Poeta, fiques sentado ao piano.
Toques o presente, é hoo-hoo-hoo,
É shoo-shoo-shoo, é ric-a-nic,
Sua zombaria invejosa.
Se lançarem pedras sobre o telhado
Enquanto praticas arpejos,
É porque eles carregam pelas escadas
Um corpo em trapos.
Esteja sentado ao piano.
Esse lúcido souvenir do passado,
O divertimento;
Esse sonho arejado do futuro,
O concerto não concluído. . .
A neve está caindo.
Atinga a corda penetrante.
Seja tu a voz,
Não tu. Sejas tu, sejas tu
A voz do medo raivoso,
A voz dessa dor assediadora.
Sejas tu esse som invernal
Igual a um grande vento uivante,
Através do qual a tristeza é liberada,
dissolvendo, absolvendo
Numa reconciliação imaginária.
Podemos voltar para Mozart.
Ele era jovem, e nós, nós somos velhos.
A neve está caindo
E as rua cheias de lamentações.
Sentes, tu.
Wallace Stevens/ tradução Ricardo Pozzo
Mozart, 1935
Poet, be seated at the piano.
Play the present, its hoo-hoo-hoo,
Its shoo-shoo-shoo, its ric-a-nic,
Its envious cachinnation.
If they throw stones upon the roof
While you practice arpeggios,
It is because they carry down the stairs
A body in rags.
Be seated at the piano.
That lucid souvenir of the past,
The divertimento;
That airy dream of the future,
The unclouded concerto . . .
The snow is falling.
Strike the piercing chord.
Be thou the voice,
Not you. Be thou, be thou
The voice of angry fear,
The voice of this besieging pain.
Be thou that wintry sound
As of a great wind howling,
By which sorrow is released,
Dismissed, absolved
In a starry placating.
We may return to Mozart.
He was young, and we, we are old.
The snow is falling
And the streets are full of cries.
Be seated, thou.
Wallace Stevens
Crisis capitalism
Há 7 minutos
Um comentário:
Olá Ricardo, que tal reinventar as onomatopeias? um abraço.
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