A Petrópolis que ninguém vê
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Serras Infectadas
Todo dia se importando
mesmo que eu não faça
ainda continuo
Até quando?
Preso em terra firme
longe do mar
acima o céu, por vezes cinza
um chamado que por ventura sigo
Nunca mais velhos sujos!
colecionadores de desencanto
Aprendi o que não queria cedo, cedo
um pouco... Um pouco
Juntando tudo para não ser todo
Nunca mais velhos sujos!
Só há a lama para encharcar meus pútridos ossos de vinte anos!
O prazer de tangenciar o abismo
O que me faz andar e a outros cair.
Redson Vitorino
mesmo que eu não faça
ainda continuo
Até quando?
Preso em terra firme
longe do mar
acima o céu, por vezes cinza
um chamado que por ventura sigo
Nunca mais velhos sujos!
colecionadores de desencanto
Aprendi o que não queria cedo, cedo
um pouco... Um pouco
Juntando tudo para não ser todo
Nunca mais velhos sujos!
Só há a lama para encharcar meus pútridos ossos de vinte anos!
O prazer de tangenciar o abismo
O que me faz andar e a outros cair.
Redson Vitorino
segunda-feira, 28 de maio de 2012
No Osso
Dias duros, de ser zureta, por cansaço. Homem, em dever de reconstrutor, opera em extremo. Trecho da caveira, avariado, ocupa forças de todas partes. Ouve Bach e muitos. Olha o pé e olha o outro pé, quebrado. A doença fica oculta em pele, carne.
Um dia é de tocar só. Outro, muitas vezes, é igual. Homem toca. E abraça instrumentos e parceiros. Entre estes há máquinas, pássaros, assobiadores, passantes, infindos. É um mistério viver em mistério. Perguntas borbulham em calma. Doença ensina tristeza.
É jubiloso qualquer próximo e passo. Saltitar com par de muletas, dançar assim em três pernas, a ouvir um trecho de uma sonata, perceber-se a dizer, compulsivo, mais e mais e mais e mais: acontece. Tocar é o bom tom. Há cura.
Haroldo Machado
estórias do senhor G.
I
O senhor G. viu o dia bonito nascer e ficou disposto prumas pedaladas, deixando a revolução pra outra hora:
- Depois eu volto, Bolo'Bolo, ironizou o senhor G.
Na calçada, subiu na magrela com intimidade zup!, deu um impulso, fez uma com a campainha, entortou uma árvore e chispou ladeira na quebra do meio fio. Zap! Glin! Lá foi ele, na rapidez oriunda das suas pernas.
Giuliano [Quase] Gimenez
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Paradoxo de Zenão
Aquiles,
o Carl Lewis da Antiguidade, -
Diz a doxa -
Não é capaz
De ultrapassar
Uma tartaruga.
Pois quando Aquiles se aproxima um metro,
A tartaruga avança um centímetro
Quando Aquiles avança um centímetro
A tartaruga já andou um décimo de milímetro
Quando Aquiles anda essa quantia
A tartaruga já deixou para trás mais um décimo de décimo de décimo de milímetro
E assim por diante
Ad infinitum.
Mas todos sabemos que Aquiles, no fim das contas,
Embora não tenha vencido Páris,
Vence a tartaruga.
Só se detém no paradoxo
Quem toma o réptil
Como referência.
Na vida real,
Aquiles não depende da tartaruga
E passa voando sobre o bicho.
Se no meio do caminho
De nossas vidas
Há uma tartaruga
Nossa felicidade não estaria
Em ser capaz
De dizer não
Ao paradoxo de Zenão?
Felipe Spack
sábado, 19 de maio de 2012
Tanatologia das Relações Humanas [2]
1. Diálogo sobre o fato de que ninguém é perfeito. Ou da insatisfação:
- Olhe, não se pode querer tudo numa pessoa só.
Ligeiro, ele saca:
- Então, por isso que você fica com vários?
Silêncio; ele insiste:
- E, em si? Você não encontra tudo?
Responde, ela;
- Tudo, é sempre muita coisa.
Ricardo Pozzo
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Homeless
Sequestraram-nos a palavra
Fecharam-nos o microfone à fala
Nós
Que pensávamos estar em casa
Sob o abrigo de um teto
Tivemos que voltar às ruas
Logo agora
Curitiba
Que o inverno se aproxima
E o surrado
Casaco do poeta
Puído
Não convém ao clima
Permeável a tudo
Até a garoa mais fina?
Fausto dos Santos
segunda-feira, 14 de maio de 2012
alma de cozinha
do pé da cadeira quebrada
da xícara lascada da avó morta
em matéria de poesia
até que ando bem,
pois o cérebro ligado ao microondas
faz cada omelete dos meus olhos que eu nem te conto.
Giuliano [Quase] Gimenez
quarta-feira, 9 de maio de 2012
ENCHAM-SE os forros da lembrança.
existam!
traia-se à maturidade
a verdura da infância.
a menina é arrancada do chão,
antes da escola,
da igreja, do trabalho,
dos carros e contas
e casamentos,
dos tribunais, asilos
e cemitérios,
como flor guardada
dentro de um livro
– enquanto a outra cresce,
adultescendo
pouco a pouco.
nunca mais a vi.
segurei-a nas palavras o que pude,
com minhas mãos
(as mesmas quando
de manhã na lâmina)
estropiadas
de ternura
e espanto.
não é apenas saudade,
menina,
é infânsia
Rodrigo Madeira
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Ó, minha flor cheia de moscas! Lhe escrevo essas horrendas linhas com o pulso aberto e usando chorume como tinta. Das ratazanas traiçoeiras aos dejetos dos porcos, tudo me remete a você. Da bosta vim mas a bosta não voltarei.Vamos construir um lar de detritos e despojos, onde não nos falte o fel nosso de cada dia. Um urubu esfomeado será nosso bicho de estimação, e mil corvos do lado de fora gritarão: “Nunca mais”. Nunca mais quero sentir a solidão! Na companhia de seus cravos e perebas encontrei a paz - palavra limpinha tal qual privada lavada- que tem sido a razão do meu apodrecer.
Pra você, bruxa pútrida dos meus pesadelos, digo até a vil palavra que rima com fedor e rancor. E me sobra sangue pra escrever: o amor, o amor.
Com tremor e desassossego,
Seu Estrupício das Dores.
Lucas Jeison - Conspiração Prosa Poética, 2012
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