sábado, 20 de agosto de 2011

20.08



Fazia muito tempo. Muito tempo eu não desesperava com o silêncio. Com o ranger da sola comida do All Star. Com o telefone mudo e meu sacrifício de levantar da cama e estacar diante da janela. Era inexpressivo o barulho daquele buraco que crescia em mim e eu ainda sentia medo dessas coisas que crescem no meio do deserto. Ainda me preocupava, mesmo que despretensiosamente, se meu gosto te agradaria e fazia muito mais tempo que a insegurança me fazia escolher o casco, as ranhuras, o perigo e quem sabe, o pior de todas as coisas. Agia mesmo assim, com um nó no peito, escorregadia pelas escadas dos butecos, caindo pelas tamancas, de esquina em esquina, ainda criando coragem pra balbuciar a vontade do querer.
Se você me ligasse – pensava – não atenderia. Não queria. Não quero. Planejava fuga observando aqueles telhados em horas de ausência extrema. Porque havia um limite, alguma coisa que era feita de fluxo-refluxo, e nesse ameno amargo alguma coisa ficava do lado de fora, palavras, expressões, interiores, conchas, cobertas, cama, tudo que nunca habitei. Não ligava.
Sorria toda irônica. Vagava pela cidade imunda, feito zumbi. Lembrava da síntese daquelas palavras malditas, do cheiro das tralhas na despedida, e mesa posta, tomava um gole de café. Concluía que toda frivolidade era uma ameaça e desconfiava, fazendo caras e bocas, da sua exclamação. Das tuas exclamações que eu não sabia (mesmo) se pendiam pra moça dali ou pra moça daqui.
Alguma coisa não sabida, doía. Minha vergonha ricocheteava miseravelmente toda vez que voltava pra casa. Percebia que possuía uma grande dificuldade de estabelecer um clima estável entre nós, que não existimos. Nós. E enquanto você expandia, tudo em mim só tinha a covardia de contrair. Corria atrás de uma aspirina e toda vez que voltava: você me seduzia. Caia, sentia preguiça, sentia vontade de exercer minha vontade, me iludia, desistia e gargalhava mesmo rolando barranco abaixo.
Conformada com a ideia de nunca entender, aceitava. Pensava em nunca mais atirar pratos nas paredes ou colocar tudo em pratos limpos. Puro mau gosto. Por puro desgosto eu inventava de racionalizar e racionar minha paixão por simples incapacidade de lidar com. Que não é O Outro.

Juliana Vallim

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