quinta-feira, 28 de maio de 2015

Depois da guerra


Nas ruas que serpenteiam o  caminhar dos  sorrisos provam  o ensanguentado sabor seco da  pólvora . driblam crânios os fantasmas que ora dançam em espiral fumaça o coagulado destino dos ausentes.
Ali ,enquanto o açoite da memória transforma os restos da morada em masmorra ,urra no coração a vida e a despeito das bombas semeadas e das vidas ceifadas ,o sorriso das crianças brindam o sol que dissipa as pegadas das sombras e seus  muros florescendo o aço da determinação  pedra por pedra até novas histórias
tenham como testemunha as paredes de mais uma esperança .


Wilson Roberto Nogueira

A Prisão o humo do ódio


A prisão estraçalha a razão e desconstrói o coração enterrando na merda a esperança
nas sombras que espreitam à ladrar ferozes à noite   esmagando as ruínas ossificadas da alma
A lei pesa mais que a justiça e o som de sua voz uma oração distante cortando o céu em fatias
presas na grade de uma boca sem palavras num rosto sem face.
No continente de espinhos de aço e lodo  apodrece o pergaminho dos dias exalando estórias de fundas cicatrizes de portos em chamas sem barcos para aproveitar a maré da humanidade


Wilson Roberto Nogueira

sábado, 23 de maio de 2015

MEA CULPA VÍRGULA


A moral vigente é tão cristã
tão arraigada e cegamente       
— cristã
que mesmo entre não-cristãos
usa ela de um eterno mea-culpa-
-merda-maxima-maldade-
-vileza-porcaria-blablá-e-culpa
para autoflegelando-se
esmurrando o peito nu
absolver-se a si mesma.
E destarte adquirir a santidade!

Ora, o homem é mal, o homem é vil
o homem possui em si
o dominó dominante do pecado
original desde Matusalém ou Eva.
Assim eu, que sou apenas um homem
sou concupiscente
sou vaidoso, pecador
me chicoteio, sangro
e confesso: canonizem-me, então!
Amém.

Bem, eu de mim, sou bem o oposto.
Eu sou bom, sou puro de coração,
fiel aos amigos, às amigas
mas cruel, implacável – apolíneo
contra invasores do meu espaço.
Eu sou honesto, caseiro
mato mas não minto (muito).
E sou propenso a orgias de sexo
no meu próprio terreno
onde não dispenso as mais novas
nem sequer as consanguíneas
se o cio vencer-me o siso.
Eu sou sobrevivente, meio chacal.
Orgulhoso, mas covarde se convier.

Enfim: não tenho nada dos profetas
e sou a cara do meu Rottweiller!...


Igor Buys

15 de dezembro de 2010

HAICAI COM GASOLINA


Uns usam porque querem.
Outros proíbem porque querem.

A fogueira das volições está queimando gente viva!


Igor Buys

BAGULHO DOIDO


Enrola o bagulho
na borracha preta,
gasolina, erva
pneu sobre pneu.
Um puxa o fumo
e a pele do outro
estoura; nervo aflora,
ignora o barato, caro.
A gordura fervilha
numa poça, o cheiro
vai longe: folha doce,
banha viva chiando,
fumaças se misturando.

Um queima vivo, treme
outro se arregala, geme.


Poetrix de Igor Buys

14 de dezembro de 2010

ENQUANTO ISSO, NO COMPLEXO DO ALEMÃO...


Vovó, por que ele tá assim?
Porque ele tá descansando.
Descansando?
Sim.
Por que ele tá de olho aberto?
Porque ele descansou rápido demais.
Por a gente tá aqui?
Porque ele era seu pai.
Meu pai?
Sim.
E quem são eles?
Sussurrando: Polícia. Não olha pra eles.
Sussurrando: Por que eles tão bravos?
Porque tão com pressa de ir pra casa.
O que é isso?
Sua foto.
Você botou nele?
Sim.
Por quê?
Porque ele veio conhecer você.
É?
Sim.
Por quê?
Porque é Natal.
Vovó, o que é isso?
Presente, minha filha.
Você deu pra ele?
Sim.
Por quê?
Porque é Natal.
Vovó, por que ele tá rindo?
Parece? Vige, Nossa Mãe...
Por que é Natal?
Sim. Porque é Natal.


Igor Buys

HAICAI DE BOTAS


Homem de preto.
Homem de azul.
Homem de oliva.

De vermelho, a poça.
Botas.


Igor Buys

10 de dezembro de 2010

terça-feira, 19 de maio de 2015

Nem pessoas que gosto cumprimento. Abraço ou dou bom dia . Se me localizarem na rua ,precisam agir como urso de circo e mesmo assim penso que não é comigo. Não sei se acomodei a esse casaco surrado que é viver comigo mesmo que de taciturnos óculos vejo nas sombras o sentimento. Gosto das pessoas e as pessoas que não gosto não precisam saber , basta continuar a vida pois nada muda o que de atrofiado pelo desuso  encontra se .Bom , sou Eu e continuo sendo quem sou , penso que a memória do tempo tenha gravado no papel amarelado da vida o crocitar de grilhagens de afeto .Compreensão basta, entendimento e não colocar no vazio dos olhos a luz ou a falta de  ninguém. Vivemos espectros dourados procurando quem nos reconheça o brilho mas continuamos fantasmas .


Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A criança quer provar ao pai que é macho e provoca o tigre enjaulado, o tigre quer provar a cria do homem que é fera embora enjaulada e faminta a fera ameaça e baba enquanto vê seu almoço andando de um lado para outro; lembra das selvas de Bengala e morde o braço do pequeno Sahib.As presas do tigre puxam a carne dos ossos do pequeno homenzinho para alegria de seu pai , agora com a certeza da macheza de seu filhote.
Em torno desse cinema ,desse reality show tiram fotos de celulares os transeuntes, os mesmos que admiram a natureza morta após acidentes de trânsito só que nesses eventos ficam tímidos para fotografar.
Depois de uns longos segundos de orgulho o pai lembra que seu filho está exangue e pede ajuda afirmando que a imprudência do moleque quase custou-lhe a própria vida - a vida financeira do pai que terá que pagar por um caro tratamento- As pessoas em volta , depois de tirarem fotos , chamaram os guardas do parque e uma ambulância .Gritos de revolta e repulsa ao comportamento descuidado do pai correram por todos os caminhos das selva de asfalto e grades do zoo .
Com os nervos da alma queimando de remorso( como do ladrão que uma vez pego terá que cumprir uma sentença branda no inferno de uma masmorra brasileira ), colocara contra as grades a própria virilidade; da criança o espelho truncado projetando sua máscara ocultando o covarde olhando à distancia a fera a avisar com a urina o seu território . O desconforto do instinto da fera mostrou que o irracional era o homem.


Wilson Roberto Nogueira
As chamas estavam devorando a casa enquanto a madeira estalava
na fumaça subiam as sombras das vidas testemunhadas pelas paredes
nos olhos dos espelhos ou nas pálpebras das janelas da casa em chamas
a porta deitada no chão sentia o olor dos passos da memória dançando sobre si
A casa virou nuvem e choveu cinzas sobre as rosas dos túmulos
brotou da choupana um palácio feito de cinzas dos dias de ouro nos sonhos
da criança que morreu dormindo.


Wilson Roberto Nogueira
No coração do meu cansaço perdido me encontro no mais profundo mar.
Busco; enquanto ao torpor acorrentado estou, a chave de respostas que olvidei
Perguntas que ceifam meus dias tornando abissais os sois de minhas alvoradas
Nesse repouso indócil agigantam-se sombras como brasas gélidas de incêndios
incontidos cansaços de batalhas não enfrentadas que sugaram o sangue dos meus sonhos
Agora a fatura da minha deserção em viver com paixão e luta a vida que me brindara de desafios
abrira diante de mim esse oceano tal de sal e silêncio no meu último sepulcro.
No coração acorrentado as chaves são tuas incaroavel Sorte.
Fugidia consorte até tu ó Morte afastara-se em pesadelos dos meus sonhos de ouro e glória.


Wilson Roberto Nogueira
O rosto era um só sorriso preenchido por dois olhos de cristal
cristais onde  uma bailarina torcera os tornozelos
dançava triste aprisionada no ensolescido e árido coração
no rosto de mármore morava uma esfinge onde cortava um sorriso
sangrando histórias de véus e sombras.


Wilson Roberto Nogueira

terça-feira, 12 de maio de 2015


F fall / falls / fast / fell / flog

cabalgar un cavalo morto: que esporte tolo. preferimos vê-lo voar de novo, sem estrias dentro de sua baia, ou na sua falta, antes que caia: bem e vivo. e se ágil, que seja rápido como água, un saco brillante, que levou astucioso, que nenhuma porta o trava antes da fonte, nenhuma regra ou correia para nos deter em nosso trabalho até fazer os cascos de digitalização.


Uljana Wolf/ transcriação Ricardo Pozzo


F     fall / falls / fast / fell / flog

to flog a dead horse: vergeblicher sport. wir wollens lieber wieder fliegen sehn, ohne striemen stehn im stall, im herbst, in jedem fall before it fell: well & lebendig. und falls wendig, fast as water: schillerndes fell, wir striegelten faster, dass keiner einen riegel schöbe vor den quell, eine regel, oder riemen, oder was sich sonst hier schindend pflog. 


Uljana Wolf
O poeta e tradutor, doutor em literatura pela UFPR, Ivan Justen, no SarauBeat!

domingo, 10 de maio de 2015

Bagaceira

Troquei meu carro por um tapete voador, vesti meu casaco velho sem valor, quebrei meu único saca-rolha, passei horas com um plastico-bolha, esqueci de mandar aquele bilhete, varreram o lixo para cima do tapete, defecaram na estatua da praça, desgraça pouca não tem graça, comeram o pão que o diabo amassou, ha gente que não vai mas eu sei aonde vou, entupiram o saxofone, aumentaram o preço do Danone, sequestraram o papel higiênico, Putin não e fotogênico, puseram alcool no tanque de gasolina, adoçaram o café com cocaína, passaram manteiga no meu sapato, achataram o pé do pato, estragaram minha pizza com abacaxi, proibiram o bebê de fazer xixi, usaram limão amarelo na caipirinha, chamaram frango de galinha, acreditaram na Rede Globo, ovelha foi namorar lobo, paraquedista pulou de mochila, Francisco agora se chama Camila, fieis flertaram no sermão, evangélico e tudo irmão, dizer bom dia e ofensa, o povo pensa que pensa, ovo batido virou omelete, pisei firme num chiclete, abracei um gamba, nao sei se houve ou se ha, medi a fundura do poco, cobrei pedágio no fosso, catei conchinhas na praia, corri atras dum rabo de saia, escutei o violeiro só tocar por dinheiro, fui pra Franca e ignorei Paris, fechei a torneira do chafariz, dei um pontapé no traseiro do politico, fiz caminhar o paralitico, dei um cascudo num jacare, matei um bicho-de-pe, deixei Dylan sem harmônica, tomei gin sem água tônica, pus o relógio no pulso direito, conjuguei o pretérito mais-que-perfeito, dei um no no rabo do diabo, rebaixei o general para cabo, atirei o colete salva-vidas, esfolei vivo o Rei Midas, voei sobre a Amazônia, casei-me com a insonia, soltei as tiras da Havaiana, descobri o que tinha a bahiana, tomei um gole de cachaça sozinho no banco da praça.


Luigi Contini

sexta-feira, 1 de maio de 2015