Juca. Viúvo de Jandira fazia três anos, ia agradando as freguezas mais ajeitadas pra esquecer o luto. Uma maçã vermelha pras moçoilas ainda puras, acreditava...um cacho de uvas-itália pras mais joviais e de vestidos floridos... uma laranja - pêra ainda verde pras mais senhoras e uma banana - d'água pras mais decotadas. Mas as frutas não rendiam frutos e nenhuma dona fez a feira do feirante. Tempos difíceis de juros em alta. Revoltado, resolve cortar os vales-brinde que não lhe valem nada. Aquela clientela, mais fiel ao marido que a ele, não comprovava o papo de pescador dos seus companheiros de feira e também do professor de sociologia que comprava pepinos em sua banca desde da época em que era etudante e lutava contra a ditadura. Onde estava a tal falência do casamento como instituição de base da sociedade? Apesar de devidamente regado, o amor não brotava feito as frutas e muito menos feito os discursos, lamentava. As frutas apodrecem na banca do Juca e o Juca apodrece na banca das frutas.
Adriano Esturilho.
(Arisco A. Quixote.Literatura.p17.julho 2005 )
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