terça-feira, 3 de março de 2015

OS GANCHOS DO AÇOUGUEIRO


Um dos suplícios mais usuais da Idade Média consistia em punçar
a língua dentro da boca com ganchos de açougueiro.
A vítima berrava para o carrasco mouco:
o único consolo dos mortos é não morrer nunca mais.
Ao ousar novas palavras,
o escritor aciona o fracasso do signo em dizer algo do que é:
o madeiro que me refresca a fronte é galho de limoeiro,
na tigela planto um trevo de quatro folhas para curar o aziago.
Aprendo com a voz do velho vento que sopra de leve a cortina:
“Só quem bebe do leque da pavoa
esquece vírgulas e mata a morte”.
Agimos sob a fascinação do impossível:
isto quer dizer que – uma sociedade incapaz de consagrar-se à ilusão –
está ameaçada de esclerose e de ruína.


Texto: Fernando José Karl

2 comentários:

Anderson Carlos Maciel disse...

Contra a arrogância e o pedantismo no emprego das palavras menos usuais no nosso habitual coloquial, existem métodos pedagógicos tais como a adequação da linguagem. A idéia, penso, é a diversão ao fazer literatura: Um pouco menos de crítica e reclamação e mais exercícios da fala e da criação da obra literária. Há um sentimento de liberdade que só a palavra nos traz que é a dimensão do absurdo. Não denomino ilusão, mas sentimento de plenitude na verborragia do caráter literário. Elevação do pensamento em espécie de meditação e reflexão ideativa. Escrever é prazeroso!

Anderson Carlos Maciel disse...

Difícil abstrair em leis a forma do poemeto. Dissertação, ficção se misturam em linhas confusas. Penso que o ímpeto criativo é este mesmo, mas pode melhorar a o processo de ideação e aproveitar o "jorro" de imagens em categorias possíveis de entendimento. Pontuar um texto não é questão de submissão ao governo, ao poder vigente(vigência, tempo determinado) "dominante"(redundância; qual o poder que não é dominante?), pontuando adequadamente descobre-se mesmo preferências e gostos pessoais, o que chamamos de subjetividade estilística. A norma culta da língua é complicada e sua interpretação é difícil, penso que a língua adapta-se ao uso, como já dizem muitos com quem porventura tenha conversado o autor.

Bom dia. Amor universal e consciência cósmica. Educação de qualidade!