domingo, 2 de outubro de 2011

uma igrejinha


nada é mais patético e belo
e difícil
que a igrejinha abandonada:

o capim no altar, as goteiras
a infiltração das estrelas

e as velas gastas
como pequenos pilares
do escuro.

nunca vi
uma igrejinha baldia
mas

se agora a vejo
(as lembranças tomadas de mato
e uma única açucena)

algo em mim que remontasse
campeia por dentro
                    monta ali acampamento
                    ou indigência

    e me lembro
                                
                    da poesia,
                    do amor que não se lembra


Rodrigo Madeira

Um comentário:

Tullio disse...

Essa igreja me lembra uma vela apagada, que outrora acesa, ardia na fé ou no sonho; hoje sua chama nada mais é que uma lembrança; o pavil nos lembra o fogo, e a possibilidade da vela ser reacendida, pois seu corpo [talvez decrépito] não fora decomposto, a paisagem é longínqua na proximidade de quem recorda, e no entanto viva ao ardor de quem a busca.
T.S.