Gomes
ASSIM, ASSIM
Assim, assim,
Eu vi o tempo passando por mim.
Pedras de cristais,
Gotas, temporais.
Abismos e montanhas. Mas,
Penso no que forma o tempo.
Penso que sem mim,
Que sentido lhe restaria?
Levo comigo o tempo
E todas as passagens que me permiti.
Sonho apenas com as lembranças,
Penso tê-las guardadas em mim.
Vim para esta “terra” resgatar as heranças,
E as grandezas de tudo o que eu vivi.
Se sinto uma montanha,
Nela me transformei.
Hoje sei que sou estrela,
Sou tempo e a eternidade,
E tudo o que jamais sonhei.
Angela Gomes
Eu vi o tempo passando por mim.
Pedras de cristais,
Gotas, temporais.
Abismos e montanhas. Mas,
Penso no que forma o tempo.
Penso que sem mim,
Que sentido lhe restaria?
Levo comigo o tempo
E todas as passagens que me permiti.
Sonho apenas com as lembranças,
Penso tê-las guardadas em mim.
Vim para esta “terra” resgatar as heranças,
E as grandezas de tudo o que eu vivi.
Se sinto uma montanha,
Nela me transformei.
Hoje sei que sou estrela,
Sou tempo e a eternidade,
E tudo o que jamais sonhei.
Angela Gomes
Artemporal
Gravado na fronte
Da fronte do tempo,
Em segredo, sagrado de cores.
Perpetuando homens e animais...
Grafismos idiossincráticos, virtuais.
Observando olhares.
Subvertendo paisagens.
Transgredindo, movimentos e imagens.
Nas rochas, poesias atemporais.
Angela Gomes
Apesar
Apesar de o sol
ser a estrela do centro do Sistema Solar,
na fraca faixa de luz
através do céu noturno, habitamos.
Entre estrelas e nebulosas
passeamos os dias na Via Láctea
e preferimos astros artificiais
e luzes frias e solitárias.
Giramos em meio à poeira cósmica
sem atingir o núcleo.
Apenas conhecimentos elípticos
à velocidade do som
nos aproximam das constelações.
E quase sentimos
Os hemisférios juntarem-se.
Mas a composição atmosférica
Não tem energia suficiente para interagir.
Então emitimos
Fracos raios espectrais sem cor, nem calor.
E brilhamos pouco e sozinhos
Em nossas próprias estrelas.
Deisi Perin
Ser
Crânio e face.
Corpo e alma.
Protegidos por ossos e cinto de segurança
Da cintura escapular até a pélvica.
Braços, mãos e tórax
sustentados por coxas, pernas e pés.
Unidos por articulações e cartilagens.
Seguindo o fluxo das sinapses
e das substâncias branca e cinzenta.
Humano e desumano.
Anjo e demônio,
contradições de uma matéria em decomposição.
Deisi Perin
Galo
Em cima do telhado
apontando para o Norte,
está o galo sossegado.
Não liga para mim
nem para a sorte.
Passa dia, passa ano
e o galo ali parado
sempre tão altivo e forte.
Às vezes a vida se torna
vazia e solitária.
E o galo pensa na morte.
Ele que parecia tão decidido
ensandeceu.
Virou repentinamente para o Sul
Duvidando dos ventos.
Será que este galo
Está tão perdido quanto eu?
Deisi Perin
Agricultura
Arei sulquei
Cavei adubei.
A semente era eu
Plantada no tempo.
Cortei as raízes,
Nasceram asas.
Mas ainda
não aprendi
a voar.
Deisi Perin
A luz de velas
Universo de espuma.
Água fresca
banho e limpeza.
Roupas jogadas
úmidas de suor.
Sobras do jantar
a luz de velas.
Taças de vinho tinto
xícaras de café.
Pilhas de pratos e panelas
limpeza e arrumação.
Quem dera um
jantar romântico.
Mas
apenas
faltou luz.
Deisi Perin
Miscelânea
Miscelânea de sementes.
Entranhas em trabalho de parto.
Estranho ambiente inteiro.
Nada de metade,
de meio
só o do caminho.
Simbiose,
seiva viscosa
Em vísceras.
Vôo, vacilo.Vida.
Deisi Perin
Rapel
Enfrentamento
perante um espelho
sem entrelinhas.
Cordinhas daqui e dali
prendem sua vida
que pende rumo ao chão.
Perder-se em sensações
sem olhar para um
mundo caduco
que não sobe, nem desce.
Não chove, nem molha.
Seco de lágrimas,
seco de sentimentos
cheio de receios e dedos.
Máscaras que não saem jamais
incorporadas às almas
gêmeas de nada.
Deisi Perin
Era uma vida
Escrito na
mesma hora em que meu pai corria para outra vida
Era uma vida
que corria para o mar
Era uma vida
sem hora marcada
Era uma vida
feita de terra, ar e areia
Era uma vida
onde havia de tudo
emoções e sentimentos
sombras e luzes
Flutuavam vontades
Lá e cá
Um desejo não fala com o outro
não se olham
e confundem a vida
um acredita
outro desmente
um é atento
outro, aventura
um é lenha
outro, fogueira
um é sol
outro, lua
um cochila
outro, desperta
Qual aparece ao sol?
Qual prefere a lua?
Era uma vida
com muitos desejos
eu nos teus olhos me escondo
me escoro no negror do teu mirar
e me banho nas tuas pupilas.
Tu se cobre com meu corpo
mas sou eu que me aqueço.
Só um sopro e tu desapareces
quando desaba bêbada a manhã.
Foi um sonho sonhado a dois
eu e a loira gelada.
Tudo que vive em mim está morto
na pálida lembrança de uma fêmea
fumando falo com porra e sangue;
aspirando a fumaça do que sobrou
do homem mirando o vazio ao procurar
a si dentro do útero da morte.
A vida dançava viciada
no olhar pálido do desejo
mascarado no teatro do sangue
aquecido na chama fria sobre a cama
-platéia silenciosa das representações a represar
dores antigas nas âncoras dos olhares ausentes.
Trepar, não pude, pois estava morto antes como agora
só ela respirou na boca do músculo bêbado de pecado.
"Se beber não transe."
Wilson Roberto Nogueira
me escoro no negror do teu mirar
e me banho nas tuas pupilas.
Tu se cobre com meu corpo
mas sou eu que me aqueço.
Só um sopro e tu desapareces
quando desaba bêbada a manhã.
Foi um sonho sonhado a dois
eu e a loira gelada.
Tudo que vive em mim está morto
na pálida lembrança de uma fêmea
fumando falo com porra e sangue;
aspirando a fumaça do que sobrou
do homem mirando o vazio ao procurar
a si dentro do útero da morte.
A vida dançava viciada
no olhar pálido do desejo
mascarado no teatro do sangue
aquecido na chama fria sobre a cama
-platéia silenciosa das representações a represar
dores antigas nas âncoras dos olhares ausentes.
Trepar, não pude, pois estava morto antes como agora
só ela respirou na boca do músculo bêbado de pecado.
"Se beber não transe."
Wilson Roberto Nogueira
Ora é só uma louca com a camisola
suja de coco .
A pele desbotada e os olhos desancorados de si,
Olhos imensos e azuis presos no desamparo
procuram , assim como suas mãos , e braços abraçando o vazio ,
o filho que está à porta do manicômio,ajoelhado,chorando porque
não pode entrar.
O céu está colorido mas a criança esqueceu a língua das cores.
A vida é um presságio
Cobra ágio
da alma que nela não mergulha.
A vida é uma agulha cujo olho um lago olha.
Cega a lua vida que bebe de si o Fel .
Wilson Roberto Nogueira
A pele desbotada e os olhos desancorados de si,
Olhos imensos e azuis presos no desamparo
procuram , assim como suas mãos , e braços abraçando o vazio ,
o filho que está à porta do manicômio,ajoelhado,chorando porque
não pode entrar.
O céu está colorido mas a criança esqueceu a língua das cores.
A vida é um presságio
Cobra ágio
da alma que nela não mergulha.
A vida é uma agulha cujo olho um lago olha.
Cega a lua vida que bebe de si o Fel .
Wilson Roberto Nogueira
Pego um livro e leio nas bordas outras vidas ,
em letras ora miúdas como mexilhão no coral ,
ora octopode oculto na tinta de seu corpo evaporado na fuga
e me pergunto se velhos fantasmas
transaram no silêncio dos sonhos ;
outras vozes em mares revoltos ou na calmaria,
onde barcos pensam
outros destinos em outros mundos, portos a conhecer.
Veias em alva pele, macia ou já amarelada, não importa ;
continentes ocultos que lançam sombras luminosas
na orla da praia das sensações .
Uma simples leitura mergulha em mares profundos,
onde em cada nível, novas leituras são possíveis.
Quando o fôlego não deserta para deixar ao sol,
nosso cadáver naufrago.
O que respondo à flor dourada de pétalas prateadas
meu caule de carvalho velho curvou-se ao seu olor
Quão breve brisa soprou alento ao tronco enrugado
dores de juventude hoje não pesam na nova morada
amores de esquilos na alma inquieta
tronco grávido de felicidade na madeira velha
a qual não se curva ante a tempestade...
Wilson Roberto Nogueira
em letras ora miúdas como mexilhão no coral ,
ora octopode oculto na tinta de seu corpo evaporado na fuga
e me pergunto se velhos fantasmas
transaram no silêncio dos sonhos ;
outras vozes em mares revoltos ou na calmaria,
onde barcos pensam
outros destinos em outros mundos, portos a conhecer.
Veias em alva pele, macia ou já amarelada, não importa ;
continentes ocultos que lançam sombras luminosas
na orla da praia das sensações .
Uma simples leitura mergulha em mares profundos,
onde em cada nível, novas leituras são possíveis.
Quando o fôlego não deserta para deixar ao sol,
nosso cadáver naufrago.
O que respondo à flor dourada de pétalas prateadas
meu caule de carvalho velho curvou-se ao seu olor
Quão breve brisa soprou alento ao tronco enrugado
dores de juventude hoje não pesam na nova morada
amores de esquilos na alma inquieta
tronco grávido de felicidade na madeira velha
a qual não se curva ante a tempestade...
Wilson Roberto Nogueira
Bataclânicas
Caminhar entre altos prédios
preparar cada passo solene
avenidas vazias.
O poder é solitário
o simples funcionário
sai da repartição e para todos
os fantasmas atrás dos números
é um tirano ; ele sabe-se escravo.
caminha solene sobre as formigas
enquanto a sombra da repartição
bebe-lhe o sol dos dias.
prédios cinzentos almas em cinzas
o vento sopra para longe
O dever cumprido
dores nas costas
não mais.
Wilson Roberto Nogueira
sábado, 26 de março de 2016
SACRILÉGIO
Me aproximo de ti
como quem se aproxima da polpa do silêncio:
com gestos pausados e passos medrosos.
O mundo lá fora é muito grande,
os caminhos tão numerosos e loucos
que será inevitável o adeus.
Quando chove, contemplo as vidraças
e vejo teu rosto: envelheceste – penso em dizer-te.
Mas as palavras frequentemente são duras
e resta sempre uma paisagem vazia
onde nossos sonhos deixaram sulcos.
Me aproximo de ti
como quem se aproxima do nome de Deus:
com gestos medidos e passos de dança.
Se eu gritasse, sei que ninguém me ouviria.
Se eu dançasse, o universo implodiria.
Estive dentro dos pesadelos dos homens
e descobri que tudo é sagrado.
Menos o medo que tenho de ti.
Otto Leopoldo Winck
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