Acordei com o barulho da academia.
Enquanto dormia,
Silenciava-me o trânsito e a fila
Do pão e leite da padaria.
E de tantas que seguirão
Até que eu finde, e não o dia.
Enquanto eu dormia,
Silenciava-me o custa da vida,
Meus encargos para o Estado.
Não importava se havia saldo,
Se estava livre ou não do assalto,
Do crediário, do bandido, do estelionatário.
Se paguei o dízimo,
Ou dei o conto do vigário.
Não importava ter picado em tiras
O jornal do emprego, para ter sossego,
Por ter gasto a vida
E todo o tempo
Saboreando o vento do pastel,
Aprendendo o que não serve
Para a tributação fiscal,
O departamento pessoal,
A gestão empresarial,
O call center,
O malabarismo de sinal.
Não importava o poema desenhado.
E, se o sonho mastigado ficou indigesto.
Se o mundo acabaria
Num colapso de ganância caos concreto.
Se ainda me restaria energia.
Não importava,
Papelão colchão, tecido puído, amálgama gelada.
E se o riso era cortante frio na alma.
Angela Gomes
sábado, 14 de março de 2009
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3 comentários:
LIVRO DO ZIRALDO
Minha fada-poeta continua afiada. Sensibilidade e talento. Adorei o verso que fala em "saborear o vento do pastel". Beijo saudoso!
Também lembrei do Flicts do Ziraldo! Muito bom Angela!!!
Deisi
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