derredor
tudo é uma única carne,
massa de sangue e manhãs,
um único crime e milagre;
nas contorções do ar,
a mesma espessura do minério.
piso folhas secas, manchadas
de outono e icterícia.
avanço, anjo carnívoro,
enfiando os dedos azuis nos
bolsos furados do existir, nas
alegrias de alto teor alcoólico, nos
instantes como sais de prata,
frutos, fósforos.
caibo inteiro em minha solidão.
não estou só.
um perfume gordurento do corpo
(nu sob as roupas) rói mucosas e
epidermes e
me impele ao reino onde sou
bicho, outro, construção remedida
pelo arqui-
teto de estrelas. meu fedor
é uma chama! me depõe nova-
mente sobre as árvores.
eis que vejo: o louva-a-deus.
olha-me como
se eu fora de fora,
alienígena, um cão sobre a jangada.
olhamo-nos
circunspectos.
será que pensa, será que sofre
quando curva a cabeça, beato e fera?
remexe o espéculo de antenas
(não dirá palavra),
experimenta as asas,
mantídeo de entre folhagens.
penetro hipoteticamente
sua armadura
em verde-escarro,
ou por baixo
seu espigão fracionado
e ausculto
a víscera espumando morte
e espanto.
existe nele um rancor que é meu,
uma alegria radiante.
louvamos ambos,
de espinhos armados,
o sol que brilha indiferente
sobre deus e o mundo.
Rodrigo Madeira/ extraído de seu blog às moscas http://rodrigo-madeira.blogspot.com.br/
domingo, 30 de junho de 2013
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2 comentários:
De toda abordagem clínica da linguagem filosófica na qual eu incumbo e sucumbo o ego à sua significação lógica última no filtro literário percebo: A dimensão do inconsciente, a aposta na liberdade; - toda regra é "a priori" semiótica básica da forma - A liberdade que encontramos em explorar os horizontes da linguagem se limita à subjetividade das elites na medida de sua concordância ou discordância. É verdadeiro que muito do pensamento intelectual da literatura se reduz à mera descrição do modo austero de vida burguesa opulenta. Daí a rebeldia cacofônica de muitos artistas, ancorados na psiquiatria da opressão há séculos. Espero que a razão e a lógica libertem a humanidade do sofrimento psíquico e sirvam de consolo transitório do refúgio na forma estética da liberdade, que existe na condição da existência que é o reconhecer " o outro" como também existente. O blog curitibano Pó e Teias cumpre seu papel [politicamente correto?] de "estimular" sensorialmente as percepções curitibanas para a arte, a poesia e também a bela filosofia de Heráclito. Creio que devamos deixar a percepção subjetiva do patológico amor pelo poder, diagnosticado na contra-mão da História, no solo fértil da bela literatura brasileira, carente de forma, lógica e sentido matemático por vezes na excelência da simetria proletária, sobretudo.
Levaria horas para fazer uma análise morfológica onírica dessa pequena e frágil parábola, situada aos pés de uma crítica literária sólida que descrevesse com não tanta perfeição taxonômica um mero insetídeo [" cujo nome científico não se observa no corpo ou no todo" ] de maneira simbólica do real. Nessa apercepção simbólica do real do inseto, ele também frágil e leve na solidão - em sua transposição para o simbólico - ; observamos um exercício imagético interessante, ou seja, "ad infinitum", comparar um homem com um inseto é sempre edificante no humanizar o autômato com nosso cruel hedonismo.
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