domingo, 17 de fevereiro de 2008

Quando as montanhas conversam

A imaginação de Gloria Kirinus move montanhas nas tramas da palavra poética, qual ciranda de abraços e cuidados como a vida deve ser — e, quando conversam, as montanhas se inclinam e, até mesmo, dão ensaio a alguns vôos, enquanto o tempo gira seu novelo de cores e vai trocando a paisagem de suas roupas... Montanhas sábias, montanhas silenciosas, mas jamais imóveis ou insensíveis diante dos momentos especiais da criação que valem e velam: um cavalo aladona tela de um pintor, o nascimento de uma criança — a chave encantada do sol em suas mãos, as sementes e as colheitas, os versos que um poeta perde sobre o papel...
É o próprio estado de poesia que Gloria não deixa escapar, neste poema feito de raios luminosos de admiração sobre os instantes da vida, ao despertar simpatias pelo aceno do homem que lentamente se despede do mundo ou quando sete frondosas quedas de água desaparecem da câmara escura de um fotógrafo... Há vagas nestes versos para falarmos da preocupação da autora a respeito de uma ecologia interior — talvez a única capaz de preservar nossa humanidade neste planeta.
Ao presentear os leitores com o segundo título da coleção "Dobrando a Língua", Gloria Kirinus também afirma a irmandade entre as culturas e os anseios ibero-americanos. Seu texto é curiosamente dedicado ao Cerro San Cristóbal que dá contorno ao horizonte da cidade de Lima, no Peru, onde nasceu a autora e vivem seus sobrinhos. A cada página, as estrofes em português e em castelhano surgem justapostas à ilustração, permitindo saltos através do ondulado dos dois idiomas.
Cobrindo a superfície do papel preto com motivos populares, grafismos e massas de cores, Graça Lima aquece as imagens do livro com a densidade/porosidade de giz pastel. Os materiais escolhidos pela ilustradora lhe permitiram tirar bom proveito dos jogos de silhuetas, das sombras e dos contrates brilhantes. Diferentes céus aparecem ora muito acesos, ora coalhados de estrelas. Por vezes, as montanhas parecem estar cobertas por emaranhados padrões de uma colcha imaginária.

Comentários de Peter O'Sagae

Um comentário:

Pó & Teias disse...

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http://www.dobrasdaleitura.com/index.html