sábado, 23 de maio de 2015

MEA CULPA VÍRGULA


A moral vigente é tão cristã
tão arraigada e cegamente       
— cristã
que mesmo entre não-cristãos
usa ela de um eterno mea-culpa-
-merda-maxima-maldade-
-vileza-porcaria-blablá-e-culpa
para autoflegelando-se
esmurrando o peito nu
absolver-se a si mesma.
E destarte adquirir a santidade!

Ora, o homem é mal, o homem é vil
o homem possui em si
o dominó dominante do pecado
original desde Matusalém ou Eva.
Assim eu, que sou apenas um homem
sou concupiscente
sou vaidoso, pecador
me chicoteio, sangro
e confesso: canonizem-me, então!
Amém.

Bem, eu de mim, sou bem o oposto.
Eu sou bom, sou puro de coração,
fiel aos amigos, às amigas
mas cruel, implacável – apolíneo
contra invasores do meu espaço.
Eu sou honesto, caseiro
mato mas não minto (muito).
E sou propenso a orgias de sexo
no meu próprio terreno
onde não dispenso as mais novas
nem sequer as consanguíneas
se o cio vencer-me o siso.
Eu sou sobrevivente, meio chacal.
Orgulhoso, mas covarde se convier.

Enfim: não tenho nada dos profetas
e sou a cara do meu Rottweiller!...


Igor Buys

15 de dezembro de 2010

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