vou sonhar a pedra do teu coração feito um martelo no linho obscuro da pérola: se deus falasse, ficaria calado: ela é o próprio mistério dos sinos todos de todas as catedrais: à noite ela deita a tessitura da cervical na grama fria: eu queria atravessar teu peito com esse arpão sagrado que é a palavra: e se casei com a noiva da neve, foi para que me soprasse: o gelo: no gelo do coração: a língua gelada na nuca fria: assim ela entraria em meu coração: com o sono do chuveiro espalhado na pele, vestiria toda a nudez quando sai da toalha molhada e atravessa o filme do Fellini já gagá entre a névoa: filma essa música espalhada na paisagem: um deus caído, que se falaria, preferiria ficar calado, chupa a chuva na tua coxa com brincos de coral e pérola caindo das orelhas: o arpão da língua a atravessa até o infinito: se te falo: todo o livro é uma declaração de amor, foi que chorei esses versos ainda hoje quando entravas no esquecimento de um dia de tédio: o tédio já é o deus cansado de sua falta do que dizer pois pode ser que ele desconheça a melancolia e o amor: eu entro no quarto com o chapéu de chuva atravessado com violinos de Béla Bartók: ela não acende algum cigarro: não pensa nas lamas do führer: eu bebo a água acumulada em sua clavícula.
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3 comentários:
raramente sou invadido, violado, pela alegria de saber que uma alma, distante ou próxima, ainda é capaz de captar as palavras na respiração de outro mundo.
Se é escritora ou se é suicida,
pouco e pouco isso interessa,
diante dessa coisa em si: da
luz que li na Lídia Lessa.
Ivan
"eu bebo a água acumulada em sua clavícula" é lindíssimo!
rodrigo
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