parto como
quem planta
de fora pra dentro
da fúria disforme
do fogo que (fátuo) afia
a faca que fura
dura feito falo
a flor da palavra
pedra
a pedra da palavra
flor
parto como
quem expulsa a dor
com os fórceps da v a g i n a
parto
essa detonação do corpo
como a rosa de Hiroxima
parto
um verso natimorto
um aborto da rima
[do riso
em estado puerperal
que arrebata o juízo
disseco meu peito
[da aorta ao
umbigo]
porque poema nenhum, jamais, nasceu
de parto normal
e assim, no cesariano contato
com cada sanguínea palavra
vejo misturar-se ao ritmo
primal algumas vísceras
do verbo entre átrios
e artérias
no percurso quase prosaico
do trígono fibroso
ao septo ventricular
até chegar irrigando róseos tons
ao tom só rubro do coração
acelerado
acelerado
acelerado
quizás tomado pelo psicotrópico efeito
de ver-se a si próprio
pulsando no papel
quizás pelo encontro inesperado
e repentino com seu amo
[que é ironicamente seu resto
e seu rosto (ou sua máscara)
e nesse mais que colorante-instante
em que o cárdio esparge idéias pela carótida
em que as veias e os vasos mais líricos
– sem misturarem-se aos venosos vãos –
arquejam por pleuras e alvéolos
ofega a máquina humana
e o poema oscila, excitado
como as ondas de um eletrocardiograma.
Marcelo Reis de Mello
http://cozinhapoesia.blogspot.com/
Crisis capitalism
Há 30 minutos
2 comentários:
valeu, pozzo. qquer hora posso surrupiar uma foto tua ou poema para pôr no blog da editora tb?
pode usar minhas fotos sim, marcelo! com os devidos créditos! ;)
ricardo pozzo
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