a mosca pousou sobre o rosto
de um homem já morto. nem o morto
nem a mosca sabem – como nós sabemos,
e como! – que o homem está morto.
nem o morto nem a mosca sabem
o que é a morte, o que é a vida,
o que é o homem, o que é a mosca.
dormem as moscas? onde dormem e o que sonham?
não é fácil entender uma mosca,
seu motor antiquíssimo, seu terrível
hálito sem cheiro, a febrícula, a alegria maníaca
diante dos restos.
não é fácil entender, enquanto se vela,
a mosca que voa
do rosto baldio, a mesma que pousa
em cima deste canapé.
Rodrigo Madeira, do livro O Latim das Moscas, ainda inédito
domingo, 24 de novembro de 2013
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Um comentário:
Gosto de pássaros, que se alimentam de moscas sem nenhuma "pena". Rodrigo está melhorando a cada dia suas descrições mórbidas. Falará ele de mariposas, cigarras, percevejos, bichos-barbeiros. Duvido que faça uma descrição fiel de um bicho-barbeiro atribuindo alma humana a estes insetos.
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