sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Refluxo Renil

A criança é mole. Plástica, pratica alongamentos impossíveis ao adolescente em diante. O fruto maduro já velho está murcho. Já o Curupira, anda com os pés de fasto na pressa de se apresentar assustadoramente para as crianças que venham a saber dele; e jocosamente para os adultos que dele querem fazer crença. Todos vão para o além além dele, em qualquer tempo, quem sabe!
O Curupira vai-se enganando os outros com o tempo que indo tá vindo e detrás da cortina, escondido, seus pés o denunciam dentro enquanto ele abre a janela e salta.
Criança, larga essa maçã que está estragada! Uma maçã estragada num cesto com outras maçãs perverte as outras e a mãe apavorada grita que o infante largue imediatamente aquela velha fruta que pereceu. Veneno.
Bruxa, bruxa a maçã que contamina as outras, cai na lixeira sem vida que já destinha quando colhida. Mãe dava maçã raspada para a criança passar mais horas viva junto dela viva. Em seus pensamentos às vezes ocorria um temor ligeiro, obsessivo, se levava ao filho o fruto proibido. O Curupira vinha encobrir à base de fumaça e pólvora os pensamentos da dona da casa que sem saber porque - sempre que dava a maçã - acabava a tarefa e fumava um cigarro. E enquanto pensava em nada - sem saber, pensando - lembrava em rasgões de cenas dum ser da mata, do tempo, do mato, a fumaça, o cigarro.

Maria José de Menezes

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Maria José, que saudades de você e também de seus textos, gostei muito de matar as saudades, poste mais. Bjs
Deisi