domingo, 23 de novembro de 2014

A Voragem da Vertigem

Austera,
a escaldante face
anti séptica do sol
desperta
a ela

que
das meia verdades
impressas,
costurou a coberta

na desestratégia
de resguardar a si

dos ventos
e seu remordimento,

das estrelas
em deslumbradas
enxurradas,

da fome que encalacra
seu fétido perfume


Ricardo Pozzo

Um comentário:

Anderson Carlos Maciel disse...

Existe uma energia na consciência que rompe as correntes do senso crítico para construir sua indiferennça e independência. Esse mesmo movimento procura o seu inverso ao reivindicar olhos e ouvidos que sensibilizem-se para sua causa(uma entre infinitas) e prove-lhe, incoerentemente de antemão, que não está só no mundo. A beleza é o revés da mágoa, sentimento de plenitude buscado pelo artista finalmente em si próprio na subjetividade e interioridade, já que seus olhos infestam-se de metáforas pelas quais contamina seu coração pelo ódio do qual quer ver-se livre. Escrever e ler deveriam ser hábitos mais prazerosos do que estão sendo. Parece que estamos sendo obrigados a algo no intuito de construir identidade a qualquer custo, em detrimento da liberdade e da poesia consequente ao romper dos grilhões da alma numa atitude de contemplação eterna que nos traz paz. Tanta informação e construções textuais preconceituosas que vemos agora frequentemente na mídia eletrônica, constroem novos grilhões e estereótipos também novos que impossibilitam o ato primeiro da comunicação. Sinto que a leitura liberta, mas tenho até preguiça de procurar algo que me supreenda em meio a tanto pedantismo por oposição à simplicidade e as palavras fáceis e sinceras. As imagens do meu amigo Ricardo evocam inconscientes coletivos e sonhos perturbados (ainda) por aquela velha solidão urbana mesmo em meio à multidão: A solidão dos argumentos. Em meio a tantas subjetividades não encontra-se eco a idéias singulares de existência individual. O ser quer expressar-se para ser ouvido, ao passo que o preconceito e as más-línguas constroem barreiras de identidades culturais ferozmente defendidas. Esse sentimento é o mesmo vazio do intelecto que sentimos frente a realidade política nacional e internacional, onde uma voz clama por ouvidos sensíveis e encontra apenas bandeiras diversas de culturas em riste. A beleza da diversidade cultural esvai-se em tiranias da opinião e da interpretação, bíblica ou não das atividades humanas. Ricardo sempre me evoca sentimentos ancestrais, seja em uma esfera ou outra, quando experimento sonhar seus sonhos febrios com fantasmas de sociologias do acaso. Seu coração é privilegiado pelos olhares muitos e falares diversos que atravessa em esforço esgotado por fazer coerente um sistema literário que se quer incoerência, devaneio, loucura, sonho febrio. Leio todas as manhãs as notícias e também esses novos e velhos autores curitibanos. Gosto de encontrar novas liberdades do gosto.
Compadeço-me de vê-las enredadas em contextos sócio-políticos e estéticos nem sempre produtivos em termos de inteligência e criatividade.

Boa tarde a todos os amigos. Sucesso ao blog. Não parem nunca de escrever, mesmo quando a maré não estiver para peixe.