domingo, 31 de julho de 2016
terça-feira, 12 de julho de 2016
Cansaços
Nas profundezas da noite
Um encontro brando
de cansaços
Enleia
numa sensível sensualidade,
o silêncio da íris
Andréa Motta
estrada
(a um amigo)
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Ficando aqui dentro de nós
Todas as marcas de seu trabalho
E a dor é apenas uma etapa
Do grande aprendizado
O sofrimento
É o que nos dá polidez
E a alma dos que ficam continua
Porque essa era a sua luta
Manter-se aqui
Para quando estivesse lá
Permanecesse aceso
Em todas as mentes que buscam
O fim da estrada
E o começo da glória
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Alessandro Jucá
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Ficando aqui dentro de nós
Todas as marcas de seu trabalho
E a dor é apenas uma etapa
Do grande aprendizado
O sofrimento
É o que nos dá polidez
E a alma dos que ficam continua
Porque essa era a sua luta
Manter-se aqui
Para quando estivesse lá
Permanecesse aceso
Em todas as mentes que buscam
O fim da estrada
E o começo da glória
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Alessandro Jucá
Inferno Astral
Ah, esse mundo distante!
Onde a arte é semente de tudo
Onde a flor reascende a poesia
E a vida é movida de amor
Sim, esse mundo esquecido
Que ascende o sonho da alma
E a dor revivida no tempo
Confundiu-se com o próprio temor
Mas se agora no inferno dos astros
Eu pressinto os dias de outrora
Com a luz que guiava meus passos
Vou embora!
Sim, eu volto...
Em um belo dia de agora
O céu olha pro chão
É como se a estrela mais antiga
me olhasse intensa lá do alto
e nesse mesmo espaço, a vida
fitasse seus olhares no asfalto
o que pro céu talvez seja guarida
para mim talvez um cadafalso
e as coisas que eu via no cinema
me acenam suas cores da montanha
enquanto rezas recitadas em novenas
me envolvem em suas teias de aranha
o que pro céu resolve um teorema
para mim as chaves são estranhas
A origem do universo me fascina
E arte, criação que me alimenta
A beleza que atrai minha retina
Não se explica, se entende nem comenta
o que pro céu talvez seja uma sina
Para mim talvez o que se inventa
E assim eu sou feito de metade
Parte céu que me olha do infinito
Parte “chão” que sou eu, humanidade
Coração entre o mal e o bendito
O que pro céu talvez seja vaidade
Para mim talvez o mais bonito
Alessandro Jucá
Laços
Para Cláudia (Cacau) Gonçalves e Lu Oliveira
Chove em meus olhos
sempre que o gris da manhã
encobre a cidade e os pássaros calados
se escondem nos galhos do abacateiro
Chove em meus olhos quando o azul matinal
floresce múltiplas canções
Insistente a chuva rega minha face
sempre que a saudade invade o universo
traz o frescor do alecrim e muitos potinhos de sol
Andréa Motta
Enlevo
derramadas as palavras
no centro do infinito
com que ternura te encontro
comprometida com o vento
tocada pela magia
da arte
ouso em teu nome,
poesia
compor a tristeza
e a alegria
que deslumbra
os sentidos.
Andréa Motta
Bramido
Ao abrigo do sol
a voz febril dos sonhos
oculta
a cada novo fonema,
o canto do melro
o vôo da borboleta indefesa
- grita a essência
da palavra –
Andréa Motta
Rico e Plural
À Hilda Hilst e Octávio Paz
Isso de ti
tem um quê de saudade
um contínuo transcender-se
um quê de intimidade
um permanente imaginar-se
Isso de ti
meio mata meio mar
os olhos
não conseguem decifrar
Isso de ti
sei lá porque
tem um quê de insano
um constante desvendar-se
Andréa Motta
Cambraia
Vistosa em sua transparência
vestimenta de cambraia
é sensível às intempéries
do tempo
Perde o brilho natural.
Rota, amarela, por vezes,
assemelha-se ao homem.
Torna-se áspera.
por águas e lavagens,
perde do olhar a candura
Não há cerzimento
que devolva-lhe a maciez
perdida do uso ao descaso.
Andréa Motta
Apogeu
Nas manhãs de inverno
quando a exuberância do azul
transborda do céu descortinando
o incompreendido e louco
destino dos homens,
ouça no borbulhar do silêncio,
a supremacia da natureza,
a essência inenarrável da paz.
Andréa Motta
Íntima Fração
Para Rubens da Cunha
surdos meus pés
gritam a distância
disfarçada
curvos
adjetivados
pela hora tardia
das estranhas noites
contam espinhos
obscenos
turvos
semeiam
e colhem a palavra
Andréa Motta
Ao sabor do pensamento
O olhar cego começa um poema
desenha a trama.
Com mãos impolutas
despeja desejos
cria amores
e abandonos
em estranhos jogos
de memória
cogita
sangra
sonha interminavelmente
derrama sobre o papel
armadilhas inequívocas
do pensamento
Sorri
vertiginosamente
sorri até a exaustão
um sorriso marginal.
Etéreo
tece ilusões
e finda o poema.
Estrelas e Sal
Lanternas esquálidas escarlates
A navegar escamas de Netuno.
Despejam o fluxo de outros mundos
Paridos em noite fria entre os lilases.
Atmosfera imersa em breu soturno,
Lançando redes de nylon, pescando sóis.
Gigantescos navios espaciais consumindo-se
Aprisionados no visco salino
Do enferrujado lastro dos anzóis.
Angela Gomes
ASSIM, ASSIM
Assim, assim,
Eu vi o tempo passando por mim.
Pedras de cristais,
Gotas, temporais.
Abismos e montanhas. Mas,
Penso no que forma o tempo.
Penso que sem mim,
Que sentido lhe restaria?
Levo comigo o tempo
E todas as passagens que me permiti.
Sonho apenas com as lembranças,
Penso tê-las guardadas em mim.
Vim para esta “terra” resgatar as heranças,
E as grandezas de tudo o que eu vivi.
Se sinto uma montanha,
Nela me transformei.
Hoje sei que sou estrela,
Sou tempo e a eternidade,
E tudo o que jamais sonhei.
Angela Gomes
Eu vi o tempo passando por mim.
Pedras de cristais,
Gotas, temporais.
Abismos e montanhas. Mas,
Penso no que forma o tempo.
Penso que sem mim,
Que sentido lhe restaria?
Levo comigo o tempo
E todas as passagens que me permiti.
Sonho apenas com as lembranças,
Penso tê-las guardadas em mim.
Vim para esta “terra” resgatar as heranças,
E as grandezas de tudo o que eu vivi.
Se sinto uma montanha,
Nela me transformei.
Hoje sei que sou estrela,
Sou tempo e a eternidade,
E tudo o que jamais sonhei.
Angela Gomes
Artemporal
Gravado na fronte
Da fronte do tempo,
Em segredo, sagrado de cores.
Perpetuando homens e animais...
Grafismos idiossincráticos, virtuais.
Observando olhares.
Subvertendo paisagens.
Transgredindo, movimentos e imagens.
Nas rochas, poesias atemporais.
Angela Gomes
Apesar
Apesar de o sol
ser a estrela do centro do Sistema Solar,
na fraca faixa de luz
através do céu noturno, habitamos.
Entre estrelas e nebulosas
passeamos os dias na Via Láctea
e preferimos astros artificiais
e luzes frias e solitárias.
Giramos em meio à poeira cósmica
sem atingir o núcleo.
Apenas conhecimentos elípticos
à velocidade do som
nos aproximam das constelações.
E quase sentimos
Os hemisférios juntarem-se.
Mas a composição atmosférica
Não tem energia suficiente para interagir.
Então emitimos
Fracos raios espectrais sem cor, nem calor.
E brilhamos pouco e sozinhos
Em nossas próprias estrelas.
Deisi Perin
Ser
Crânio e face.
Corpo e alma.
Protegidos por ossos e cinto de segurança
Da cintura escapular até a pélvica.
Braços, mãos e tórax
sustentados por coxas, pernas e pés.
Unidos por articulações e cartilagens.
Seguindo o fluxo das sinapses
e das substâncias branca e cinzenta.
Humano e desumano.
Anjo e demônio,
contradições de uma matéria em decomposição.
Deisi Perin
Galo
Em cima do telhado
apontando para o Norte,
está o galo sossegado.
Não liga para mim
nem para a sorte.
Passa dia, passa ano
e o galo ali parado
sempre tão altivo e forte.
Às vezes a vida se torna
vazia e solitária.
E o galo pensa na morte.
Ele que parecia tão decidido
ensandeceu.
Virou repentinamente para o Sul
Duvidando dos ventos.
Será que este galo
Está tão perdido quanto eu?
Deisi Perin
Agricultura
Arei sulquei
Cavei adubei.
A semente era eu
Plantada no tempo.
Cortei as raízes,
Nasceram asas.
Mas ainda
não aprendi
a voar.
Deisi Perin
A luz de velas
Universo de espuma.
Água fresca
banho e limpeza.
Roupas jogadas
úmidas de suor.
Sobras do jantar
a luz de velas.
Taças de vinho tinto
xícaras de café.
Pilhas de pratos e panelas
limpeza e arrumação.
Quem dera um
jantar romântico.
Mas
apenas
faltou luz.
Deisi Perin
Miscelânea
Miscelânea de sementes.
Entranhas em trabalho de parto.
Estranho ambiente inteiro.
Nada de metade,
de meio
só o do caminho.
Simbiose,
seiva viscosa
Em vísceras.
Vôo, vacilo.Vida.
Deisi Perin
Rapel
Enfrentamento
perante um espelho
sem entrelinhas.
Cordinhas daqui e dali
prendem sua vida
que pende rumo ao chão.
Perder-se em sensações
sem olhar para um
mundo caduco
que não sobe, nem desce.
Não chove, nem molha.
Seco de lágrimas,
seco de sentimentos
cheio de receios e dedos.
Máscaras que não saem jamais
incorporadas às almas
gêmeas de nada.
Deisi Perin
Era uma vida
Escrito na
mesma hora em que meu pai corria para outra vida
Era uma vida
que corria para o mar
Era uma vida
sem hora marcada
Era uma vida
feita de terra, ar e areia
Era uma vida
onde havia de tudo
emoções e sentimentos
sombras e luzes
Flutuavam vontades
Lá e cá
Um desejo não fala com o outro
não se olham
e confundem a vida
um acredita
outro desmente
um é atento
outro, aventura
um é lenha
outro, fogueira
um é sol
outro, lua
um cochila
outro, desperta
Qual aparece ao sol?
Qual prefere a lua?
Era uma vida
com muitos desejos
eu nos teus olhos me escondo
me escoro no negror do teu mirar
e me banho nas tuas pupilas.
Tu se cobre com meu corpo
mas sou eu que me aqueço.
Só um sopro e tu desapareces
quando desaba bêbada a manhã.
Foi um sonho sonhado a dois
eu e a loira gelada.
Tudo que vive em mim está morto
na pálida lembrança de uma fêmea
fumando falo com porra e sangue;
aspirando a fumaça do que sobrou
do homem mirando o vazio ao procurar
a si dentro do útero da morte.
A vida dançava viciada
no olhar pálido do desejo
mascarado no teatro do sangue
aquecido na chama fria sobre a cama
-platéia silenciosa das representações a represar
dores antigas nas âncoras dos olhares ausentes.
Trepar, não pude, pois estava morto antes como agora
só ela respirou na boca do músculo bêbado de pecado.
"Se beber não transe."
Wilson Roberto Nogueira
me escoro no negror do teu mirar
e me banho nas tuas pupilas.
Tu se cobre com meu corpo
mas sou eu que me aqueço.
Só um sopro e tu desapareces
quando desaba bêbada a manhã.
Foi um sonho sonhado a dois
eu e a loira gelada.
Tudo que vive em mim está morto
na pálida lembrança de uma fêmea
fumando falo com porra e sangue;
aspirando a fumaça do que sobrou
do homem mirando o vazio ao procurar
a si dentro do útero da morte.
A vida dançava viciada
no olhar pálido do desejo
mascarado no teatro do sangue
aquecido na chama fria sobre a cama
-platéia silenciosa das representações a represar
dores antigas nas âncoras dos olhares ausentes.
Trepar, não pude, pois estava morto antes como agora
só ela respirou na boca do músculo bêbado de pecado.
"Se beber não transe."
Wilson Roberto Nogueira
Ora é só uma louca com a camisola
suja de coco .
A pele desbotada e os olhos desancorados de si,
Olhos imensos e azuis presos no desamparo
procuram , assim como suas mãos , e braços abraçando o vazio ,
o filho que está à porta do manicômio,ajoelhado,chorando porque
não pode entrar.
O céu está colorido mas a criança esqueceu a língua das cores.
A vida é um presságio
Cobra ágio
da alma que nela não mergulha.
A vida é uma agulha cujo olho um lago olha.
Cega a lua vida que bebe de si o Fel .
Wilson Roberto Nogueira
A pele desbotada e os olhos desancorados de si,
Olhos imensos e azuis presos no desamparo
procuram , assim como suas mãos , e braços abraçando o vazio ,
o filho que está à porta do manicômio,ajoelhado,chorando porque
não pode entrar.
O céu está colorido mas a criança esqueceu a língua das cores.
A vida é um presságio
Cobra ágio
da alma que nela não mergulha.
A vida é uma agulha cujo olho um lago olha.
Cega a lua vida que bebe de si o Fel .
Wilson Roberto Nogueira
Pego um livro e leio nas bordas outras vidas ,
em letras ora miúdas como mexilhão no coral ,
ora octopode oculto na tinta de seu corpo evaporado na fuga
e me pergunto se velhos fantasmas
transaram no silêncio dos sonhos ;
outras vozes em mares revoltos ou na calmaria,
onde barcos pensam
outros destinos em outros mundos, portos a conhecer.
Veias em alva pele, macia ou já amarelada, não importa ;
continentes ocultos que lançam sombras luminosas
na orla da praia das sensações .
Uma simples leitura mergulha em mares profundos,
onde em cada nível, novas leituras são possíveis.
Quando o fôlego não deserta para deixar ao sol,
nosso cadáver naufrago.
O que respondo à flor dourada de pétalas prateadas
meu caule de carvalho velho curvou-se ao seu olor
Quão breve brisa soprou alento ao tronco enrugado
dores de juventude hoje não pesam na nova morada
amores de esquilos na alma inquieta
tronco grávido de felicidade na madeira velha
a qual não se curva ante a tempestade...
Wilson Roberto Nogueira
em letras ora miúdas como mexilhão no coral ,
ora octopode oculto na tinta de seu corpo evaporado na fuga
e me pergunto se velhos fantasmas
transaram no silêncio dos sonhos ;
outras vozes em mares revoltos ou na calmaria,
onde barcos pensam
outros destinos em outros mundos, portos a conhecer.
Veias em alva pele, macia ou já amarelada, não importa ;
continentes ocultos que lançam sombras luminosas
na orla da praia das sensações .
Uma simples leitura mergulha em mares profundos,
onde em cada nível, novas leituras são possíveis.
Quando o fôlego não deserta para deixar ao sol,
nosso cadáver naufrago.
O que respondo à flor dourada de pétalas prateadas
meu caule de carvalho velho curvou-se ao seu olor
Quão breve brisa soprou alento ao tronco enrugado
dores de juventude hoje não pesam na nova morada
amores de esquilos na alma inquieta
tronco grávido de felicidade na madeira velha
a qual não se curva ante a tempestade...
Wilson Roberto Nogueira
Bataclânicas
Caminhar entre altos prédios
preparar cada passo solene
avenidas vazias.
O poder é solitário
o simples funcionário
sai da repartição e para todos
os fantasmas atrás dos números
é um tirano ; ele sabe-se escravo.
caminha solene sobre as formigas
enquanto a sombra da repartição
bebe-lhe o sol dos dias.
prédios cinzentos almas em cinzas
o vento sopra para longe
O dever cumprido
dores nas costas
não mais.
Wilson Roberto Nogueira
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