domingo, 26 de agosto de 2012
Dela
ela não se surpreende com o mundo
sua tela não tem mais imagens
suas palavras não fazem mais sentido
seu armário lotado
um comprimido
era essa a sua busca
levantou tapetes
arrastou sofá
derrubou cadeiras
monstros do porão
arrancou telhas
roeu unhas
foi tomar banho
e, eis que por rotina,
ao puxar do ralo da alma
pêlos e cabelos
enxerga, no emaranhado,
a bolinha neón
pula pelada aos saltos
escorrega
não acha pote
e a coisinha escorre,
como se o dedo estivesse embebido em kY
até que por fim, pula
quica, quica, quica
cadê?
achou
pôs um papel branco debaixo,
depois de roçar muito
e, com toda paciência,
deslizou o luminoso para o centro
dobrou bem dobradinho
esperou dias e dias
até que pôs selo!
Vivianne Moureau
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2 comentários:
O desespero Dela,que é um pouco nosso, de todos nós. O ralo da alma que não tem desentupidor que dê jeito. E que como não poderia deixar de ser, tem pulo, tem riso, tem alma e tem palavra. E tem até um selo posto na carta dobrada!
Fiquei com vontade de vomitar... Depois me recuperei do féu do egocentrismo e li algumas linhas de bela imagética do "nojo". Creio que minha alma seja tão pura e inocente que não há impurezas a serem metaforicamente depuradas ou processadas como refugo.
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