Pan and Syrinx - Edmund Dulac
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Hino de Pã
Das florestas e fragas,
Chegamos, chegamos;
Das ilhas fluviais onde as vagas
Vão se calando
Por ouvirem meu doce flauteio.
O vento nas canas e juncos,
Abelhas nas flores de timo,
As aves e os murtos juntos,
Cigarras nas copas ao cimo,
E os lagartos embaixo no solo,
Emudecem igual ao vetusto Tmolo,
Por ouvirem meu doce flauteio.
Fluido, o Peneu corria,
E todo o Tempe fundo
À sombra do Pélion cobria,
Pela tarde, o sol moribundo,
Veloz com meu doce flauteio.
Os Faunos, Silvanos, Silenos,
E as Ninfas do mar e silvados,
Às margens de aquosos terrenos,
E o limiar de grotões orvalhados,
E todos que, atentos, me favoreceram,
Por amor, como vós, Apolo, emudeceram,
A invejar meu doce flauteio.
Cantei da dedálea terra,
Cantei dos astros em dança,
E o Céu — e a gigântea guerra
E Amor e Morte e Esperança —
E então mudei meu flauteio,—
Cantando como encalcei a donzela
No menáleo vale e agarrei um caniço.
Deuses e homens, eis nossa mazela!
O logro que o cor faz sangrar, quebradiço:
Fora vós, o olhar de todos mareja,
Não tivésseis frio o sangue por anos e inveja,
Pela dor do meu doce flauteio.
Percy Bysshe Shelley/ tradução de Adriano Scandolara
Hymn of Pan
From the forests and highlands
We come, we come;
From the river-girt islands,
Where loud waves are dumb
Listening to my sweet pipings.
The wind in the reeds and the rushes,
The bees on the bells of thyme,
The birds on the myrtle bushes,
The cicale above in the lime,
And the lizards below in the grass,
Were as silent as ever old Tmolus was,
Listening to my sweet pipings.
Liquid Peneus was flowing,
And all dark Tempe lay
In Pelion’s shadow, outgrowing
The light of the dying day,
Speeded by my sweet pipings.
The Sileni, and Sylvans, and Fauns,
And the Nymphs of the woods and the waves,
To the edge of the moist river-lawns,
And the brink of the dewy caves,
And all that did then attend and follow,
Were silent with love, as you now, Apollo,
With envy of my sweet pipings.
I sang of the dancing stars,
I sang of the daedal Earth,
And of Heaven — and the giant wars,
And Love, and Death, and Birth,—
And then I changed my pipings,—
Singing how down the vale of Maenalus
I pursued a maiden and clasped a reed.
Gods and men, we are all deluded thus!
It breaks in our bosom and then we bleed:
All wept, as I think both ye now would,
If envy or age had not frozen your blood,
At the sorrow of my sweet pipings.
Percy Bysshe Shelley
Hino a Pã
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Mestre Therion [Aleister Crowley]/ tradução Fernando Pessoa
Hymn to Pan
ephrix erõti periarchés d' aneptoman
iõ iõ pan pan
õ pan pan aliplankte, kyllanias chionoktypoi
petraias apo deirados phanéth, õ
theõn choropoi anax
SOPH. AJ.
Thrill with lissome lust of the light,
O man! My man!
Come careering out of the night
Of Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan! Come over the sea
From Sicily and from Arcady!
Roaming as Bacchus, with fauns and pards
And nymphs and satyrs for thy guards,
On a milk-white ass, come over the sea
To me, to me,
Come with Apollo in bridal dress
(Shepherdess and pythoness)
Come with Artemis, silken shod,
And wash thy white thigh, beautiful God,
In the moon of the woods, on the marble mount,
The dimpled dawn of the amber fount!
Dip the purple of passionate prayer
In the crimson shrine, the scarlet snare,
The soul that startles in eyes of blue
To watch thy wantonness weeping through
The tangled grove, the gnarled bole
Of the living tree that is spirit and soul
And body and brain — come over the sea,
(Io Pan! Io Pan!)
Devil or god, to me, to me,
My man! my man!
Come with trumpets sounding shrill
Over the hill!
Come with drums low muttering
From the spring!
Come with flute and come with pipe!
Am I not ripe?
I, who wait and writhe and wrestle
With air that hath no boughs to nestle
My body, weary of empty clasp,
Strong as a lion and sharp as an asp —
Come, O come!
I am numb
With the lonely lust of devildom.
Thrust the sword through the galling fetter,
All-devourer, all-begetter;
Give me the sign of the Open Eye,
And the token erect of thorny thigh,
And the word of madness and mystery,
O Pan! Io Pan!
Mestre Therion [Aleister Crowley]
Chegamos, chegamos;
Das ilhas fluviais onde as vagas
Vão se calando
Por ouvirem meu doce flauteio.
O vento nas canas e juncos,
Abelhas nas flores de timo,
As aves e os murtos juntos,
Cigarras nas copas ao cimo,
E os lagartos embaixo no solo,
Emudecem igual ao vetusto Tmolo,
Por ouvirem meu doce flauteio.
Fluido, o Peneu corria,
E todo o Tempe fundo
À sombra do Pélion cobria,
Pela tarde, o sol moribundo,
Veloz com meu doce flauteio.
Os Faunos, Silvanos, Silenos,
E as Ninfas do mar e silvados,
Às margens de aquosos terrenos,
E o limiar de grotões orvalhados,
E todos que, atentos, me favoreceram,
Por amor, como vós, Apolo, emudeceram,
A invejar meu doce flauteio.
Cantei da dedálea terra,
Cantei dos astros em dança,
E o Céu — e a gigântea guerra
E Amor e Morte e Esperança —
E então mudei meu flauteio,—
Cantando como encalcei a donzela
No menáleo vale e agarrei um caniço.
Deuses e homens, eis nossa mazela!
O logro que o cor faz sangrar, quebradiço:
Fora vós, o olhar de todos mareja,
Não tivésseis frio o sangue por anos e inveja,
Pela dor do meu doce flauteio.
Percy Bysshe Shelley/ tradução de Adriano Scandolara
Hymn of Pan
From the forests and highlands
We come, we come;
From the river-girt islands,
Where loud waves are dumb
Listening to my sweet pipings.
The wind in the reeds and the rushes,
The bees on the bells of thyme,
The birds on the myrtle bushes,
The cicale above in the lime,
And the lizards below in the grass,
Were as silent as ever old Tmolus was,
Listening to my sweet pipings.
Liquid Peneus was flowing,
And all dark Tempe lay
In Pelion’s shadow, outgrowing
The light of the dying day,
Speeded by my sweet pipings.
The Sileni, and Sylvans, and Fauns,
And the Nymphs of the woods and the waves,
To the edge of the moist river-lawns,
And the brink of the dewy caves,
And all that did then attend and follow,
Were silent with love, as you now, Apollo,
With envy of my sweet pipings.
I sang of the dancing stars,
I sang of the daedal Earth,
And of Heaven — and the giant wars,
And Love, and Death, and Birth,—
And then I changed my pipings,—
Singing how down the vale of Maenalus
I pursued a maiden and clasped a reed.
Gods and men, we are all deluded thus!
It breaks in our bosom and then we bleed:
All wept, as I think both ye now would,
If envy or age had not frozen your blood,
At the sorrow of my sweet pipings.
Percy Bysshe Shelley
Hino a Pã
Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além
Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!
Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,
Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul
No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!
Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!
Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,
Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,
Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
Ó Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra
Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado
Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.
Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,
Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Mestre Therion [Aleister Crowley]/ tradução Fernando Pessoa
Hymn to Pan
ephrix erõti periarchés d' aneptoman
iõ iõ pan pan
õ pan pan aliplankte, kyllanias chionoktypoi
petraias apo deirados phanéth, õ
theõn choropoi anax
SOPH. AJ.
Thrill with lissome lust of the light,
O man! My man!
Come careering out of the night
Of Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan! Come over the sea
From Sicily and from Arcady!
Roaming as Bacchus, with fauns and pards
And nymphs and satyrs for thy guards,
On a milk-white ass, come over the sea
To me, to me,
Come with Apollo in bridal dress
(Shepherdess and pythoness)
Come with Artemis, silken shod,
And wash thy white thigh, beautiful God,
In the moon of the woods, on the marble mount,
The dimpled dawn of the amber fount!
Dip the purple of passionate prayer
In the crimson shrine, the scarlet snare,
The soul that startles in eyes of blue
To watch thy wantonness weeping through
The tangled grove, the gnarled bole
Of the living tree that is spirit and soul
And body and brain — come over the sea,
(Io Pan! Io Pan!)
Devil or god, to me, to me,
My man! my man!
Come with trumpets sounding shrill
Over the hill!
Come with drums low muttering
From the spring!
Come with flute and come with pipe!
Am I not ripe?
I, who wait and writhe and wrestle
With air that hath no boughs to nestle
My body, weary of empty clasp,
Strong as a lion and sharp as an asp —
Come, O come!
I am numb
With the lonely lust of devildom.
Thrust the sword through the galling fetter,
All-devourer, all-begetter;
Give me the sign of the Open Eye,
And the token erect of thorny thigh,
And the word of madness and mystery,
O Pan! Io Pan!
Mestre Therion [Aleister Crowley]
ISTO É COISA DE:
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