quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

SINAL


Há um mar
revolto
que ressoa em volta,
e aqui dentro
um oceano
insone,
onde,
entre insignificados,
desencontrado,
me estranho.
Há um barco inerte
em qualquer parte,
uma rota incerta,
um princípio de canto,
não de pássaro
ou sereia,
mas de espanto
diante do sinal
da lua cheia.

Otto Leopoldo Winck

SINAL - II


Há por um lado
o universo,
recurvo, controverso,
e por outro
meu verso,
incapaz de penetrar
a névoa
e contemplar o sol
a olho nu,
verso cativo,
insignificante,
porém rebelde ao esquecimento.
Há também
uma lástima,
a lembrança de uma tarde,
um látego, uma bátega,
uma lágrima,
e no entanto
um canto
em qualquer canto,
um rumor de onda,
significativo,
guardado no interior
de
alguma
concha.

Otto Leopoldo Winck

jura secreta 140


para o Mar que mora em mim
o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora
mar de carne e osso
se eu não falasse ou não dissesse
esse relógio trágico
com seus ponteiros mágicos
arrastando segundo por segundo
tudo o que não passa tudo o que não cessa
o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas
só o céu é testemunha
desse instante único
em que passeio em tua pele
como uma flor de lótus
flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor
ou faca fosse mar de tanta espuma
com minha língua de espera
vou te mergulhar

Artur Gomes


http:artur-gomes.tumbrl.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Dura lição. Menina palestina desenha um tanque de guerra em quadro negro de escola em Gaza: livros didáticos ajudam a aprofundar o abismo entre árabes e judeus - Mohammed Abed/AFP/21-11-2012
Antipatias pessoais tornam-se odores pútridos a consumir o cérebro de inocentes educandos .

Como quer o professor, com suas roupas puídas e seu ar esquisito a  exalar  sentimento ocre e pesado de uma autoridade a qual já não mais lhe arma  a investidura .A índole autoritária de um saber encouraçado, agora não mais lhe cobre as vergonhas.Por traz do óculos não mais mira o firmamento , está cego no abismo de si mesmo  e mesmo assim , trôpego ,exige que o sigam pelo caminho dos desfiladeiros do conhecimento cultivado no cárcere da sala de aula .

Um tirano assassino do lazer o professor cobre de pranto o sorriso do corcel desimbestado da juventude .

O Trabalho de quebrar as pedras da ignorância liberta, mais o escravo do gozo quer se manter preso a escuridão das luzes das festas que o cegaram.Aquela escola que o Quasimodo de jaleco quer transformar num Campo de extermínio da preguiça mental, conquanto na verdade , para além daquela barata burocrática kafkiana, é um clube, onde vivem felizes os cegos de consciência na mais inimputável anomia.

O ácido da permissividade vai espraiando a corrosiva leniência , mas a fachada,a máscara burocrática se mantém de  pé.

A sala de aula uma pipeta com reagentes químicos instáveis na mão de um chimpanzé ;segue qual a saga de um roto jaleco a busca de um professor que saiba construir horizontes onde só encontra cristais quebrados , vidros cobertos de limo e quando encontra uma luz, ela só se mostrará um sol bem longe daquelas paredes , daquela porta sem trinco da cinzenta sala do pantagruélico saber desertor .Do cobarde professor que encolheu sob o pesado  jaleco que o sufoca.

A faminta necessidade de devorar o sol os corações só trouxeram tempestades em ímpetos de perpétuos presentes no signo da juventude .Almas livres voam até se estatelarem , enquanto voam voam até o sol, se sobreviverem aprenderam.Campos de trabalho mental forçado , salas de tortura , professores carrascos livrai-nos !Eles são o para -raio , a âncora ,o farol mas são apenas o papel das provas com símbolos indecifráveis ,o papel deixado no chão da sala ao gazearem a última aula.

O sabor do saber como hasabi  tempera a alma ,afasta as certezas que tranquilizam e nos fazem dormir depois das baladas.O aprendizado é árduo e a consciência um travesseiro de seixos .

Aquela caneta estourada não tinha mais como escrever mais um parágrafo que não fosse Adeus.


Wilson Roberto Nogueira 

Astronaut Neil Armstrong photographed on moon as mission commander for the Apollo 11 moon landing on 20 July 1969
As ruidosas rugas do muro no
silêncio de um céu árido
clama por justiça;
por Pão e paz,
por  terra e trabalho
na testemunha do sangue anônimo
assinado em sua pele.


Wilson roberto Nogueira
A Via Láctea vista a partir da Terra ESO

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Antipatias pessoais tornam-se odores pútridos a consumir o cérebro de inocentes educandos .

Como quer o professor, com suas roupas puídas e seu ar esquisito a  exalar  sentimento ocre e pesado de uma autoridade a qual já não mais lhe arma  a investidura .A índole autoritária de um saber encouraçado, agora não mais lhe cobre as vergonhas.Por traz do óculos não mais mira o firmamento , está cego no abismo de si mesmo  e mesmo assim , trôpego ,exige que o sigam pelo caminho dos desfiladeiros do conhecimento cultivado no cárcere da sala de aula .

Um tirano assassino do lazer o professor cobre de pranto o sorriso do corcel desimbestado da juventude .

O Trabalho de quebrar as pedras da ignorância liberta, mais o escravo do gozo quer se manter preso a escuridão das luzes das festas que o cegaram.Aquela escola que o Quasimodo de jaleco quer transformar num Campo de extermínio da preguiça mental, conquanto na verdade , para além daquela barata burocrática kafkiana, é um clube, onde vivem felizes os cegos de consciência na mais inimputável anomia.

O ácido da permissividade vai espraiando a corrosiva leniência , mas a fachada,a máscara burocrática se mantém de  pé.

A sala de aula uma pipeta com reagentes químicos instáveis na mão de um chimpanzé ;segue qual a saga de um roto jaleco a busca de um professor que saiba construir horizontes onde só encontra cristais quebrados , vidros cobertos de limo e quando encontra uma luz, ela só se mostrará um sol bem longe daquelas paredes , daquela porta sem trinco da cinzenta sala do pantagruélico saber desertor .Do cobarde professor que encolheu sob o pesado  jaleco que o sufoca.

A faminta necessidade de devorar o sol os corações só trouxeram tempestades em ímpetos de perpétuos presentes no signo da juventude .Almas livres voam até se estatelarem , enquanto voam voam até o sol, se sobreviverem aprenderam.Campos de trabalho mental forçado , salas de tortura , professores carrascos livrai-nos !Eles são o para -raio , a âncora ,o farol mas são apenas o papel das provas com símbolos indecifráveis ,o papel deixado no chão da sala ao gazearem a última aula.

O sabor do saber como hasabi  tempera a alma ,afasta as certezas que tranquilizam e nos fazem dormir depois das baladas.O aprendizado é árduo e a consciência um travesseiro de seixos .

Aquela caneta estourada não tinha mais como escrever mais um parágrafo que não fosse Adeus.

Wilson Roberto Nogueira 



domingo, 6 de setembro de 2015

Soa a sirene
O muro clama a chama da palavra
Antes o silêncio
Um cartaz sorridente mascara a fome da palavra
Agora só
Dorme o sem teto acorrentado na sombra
a imensidão
bradando a bandeira de sonho
A revolução.
Acordou em chamas.
Cinzas da luta de classe.

Wilson Roberto Nogueira .
As ruidosas rugas do muro no
 silêncio de um céu árido
clama por justiça;
por Pão e paz ,
por  terra e trabalho
na testemunha do sangue anônimo
assinado  em sua pele.


Wilson roberto Nogueira 
Sob o lençol de jornais embriagados sonhos repousam na cama de papelão.
Entre assassinatos, estupros e corrupção dorme o súdito da escravidão
Correntes pesadas como o ar que não consegue tragar
quando corre trôpego em seus sonhos de liberdade
ao morrer   a cada céu sem estrelas como essa noite
noite  que só não corta com lâminas de gelo porque os papeis
das lágrimas das almas dos anjos sem paradeiros
Tornaram-se um cobertor pesado
a amarelada e  suja mercadoria .


Wilson Roberto Nogueira

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

I° Guerra Mundial
Na Galaxia onde só havia um mundo um imundo ser dourado salgou o sonho doce do mar de alguma lua que sonhou ser planeta planta com uma medida diretiva do Altíssimo Estais Reprovado! Nota Zero!


Wilson Roberto Nogueira
Sala de redação do jornal O Estado de São Paulo, 1918
Na repartição o esporte apreciado era a ironia venenosa; a cooptação de almas pela compra não fiduciária de projetos de ocasião. A adesão á mesquinharia fazendo do cotidiano uma escalada estéril de micro-poderes ilusórios. Esgrimas de necrófagos sob a névoa... Dentro de cavernas em tribulações compulsórias arrastam-se escravos de pesadas correntes a mirar espadas sob suas cabeças comprimidas.


Wilson Roberto Nogueira
Isaac Asimov
Um grande exorcista dos meus demônios é uma folha de papel. Entrei na morada com móveis velhos revirados.A disputa pela mobília uma vida de conflitos. Velhos baús de uma vida de retalhos à desnudar se na nevasca. ela usou os retalhos de sua alma para a(s)cender a sua alma uma fogueira que a pudesse aquecer do seu útero um feto que exalasse as ruínas de seus pesadelos .


Wilson Roberto Nogueira

sentimentos estalam  nos ossos
dos cinzas dos ossos
um cinzeiro cheiro  de sentimentos
soprados para longe num suspiro
só sentimentos em pó de asas invisíveis.
Só ossos que sonharam na força da carne
Sentimentos sem palavras
Restam lavras de ossos sob o sol
Só o sal e o sal nos ossos
Animais provam de seu sabor
Ossos estalam sob o sol
Só a salobra poesia na areia
Acariciando o vazio dos olhos

Da caveira.



Wilson Roberto Nogueira
Sir Richard Francis Burton

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

no zoológico

no zoológico
ao ver que o tigre filhote
engasgou perigosamente
com o suculento pedaço
de carne do almoço
a mulher não pensou duas vezes
pulou a grade entrou no fosso
foi de encontro ao animalzinho
que então jazia inconsciente
e nele fez a respiração
a respiração boca a boca
o tigre pai por sua vez
não sabendo como agradecer
mas tentando tentando
ficou engasgado
com a suculência da mulher

Luiz Felipe leprevost


quarta-feira, 22 de julho de 2015

SUPERNOVA


da madeira o fogo
do jogo o ar:
as sentinelas ao avesso
sem dono
e sem cessar
do querer o canto
num só canto da lua
ela e eu mesma
a janela
o fogo
e o ar e a resma
da centelha
às terras escuras
Morfeu em seu hangar
ao querer ela nua
a noite farta
de madeixas
sem lugar
logos fartos
nas curvas vermelhas
e longas
e os fatos
a voar
nas alturas
do amorfo formato
centelhas de cobre
cobrem-me de luar
no calor do arremesso
a voz há de cantar
o fogo teu
eu amarei o ar
o meu amor
do fogo à madeira
do calor
até a luz
do teu brilhar

Samantha B. S.
Um grande exorcista dos meus demônios é uma alva folha de papel.
A porta onde entrei na casa de móveis virados carcomidos miravam conflitos .
Velhos baús onde sepultos velhos retalhos sonhavam sonhos de sangue
Sob a mesa o leito de insepultos desejos alimentando correntes de angústias
Vidas nuas nadando sem asas  nas nuvens sem  acarinhar formas só sombras
Nuvens em nevascas logo fechando portas aos  passos que não brotavam mais
ruínas de incêndios  contando nas labaredas do silêncio  a lágrima da alma..

Wilson Roberto Nogueira

ADEUS


O adeus que não lhe dei
seria em forma
de uma viola
cidade onde eu morei
a sua e a minha morte se completam
numa canção de vento
e canavial
carros de boi
berrantes nas tardes quentes
tudo mastigado e só
vontade louca de amar
por suas ruas
maceradas de solidão
seara seca do cérebro
toda a saudade depositada
numa urna que não se abre
cerrando para sempre
minha alma distante
vazia de mim


-Bruno Junger Mafra

em "A Valsa Esquecida" , p. 99

domingo, 12 de julho de 2015

Andy Warhol photographed by Evelyn Hofer in his studio (1962)

O Jovem que pedi a Deus

Boa educação,
sensível, revoltado,
senso de justiça apurado.
A idade vai,
você fica.
Em nosso relacionamento
eu mando,
mas você não crê
não cria nem faz.
Patina.
Neurônios, vontades
eu no comando.
Todo mundo vê.
Menos você.
Em meio a densa
fumaça verde
pais, irmãos e filhos
pra quê?

Altamente contagiante
atinjo a todos,
tragando ou não.
Marche para mim.
Marche para mim.
Meu grilhão é doce.
Meu efeito é bom.
Quem não gosta
que se esfume.
A dor me alegra,
matar e morrer.
Quando você partir,
acharei outro
jovem que pedi,
adeus!


Deisi Perin

domingo, 5 de julho de 2015

Meu tio avô


De passagem pelo interior de São Paulo,, cidade de Avaré, onde meu tio avô foi morador, procurei saber de algumas historias do meu antepassado, para recontar aqui. Pela boca dos antigos corre que meu tio avô, , era solidário, uma pessoa generosa ao ponto de dividir seu prato de refeição, caso não tivesse mais na panela para servir aos andarilhos que passavam famintos em frente da sua casa, porém sempre que percebia que o viajante fazia cara de mau gosto ao provar o tempero da comida, meu tio avô matava o pobre coitado com um tiro na boca. Foram trinta e cinco refeições não terminadas.
Desse modo, não me falaram, mas creio que meio tio avô amava demais minha tia avó, e ela cozinhava mal pra caramba!

JDamasio

Rascunho

quarta-feira, 17 de junho de 2015

keygross.wordpress.com

Moira

   O olhar vidrado no risco trincado do vidro da janela, risco trincado do vidro que corria até a parede confluindo na rachadura dela, rachadura da parede que seguia até o chão e continuava no risco da madeira do assoalho , risco da madeira do assoalho que subia pelo pé riscado da mesa , pé riscado da mesa que  encontrava o fio da toalha de crochet desfiada, fio desfiado da toalha de crochet que encontrava um filete vermelho no tampo da mesa, filete vermelho de onde surgia um novo encontro, encontro com a linha da mão - a chamada do destino - linha que estava quase escondida pelo fio da navalha .

Susan Blum
Novelos Nada Exemplares.Londrina , Pr: Amplexo Editora, 2010. p 79

Irene inteligente

Para os poetas M.B.

Irene não pede licença, pois sabe de seus direitos.
Irene não xinga e entra à força, pois sabe de seus direitos.
Irene preta, Irene boa, nem sempre de bom humor, Irene humana.
Irene estudou, Irene conhece as leis 9459/97  e  7716/89.
Irene ...Apenas uma mulher querendo entrar...


Susan Blum
Novelos Nada Exemplares .Londrina , Pr: Amplexo Editora, 2010. p 107

Marés Curitibanas



Endomingado no pântano das saudades daquele sol senegalesco, desfolhando, empilhando essências de volúpias e arrebatamentos. Nada como o verão para tomar o vinho das ânforas, fêmeas mais suculentas e lânguidos seus movimentos, convidativos seus olhares. Sol queimando corpos e refrescando de suor, revelando contornos velados em seda sorridente de transparências, vontades.

Janela suada imagem de sonho, abre o oceano, ela corre e pára, olha com olhos de oceano. Está como sempre esteve, Eva no Paraíso, vestida de suor e sorriso. Atravessa a cidade a pé, a pé nos caminhos pluviais, rios-artérias-urbanas, afogadas, afogadas de prazer sereia, de uma sereia curitibana.

Tu és a benção e o perdão deste clima niñes de monção atrapalhado, fala o bengali brasileiro que ama a água, como ama o amor que o pensamento leva, olhando aquela lótus que conduz ao Kama Sutra. Vapores enevoados de sonho despertado no coaxar de um sapo infeliz, perdido no charco ao desmaiar da noite preguiçosa, que não quer chegar.

E há quem prefira os becos escuros, dos excrementos da cidade, seu pus e náusea, suas secreções e odores de cloaca e morgue macróbia, onde a brisa faz a curva para não parar diante de um muro de farrapos e arames, hera e pesadelo.

A Curitiba do caminhante não é um esgoto a céu aberto, onde famílias-gabirus se apinham em cavernas de papelão, onde a vida vale a viagem de uma pedra.

Sonha os marés e arrecifes da bela cachopa molhada. Não a cotidiana realidade que sangra todos os dias de lamento a mãe que perdera o filho em um incêndio, porque tinha que trabalhar para alimentá-lo e não tinha com quem deixá-lo, deixou nas mãos de Deus que preferiu jogar dados na areia humana.

Que futilidade deitar emoções – vivas pequenas histórias a cada sutil movimento, se o Tsunami arrasta da terra bibliotecas vivas contidas nas cores, vozes, cheiros e temperos de povos inteiros retornando do inferno marinho só cinzas e cascas, cinzas junto aos restos dos condenados a sobreviverem aos seus entes queridos.
Um camaleão agarra com a língua uma libélula.

A cidade continua sendo construída e desconstruída no caleidoscópio da memória de um sonho, no trôpego caminhar de alguém que pensa estar acordado, caindo e caindo como em todas as manhãs, mergulhando no abismo.

Qual a finalidade da vida, além da dor, da mãe urrando sob o cadáver do filho ou é a completa ausência de si, como aquela que defeca a prole na privada. Um lapso, uma fronteira de papel separando instinto de razão, natural e social, a dor de uma só é mais profunda, mais próxima do que açúcares diluídos na água, estatísticas, meros números, alguém vê atrás dos números, rostos, sentimentos, histórias?

Continua em Curitiba, caminhando, o sapato já se dissolveu em mais uma lagoa entre a calçada e a rua-rio, em uma cidade que foi projetada para a civilização do automóvel, mesmo havendo eficiente rede de transporte urbano, lá está a horda de carros com uma única pessoa, afinal o carro representa status e poder sobre os sem-automóveis, poder de matá-los como moscas ou a eles próprios nos rachas. A propósito dependendo da carruagem pode-se pescar cada peixe-gata!

E mais um banho de graça no passar do rodante.

O catador de papel, homem-cavalo, puxa o carrinho, dentro uma criança no meio do lixo reciclável, ela segura uns vira-latas, nada mais Chapliniano, nada mais ilustrativo.

A chuva para, e pensa. A calmaria sem força, desfalecida dorme e uma parcela de si morre um pouco, sexo rápido da natureza com a cidade. Tsunami foi o sexo de uma ninfomaníaca com um estuprador, o homem estuprou a natureza e a natureza o matou de tanto fazer amor. A água é nosso berço primal, o líquido amniótico é o nosso quente mar onde os humores do afeto nos chegarem vibrações acariciantes ou em ondas revoltas dependendo da mãe terra onde estamos germinando. Assim é entre a Lua e os mares, do oceano e de nossas formosas fêmeas.
Chega que estou ficando diabético.
Para comer uma portuguesa lá na esquina o caminhante pára, e o pizzaiolo sem precisar que o freguês solicite, já sabe e diz: “- É pra já doutor em dez minutos a pizza portuguesa com borda recheada de catupiry estará pronta”. Ouve, porque ouvir não pede licença, a voz das ruas, uma esganiçada, outra, que exigiu toneladas de nicotina para produzir aquela voz cancerosa que causa arrepios nas cordas da harpa sensível de Grisette.

Nada como uma catástrofe colossal para que se extraia do ser humano o que ele tem de melhor, e de pior, praticamente toda a grande potência se mobilizaram para levantar recursos aos países afetados pelo “Tsunamis”, os artistas, o Schumacher endinheirado, os povos do planeta estão fazendo doações até o Timor, que é um país pobre doou o que não tinha, proporcionalmente doou mais do que os sovinas EUA do Bush, que prefere gastar para destruir, matar e saquear, deixe quieto, os americanos verão cortes na previdência, ensino público mas continuaram votando na quadrilha dele, porque quem elege nos EUA é o capital, que comanda a economia dos estados mais poderosos, com mais votos no colégio eleitoral deles, nos pequenos estados ele também tem voto, lá também tem os grotões como aqui, com mentalidade pré era da razão. Os Estados Unidos percebeu que perderia a corrida para japoneses, alemães e britânicos o quanto não lucrariam reconstruindo os resorts, abrindo financiamentos e de quebra puxando o tapete da influência chinesa, cada vez mais percebida como superpotência emergente, mas vieram os caipiras canadenses e atravessaram o samba com uma ideia estapafúrdia, de perdão da divida dos países como Sri-Lanka, Índia, Indonésia, Tailândia, Maldivas, Seychelles. De vagar com o andor, os banqueiros achariam esbanjamento de bondade, uma moratória de cinco anos, e claro haverá compensações para os tubarões e não só aos cevados tubarões do Índico, àqueles de Nova Iorque, Londres, Zurich.

Banqueiros não fazem caridade e o Tio Sam se apressou em declarar que não haverá um Plano Marshall para a região (nem um Plano Colombo como houve para o Japão). O Brasil mostrou presença e a ponte aérea da FAB levou o coração do nosso povo fraterno para minorar os sofrimentos dos flagelados, nossos irmãos asiáticos, doando remédios, alimentos não perecíveis, água potável, roupas e é claro de contrabando algumas urnas para os votos dos sul-asiáticos para as pretensões do Brasil ao assento no Conselho de Segurança da Onu, o que supostamente nos conferiria um status de potencia com direito de vos e vez através do veto. Pena que não tínhamos aviões suficientes para levar os mantimentos, isso requereria algo além do discurso, para sermos uma potência precisamos nos impor também com o que temos para não pagarmos mico. Tomara que sobre uma oportunidade de negócios para a Petrobrás, Odebrecht, Gerdau.
O vizinho da mesa não só tem de podre o hálito, cuja fumaça chega ate aqui, invisível e nauseante, mas o quanto de falso há no que disse?

Finalmente a gostosa chega e dá-lhe Gallo. E a noite chega com um choro soluçado de uma garotinha de olhos verdes afogados em lágrimas, com a mão suplicando uma moeda, o desconhecido deu um pedaço de pizza para ela e embrulhou outro em um guardanapo para que ela o levasse para casa, ela coçou o nariz deu um sorriso e foi embora, apareceu um guri e ela deu o outro pedaço para ele.

Pensou. Chaplin outra vez, a cidade tem sua canção, sua poesia basta ter olhos para ver, pena que haja tanto tempo escasso em pressas viciantes de escravos voluntários. Pressa que consome uma vida objetivada em coisa, em máquina o homem, peça de uma engrenagem sem finalidade, estéril semeadura de clônica mediocridade cotidiana.

Falou o filósofo, do que uma vodka não é capaz. O álcool abre a porteira para a boiada do imaginado, do irrefreado adquirir substância no real sem fronteiras dos atos valentes na verborragia cachoeira de grunhidos gritados como orquestra de um homem só, desafinado e desafiador desalinho e abandono de si como aquela garrafa voando ou aquele que dorme em meio aos produtos de seus intestinos extrovertidos a cantar. 

Enfrentar sóbria a vida requer fibra e coragem o que não é fácil. A vida ela própria age como uma mãe bêbada ou um pai, progenitor que violenta a filha como se quisesse fazer-lhe um carinho mas a marca para o resto da vida.

 O caminhante com seus passos tropeças em suas próprias pegadas, se perde e perde-se  nas sendas, nas clareiras enganosas da floresta que pensou transpor, segue intuindo o caminho na confiança cega de um rio, que mais uns metros dentro da escuridão seca, secando a esperança de sair dali. Dorme na madrugada eterna nem um pio de coruja ou uivar de lobos, nada além do silêncio. Está morto, a morte é o vazio onde ele permanece na escuridão. Será o inferno ou ele estará no sonho de alguém, estará ele sonhando?

Caindo, caindo a queda sem fim, escuridão, onde estará, um eco seco na garganta, angustias, uma súplica ao sorriso da sorte, de encontrar enfim o fundo, o fim, que seja agora, mas apenas a vertigem eterna dos condenados, pesadelo, qual é a saída, e, sair do que, do vazio.

- Você já acordou com a sensação de se estar caindo? Fugindo do inferno de existir, voando por cima de si olhando a carcaça apodrecer.


Wilson Roberto Nogueira



Muros II



Países abandonados canibalizam suas populações expurgando cada fibra humana, empilhando em pesadelo seus restos transformados em diamantes, urânio, ouro, petróleo, mais além de seus rins, fígados pulmões e sangue, o sangue verde de sua pujante riqueza tropical, da biblioteca contida em suas raízes culturais, na tradição de seus autóctones patenteados, que jamais terão suas moléstias curadas em prol da saúde e a prosperidade das fortalezas setentrionais.

Aos pés dos muros, fugitivos da angústia, expropriados de seus órgãos, de suas famílias famélicas se arremessam à luz esfumaçada da França, Espanha, Itália e são devidamente expelidos após serem usados. Caem aos montes, às moscas da carniça de seus sonhos, a desilusão, o sonho de fazer a América, que quer braços e não bocas sobram presídios cinco estrelas para aqueles que não terão vaga nesse arame farpado estendido no alto dos arranha-céus onde as feras do desemprego fazem suas vítimas.

Muros onde cada tijolo é um auto-engano da boa sociedade burguesa, hipócrita, purgando suas consciências, dando esmolas, atuando no teatro paternalista de medidas paliativas, de politiqueiros de plantão, na cordialidade estudada de preconceitos velados, manifestos no vidro de seu caviar, se espraiando dos incluídos nas calçadas, ignorando o direito de ir e vir da massa amorfa e pútrida das não pessoas.
A elite nos países desmoronando tal o peso de seus muros sociais, econômicos, psíquicos.

Os construtores das barragens para conter a barbárie não se veem bárbaros, sua autofagia virótica, porque anular no outro o resultado do flagelo que provocam, escondem no sótão o quadro purulento de seus excessos, o poder produzido através do acúmulo pela expropriação, pela concentração das riquezas a partir da contração de oportunidades, sem olhos para ver a luta ciclópica, caminham para o suicídio, atentam contra o seu próprio status e privilégios no arrancar da esperança da massa, tão estupefata em suas delícias, tão delirantes em suas obras, não veem se aproximar à queda de suas fortalezas, de seus muros e o fim da transfusão de sangue fétido que alimenta sua relação com o Estado. Afora seu protetor, o Estado, não podem se proteger da vingança das não-pessoas, das crianças de olhares sem luz.


Wilson Roberto Nogueira



Muros I


Todos os dias saltam do alto das muralhas do medo, restos de desespero, fantasmas sem grilhões. Feridas rasgadas, sulcando de quente sangue a pele negra, herança do sofrimento no arame farpado da opressão. Os cães do ódio ladram e seus dentes cravam na carne suja e apodrecida da escravidão.
A afluente aristocracia – dos eupátridas pós-modernos do alto de seus palacetes – quer perpetuar seu fausto enfastiado, com máquinas que não comam, não bebam e não se reproduzam, precisam de criados invisíveis que não ofendam com sua presença.

Os muros são fronteiras que protegem vós mesmos nos outros, a vossa humanidade, a obrigação de enxergar o contraste no espelho da exclusão. Denuncia da consequência da ânsia de acumular necessidades supérfluas, carência de necessidades reais da multidão zumbi, do lumpen.

Os muros correspondem ao medo de se verem despojados de suas histórias, construídas dos espólios da guerra fratricida entre a cria mais forte e a mais fraca da loba do sistema.

O abismo se agiganta, as trevas abatem as crias esquálidas do proletariado no esgoto da exclusão, embrutecendo suas vontades na voracidade da vingança, cristalizada no crime, incendiada nos entorpecentes, perdidas na sarjeta.

Os muros são construídos por todos que os exteriorizam na força repressiva do representante autoeleito , o Estado, forte diante dos fracos e fraco diante dos fortes.

É quando o subúrbio se levanta e o morro escorre para a calçada. O subúrbio clama por empregos e o morro por esperança na forma de pão e dignidade.

Cada tijolo ensanguentado, por quem é colocado?

Só o dólar e o pó atravessam os muros, se globalizam. As pessoas estão confinadas em seus pesadelos de consumo, chafurdando no lodo que transformaram as pátrias violentadas.
Caminham, não, se arrastam nas sombras, atravessam desertos guiados por coiotes, são espremidas em contêineres, vagam em barcos, escorraçados em sua esperança, lastros de fantasia, patologia. O não-lugar para as não-pessoas.

A estátua abre os braços, generosa aos miseráveis do mundo inteiro, generosidade de pedra, cláusula que esqueceram de gravar em seu pedestal de bondade:

"desde que tenham dinheiro ou voltem para suas cloacas do terceiro mundo após o expediente, pobreza terrorista que carregam em seus corpos...".

Muros represam o mar pútrido da pobreza, da violência, que agride e alimenta o revide. O muro que engole o berço.

A globalização dos muros erigidos, verdadeiras homenagens ao Apartheid. Os muros ideológicos derrubados a marretadas em Berlim não permitiram aos embriagados ver o quão inebriados de ideologia estavam. Outros muros foram levantados: na Coréia do Norte, em Israel ou na fronteira dos E.U.A. com o México; outros muros construídos com o imperativo de ocultar a agressiva presença do outro, o estrangeiro, que quer um lugar à mesa, um lugar ao sol.

Serviçais sentados à mesa dos patrões com seus modos de sarjeta, com odores fétidos e roupas sujas, restos devorados por suas próprias mães.


Wilson Roberto Nogueira 12/04/06

terça-feira, 2 de junho de 2015

F E R N A N D O - JB



Ele tem carteira de identidade
como tantos
ele tem CPF
com muitos números
possui carteira profissional
e muitas profissões
endereço fixo
de papelão
filhos com certidão
e uma companheira
para a vida inteira.
na linguagem dos governos
é um cidadão.
Fernando chegou chorando
olhos verdes congestionados
magro, barba por fazer
pedindo trabalho para viver.
Trazia a angústia da fome
dos filhos
que deixará sem comer
falava da falta de leite
falava de não roubar
o que lhe tinham roubado
desculpava-se por ter chorado
queria limpar banheiro
dizia: qualquer coisa posso fazer
minha sogra me chamou
mas nem ela tinha o que comer.
Fome de trabalho
de respeito
de direitos
Dor de abandono
de vergonha
de incompreensão.
Agonia, angústia e ira
remoem seu peito
em conflito chora.
o choro do
desencanto.
Não percebe Fernando
o peso das correntes
do sistema de opressão
que lhe nega o trabalho
quer lhe tira o leite
que lhe rouba o pão.
No rolar da lágrima
o grito da poesia:
"Prendam o ladrões da cidadania!!!"
Cidade, cimento, falta de emprego
que sofrimento.
Como dói estar só na grande cidade.
NÃO!!! Não quero roubar.
Só peço um pouco de leite
para meus filhos alimentar.
Roubaram-me tudo, menos
a dignidade.
Ainda restam-me lágrimas
e muita sinceridade.
Aqueles que não me compreendem
Que nem o tentem.
"Só compreende a dor da fome, quem a sente"


João Bello
fantasma que sombra faz seu presente coma passado. nas mãos apertadas nós avivam tortura. preso arrasta cego de amarras ludibriado julgar. deita comigo vestindo orgia em vasto pesar...


Flavia D'Angelo. In trapézio sem rede

Cara, tá faltando inspiração?


É que tu não foi no fundo ainda.
Lá na carne, no nervo exposto,
no tutano do osso.
Lá onde a esbórnia vira esgoto
e todo herói vira o seu oposto.
Tá faltando transcendência?
É que tu não foi no fundo ainda
desta nossa miserável existência.
E só depois do último círculo do inferno
que se pode aspirar ao céu
(ou a um purgatório decente que seja).
E a fé, amigo, é um dom
que só se concede aos desesperados.
Então, vai, mergulha fundo
no fundo sem fundo do poço,
do fosso, do lodo, do oco do universo.
Morde a carne e rói o osso.
E só depois volte aqui, cara, e faça um verso.

Otto Leopoldo Winck

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Depois da guerra


Nas ruas que serpenteiam o  caminhar dos  sorrisos provam  o ensanguentado sabor seco da  pólvora . driblam crânios os fantasmas que ora dançam em espiral fumaça o coagulado destino dos ausentes.
Ali ,enquanto o açoite da memória transforma os restos da morada em masmorra ,urra no coração a vida e a despeito das bombas semeadas e das vidas ceifadas ,o sorriso das crianças brindam o sol que dissipa as pegadas das sombras e seus  muros florescendo o aço da determinação  pedra por pedra até novas histórias
tenham como testemunha as paredes de mais uma esperança .


Wilson Roberto Nogueira

A Prisão o humo do ódio


A prisão estraçalha a razão e desconstrói o coração enterrando na merda a esperança
nas sombras que espreitam à ladrar ferozes à noite   esmagando as ruínas ossificadas da alma
A lei pesa mais que a justiça e o som de sua voz uma oração distante cortando o céu em fatias
presas na grade de uma boca sem palavras num rosto sem face.
No continente de espinhos de aço e lodo  apodrece o pergaminho dos dias exalando estórias de fundas cicatrizes de portos em chamas sem barcos para aproveitar a maré da humanidade


Wilson Roberto Nogueira

sábado, 23 de maio de 2015

MEA CULPA VÍRGULA


A moral vigente é tão cristã
tão arraigada e cegamente       
— cristã
que mesmo entre não-cristãos
usa ela de um eterno mea-culpa-
-merda-maxima-maldade-
-vileza-porcaria-blablá-e-culpa
para autoflegelando-se
esmurrando o peito nu
absolver-se a si mesma.
E destarte adquirir a santidade!

Ora, o homem é mal, o homem é vil
o homem possui em si
o dominó dominante do pecado
original desde Matusalém ou Eva.
Assim eu, que sou apenas um homem
sou concupiscente
sou vaidoso, pecador
me chicoteio, sangro
e confesso: canonizem-me, então!
Amém.

Bem, eu de mim, sou bem o oposto.
Eu sou bom, sou puro de coração,
fiel aos amigos, às amigas
mas cruel, implacável – apolíneo
contra invasores do meu espaço.
Eu sou honesto, caseiro
mato mas não minto (muito).
E sou propenso a orgias de sexo
no meu próprio terreno
onde não dispenso as mais novas
nem sequer as consanguíneas
se o cio vencer-me o siso.
Eu sou sobrevivente, meio chacal.
Orgulhoso, mas covarde se convier.

Enfim: não tenho nada dos profetas
e sou a cara do meu Rottweiller!...


Igor Buys

15 de dezembro de 2010

HAICAI COM GASOLINA


Uns usam porque querem.
Outros proíbem porque querem.

A fogueira das volições está queimando gente viva!


Igor Buys

BAGULHO DOIDO


Enrola o bagulho
na borracha preta,
gasolina, erva
pneu sobre pneu.
Um puxa o fumo
e a pele do outro
estoura; nervo aflora,
ignora o barato, caro.
A gordura fervilha
numa poça, o cheiro
vai longe: folha doce,
banha viva chiando,
fumaças se misturando.

Um queima vivo, treme
outro se arregala, geme.


Poetrix de Igor Buys

14 de dezembro de 2010

ENQUANTO ISSO, NO COMPLEXO DO ALEMÃO...


Vovó, por que ele tá assim?
Porque ele tá descansando.
Descansando?
Sim.
Por que ele tá de olho aberto?
Porque ele descansou rápido demais.
Por a gente tá aqui?
Porque ele era seu pai.
Meu pai?
Sim.
E quem são eles?
Sussurrando: Polícia. Não olha pra eles.
Sussurrando: Por que eles tão bravos?
Porque tão com pressa de ir pra casa.
O que é isso?
Sua foto.
Você botou nele?
Sim.
Por quê?
Porque ele veio conhecer você.
É?
Sim.
Por quê?
Porque é Natal.
Vovó, o que é isso?
Presente, minha filha.
Você deu pra ele?
Sim.
Por quê?
Porque é Natal.
Vovó, por que ele tá rindo?
Parece? Vige, Nossa Mãe...
Por que é Natal?
Sim. Porque é Natal.


Igor Buys

HAICAI DE BOTAS


Homem de preto.
Homem de azul.
Homem de oliva.

De vermelho, a poça.
Botas.


Igor Buys

10 de dezembro de 2010

terça-feira, 19 de maio de 2015

Nem pessoas que gosto cumprimento. Abraço ou dou bom dia . Se me localizarem na rua ,precisam agir como urso de circo e mesmo assim penso que não é comigo. Não sei se acomodei a esse casaco surrado que é viver comigo mesmo que de taciturnos óculos vejo nas sombras o sentimento. Gosto das pessoas e as pessoas que não gosto não precisam saber , basta continuar a vida pois nada muda o que de atrofiado pelo desuso  encontra se .Bom , sou Eu e continuo sendo quem sou , penso que a memória do tempo tenha gravado no papel amarelado da vida o crocitar de grilhagens de afeto .Compreensão basta, entendimento e não colocar no vazio dos olhos a luz ou a falta de  ninguém. Vivemos espectros dourados procurando quem nos reconheça o brilho mas continuamos fantasmas .


Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A criança quer provar ao pai que é macho e provoca o tigre enjaulado, o tigre quer provar a cria do homem que é fera embora enjaulada e faminta a fera ameaça e baba enquanto vê seu almoço andando de um lado para outro; lembra das selvas de Bengala e morde o braço do pequeno Sahib.As presas do tigre puxam a carne dos ossos do pequeno homenzinho para alegria de seu pai , agora com a certeza da macheza de seu filhote.
Em torno desse cinema ,desse reality show tiram fotos de celulares os transeuntes, os mesmos que admiram a natureza morta após acidentes de trânsito só que nesses eventos ficam tímidos para fotografar.
Depois de uns longos segundos de orgulho o pai lembra que seu filho está exangue e pede ajuda afirmando que a imprudência do moleque quase custou-lhe a própria vida - a vida financeira do pai que terá que pagar por um caro tratamento- As pessoas em volta , depois de tirarem fotos , chamaram os guardas do parque e uma ambulância .Gritos de revolta e repulsa ao comportamento descuidado do pai correram por todos os caminhos das selva de asfalto e grades do zoo .
Com os nervos da alma queimando de remorso( como do ladrão que uma vez pego terá que cumprir uma sentença branda no inferno de uma masmorra brasileira ), colocara contra as grades a própria virilidade; da criança o espelho truncado projetando sua máscara ocultando o covarde olhando à distancia a fera a avisar com a urina o seu território . O desconforto do instinto da fera mostrou que o irracional era o homem.


Wilson Roberto Nogueira
As chamas estavam devorando a casa enquanto a madeira estalava
na fumaça subiam as sombras das vidas testemunhadas pelas paredes
nos olhos dos espelhos ou nas pálpebras das janelas da casa em chamas
a porta deitada no chão sentia o olor dos passos da memória dançando sobre si
A casa virou nuvem e choveu cinzas sobre as rosas dos túmulos
brotou da choupana um palácio feito de cinzas dos dias de ouro nos sonhos
da criança que morreu dormindo.


Wilson Roberto Nogueira
No coração do meu cansaço perdido me encontro no mais profundo mar.
Busco; enquanto ao torpor acorrentado estou, a chave de respostas que olvidei
Perguntas que ceifam meus dias tornando abissais os sois de minhas alvoradas
Nesse repouso indócil agigantam-se sombras como brasas gélidas de incêndios
incontidos cansaços de batalhas não enfrentadas que sugaram o sangue dos meus sonhos
Agora a fatura da minha deserção em viver com paixão e luta a vida que me brindara de desafios
abrira diante de mim esse oceano tal de sal e silêncio no meu último sepulcro.
No coração acorrentado as chaves são tuas incaroavel Sorte.
Fugidia consorte até tu ó Morte afastara-se em pesadelos dos meus sonhos de ouro e glória.


Wilson Roberto Nogueira
O rosto era um só sorriso preenchido por dois olhos de cristal
cristais onde  uma bailarina torcera os tornozelos
dançava triste aprisionada no ensolescido e árido coração
no rosto de mármore morava uma esfinge onde cortava um sorriso
sangrando histórias de véus e sombras.


Wilson Roberto Nogueira

terça-feira, 12 de maio de 2015


F fall / falls / fast / fell / flog

cabalgar un cavalo morto: que esporte tolo. preferimos vê-lo voar de novo, sem estrias dentro de sua baia, ou na sua falta, antes que caia: bem e vivo. e se ágil, que seja rápido como água, un saco brillante, que levou astucioso, que nenhuma porta o trava antes da fonte, nenhuma regra ou correia para nos deter em nosso trabalho até fazer os cascos de digitalização.


Uljana Wolf/ transcriação Ricardo Pozzo


F     fall / falls / fast / fell / flog

to flog a dead horse: vergeblicher sport. wir wollens lieber wieder fliegen sehn, ohne striemen stehn im stall, im herbst, in jedem fall before it fell: well & lebendig. und falls wendig, fast as water: schillerndes fell, wir striegelten faster, dass keiner einen riegel schöbe vor den quell, eine regel, oder riemen, oder was sich sonst hier schindend pflog. 


Uljana Wolf
O poeta e tradutor, doutor em literatura pela UFPR, Ivan Justen, no SarauBeat!

domingo, 10 de maio de 2015

Bagaceira

Troquei meu carro por um tapete voador, vesti meu casaco velho sem valor, quebrei meu único saca-rolha, passei horas com um plastico-bolha, esqueci de mandar aquele bilhete, varreram o lixo para cima do tapete, defecaram na estatua da praça, desgraça pouca não tem graça, comeram o pão que o diabo amassou, ha gente que não vai mas eu sei aonde vou, entupiram o saxofone, aumentaram o preço do Danone, sequestraram o papel higiênico, Putin não e fotogênico, puseram alcool no tanque de gasolina, adoçaram o café com cocaína, passaram manteiga no meu sapato, achataram o pé do pato, estragaram minha pizza com abacaxi, proibiram o bebê de fazer xixi, usaram limão amarelo na caipirinha, chamaram frango de galinha, acreditaram na Rede Globo, ovelha foi namorar lobo, paraquedista pulou de mochila, Francisco agora se chama Camila, fieis flertaram no sermão, evangélico e tudo irmão, dizer bom dia e ofensa, o povo pensa que pensa, ovo batido virou omelete, pisei firme num chiclete, abracei um gamba, nao sei se houve ou se ha, medi a fundura do poco, cobrei pedágio no fosso, catei conchinhas na praia, corri atras dum rabo de saia, escutei o violeiro só tocar por dinheiro, fui pra Franca e ignorei Paris, fechei a torneira do chafariz, dei um pontapé no traseiro do politico, fiz caminhar o paralitico, dei um cascudo num jacare, matei um bicho-de-pe, deixei Dylan sem harmônica, tomei gin sem água tônica, pus o relógio no pulso direito, conjuguei o pretérito mais-que-perfeito, dei um no no rabo do diabo, rebaixei o general para cabo, atirei o colete salva-vidas, esfolei vivo o Rei Midas, voei sobre a Amazônia, casei-me com a insonia, soltei as tiras da Havaiana, descobri o que tinha a bahiana, tomei um gole de cachaça sozinho no banco da praça.


Luigi Contini

sexta-feira, 1 de maio de 2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Clandestino na cidade que cresci, por três dias andarilho a deriva, qual vagasse pelas areias das praias de Troia, com as tripas coladas às costas, tragando apenas o hipogástrico alumínio do amargor.
Já exausto, por acaso, uns missionarios de sei lá qual igreja me oferecem a marmita do Jardim das Delícias. 

Há tempos, eu e meus desseseis dentes, não éramos tão felizes.


Ricardo Pozzo

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Nova Primavera


Sebastião Salgado

A miséria
Só é bonita
De longe
Ela é linda
Metafisicamente
Acéptica
Na fotografia
Velada
Pelo obturador do artista


Fausto dos Santos

Nova Primavera


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Em uma Páscoa passada

Três caras pararam o automóvel ao meu lado e saíram gritando:
- Perdeu, playboy! Pode ir passando o dinheiro e o telefone!
Eu, num arroubo de coragem e tentativa de esquiva lírica respondi:
- Playboy nada, rapá! Sou poeta.
Então o porta voz da empreitada tranquilizou-se e disse:
- Ele é poeta, malandrage, então tá com sorte hoje, não vamos mais te roubar, vamo é te bater pra largar mão de ser besta. Onde já se viu poesia ser profissão agora... pra ter este telefoninho de merda...
Aí, possuído de uma dose extra do arroubo, respondi:
- Oras, se vocês são ladrões de profissão, por que não posso ser poeta? Além do mais os poetas também são ladrões, ladrões de fogo, nunca leram Rimbaud?
Respondeu ele:
- Ler não li, mas quando era piá vi todos os filmes dele... tá bom, então pela consideração à camaradage profissional não vamos mais te bater... passa o dinheiro e o telefone...


Ricardo Pozzo

terça-feira, 3 de março de 2015

Alvéolos de Petit Pavé


OS GANCHOS DO AÇOUGUEIRO


Um dos suplícios mais usuais da Idade Média consistia em punçar
a língua dentro da boca com ganchos de açougueiro.
A vítima berrava para o carrasco mouco:
o único consolo dos mortos é não morrer nunca mais.
Ao ousar novas palavras,
o escritor aciona o fracasso do signo em dizer algo do que é:
o madeiro que me refresca a fronte é galho de limoeiro,
na tigela planto um trevo de quatro folhas para curar o aziago.
Aprendo com a voz do velho vento que sopra de leve a cortina:
“Só quem bebe do leque da pavoa
esquece vírgulas e mata a morte”.
Agimos sob a fascinação do impossível:
isto quer dizer que – uma sociedade incapaz de consagrar-se à ilusão –
está ameaçada de esclerose e de ruína.


Texto: Fernando José Karl

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Lapa - Pr

No teatro elizatibetano

Para os 121 anos do cerco da Lapa

Estrela da manhã que
sob este fosso
fez teu raio resgatar os prismas
que desencarnaram porque
amaram
às últimas consequências.


Ricardo Pozzo
Lapa- Pr

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Gárgula

Dois haitianos dividem
o cachimbo
com a sinhazinha ecoville
na sarjeta, sob escombros
da senzala;

passo ao lado.

Na real, azumbizados
seduzidos pela pomba
giratória dominante,
vestida em sua melhor pele
cor de leite,
que dos negros jorra

entre seus lábios.


Ricardo Pozzo

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Pra colher alumínio

No terminal a
fleumática
madame, em inflexão
sexual, paralisa
ao lado de
um haitiano.

Enquanto um
Van Gogh
sertanejo,
tão mais
sofrido
que Descartes,
entra em um
latão que se
arregala
de medo.

Ricardo Pozzo

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O Contestado é Agora!

Ocupação Nova Primavera/ Curitiba
Pássaros de asas mutiladas despencam em variáveis toneladas
por sobre a indigente face dos agrestes.

E vão-se aos ares vidas, entre paredes carcomidas no interior
de sépticos casebres.


Ricardo Pozzo