sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Ciclos
O pedalar, um ciclo de vai e vem
que apenas
vai
vão
vamos
Magia fazemos
com as vindas e chegadas.
Nas idas e partidas, apenas lágrimas
escondidas atrás de um até logo.
A caminhada interrompida não é desistência.
Às vezes precisamos descer
antes do ponto final.
Nesses trajetos aprendemos sequências várias
e até criamos e/ou adaptamos outras tantas.
Percorrer tantas estradas que pensamos conhecer
para mascarar a ignorância diante de si próprio.
Após mapear-nos saberemos quais monstros nos habitam.
E quais perigos são reais.
A caminhada não é tranquila nem harmônica.
Entediante, só as paradas, a espera.
Seguir a passos lentos.
Correr.
Em ciclos que apenas vão
Deisi Perin
que apenas
vai
vão
vamos
Magia fazemos
com as vindas e chegadas.
Nas idas e partidas, apenas lágrimas
escondidas atrás de um até logo.
A caminhada interrompida não é desistência.
Às vezes precisamos descer
antes do ponto final.
Nesses trajetos aprendemos sequências várias
e até criamos e/ou adaptamos outras tantas.
Percorrer tantas estradas que pensamos conhecer
para mascarar a ignorância diante de si próprio.
Após mapear-nos saberemos quais monstros nos habitam.
E quais perigos são reais.
A caminhada não é tranquila nem harmônica.
Entediante, só as paradas, a espera.
Seguir a passos lentos.
Correr.
Em ciclos que apenas vão
Deisi Perin
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Anímico animal
Petrificado pelas sensações.
Um bicho. Transmuta
Dor de si. Calcário,
Prende no rosto da rocha
Um reino de pesar. Pensa
Sob seu magma, sente
A poeira nas formas:
Sedimentária magia.
Requenta um passado
De fome. Um nome
Sublima a meninice do homem.
O anímico animal crava os dentes
No sangue da rosa. O peito
Como o diabo gosta:
Santa candeia de artérias.
Um servo: de querer bem ao corpo;
Um passo: rumo a tudo que varre;
Um sopro: de abismo e de glória.
Poente, um deus que venta o rio.
Senhor de fogo, de frio,
Ferve o eterno.
Verve do querer.
(2010)
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Lava
E, pensei, se têm razão
tanto Heráclito e Parmênides
e lado a lado existam dois mundos,
um tranquilo, outro louco, uma flecha
zune sem reflexão e outra a observa
tolerante: a mesma onda flui e não flui,
os animais nascem e morrem ao mesmo tempo
folhas de bétulas brincam com o vento e, por sua vez,
fenecem na chama ferruginosa e cruel.
A lava mata e perpetua, o coração golpeia
e é golpeado, houve guerra, não houve guerra,
judeus morreram, judeus vivem, cidades arderam,
cidades estão de pé, o amor empalidece o beijo eterno
marrons hão de ser as duas asas do falcão,
você segue comigo, embora já não estejamos,
os navios naufragam, areias cantam e nuvens
vagabundeiam como pedaços de véus nupciais.
Tudo está perdido. Tanta alucinação. As colinas
cautelosamente carregam longas bandeiras do bosque
o bolor sobe a torre de pedra da igreja
e elogia, com seus lábios timidos, o norte.
Ao crepúsculo, jasmins como lâmpadas ferozes
brilham atordoados com seu próprio resplendor.
No museu estreitam-se ante a lona escura
pupilas felinas de alguém. Está consumado.
Cavaleiros galopam seus negros corcéis, o tirano escreve
uma sentença de morte repleta de erros.
A juventude torna-se nada no transcorrer
de um só dia, o rosto das moças torna-se
medalhões, desespero torna-se encanto
os frutos das estrelas crescem no céu
como uvas, a beleza dura, trêmula e impassível,
Deus está e morre, a noite regressa ao nosso lado
a cada entardecer, e é, o arrebol, madreperolado pelo orvalho.
Adam Zagajewski/traduzido da versão em espanhol de Elzbieta Bortkiewic por Ricardo Pozzo
tanto Heráclito e Parmênides
e lado a lado existam dois mundos,
um tranquilo, outro louco, uma flecha
zune sem reflexão e outra a observa
tolerante: a mesma onda flui e não flui,
os animais nascem e morrem ao mesmo tempo
folhas de bétulas brincam com o vento e, por sua vez,
fenecem na chama ferruginosa e cruel.
A lava mata e perpetua, o coração golpeia
e é golpeado, houve guerra, não houve guerra,
judeus morreram, judeus vivem, cidades arderam,
cidades estão de pé, o amor empalidece o beijo eterno
marrons hão de ser as duas asas do falcão,
você segue comigo, embora já não estejamos,
os navios naufragam, areias cantam e nuvens
vagabundeiam como pedaços de véus nupciais.
Tudo está perdido. Tanta alucinação. As colinas
cautelosamente carregam longas bandeiras do bosque
o bolor sobe a torre de pedra da igreja
e elogia, com seus lábios timidos, o norte.
Ao crepúsculo, jasmins como lâmpadas ferozes
brilham atordoados com seu próprio resplendor.
No museu estreitam-se ante a lona escura
pupilas felinas de alguém. Está consumado.
Cavaleiros galopam seus negros corcéis, o tirano escreve
uma sentença de morte repleta de erros.
A juventude torna-se nada no transcorrer
de um só dia, o rosto das moças torna-se
medalhões, desespero torna-se encanto
os frutos das estrelas crescem no céu
como uvas, a beleza dura, trêmula e impassível,
Deus está e morre, a noite regressa ao nosso lado
a cada entardecer, e é, o arrebol, madreperolado pelo orvalho.
Adam Zagajewski/traduzido da versão em espanhol de Elzbieta Bortkiewic por Ricardo Pozzo
ISTO É COISA DE:
adam zagajewski,
elzbieta bortkiewic,
ricardo pozzo,
tradução
domingo, 16 de fevereiro de 2014
DNA psicodélico
A dupla hélice
colorida,
arredondada
icônica estrutura
helicoidal
que sobe e desce
pré-determinando
cores e formas
dons e sabedoria
medos e traumas
alma e psique.
Quem sou?
Como sou?
Vida, continuidade
e essência
contida numa complexidade
e singeleza
tão linda
tão colorida
tão dolorida.
Num tempo rumo
ao igual
ao conforme
à padronização
alegra-me saber
que,ao menos,
por dentro
sou um DNA psicodélico
Deisi Perin
colorida,
arredondada
icônica estrutura
helicoidal
que sobe e desce
pré-determinando
cores e formas
dons e sabedoria
medos e traumas
alma e psique.
Quem sou?
Como sou?
Vida, continuidade
e essência
contida numa complexidade
e singeleza
tão linda
tão colorida
tão dolorida.
Num tempo rumo
ao igual
ao conforme
à padronização
alegra-me saber
que,ao menos,
por dentro
sou um DNA psicodélico
Deisi Perin
sábado, 15 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Submundos em nós
Não conhecia as cores
Vivia num lugar que semeava a escuridão
Era levado por vozes entrecortadas
Sombras dançantes de árvores fossilizadas
Eu descia dos longos troncos das sequoias do norte
E tentava segui-lo de longe, tão longe quanto
estamos agora de nossos pais
Era uma batalha encontrá-lo naquele lugar
Eu gritava pelo seu nome que ecoava em submundos divididos
por escolhas
Eu tinha medo das pessoas que pensavam em suicídio e
atravessava a rua ao pressenti-las aproximando-se com seu ponto final cravado
na pupila
Um dia, finalmente o encontrei e foi a última vez
que nos vimos
Ele havia se tornado um pássaro estranho e o seu
espírito não reconhecia mais com o meu
Separamos as nossas solidões e eu voltei para
as sequoias que sabiam me presentear com todas as cores do
sol.
Alexandra Barcellos
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Alguns Livros Depois
como se você chamasse,
chamasse, chamasse
todos eles viessem como labaredas
desfiguradas
palavras que como sulcos
percorrem a precisão dos traços -
depois o vento os levanta
na maresia carbonizada, sementes eriçadas
pelo vento, viés:
a elucubração de poema que nasce desse ancoradouro
terra que lavra; o terceiro dia, insurreto
a voz cavando em páginas de um delírio putrefato,
carne para só a carne responder à solidão
arrepio de singrar um nome.
Roberta Tostes Daniel
domingo, 2 de fevereiro de 2014
Assinar:
Postagens (Atom)